Chamava-se Yasuke Kurosan e era de Moçambique, escravizado por portugueses. Foi levado para o Japão e acabou por se tornar no único samurai africano. É esta a história real, passada no século XVI, que chega agora ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, através da segunda peça da trilogia “Yasuke Kurosan”.
Falamos de uma peça que cruza dança e música, do coreógrafo e bailarino franco-maliano Smaïl Kanouté. Aston Bonaparte, Felicia Dotse, Kandé Magassa, Ndedi Ma Sellu, Salomon Mpondo-Dicka e Aisi Zhou são os restantes bailarinos que compõem o elenco.
Como se pode ler na sinopse oficial, Smaïl Kanouté está convicto de que “a imagem do samurai africano é um bug na história do Japão”. Por isso, o coreógrafo “apropria-se desta história de transformação de corpos curvados, oprimidos, em corpos orgulhosamente erguidos e, recorrendo às artes marciais, a danças guerreiras africanas e a danças urbanas, cria um espetáculo de dança, luz e música que, com sete bailarinos étnica e culturalmente mestiçados em palco, vem celebrar o encontro, sensível e estético, entre África e a Ásia”.
A estreia de o espetáculo aconteceu em Paris, no mês de junho. A trilogia “questiona a condição da comunidade negra em diferentes épocas e locais e aborda a persistência dos ritos ancestrais como forma de afirmação de identidade”. A primeira peça, “Never Twenty One”, homenageia as jovens vítimas de armas de fogo. A terceira, “So Ava”, reinterpreta as danças vudu. Cada uma deu ainda origem a uma curta-metragem. O filme sobre o processo de criação do projeto estará em exibição no Auditório 3 da Gulbenkian, entre as 15 e as 17 horas de domingo.