“Hoje o BNU mantém o seu compromisso com a comunidade e é o elo de ligação com os Países de Língua Portuguesa”

Carlos Álvares, CEO do Banco Nacional Ultramarino (BNU), afirmou em entrevista à Revista Pontos de Vista que “desde a sua fundação, a missão primordial do BNU foi, é e continuará a ser, o apoio ao desenvolvimento financeiro, económico e social de Macau e a promoção da ligação do território e da China aos Países de Língua Portuguesa”. Saiba de que forma o tem vindo a concretizar ao longo de 120 anos de atividade.

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Ao Banco Nacional Ultramarino (BNU) foi confiada a importante missão de criar e emitir a moeda local e de contribuir com êxito e de forma decisiva para a criação e desenvolvimento do sistema bancário e monetário local. Atualmente mantém o seu estatuto como um dos bancos emissores para o Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Como nos pode descrever a evolução do BNU até ao momento?
Desde a abertura da sua primeira agência no território, na Avenida da Praia Grande em 1902, que o BNU tem sido uma instituição financeira ao serviço de Macau e da sua população. A missão do BNU na criação e emissão da moeda local, foi essencial para manter a estabilidade económica e social de Macau ao longo dos anos.
Hoje o BNU mantém o seu compromisso com a comunidade e é o elo de ligação com os Países de Língua Portuguesa, através do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD).

Há 120 anos que o BNU tem apoiado as atividades empresariais locais. O conhecimento e a experiência adquiridos ao longo do tempo, são a chave fundamental para trazer sucesso às empresas e projetos dos clientes? De que forma?
Fazendo parte do Grupo CGD, uma das maiores instituições financeiras da Europa, o BNU beneficia da extensa presença internacional do Grupo CGD, o que aliado à nossa ampla experiência e conhecimento adquiridos ao longo dos tempos, representam aspetos fundamentais para o êxito dos projetos dos nossos clientes, tanto particulares como empresas.
A solidez do banco e o excelente relacionamento com as instituições e associações locais, faz do BNU o parceiro de negócios melhor posicionado para apoiar o desenvolvimento do empreendedorismo e para facilitar o estabelecimento de empresas estrangeiras no território, sobretudo as provenientes dos Países de Língua Portuguesa, bem assim como empresas chinesas que queiram trabalhar com os PLP. Uma das nossas missões continua a ser a promoção do negócios transfronteiriços luso-chineses.
A presença do BNU em Macau, com uma equipa multicultural e poliglota, que entende o ambiente de negócios do mundo lusófono bem assim como o de Macau e da China Continental é uma das chaves fundamentais para o sucesso a longo prazo dos nossos clientes.

O principal objetivo do BNU é prestar serviços bancários personalizados, destinados a particulares e empresas e contribuir para o desenvolvimento económico e social de Macau. De que serviços estamos a falar e em que medida, os mesmos, se diferenciam?
O BNU oferece um leque muito diversificado de produtos e serviços, em várias moedas. Um dos produtos que nos diferencia da concorrência local, é a concessão de crédito para aquisição de propriedades em Portugal, que só é possível por contarmos com o suporte da CGD. Somos o único banco em Macau a fazê-lo. Outra das nossas vantagens é a facilidade e rapidez das operações bancárias entre o BNU e o Grupo CGD nas várias geografias onde este está presente.
Por outro lado, os nossos clientes também têm um acesso facilitado à China Continental, através dos vários meios de pagamentos que o BNU disponibiliza, quer diretamente, quer através dos nossos parceiros na China. Importa também referir que Macau é um dos centros de liquidação para a moeda Chinesa, o Yuan Renminbi (CNY), pelo que os nossos clientes podem fazer pagamentos aos seus fornecedores na China diretamente na moeda local.

O BNU pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), um dos maiores grupos financeiros com uma extensa rede global na Europa, Ásia, África e América. Assim, a CGD está presente nos Países de Língua Portuguesa, e também em Macau, Hengqin e Shanghai, sendo uma forte plataforma de ligação entre a China, Macau e o Mundo Lusófono. De que forma o BNU apoia ativamente o comércio entre a Ásia e o resto do mundo?
Precisamente por pertencer ao Grupo Caixa Geral de Depósitos, que está presente nos quatro Continentes, com destaque para os Países de Expressão Portuguesa onde na sua maioria continua a ter uma posição de liderança, o BNU está estrategicamente posicionado para fazer a ponte entre as empresas/empresários chineses e lusófonos.
A nossa rede de contactos na China – Macau, Hengqin e Shanghai – em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor, são uma mais-valia para os empresários de Macau e da China que queiram entrar nesses mercados, tendo o BNU em Macau e em Hengqin este papel facilitador dos negócios sino-lusófonos.

A China tem sido um parceiro comercial da maior importância para os oito Países de Língua Portuguesa (PLP), e com criação da RAEM, decretou o português como língua oficial e, em 2003, estabeleceu em Macau o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP. Face aos anos já passados, qual foi a importância da criação do Fórum Macau?
O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) é uma importante instituição multilateral entre a China e os PLP, que serve sobretudo um propósito de manutenção de um diálogo constante entre os seus membros com o objetivo de progressivamente aumentar a cooperação intergovernamental sino-lusófona no sentido de aprofundamento das relações económicas e comerciais. Nesse sentido, é um mecanismo que permite manter um intercâmbio permanente, para se ultrapassar obstáculos ao comércio, fomentar as trocas comerciais e incentivar um maior contacto cultural. E acima de tudo, com o objetivo de promover Macau como a plataforma por excelência entre os negócios luso-chineses.

Integrando a RAEM no mais promissor e ambicioso projeto de expansão económica e desenvolvimento social do sul da China, acredita que o investimento em indústrias de valor acrescentando e de alto desempenho tecnológico, financeiro e de formação profissional superior, permitiu a Macau escapar da dependência da indústria do turismo e do lazer? O que mudou com a ligação do extenso mercado da China com os mercados internacionais e, em especial, com os de Língua Portuguesa?
O projeto de desenvolvimento da Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que inclui Macau, Hong Kong e nove cidades da província de Guangdong, é de facto o futuro para a diversificação da economia de Macau. Contudo, ainda não podemos dizer que Macau escapou da dependência da indústria do turismo e do jogo, pois esses setores continuam a ser os motores económicos de Macau. No entanto, pretende-se que a RAEM desenvolva outras áreas económicas aproveitando a Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong-Macau em Hengqin.
O BNU tem uma agência em Hengqin desde 2017, e temos vindo a apoiar muitos empresários a estabelecerem os seus negócios na Zona de Cooperação, pois beneficiam de um conjunto de incentivos que facilita o comércio com a China Continental.
Deste modo, Macau está numa posição privilegiada para beneficiar do desenvolvimento desta região e aprofundar o seu importante papel como ponte entre a China e os mercados de expressão Portuguesa. O facto de ser uma cidade multicultural, com uma matriz jurídica portuguesa, onde o português é uma língua oficial, são, sem dúvida, características muito atrativas para empresas lusófonas com interesse nesta região do mundo.
Macau pode também ser um polo de atração de holdings de multinacionais com empresas operacionais na Ásia, competindo com outras praças mundiais nesse domínio. Macau tem as infra-estruturas adequadas para as receber, diversificaria a receita fiscal, permitiria gerar emprego para centenas de jovens que se licenciam nas universidades locais, é friendly para os expatriados e o sistema financeiro tem condições para as servir.

Considera que o papel de Macau, enquanto plataforma de Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, no comércio, investimento, energia, infraestruturas e cultura, é reconhecido aos olhos do Mundo Lusófono?
Existe ainda muito a fazer no que diz respeito à promoção das vantagens de Macau junto dos países de expressão portuguesa, e certamente o papel do território não goza ainda de um tão amplo reconhecimento junto da comunidade empresarial lusófona como gostaríamos.
Contudo, é importante mencionar que Macau tem apostado na divulgação do seu papel junto dos mercados lusófonos, sobretudo através de intercâmbio de empresários, visitas a certames comerciais e à organização de um conjunto de eventos, conferências e feiras comerciais no território com participação de empresas dos PLP e da China.
Com a pandemia, houve uma redução significativa destas atividades presenciais de promoção, no entanto, o Governo de Macau e as instituições locais têm vindo a migrar estas atividades para o mundo digital.
A Feira Internacional de Macau (MIF), por exemplo, é um dos eventos anuais multissectoriais, que tem servido como uma importante plataforma de intercâmbio sino-lusófono. Já vai na sua 27ª edição, e realiza-se este ano de 20 a 22 de outubro, contando com uma componente online, onde os interessados podem participar através de uma visita virtual aos expositores e também participarem de seminários e sessões de apresentação online. O BNU tem estado presente em várias edições da MIF e este ano também estará, com presença física e digital.

Face à experiência internacional do BNU, neste processo de cooperação, qual tem sido o apoio prestado no desenvolvimento de negócios e o suporte a uma maior diversificação económica de Macau e aos Países de Língua Portuguesa?
O BNU apoia o desenvolvimento de negócios das empresas locais e lusófonas com a China, colocando à disposição dos empresários uma variedade de produtos, serviços e operações bancárias que visam promover a expansão e aprofundamento das suas relações comerciais com a China. Temos um conjunto de instrumentos de financiamento do comércio internacional (trade finance), tais como cartas de crédito documentário, de créditos de curto prazo à importação e à exportação, cobrança e liquidação de documentos de exportação e importação de mercadorias, garantias bancárias, através da CGD possibilitamos transferências em quase todas as moedas estrangeiras para qualquer lado do mundo, bem como outros serviços de intermediação.

Importa referir que, o BNU, desempenha um imenso valor também a nível local – o próprio edifício é um ícone de Macau, quer pela sua beleza arquitetónica, quer pelos anos de história com que conta. Quais acredita que serão os grandes desafios e oportunidades deste mercado nos próximos anos?
Existem, de facto, muitas oportunidades neste mercado e alguns desafios também. O desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau em Hengqin é uma grande oportunidade para os empresários expandirem os seus negócios para a Área da Grande Baía. Isto porque podem beneficiar de uma serie de incentivos, tais como, políticas fiscais preferenciais, tanto para empresas como para particulares, sistema próprio de gestão e registo das mercadorias que entrem por Hengqin (são isentas de impostos ou são elegíveis para beneficiar de taxas especiais). As trocas comerciais entre as empresas registadas em Hengqin estão isentas de imposto de valor acrescentado e/ou de impostos de consumo. Consideramos que o principal desafio é a harmonização das três jurisdições diferentes: Macau, Hong Kong e China Continental, cada qual com as suas próprias moedas, alfândegas, ordenamento jurídico, sistemas financeiros distintos, entre outros.

Enquanto CEO do BNU, o que urge, na sua perspetiva, aprimorar no setor financeiro em Macau?
Atualmente existem uma série de iniciativas em curso para a modernização do setor financeiro de Macau. Um dos aspetos a melhorar é a digitalização da banca, no sentido de permitir aos clientes ter acesso a todos os serviços bancários, sem necessidade da sua deslocação a uma agência. Isto está em linha com o que já acontece, por exemplo, com vários serviços públicos em Macau. E, claro, é também importante continuar a capacitar os recursos humanos e a atrair de quadros altamente qualificados, que possam contribuir para o desenvolvimento do setor em Macau.

Como banco emissor de papel-moeda da RAEM, o BNU tem uma posição de relevo no sistema financeiro local e ajuda na sua estabilização e no apoio à recuperação económica. Face às constantes mudanças do mundo, qual a estratégia que o BNU irá adotar a médio e longo prazo, no sentido de cumprir esta sua missão?
Desde a sua fundação, a missão primordial do BNU foi, é e continuará a ser, o apoio ao desenvolvimento financeiro, económico e social de Macau e a promoção da ligação do território e da China aos Países de Língua Portuguesa. Para isso contamos com o apoio e as sinergias criadas pela rede global da CGD.
Outro ponto importante a salientar é que não excluímos um maior crescimento do Banco na zona da Grande Baía e que podemos contribuir para a criação de joint-ventures entre empresas dos PSC que têm know-how em produtos específicos e empresas de Macau que têm know-how do mercado, para se explorar negócios na referida GBA.