“O nosso Objetivo é ser uma Extensão da Unidade Familiar do Residente”

O Dia Mundial da Doença de Alzheimer, assinalado a 21 de setembro, tem vindo a tornar-se cada vez mais importante no sentido da consciencialização desta patologia. Por esse motivo, a Revista Pontos de Vista conversou com Luís da Silva, Diretor Regional das Residências ORPEA Portugal, que garantiu que “a ORPEA não tem parado o combate ao Alzheimer e ao seu retardamento, desenvolvendo meios inovadores para enfrentá-la, perante um país com uma população cada vez mais envelhecida e propícia a ter a doença que mais incapacidade gera”.

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Neste momento, quantas residências tem o grupo Orpea em Portugal? Em que cidades?
A ORPEA tem atualmente dez residências em Portugal, distribuídas por todo o território nacional, com um total de 907 camas: Flavicórdia em Chaves, Casa de Avioso na Maia, Coimbra Sénior em Cernache, Doce Viver em Vila Seca, Porto Salus em Azeitão, Praia Grande em Colares, ResiSénior em Braga, Saúde Sénior no Montijo, Sénior Club na Póvoa de Santa Iria e a Residência Orpea Viseu em Viseu. Temos também um hospital, o Hospital Nossa Senhora da Arrábida (HNSA). Portugal é o primeiro país, a nível mundial, a ter um hospital do Grupo. O HNSA está aberto ao público em geral e não só aos nossos residentes e disponibiliza cuidados de saúde multidisciplinares e possui equipas multi/interdisciplinares centradas nas necessidades globais do utente e da sua família. Dispõe de várias especialidades em ambulatório, como também, de 109 camas de internamento. Recentemente reforçou os cuidados paliativos a doentes com patologias graves ou incuráveis com foco na dignidade da pessoa e alívio do sofrimento. Por último, também contamos com o Centro de Reabilitação Giesta (C.R.G.), especializado em consultas e reabilitação de doenças neurológicas, sendo uma referência em Portugal no atendimento a seniores com AVC, paralisia cerebral ou Parkinson. Também é direcionado para seniores com problemas cardiorrespiratórios como D.P.O.C., asma, bronquiolite ou recuperação de cirurgias cardiovasculares e conta também com uma unidade de fisioterapia que trata vários problemas músculo-esqueléticos.

Que serviços podemos encontrar nas residências Orpea?
Todas as residências Orpea possuem instalações adaptadas às necessidades dos residentes e oferecem atividades, programas e terapias não farmacológicas inovadoras que têm como objetivo manter as capacidades físicas e cognitivas dos nossos residentes, desde atividades e visitas socioculturais a terapias como ateliers de memória, culinária terapêutica, balneoterapia, horta terapêutica, programas intergeracionais, roboterapia, terapias com animais, workshops de tecnologia e redes sociais com seniores, entre outros. Pretendemos promover e incentivar um envelhecimento ativo, prolongando o tempo de autonomia pessoal e retardando o surgimento de uma possível situação de dependência. Estamos em constante evolução e inovação tanto em termos de terapias e atividades, como na própria dinâmica de equipas nas residências.

O que vos diferencia no setor?
Sabemos que escolher uma residência para um familiar não é uma tarefa fácil, e por isso o nosso objetivo é ser uma extensão da unidade familiar do residente, todo o agregado familiar tem de se sentir sereno e feliz com essa decisão. Acreditamos que só conseguimos alcançar esse objetivo tendo um modelo de cuidados que se foca na personalização dos nossos serviços não só os que são prestados diretamente ao residente, mas também à sua unidade familiar. E é por isso que nas nossas residências as equipas são flexíveis e moldam-se às necessidades e preferências de cada residente pois vamos recebê-lo naquela que será “a sua casa”. As nossas instalações são modernas, luminosas e acolhedoras. Os quartos são totalmente personalizáveis, há espaços amplos e espaços verdes comuns. Damos também grande importância à alimentação. As pessoas mais velhas precisam de usufruir de uma dieta adequada que também satisfaça as suas necessidades nutricionais. Por esta razão, todos os centros ORPEA preparam menus adaptados às necessidades dos residentes, concebidos por um nutricionista e revistos pela equipa médica. Os pratos são apresentados em ciclos de cinco semanas em que o menu não é repetido e que têm em conta a estação do ano. Consistem sempre em duas escolhas de primeiro e segundo prato, com variantes para residentes específicos (por exemplo, diabéticos). Além disso, os membros da família podem desfrutar dos mesmos pratos juntamente com os residentes na sala de jantar dos convidados e os residentes podem tomar o pequeno-almoço no quarto. Recentemente a residência Flavicórdia em Chaves ficou em segundo lugar na sexta edição do Torneio de Cozinha ORPEA, de entre 60 residências de Portugal e Espanha.
A formação das equipas também é fundamental para nós, reunimos profissionais especializados em geriatria e saúde: enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, animadores, entre outros. Equipas que trabalham todos os dias com a missão de cuidar e apoiar aqueles que decidiram viver numa residência ORPEA para que possam desfrutar de maior bem-estar e qualidade de vida.

A ORPEA em Portugal, decidiu apostar nos cuidados e tratamento de pessoas com doença de Alzheimer e outras demências. Porquê esta aposta?
Um dos nossos pilares é de facto a personalização dos serviços e o foco no bem-estar físico e mental do residente e respetiva família, uma pessoa com Alzheimer ou outro tipo de demência precisa de ainda mais atenção, de cuidados específicos, para tentarmos retardar os efeitos da doença e uma possível situação de deterioração da autonomia da pessoa, esses cuidados têm de ser individualizados e pensados especificamente para aquela pessoa. Foi com este objetivo que criámos as Unidades Protegidas para Alzheimer e outras Demências, espaços pensados para cuidar especificamente de pessoas com estas patologias para lhes proporcionar os melhores cuidados e uma melhor qualidade de vida. Em Portugal, estima-se que existam 194 mil pessoas com demência, das quais 60 a 80% têm Alzheimer, uma doença que afeta sobretudo os seniores. Algumas estimativas apontam para que 25% das pessoas com mais de 85 anos sofram de demências, das quais 70% terão origem na doença de Alzheimer. Em Portugal, haverá 145 mil doentes com Alzheimer. Perante estes dados a ORPEA não tem parado o combate ao Alzheimer e ao seu retardamento, desenvolvendo meios inovadores para enfrentá-la, perante um país com uma população cada vez mais envelhecida e propícia a ter a doença que mais incapacidade gera. Neste combate encontramos a criação de um sistema individualizado de prevenção, cuidados, instalações e exercícios específicos cuja expressão máxima são as Unidades Protegidas para Alzheimer e outras Demências (UPAD), únicas no setor. Estas unidades combinam tratamentos farmacológicos e cognitivos, exercícios com animais ou videojogos, salas de memorização ou multissensoriais (salas de snoezelen).

Foram pioneiros em Portugal ao criar essa Unidade Protegida para Alzheimer e outras Demências. pode explicar-nos o que é ao certo uma UPAD e como funciona, quais são os seus benefícios?
Uma UPAD é uma Unidade Especializada constituída por espaços adaptados e seguros, onde os residentes podem desfrutar de diversas atividades com pessoas próximas, onde se sentirão tranquilos, o que é essencial para evitar complicações. Nestas unidades encontramos profissionais com formação específica, que desenvolvem terapias cognitivas, físicas e sociais, entre outras. Estas terapias ajudam a retardar a evolução da deterioração e a que a pessoa mantenha um certo grau de autonomia pelo maior tempo possível. As atividades desenvolvidas com estes residentes têm como objetivo fortalecer a componente psicológica, o corpo, e, em algumas pessoas, a manutenção dos laços sociais, embora as atividades recreativas também sejam importantes. O Alzheimer afeta sobretudo a memória, a orientação, perceção visual e linguagem das pessoas que com ela padecem, comprometendo a sua autonomia, bem-estar e qualidade de vida. Portanto, a abordagem a esta patologia requer cuidados específicos e uma equipa profissional multidisciplinar que seja coordenada e capaz de traçar um plano de intervenção integral de acordo com as necessidades variáveis que a pessoa tem em cada fase da doença. Para além das terapias não farmacológicas, a ORPEA continua a investigar novas terapias que ofereçam bem-estar a pessoas com diferentes tipos de demências.

Que terapias não farmacológicas existem neste momento que possam retardar a doença de Alzheimer?
As terapias não farmacológicas, ou seja, qualquer intervenção não química realizada para treino ou reabilitação física, cognitiva, sensorial e emocional, que melhore e mantenha a autonomia da pessoa, melhoram a qualidade de vida das pessoas com Alzheimer. Entre as terapias não medicamentosas mais interessantes estão a reminiscência, a terapia animal, musicoterapia, videojogos e salas multissensoriais ou snoezelen. A terapia de reminiscência é uma técnica aplicada a pessoas com demência para promover relações sociais e a comunicação, reforçar a autoestima, a identidade e melhorar o humor. Baseia-se na evocação de memórias e acontecimentos do passado, conectando-os ao presente, a fim de fortalecer e consolidar a própria identidade. Depois, passar algum tempo com animais de estimação ajuda a reduzir o stress e a ansiedade, o que melhora o bem-estar e a qualidade de vida. Também combate a sensação de solidão e evita o sedentarismo. Geralmente, as terapias com animais contam com cães e gatos, mas, na ORPEA inovamos e são realizadas sessões de terapia com aves de rapina, que oferecem diferentes estímulos como a melhoria na concentração e a estimulação sensorial e cognitiva. Também facilita a socialização dos seniores, uma vez que os residentes gostam de as acariciar, segurá-las e ajudá-las a voar. Os videojogos da consola Wii são usados ​​para treino físico e cognitivo de forma lúdica. Além disso, é uma excelente terapia funcional e cognitiva, pois favorece a autonomia pessoal. Já a realidade virtual fornece ambientes tridimensionais nos quais é possível interagir com qualquer objeto em tempo real e por meio de múltiplos canais sensoriais: visual, auditivo, tátil, olfativo, entre outros. Por fim, as Salas Snoezelen, são muito importantes e eficazes, são espaços interativos que recriam um ambiente que proporciona experiências agradáveis ​​que promovem o bem-estar emocional e estimulam as habilidades físicas e cognitivas das pessoas.

Criaram também salas Snoezelen nas vossas residências na Póvoa de Santa Iria, em Chaves e na Residência de Castelo da Maia. Podem explicar melhor como funciona e quais são os seus benefícios?
As pessoas com Alzheimer ou deficiência cognitiva grave têm dificuldade em controlar as suas habilidades psicomotoras. Este tipo de demência altera as capacidades cognitivas, comportamentais e emocionais das pessoas que sofrem com estas patologias e as salas multissensoriais Snoezelen permitem que esses aspetos sejam abordados e estimulados. Estas áreas, as salas Snoezelen, são espaços interativos para estimular os sentidos. Os sentidos permitem-nos comunicar e interagir com o nosso ambiente, e assim, através de luzes, aromas, música ou sons e texturas, conseguimos recriar um ambiente que proporciona experiências agradáveis​, cria bem-estar e estimula as capacidades físicas e cognitivas das pessoas com Alzheimer. Quando a doença está numa fase avançada, é difícil a pessoa entender o ambiente que a rodeia e conseguir expressar-se. E é por isso que estes estímulos tão básicos, como um aroma ou uma canção que evocam memórias, ou uma luz em movimento que desperta a curiosidade, representam um grande avanço. Principalmente porque também convidam a pessoa a escolher os elementos que quer no seu ambiente, os estímulos que o fazem sentir melhor ou mais confortável, e isso permite-nos conhecer profundamente a pessoa e dá-nos informações valiosas para podermos cuidar melhor dela e personalizar o seu tratamento e acompanhamento.

Porque motivo o foco na doença de Alzheimer deve tornar-se uma prioridade nas Residências no futuro do nosso país?
Em Portugal, algumas estimativas apontam para que 25% das pessoas com mais de 85 anos sofram de demências, das quais 70% terão origem na doença de Alzheimer o que exige, desde logo, uma resposta ao nível da habitação e do acompanhamento da doença nas habitações que acolhem pessoas com esta patologia. A Orpea vai continuar a traçar um caminho de combate, retardamento e acompanhamento desta doença, disponibilizando cada vez mais soluções a quem sofrer desta patologia.