“Ambicionamos ser uma entidade com Crescimento Sustentável, que possa estar à altura das necessidades da indústria de amanhã”

“Os setores da cerâmica e do vidro em Portugal dispõem atualmente de tecnologia atualizada, com produtos de qualidade, competindo nos mercados internacionais com as melhores empresas mundiais”, afirma Jorge Manuel dos Santos, Presidente do Conselho de Administração do CTCV - Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, em entrevista à Revista Pontos de Vista. Saiba mais de uma marca edificada em 1987 e que perpetua um serviço de excelência nos setores da cerâmica e do vidro.

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O CTCV – Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro é hoje um player de enorme reconhecimento e prestígio, provido de uma cultura de IDI orientada para resultados e valorização dos conteúdos de utilidade industrial. Desta forma, e no sentido de contextualizar junto do nosso leitor, qual tem sido o papel da instituição no domínio dos setores da cerâmica e do vidro?

O CTCV foi criado em 1987, como uma parceria entre Estado, Associações Setoriais e empresas, para satisfazer várias necessidades destes setores, como um laboratório independente que desse resposta às necessidades de controlo de qualidade e de ensaios para a certificação de produtos, tendo-se o CTCV apetrechado com os meios necessários (equipamentos, pessoas e acreditações exigidas).

O CTCV está dotado de um corpo técnico especializado para prestar serviços técnicos para a resolução de problemas relacionados com os processos produtivos, como a não qualidade, defeitos, quebras de produção, melhoria dos processos, eficiência energética, investindo e acompanhando o que é a evolução tecnológica e a sustentabilidade destes setores.

Ao longo dos anos, o CTCV foi estabelecendo uma forte aposta no campo da inovação e da tecnologia, sendo esse o lema da marca. Assim, quais considera serem os contributos do trabalho do CTCV para a modernidade do setor e que lacunas ainda identificam no mesmo?

Os setores da cerâmica e do vidro em Portugal dispõem atualmente de tecnologia atualizada, com produtos de qualidade, competindo nos mercados internacionais com as melhores empresas mundiais.

O CTCV tem vindo a contribuir para a modernidade do setor, através da Inovação e Desenvolvimento. Cito como exemplo azulejos cerâmicos sensorizados, telhas e revestimentos exteriores que produzem energia, produtos auto-limpantes ou fluorescentes que brilham no escuro, entre outros. Também o desenvolvimento de novos processos e novos equipamentos como por exemplo fornos de micro-ondas para a cozedura de porcelana, ou novos processos de produção por via seca que reduzem drasticamente o consumo de água e as necessidades energéticas dos processos.

Como já referimos, a inovação e a tecnologia estão na génese do CTCV. Nesse sentido, em termos práticos, como é que têm ajudado as empresas na procura de soluções para melhorar e facilitar a transição dos seus conhecimentos para o digital?

Exercemos uma vigilância tecnológica permanente em busca de novas tecnologias e materiais emergentes, desenvolvimento de soluções informáticas (manuais, plataformas digitais, etc.) e desenvolvimento de parcerias para a transferência de tecnologia, continuando a apoiar tecnicamente as empresas, transferindo conhecimento, através da formação e de projetos em parceria, designadamente, através da criação de spin-offs.

Atualmente temos em curso um processo de transferência de conhecimento de Impressão 3D para produção de protótipos e modelos, sendo o destinatário todo o subsetor dos produtos de cerâmica decorativa e também utilitária.

Um outro exemplo é a impressão digital da decoração em produtos de louça utilitária como taças ou chávenas, em que o processo de I&D desenvolvido com o fabricante da tecnologia levou à criação de máquinas de impressão digital que não existiam e que hoje estão a ser vendidas por todo o mundo.

Um dos propósitos do CTCV é promover a inovação e desenvolver as capacidades técnicas e tecnológicas dos profissionais deste ramo. Foi esta conceção que ministrou a edificação da Academia CTCV? Qual o balanço que se pode realizar sobre esta iniciativa? E que outros projetos ou iniciativas estão em cima da mesa, com base a dar seguimento a este fim?

A Academia de formação do CTCV surge com o propósito de colmatar lacunas de conhecimento nos profissionais, seja através de formação interempresas ou intraempresas, ajustando os programas formativos às necessidades específicas da empresa, desenvolvendo parcerias estratégicas com a indústria, a associação do setor e estabelecimentos de ensino superior. Exemplo disso, são os projetos de formação-ação com a APICER, que abrangeram mais de 40 empresas ou o curso de especialização, pós-graduado em Tecnologia Cerâmica com a Universidade de Aveiro, que vai já na sua 4ª edição abrangendo mais de 50 quadros técnicos da indústria cerâmica.

Recentemente, transformaram a antiga fábrica de cerâmica em Coimbra num LUFAPO HUB, que irá receber artistas, um pouco de todo o mundo. Com este espaço, também pretendem aliar a história da cerâmica e a valorização do património de uma região à inovação? Sendo isso uma mais-valia, existe também a atenção de não esquecer o tradicional?

Com a instalação do CTCV no iParque – Parque Tecnológico de Coimbra, libertaram-se as antigas instalações do Loreto, onde tinha funcionado a fábrica cerâmica Lufapo, nascendo aí o LUFAPO HUB, constituindo a oportunidade do CTCV continuar a desempenhar o seu papel de transferência de tecnologia e de conhecimento para as empresas, embora aqui de outra forma e com outro tipo de empresas, apoiando o seu crescimento num espaço que propicia o desenvolvimento criativo e inovador.

Na perspetiva histórica, conseguiu-se recuperar o espólio da antiga fábrica Lufapo que se encontrava guardado na Universidade de Coimbra e que já se encontra exposto. Em breve será publicada uma monografia, sobre a Lufapo e a sua importância para o setor e para a região.

Também as indústrias criativas ligadas ao setor da cerâmica e mesmo artesãos podem ter aqui o seu espaço de cocriação e cowork, tendo o CTCV equipado um espaço com equipamentos tradicionais como roda de oleiro, forno, extrusora e outros menos tradicionais como impressoras 3D de cerâmica, procurando assim juntar técnicas tradicionais com tecnologias inovadoras num espaço que promova a inovação e a criatividade.

Acredita que a concretização desta ideia é uma forma de estimular e atrair os jovens a enveredarem pela formação nesta arte, colmatando assim a escassez de recursos humanos?

Estabelecemos um protocolo com o CEARTE que é um centro de formação para o artesanato e que forma jovens em várias artes, entre as quais a cerâmica e o vidro, visando estimular os jovens que após a sua formação, pretendam dar continuidade prática e para a qual necessitam de ter um espaço com condições para, em criação ou em cocriação, poderem desenvolver esta arte. A impressão 3D de cerâmica pretende aproximar e cativar os jovens para a utilização das novas tecnologias digitais no desenvolvimento das suas ideias.

Nos dias de hoje, as indústrias portuguesas estão mais conscientes da sua pegada ecológica e do papel que têm de construir para a implementação da economia circular. Todavia, ainda existem alguns entraves, seja ao nível de recursos financeiros ou humanos, que são vistos como barreiras para a concretização desta transição. Perante este cenário, o que é que o CTCV tem feito para sensibilizar o vosso portefólio de parceiros para esta prática?

O CTCV tem trabalhado a área da sustentabilidade dos produtos e dos processos, procurando que as empresas adotem boas práticas e melhores técnicas disponíveis de sustentabilidade. São exemplos estudos de substituição de matérias-primas por outras mais sustentáveis, descarbonização do leito de fusão, estudos de incorporação de resíduos e subprodutos em produtos cerâmicos que favoreçam a economia circular. Na indústria cerâmica, os desperdícios do processo são hoje praticamente todos reincorporados ou reciclados. O mesmo acontece na indústria do vidro, que é um exemplo de reciclagem interna e principalmente externa (o primeiro vidrão foi colocado no final da década de oitenta), com uma economia de energia significativa e redução das emissões de dióxido de carbono quando se aumenta a percentagem de incorporação de casco reciclado. No entanto, há ainda muito a fazer na sensibilização da população e dos industriais do canal HORECA para aumentar as taxas de reciclagem de vidro que em Portugal são ainda relativamente baixas. O CTCV colabora com a iniciativa “Plataforma Vidro +” que foi lançada este ano, para promover e sensibilizar a população para o aumento da taxa de reciclagem do vidro em Portugal.

O setor da Cerâmica está neste momento a enfrentar uma grande crise energética. Que tipo de medidas têm sido implementadas no CTCV, de modo a apoiar este ramo? Perante este contexto, na sua opinião, que oportunidades surgiram para a cerâmica artística e artesanal?

A crise energética abrange todo o setor da cerâmica e do vidro, em duas componentes: o preço da energia e as emissões de CO2. As empresas destes setores são consumidoras intensivas de energia, e têm procurado investir na eficiência energética e em energias renováveis. O CTCV, integra o projeto “Ecocerâmica e Cristal de Portugal”, numa parceria com as empresas e associações do setor da cerâmica e do vidro, financiado pelo PRR. Um dos principais objetivos é o desenvolvimento de tecnologia e de processos que permitam a produção de produtos de cerâmica e vidro mais sustentáveis e com menores emissões de CO2.

Também para as PME do setor da cerâmica, foi aprovado um projeto no âmbito do Plano de Promoção Eficiência no Consumo de Energia que visa promover e capacitar para a eficiência e a transição energética das empresas.

Face ao cenário que se vive atualmente, qual é a estratégia de desenvolvimento do CTCV para o futuro?

A organização do CTCV está assente em quatro centros de competência: medição e ensaio; consultoria técnica especializada; I&D tecnológico; e Academia de Formação Profissional.

No âmbito da estratégia do CTCV, vamos continuar a apostar nas parcerias com a indústria e com instituições de ensino superior e de inovação; na vigilância tecnológica como forma de permanente atualização do conhecimento e da I&D destes setores de atividade; do reconhecimento como entidade de referência no setor e com capacidade para responder aos desafios da indústria. Em suma, ambicionamos ser uma entidade com crescimento sustentável, que possa estar à altura das necessidades da indústria de amanhã.