As vantagens de ler o livro certo

As crónicas do Miguel Esteves Cardoso têm o condão de provocar várias reações e refletir é sem dúvida uma delas.

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Analita Alves dos Santos

Recentemente li um seu texto intitulado «Pôr a ler dá trabalho» e enquanto os olhos percorriam as letras e o cérebro assimilava as ideias só conseguia anuir com a cabeça e pensar «é mesmo isto!».

A crónica começa com esta afirmação: «De nada serve as pessoas que têm a sorte de ler, dizerem às que não lêem, que não sabem o que estão a perder.»

E continua mais à frente: «O que é preciso, para cada não-leitor, é uma comissão de leitores que se dedique a descobrir qual é o primeiro livro que deve recomendar àquele indivíduo, atendendo aos interesses e à personalidade que tem. O problema da leitura é a escolha do livro certo para uma certa pessoa. O livro escolhido tem de ser divertido, tem de prender o leitor, tem de ser útil: tem de parecer escrito de propósito para aquela pessoa.»

A escolha do livro certo para a pessoa certa pressupõe conhecer o potencial leitor e um trabalho de tentativa e erro. Pressupõe também olhar todos os livros de olhos nos olhos, de igual para igual e deixar de uma vez por todas de os categorizar como «alta literatura» ou «literatura classe média», expressão que tive um dia a infelicidade de escutar, felizmente, já me esqueci na boca de quem. Essa «categorização» só ostraciza ainda mais os leitores e os próprios autores cujas obras são bestsellers e fazem milhares ler — e não é isso que se quer?

Um livro cumpre diversas funções: divertir, entreter, fazer refletir, fonte de conhecimento. Cabe-nos a nós, «ativistas literários» apresentar opções e deixar o leitor decidir o que mais lhe agrada. Um novo leitor acaba por cada vez querer mais, querer diferente. Ler é um vício que se adquire. E que fica.

Há poucos dias apresentei a escritora Leïla Sliman a um membro da minha comunidade. Considerei esta sugestão literária uma mais-valia em termos de aprendizagem (porque identifiquei traços similares em termos de construção da narrativa). Resultado? A aspirante a escritora está a iniciar a leitura do quarto livro de Leïla Sliman e a consolidar assim a própria voz literária. Os livros serão sempre a melhor escola para quem pretende estar no ofício da escrita.

Incentivar não-leitores a aderir a um clube de leitura é também positivo. A leitura conjunta acaba por transformar um ato solitário num acontecimento social com efeito de contágio associado ao desafio. Ninguém quer fica para trás quando em grupo se decide ler um determinado livro com um prazo; todos queremos ter a oportunidade de expressar a nossa opinião, a nossa visão. Além disso os clubes de leitura possibilitam-nos o contacto com livros que por nossa escolha nunca iríamos ler.

Todos saímos enriquecidos com a experiência principalmente quando temos o privilégio de trocar impressões com o próprio escritor. É isso que acontece no clube de leitura «Encontros Literários O Prazer da Escrita» que faço a curadoria em conjunto com o David Roque, professor de História e há vários anos dinamizador do clube de escrita criativa da Biblioteca Municipal de Lagoa.

Procure este clube de leitura no Facebook com a hashtag #bookloveroprazerdaescrita e que tal juntar-se a nós? A próxima proposta literária (novembro) é «Livro de Vozes e Sombras», do João de Melo que também estará connosco online no nosso encontro mensal (data ainda a informar). Em dezembro, o livro sugerido é «O segredo de Wuhan», de Luís Corredoura que também estará connosco via Zoom. Em 2023, vamos ler somente autores portugueses: seis escritores e seis escritoras. A lista está já disponível aqui: https://oprazerdaescrita.com/clube-de-leitura-online/.

Ler estimula a atividade cerebral, ajuda a desenvolver o espírito crítico, faz bem à saúde física e mental, diminui o stresse, melhora a concentração e memória. Ler faz-nos ser empáticos, criativos e mais sociais.

Estas são apenas algumas das vantagens da leitura que sentimos quando lemos o livro certo. Por isso, apesar de pôr a ler dar trabalho, compensa. E muito.