“Continuamos a apostar fortemente na qualificação dos profissionais do Mar”

Em conversa com a Revista Pontos de Vista, Pedro Nogueira, Diretor do Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar – FOR-MAR, falou da importância da evolução dos modelos de aprendizagem para a qualificação dos profissionais do mar, mas também dos projetos e atividades que têm desenvolvido, no âmbito da economia azul.

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O Centro de Formação Profissional das Pescas e do Mar – For-Mar, criado em 2008, sendo atualmente uma instituição de enorme relevo no que concerne à formação profissional para a valorização dos recursos humanos dos setores ligados às atividades marítimas. Desta forma, que balanço é possível fazer ao longo destes 14 anos de atividade?

O FOR-MAR foi criado em 2008, resultado da integração de duas entidades (o FORPESCAS e a EPMC – Escola de Pesca e da Marinha do Comércio). Desde então, realizamos várias ações de inovação e melhoria da formação.

Com a implementação do Sistema de Gestão da Qualidade e a adoção de uma Política de Qualidade, elaborámos processos e metodologias de trabalho, desafios e metas a atingir, análise e prevenção de riscos e uma permanente auscultação a entidades parceiras e aos profissionais do nosso setor. O feedback tem sido muito positivo, tanto por parte das empresas públicas e privadas, associações e organizações com especial incidência no setor marítimo, como dos ex-formandos.

Passámos também a ministrar formação noutras modalidades (a distância/e-learning/b-learning) que se adaptassem às necessidades dos profissionais marítimos e possibilitassem a sua realização em qualquer lugar, inclusivamente a bordo dos navios. Adaptámos, ainda, formação que até então decorria presencialmente para a plataforma MOODLE. Este passo foi fundamental para a diversificação das modalidades de formação, com tudo o que implica ao nível do desenvolvimento curricular, adaptação de programas e metodologias de formação.

Assim, o balanço que fazemos é claramente positivo: continuamos a apostar fortemente na qualificação dos profissionais do mar, no sentido de dar resposta às exigências de qualificação nacionais e internacionais, sem descurar os outros subsetores da economia do mar, em linha com a Estratégia Nacional para o Mar.

O For-Mar assenta a sua dinâmica em três grandes eixos: Formação Profissional; Avaliação e Certificação e Promover a Formação, estando dispersa ao longo da costa continental portuguesa, ministrando formação em 12 Polos. De que forma é que esses três eixos são essenciais na dinâmica da marca e quão importante é conseguir dar resposta às necessidades e exigências do mercado a nível nacional?

Falarmos de formação no setor marítimo é ter em linha de consideração as suas especificidades que têm forte implicação na conceção e no desenvolvimento da formação para o setor do mar: o exercício de uma atividade fisicamente desafiante, o ambiente de trabalho desfavorável e com riscos causados por condições meteorológicas adversas, o tempo de trabalho incompatível com a frequência de formação, a dificuldade de atratividade do setor que se repercute num défice de profissionais e nas dificuldades de renovação.

Assim, as ações de formação tendem hoje a ser cada vez mais curtas e específicas, tendo em conta as regras de certificação internacional – certificados de competência e de qualificação, ao abrigo da Convenção STCW. Em média, um profissional marítimo tem entre 3 a 7 certificados internacionais, que têm que estar a ser permanentemente atualizados.

O nosso modelo de formação é descentralizado, localizado junto dos principais portos da costa continental portuguesa. Este método permitiu-nos implementar um sistema de formação centrado na melhoria contínua, que acompanha as tendências do setor e as exigências de qualificação dos profissionais marítimos.

Outro dos pontos que consagra o For-Mar, passa pela capacidade e ligação que aporta com o universo empresarial, nos mais diversos setores da área marítima. De que forma é que as empresas estão hoje mais recetivas às dinâmicas da formação e quão importante é que as mesmas compreendam essas vantagens?

A formação profissional tem sido vista como uma mais valia no âmbito das suas atividades, dado que a contratação de profissionais tecnicamente qualificados traz benefícios evidentes para o mercado de trabalho.

O que temos verificado é que as empresas estão a querer ter um papel mais ativo, passando a ser envolvidas nos processos formativos dos seus colaboradores. O conhecimento que detêm, aliado à formação que é desenhada à medida das necessidades, traduz-se num aumento da eficiência com possibilidade acrescida de retorno do investimento.

Um dos pontos também importantes na vossa dinâmica, passa pela vertente da Sustentabilidade. De que forma é que existe uma filosofia em prol da Sustentabilidade na orgânica do For-Mar?

A atividade formativa do FOR-MAR está intimamente relacionada com um largo espectro de atividades económicas relacionadas com os oceanos, mares e regiões costeiras, a chamada economia azul.

Temos estado atentos a novas mudanças e desafios no setor e na legislação internacional e nacional que venham ao encontro de um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU (ODS 14), que identifica a necessidade de conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos do planeta. Os temas relacionados com a sustentabilidade oceânica são temas a que estamos atentos, sobre os quais já disponibilizamos alguma formação, e que iremos agora certamente reforçar nos novos cursos profissionais que estão previstos na sequência da alteração do novo regime jurídico da atividade profissional do marítimo e da renovação do Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ), trabalhos em que o FOR-MAR se encontra fortemente envolvido.

Estamos também envolvidos no Projeto On the Wave, iniciativa transnacional financiada pelo EEA Grants, no âmbito da qual iremos tentar identificar competências necessárias aos profissionais marítimos ao nível da sustentabilidade e desenvolver algumas unidades de formação que deem resposta às necessidades identificadas.

A sustentabilidade também está presente no dia a dia do FOR-MAR. Com a implementação de um novo programa de gestão da formação, os processos pedagógicos são digitais, o que nos permite reduzir o consumo de papel.

Por outro lado, as obras de requalificação e modernização de alguns dos nossos Polos ao abrigo do PRR, irão cumprir as metas de eficiência energética estabelecidas.

Quais são os principais desideratos do For-Mar para o futuro? Que novidades esperam poder apresentar para os próximos tempos?

Os próximos 4 anos são fulcrais no processo de requalificação e modernização do FOR-MAR, com a execução de um financiamento do PRR. Este investimento irá refletir-se na modernização das infraestruturas, dos equipamentos tecnológicos e digitais de apoio à formação, e na conceção e desenvolvimento de conteúdos digitais interativos para a formação e-learning. Tudo isto é essencial para podermos dar uma resposta cabal às exigências de formação no âmbito das Convenções STCW e STCW-F, para além das restantes áreas que se enquadram na fileira do mar e que têm constituído o alicerce da nossa oferta formativa.

Por outro lado, e não menos importante, teremos em consideração o desenvolvimento da oferta de cursos de formação ao abrigo do Decreto-lei nº 166/2019 para as novas profissões marítimas, que terão novas qualificações e competências para fazer face aos desafios e exigências que se colocam atualmente aos profissionais marítimos, para as quais é necessário desenhar e desenvolver recursos pedagógicos.

Importa ainda destacar a aposta que se mantém na participação em projetos de âmbito nacional e internacional, em parceria com diversas entidades, com especial ênfase na criação de serviços digitais para a comunidade marítima, no desenvolvimento de novas ofertas formativas e modelos de formação e conceção de recursos pedagógicos digitais, que permitam processos formativos personalizados, flexíveis e centrados na autoaprendizagem.

Diremos, por fim, que todo este conjunto de desafios se consubstanciam numa ideia central que é a de contribuir para o surgimento de um efetivo ecossistema de infraestruturas que funcionem em rede e, desta forma, ter impacto visível no desenvolvimento sustentado da economia do mar.