
No âmbito dos seus 45 anos – que se assinalam este ano, a Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade – APOTEC – organizou a VIII Jornada da História da Contabilidade que se realiza no dia 26 de novembro. Qual é o objetivo deste evento?
A VIII Jornada da História da Contabilidade acontece em Coimbra e o que pretendemos é potenciar o conhecimento histórico e promover uma reflexão sobre a contabilidade e as suas diversas valências. O lema desta edição é a relevância da história na compreensão da contabilidade atual. Organizar estes encontros é algo que muito nos orgulha, são abertos ao mundo inteiro e vivemos um momento crucial para a partilha destas temáticas.
A APOTEC celebra este ano o seu 45º aniversário e ao longo dos meses assinalamos a data de formas distintas: tivemos as conferências Inspire +45; um almoço-convívio de aniversário, campanhas para associados e uma série de eventos alusivos a um marco histórico que muito nos orgulha.
Observando o panorama geral do setor da Contabilidade, o que considera necessário melhorar?
Em primeiro lugar acredito que devemos desmistificar a ideia que um contabilista é uma pessoa que preenche papéis, um burocrata. Creio que é necessário que se unam esforços para dignificar esta classe profissional que com maior ou menor visibilidade está presente em todas as áreas da nossa sociedade quer seja na vertente pública, quer seja na privada.
Penso que seria interessante incluírem-se temas de Contabilidade nos programas escolares, e promover e desenvolver a profissão. Hoje em dia, ser contabilista de certa forma assemelha-se a ser professor: são profissões pouco estimulantes para os nossos jovens.
De que forma é que se poderiam introduzir os temas de contabilidade nos currículos escolares?
O ensino em Portugal – deste e de outras matérias – tem que se reinventar. As escolas e as universidades deveriam ser lugares não só de aquisição de conhecimentos como de prática. Ao nível do ensino secundário por exemplo, e estamos a falar de um universo que tipicamente se situa algures entre os 15 e os 19 anos – seria interessante se ensinassem os alunos de todas as áreas e não especificamente aos de Ciências Socioeconómicas, o que são siglas como IRS, IVA, IRC, IMI e que lhes ensinassem princípios básicos de cidadania financeira e fiscal. Falo em Secundário, abrangendo todo o tipo de ensino, desde o regular, ao recorrente, ao técnico-profissional. A prática e o contacto com o conceito de contabilidade são fulcrais para estimular a camada mais jovem para estas profissões.
A nível universitário, seria interessante que as entidades e as universidades estabelecessem protocolos que recebessem alunos desde o primeiro ano nas suas empresas, uma espécie de estágio de curta duração que de alguma forma permitiria aos estudantes uma noção mais prática sobre o que é Contabilidade, Fiscalidade, Economia, Gestão, Finanças e qual a sua real dimensão. Acredito que o que falta no Ensino é o sentido realmente prático. Quantos jovens dizem que querem ser contabilistas?
Em 1996 a APOTEC criou de forma inovadora no País o Centro de Estudos da História da Contabilidade – CEHC. Que dinâmicas oferece esta vossa valência?
O principal objetivo do CHEC é dinamizar o estudo da História da Contabilidade nacional e internacional ou seja, não apenas em Portugal como igualmente em países de Língua Oficial Portuguesa ou outros locais onde a nossa diáspora esteja presente como, por exemplo, Macau e Brasil. Promovemos esta partilha de conhecimentos que muitas vezes está em simbiose com outras matérias como a fiscalidade, a gestão, a economia ou as finanças e a sociologia.
Além das Jornadas e do Prémio de História da Contabilidade “Martim Noel Monteiro” (cujas candidaturas estão abertas ao público em geral, até ao dia 15 de dezembro), temos parcerias com universidades, privilegiamos os protocolos com docentes e alunos e queremos criar o Museu da Contabilidade mas para que seja possível precisamos, naturalmente, de apoios.
Também fomos inovadores noutros temas, para além da História da Contabilidade. Orgulhosamente e com sentido de serviço público, a APOTEC está cá desde a criação do primeiro Plano Oficial de Contabilidade, é membro de pleno direito da Comissão de Normalização Contabilística, promove também o Prémio de Contabilidade “Luiz Chaves de Almeida” – que é o mais antigo da área na Península Ibérica – e colabora com as entidades públicas no desenvolvimento do pensamento refletivo destes temas.
A APOTEC é uma instituição que partilha e promove a excelência do conhecimento. Nesta reta final de 2022, quais as metas que faltam alcançar?
Este ano de 2022 – após uma pandemia que teve implicações em todas as dinâmicas, incluindo na nossa – está a ser um ano particularmente interessante. Além de assinalarmos o nosso 45º aniversário, temos uma série de iniciativas que são muito bem acolhidas quer pelos associados, quer pela população em geral; voltamos a ter formações (algumas esgotadas) presenciais a par com as que são online, e sentimos que estamos a fazer um bom trabalho. Creio que não se tratam exatamente de metas a alcançar em 2022 mas sim no que pretendemos a curto-prazo, nomeadamente que os Governos, e cor politica à parte, olhem para as Associações de outra forma. O livre associativismo é essencial em sociedade, pois permite aos cidadãos terem uma intervenção profissional, social e cultural, ativa.
Durante este ano e congratulamo-nos por isso, aumentamos o nosso número de associados e isso é fruto do nosso trabalho. Temos campanhas para os novos associados com a oferta de uma formação gratuita, e ainda ofertas aos outros associados, para além de um jornal digital e apoio contínuo, variadíssimos protocolos que conferem benefícios vantajosos e estamos a falar de quotas mensais com valores ajustados ao momento que o País atravessa: €2 (estudantes, desempregados, inscritos ou estagiários do IEFP), €4 (singulares) e €19 (empresas/entidades).
Enquanto Presidente da APOTEC, que mensagem gostaria de transmitir a todos os associados no âmbito destes 45 anos de existência?
Ao longo das décadas ultrapassamos inúmeras barreiras e mantemos o nosso foco. Estamos preparados para mais 45 anos nos quais nos comprometemos a dignificar a profissão de contabilista e a valorização dos técnicos de contabilidade; apoiar as mudanças necessárias para posicionar os profissionais e estamos atentos e disponíveis para as novas necessidades do tecido empresarial.