O Hoje e o Futuro do setor imobiliário que “é dos mais resilientes da economia”

“Assistimos hoje a novos níveis de padrões de exigência de construção (…)”. Quem o diz é Joana Resende, Broker da CENTURY 21 Arquitectos, que, em entrevista à Revista Pontos de Vista, abordou os atuais desafios do setor imobiliário, explicando como a empresa está direcionada em respondê-los. Além disso, falou da pressão urbanística e comercial do Porto, que tem levado as famílias compradoras a procurarem alternativas fora deste centro urbano, e ainda perspetivou as tendências do mercado para 2023.

302

A pressão imobiliária e as recentes transformações tecnológicas e sustentáveis transportaram a arquitetura para um alto padrão de exigência e de qualidade. Sendo Broker da CENTURY 21 Arquitectos, concorda com esta afirmação? E como é que a CENTURY 21 Arquitectos tem procurado responder a estes desafios?
Respondo a esta questão não apenas como empresária do ramo imobiliário, mas também como arquiteta, e a verdade é que assistimos hoje a novos níveis de padrões de exigência de construção, uma vez que as pessoas estão muito mais informadas, e muito consciencializadas com questões como a sustentabilidade (por exemplo). A nossa empresa responde a esta questão, como a muitas outras, de uma forma assertiva: com muita formação. E sendo eu arquiteta, há muitas questões que na nossa empresa são esclarecidas desde o início, e que o consultor já nem coloca, porque fazem parte da formação base. Por outro lado, a CENTURY 21 é sócia da APPII – Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, constituída em 1991, e a entidade nacional que representa os promotores e investidores imobiliários, nacionais e estrangeiros, com atividade no território português, cujo volume de investimento representa anualmente 15% do PIB nacional. Esta parceria permite à nossa rede e agências estarem em constante comunicação e consonância com os promotores que estão neste momento a investir e a comercializar em Portugal.

A CENTURY 21 Arquitectos 1 está localizada em Gondomar, um dos concelhos mais populosos da Área Metropolitana do Porto. Nesse sentido, na sua opinião, que mais valias este posicionamento aporta para o crescimento da agência, mas também para o município?
Nos últimos anos, com a pressão urbanística e comercial da cidade do Porto, agravada pelo crescente interesse do mercado estrangeiro, os valores de transação aumentaram de forma exponencial, o que levou a que as famílias compradoras procurassem alternativas. Gondomar é um concelho contíguo ao Porto, servida de ótimos acessos e transportes públicos; tem todo o tipo de oferta de serviços de uma grande cidade como Centros Comerciais e Hipermercados, Hospital, Biblioteca, Auditórios, Parques Urbanos; uma agenda cultural rica, e um tecido empresarial em modernização, e com oferta de emprego. Há ainda uma grande diferença entre a oferta e a procura, o que fez com que os preços tenham também subido substancialmente, na ordem dos 50% nos últimos 5 anos, e este é o único problema com que nos temos debatido.

Recentemente, foram aprovadas novas regras no crédito habitação. De forma a contextualizar o nosso leitor, que tipo de mudanças trarão para o mercado imobiliário? E estará o mercado imobiliário preparado para essas alterações?
O diploma que entrou em vigor em novembro aplica-se aos créditos à habitação até 300 mil euros, mas apenas nos casos em que se “detete um agravamento significativo da taxa de esforço ou de uma taxa de esforço significativa dos mutuários nos contratos de crédito para aquisição ou construção de habitação própria permanente”. No mesmo documento, prevê-se a possibilidade de alargar a amortização do crédito à habitação sem limite de tempo “com opção de retoma do prazo contratualizado antes do alargamento”. Nesse sentido, os bancos devem apresentar ao devedor “uma proposta de calendário de amortização ajustado, acompanhada, nomeadamente, do impacto financeiro decorrente desse alargamento”.
Por fim, está ainda prevista a suspensão da comissão de reembolso antecipado até ao final de 2023.Nos últimos meses deste ano temos já vivido na nossa atividade com a realidade das novas taxas de juro, que muitos vaticinaram como o fim de uma era no mercado imobiliário. Se até ao momento ainda não temos sentido alteração, será natural que o número de transações diminuirá, mas nunca para o cenário que muitos tendem a criar. Será um abrandamento, não uma travagem. A oferta continuará a ser muito inferior à procura, e por isso os preços continuarão na ordem dos valores a que temos assistido, e os bancos estarão sim mais conservadores nas análises de risco dos seus clientes. Acreditamos que os valores transacionados no próximo ano serão muito próximos a 2019, que foi um ano excecional, pelo que o mercado imobiliário está mais do que preparado para os próximos anos.

O princípio de sustentabilidade também está muito presente no ramo imobiliário, ao passo daquilo que acontece em outras áreas de atividade. Como é que a aposta na sustentabilidade alterou a forma de negociação neste setor? E de que forma a CENTURY 21 Arquitectos tem acompanhado este processo de transformação?
Como referi anteriormente, as pessoas estão de facto mais informadas e mais consciencializadas para esta questão, e atualmente já não basta que os edifícios sejam esteticamente equilibrados, espaçosos ou confortáveis. Com as mudanças climáticas e a redução de recursos naturais, há cada vez mais uma aposta clara em fontes de energia renováveis e em técnicas e materiais construtivos alternativos.
Na CENTURY 21 Arquitectos estamos em constante formação e atualização para estarmos informados e prestarmos todas as informações aos clientes, da forma mais precisa e completa possível.

Recentemente, a cidade do Porto foi eleita como “Melhor Destino de Cidade do Mundo 2022”, nos World Travel Awards. Para além deste prémio, outros vão-se acumulando, oriundos de outras cidades do país. É da opinião, que estas congratulações conferem segurança para a realização de investimentos em Portugal?
Estas congratulações vêm coroar aquilo que tem sido uma tendência já há vários anos. A verdade é que a crise financeira que vivemos entre os anos 2007 e 2015 abriu as portas de Portugal a investimentos estrangeiros de outras nacionalidades, para além daquelas que já faziam esses investimentos, como os alemães e ingleses (maioritariamente no sul do país).
Atualmente, Portugal é considerado, entre os 34 países da OCDE, o melhor país para comprar segunda habitação, e nós que atuamos na atividade imobiliária podemos confirmar a enorme afluência de estrangeiros que todos os dias nos contactam neste sentido. Maioritariamente são oriundos de países com instabilidade política, económica e/ou social como o Brasil, EUA ou Reino Unido, ou então, de países que fazem fronteira com a Rússia ou Ucrânia devido ao conflito bélico.
Será interessante ver que, segundo os dados estatísticos do INE, no 3º trimestre de 2022, os compradores internacionais já representavam 12% da totalidade do mercado imobiliário, tendência esta que, com estas congratulações tenderá a crescer.

Tendo em conta que estamos a pouco mais de um mês para terminar o ano, pergunto-lhe que balanço faz de 2022?
O ano de 2022 confirmou a tendência dos anos anteriores. Foi um ano de crescimento do setor, com um volume de negócio imobiliário a bater novamente recordes.
Assistimos, no entanto, a um abrandamento no número de transações, o que demonstra que houve efetivamente menos procura, mas que em contrapartida os preços dos imóveis aumentaram e, por essa razão, o volume transacionado foi superior em mais de 10% (dados do INE referentes ao 3º trimestre de 2022).
2022 foi também, e para a nossa empresa, um ano de crescimento e consolidação. O foco foi para mim a estrutura da empresa de forma a poder receber os melhores profissionais, e a retê-los. Investi muito no Departamento de Marketing, onde sei que temos ferramentas distintas e únicas no mercado, com 4 colaboradores focados exclusivamente no serviço a prestar ao consultor e, em consequência, ao cliente. Por outro lado, reforcei também o Departamento Processual, para que para além de assegurarmos todos os atos de solicitadoria, contarmos também com todos os serviços jurídicos. Fiz também investimento nas duas lojas, nomeadamente em obras de manutenção, por forma a estarem mais aptas a receber os mais de 110 colaboradores que contamos já na equipa.

Face ao atual cenário internacional, como perspetiva as tendências do setor imobiliário para 2023? Por exemplo, comprar casa será mais viável para os portugueses?
O ano de 2023 vejo como continuidade, ou seja, será muito próximo daquilo que foi 2022. A procura nacional vai ser mais reduzida do que nos últimos 3 anos, consequência da inflação e do aumento das taxas de juro. Não obstante, a oferta continuará a ser muito inferior, o que fará com que os preços não desçam, mas não subam ao ritmo a que já nos habituávamos. Penso ainda que o tempo médio de transação, e por aquilo que já referi, vá aumentar. Assistíamos a um fenómeno em que um apartamento, angariado a preço, era vendido em dias, e este hiato de tempo será maior pela necessidade de ponderação dos portugueses.
Por outro lado, e como referi acerca do investimento estrangeiro, Portugal continuará a ser um país atrativo, e por essa razão aumentará a compra de imóveis por clientes internacionais, ajudando a manter a dinamização do mercado. Termino esta entrevista como terminei a última; há uma verdade incontornável: o setor imobiliário é dos mais resilientes da economia.