“O papel da Tecnologia Microsoft é ajudar a democratizar a Inovação em Portugal”

Em conversa com a Revista Pontos de Vista, Andres Ortolá, atual Diretor Geral da Microsoft Portugal abordou o papel da tecnologia na capacitação de pessoas e organizações, mas também destacou a estratégia que a empresa pretende implementar para ultrapassar os “tempos incertos”, que se prende essencialmente pela contínua aposta na tecnologia e inovação. Dois chavões que também assumem ser essenciais para o futuro da instituição.

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Recentemente, assumiu numa publicação numa rede social que “a tecnologia pode ter um papel central no desenvolvimento das Pessoas, Negócios e Sociedade”. Porquê?
Esses são três princípios orientadores para o meu compromisso enquanto líder da Microsoft em Portugal. Enquanto organização, a nossa missão é ‘capacitar todas as pessoas e organizações no mundo para atingir mais’. A tecnologia é a ferramenta ideal para que essa capacitação se concretize. A tecnologia atravessa já todas as áreas da nossa vida: acompanha e contribui ativamente para a forma como aprendemos, mudou a forma como trabalhamos, e determina até, em alguma medida, a forma como nos divertimos. Pode ter um papel transformador em todas as dimensões da nossa vida, enquanto acelerador do engenho humano. Nessas três dimensões, em particular, o papel da tecnologia Microsoft
é ajudar a democratizar a inovação em Portugal; para a simplificação de processos burocráticos e melhoria transversal dos serviços prestados aos cidadãos; para ser acelerador das jornadas de transformação digital das empresas, pode ser catalisador de novas formas de trabalhar, e instigador de aplicação de melhores práticas, como adoção de Cloud e Inteligência Artificial. Pode ainda servir para ajudar a democratizar a inovação em todos os ecossistemas – das pequenas às médias empresas, às que já nascem como nativos digitais; e ser garante de melhores práticas de segurança e cibersegurança, tanto no setor privado como público. Sou um crente confesso no poder da tecnologia para amplificar aquilo que podemos fazer e muito do que somos resume-se a esses três pilares e à resposta a três questões: como podemos melhorar a vida dos que nos rodeiam? Como podemos acelerar as jornadas de transformação para ter melhores negócios, a contribuir mais para a economia? E como podemos servir a sociedade e comunidades em que estamos inseridos?

A Lei dos Serviços Digitais entrou em vigor no dia 16 de novembro de 2022. Esta nova legislação afeta essencialmente os grandes negócios digitais. Perante este cenário, neste momento, que tipo de soluções se têm de desenvolver para responder aos impactos das alterações que esta Lei perpetua?
Participámos ativamente na discussão e procuramos sempre ajudar a desenvolver novos quadros regulamentares de forma responsável, que permitam a toda a indústria continuar o importante trabalho de proteção das pessoas. Não é exclusivo a esta, mas prática comum nossa reunirmo-nos com líderes governamentais e decisores políticos; participarmos em debates e diálogos públicos, sendo certo que temos evidências sobre a eficácia das nossas práticas de proteção de clientes. Concordamos que as empresas tecnológicas devem assumir uma responsabilidade maior pela forma como as nossas soluções e serviços são implementados e usados, pelo que sempre apoiámos o desenvolvimento de regras e ferramentas que ajudem a regular os serviços digitais de forma eficaz. Hoje, como sempre, continuamos empenhados em desenvolver soluções adequadas, continuaremos a investir em tecnologia, parcerias e diálogo para fazer avançar a segurança digital, perante um ambiente online progressivamente mais complexo. Aqui, como em todo o mundo, continuaremos a apoiar construção de uma segurança jurídica que permitam à privacidade e segurança progredirem positivamente.

Enquanto empresa tecnológica, como encaram o processo de criação de soluções tecnológicas que ajudem a promover uma sociedade digital segura para os consumidores? E qual o papel da regulação?
Tudo o que fazemos, de um ponto de vista de desenvolvimento de soluções tecnológicas – implica que a abordagem seja a mesma se estivéssemos a falar só de pessoas e não de pessoas através de tecnologia. Deve ser responsável, justa, fiável, segura, deve garantir princípios de privacidade, de inclusão, de transparência. A tecnologia deve ser acessível a todos os indivíduos e organizações e o nosso objetivo é ampliar o engenho das pessoas com tecnologia inteligente, utilizando uma abordagem ponderada e centrada no ser humano. Por isso todos nós partilhamos esta responsabilidade. Porque acreditamos ser nosso dever, continuaremos a trabalhar com outros tecnólogos, empresas, governo, sociedade civil e equipas de investigação para colaborar em princípios partilhados e quadros éticos. Se olharmos para o tema do Metaverso, por exemplo, é bom que a conversa comece agora, porque na realidade não devemos esperar para que a tecnologia esteja totalmente desenvolvida para regular questões que existem já hoje. Designadamente aqui, a segurança digital e a proteção das crianças é uma das questões mais importantes, especialmente se estas vão passar mais tempo neste tipo de domínios. Teremos que correlacionar as duas coisas e utilizar os avanços regulamentares de que precisamos hoje para ter uma base mais forte para as questões que surgirão com a próxima geração de tecnologia.

Assumiu no início deste ano o cargo de Diretor-Geral da Microsoft Portugal. De acordo com a experiência que ao longo destes meses foi acumulando acerca do comportamento do mercado em Portugal, pergunto-lhe este é um país que cada vez mais procura ser inovador em tecnologia? Apesar disso, o que falta para acelerar a transformação digital deste país? Que tipo de iniciativas a Microsoft Portugal procura implementar para responder a essa necessidade?
Acredito que sim. Portugal talvez sofra, de certa forma, de algum preconceito por ser um país muito acolhedor para visitar, uma referência no turismo, mas a minha perceção – e felizmente, não é só a minha -, é já percecionado também como sinónimo de negócios, particularmente na cena tecnológica. Se olharmos para alguns factos, rapidamente percebemos isso: é refúgio para as empresas de tecnologia e centros de inovação; é o local de nascimento de sete unicórnios, que representam 5% do PIB; é um país com boas estruturas de apoio, qualidade de vida, seguro e com acessibilidade internacional; temos uma mão de obra bastante qualificada e competente, capaz de operar de Portugal para o mundo; temos Governos e um ecossistema que encorajam o empreendedorismo com esquemas de apoio. Mas não podemos descansar sob este sucesso – somos também um país que está ainda atrás da média europeia em vários indicadores do DESI, designadamente em Computação na Cloud (17º), em número de graduados em TIC (25º) e em competências básicas de software (21º) e com um tecido empresarial composto por 99% de pequenas e médias empresas que não têm, ainda, líderes digitais. Acresce o facto de que estamos a viver também um momento económico, social, geopolítico particular. Na Microsoft, a nossa estratégia e abordagem ao mercado passa pela convicção de que só através da tecnologia e da inovação podemos navegar nestes tempos incertos. A tecnologia digital é uma força deflacionária numa economia inflacionária, e é através dela que seremos capazes de garantir que os seus negócios se diferenciam e constroem a necessária resiliência. Mais do que Transformação Digital, falamos agora em Perseverança Digital e mapeamo-la a partir de cinco imperativos digitais que passam por soluções como a Cloud, Low-Code/No-Code, Colaboração e novas formas de trabalhar, Dados e Segurança. Aos nossos clientes e parceiros oferecemos os blocos para que construam esta sua jornada, porque no final, para nós, o que é de facto relevante são os resultados que os clientes produzem com estas ferramentas, e como transformam a sua empresa, as suas indústrias, e o País. À escala nacional, temos múltiplas iniciativas, designadamente de capacitação digital. Anunciámos aliás, recentemente, um novo programa gratuito, com 350 novos cursos e seis novos certificados em competências digitais. Nos últimos anos capacitámos mais de 400 mil portugueses só através do LinkedIn e do Microsoft Learn. Com este novo Skills for Jobs queremos ir mais longe. Hoje em dia, mostrar que se tem competências não basta. Queremos apostar na certificação também, uma vez que é essencial para a obtenção de emprego qualificado na nova economia digital.

Estamos na reta final de 2022, altura em que se costuma fazer previsões para o ano seguinte. Por isso, pergunto-lhe que balaço faz dos primeiros meses no novo cargo na Microsoft Portugal? Que estratégias irão definir o ano de 2023 na Microsoft Portugal?
Tem sido uma ótima jornada, de grande aprendizagem. Tenho objetivos ambiciosos, mas a nossa missão não muda apesar dos ventos que apanhamos de frente. Queremos ser o parceiro primordial para as jornadas digitais e de inovação dos nossos clientes, queremos ser o impulsionador do sucesso dos nossos parceiros, queremos ajudar a transformar os serviços aos cidadãos e otimizar a capacidade de entrega do Serviço Público do Estado, e queremos ajudar a impactar positivamente as comunidades em que estamos inseridos. Acho que teremos todos, no próximo ano, de aprender a fazer mais com menos, mas sou otimista e acredito que os momentos de alguma agitação podem ser momentos de grande oportunidade. Continuamos a ver a necessidade por parte dos clientes e parceiros de utilizar a tecnologia para resolver problemas críticos em temas como o futuro do trabalho, a sustentabilidade e a segurança, enquanto sofrem com os impactos da inflação e da crise energética. Mas também vemos que a procura de tecnologia para os ajudar a transformar digitalmente e a servir os seus objetivos comerciais não está a abrandar. Sabemos sim que os clientes precisam de investir de forma sensata e rentável. E por isso ser capaz de padronizar a implementação da tecnologia, juntamente com a inovação, é fundamental para o caminho a seguir.