
Em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas para relembrar as conquistas sociais, políticas e económicas das mulheres que lutaram pelos seus direitos. Apesar do muito já concretizado, há quem assegure que ainda existe um longo caminho a percorrer para a plena igualdade. Concorda com este pensamento? O que urge estabelecer?
Há ainda um caminho a percorrer atendendo às desigualdades mesmo a nível intercontinental. Às desigualdades sociais sobrepõem-se as desigualdades de género que neste momento merecem a preocupação de diversos fora a começar pelas Nações Unidas que dedicam um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, o Objetivo 5, relativo à promoção da igualdade de género. Urge sermos solidários ao nível global pois só o equilíbrio no planeta nos permitirá garantirmos o futuro da vida no Planeta. O nosso futuro depende da responsabilidade global.
Sendo a Teresa Ponce de Leão Presidente do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), e por isso um exemplo de liderança feminina nestas áreas, como nos pode descrever este meio no que à igualdade de oportunidades diz respeito?
É verdade que estou na liderança há muitos anos e posso afirmar que nunca me senti discriminada, mas reconheço que a frieza dos números nos diz que ainda estamos muito distantes da paridade. No setor onde me movo, investigação e energia, apesar de ter como pares mulheres muito competentes, com sensibilidade para a liderança a paridade está longe de ser realidade em contraponto da qualidade. Faço notar que para além das qualidades científico-técnicas, as mulheres têm um perfil mais eclético que os homens, tendo capacidade para aliar ao rigor, determinação a sensibilidade e a inteligência emocional. Este equilíbrio entre homens e mulheres é fundamental.
Sabendo que o LNEG ocupa um lugar fundamental no apoio independente à promoção das políticas públicas em Portugal e no apoio à economia numa época de transição energética, quão importante tem sido o fomento de uma liderança e gestão positiva das equipas? Como se define enquanto líder?
Não temos resultados se isolados. Sou observadora atenta dos outros líderes e das instituições pares, em particular as bem-sucedidas e tento liderar aplicando e replicando os bons exemplos adaptados às orientações nacionais. A gestão das equipas é simultaneamente estratégica (em linha com as diretivas Nacionais) e democrática tendo em conta as linhas de investigação. Desde longa data procuramos reforçar as equipas envolvendo-as em redes internacionais, o que tem sido bem-sucedido pelo que podemos constatar no nosso peso nessas redes, saliento que neste momento sou vice-presidente executiva da European Energy Research Alliance a rede Europeia para a investigação na Europa.
Os novos desafios da sustentabilidade, norteados por uma agenda global para o Desenvolvimento Sustentável é o que move o LNEG rumo à construção de um futuro mais limpo e melhor. Quão gratificante é pensar em soluções integradoras e inclusivas, que incluam o bem-estar das gerações futuras?
Trata-se de uma forma de estar perante a investigação e desenvolvimento tecnológico. Contribuir para a sustentabilidade. O LNEG está atento aos desafios externos quer do governo quer da comissão europeia. Ainda recentemente a propósito dos requisitos do RePowerEurope preparou uma ferramenta aberta para identificar áreas potencialmente candidatas a “Go-To áreas” para implementação de projetos de produção de energia renovável no quadro do REPowerEU e da Revisão da Diretiva RED.
Além de o LNEG ter a Teresa Ponce de Leão como um dos rostos mais importantes, razão pela qual a marca tem trilhado um caminho de sucesso e de carisma, como tem vindo a mesma a ser uma instituição de referência, contribuindo para uma economia descarbonizada?
Temos como missão desenvolver conhecimento para apoio às políticas públicas e à sociedade. Temos como lema construir um mundo mais limpo e melhor. Definimos a nossa estratégia em linha com as políticas europeias nas nossas áreas de intervenção que são a energia, a geologia e a gestão responsável dos recursos. O LNEG tem intervindo desde longa data a diversos níveis e gostaria de salientar que normalmente somos o lado silencioso das implementações. Para o efeito dou alguns exemplos: fomos o braço científico que deu origem ao sistema de certificação energética, agora gerido pela ADENE, fomos o braço científico do Sistema de Certificação de Biocombustíveis agora gerido pela ENSE, produzimos o Atlas nacional para o Hidrogénio e muito recentemente o mapa nacional das Go To Areas. Todos estas iniciativas foram e serão importantes para colocar em prática as iniciativas legislativas.
As áreas potencialmente candidatas a “Go-To areas” para implementação de projetos de produção de energia renovável no quadro do REPowerEU e da Revisão da Diretiva RED II permitem que o LNEG seja um instrumento na aceleração da transição Energética.
Enquanto pessoa, mulher, profissional e Presidente deste Laboratório, qual diria que tem vindo a ser o seu estímulo diário ao longo dos anos?
Quando penso no meu percurso ao longo dos anos, há três palavras que me vêm à cabeça – ponderar, decidir e arriscar! Após uma imprescindível ponderação tomar a decisão, mesmo que solitária, e correr o risco pessoal da sua implementação, ancorando-me sempre no grupo, a que pertenci ou representei, fosse ele a FEUP, o LNEG ou o meu país. Penso que esta forma de atuar me tem ajudado a servir as instituições que tenho representado. Acrescento que tenho uma curiosidade insaciável o que sei hoje não é suficiente para me manter atualizada pelo que me tenho mantido em permanente procura de atualizar no estado do conhecimento das áreas onde trabalho em particular na gestão na energia e também na geologia.
Com que olhar enfrenta o futuro no domínio dos direitos das mulheres? Qual será o papel do LNEG perante este desafio?
Vejo o futuro com otimismo. Se olharmos à nossa volta vemos mulheres inspiradoras que ocupam lugares de destaque à frente de empresas, de instituições, como governantes e como chefes de Estado. As mulheres têm conquistado pelo mérito o devido lugar.
O LNEG preocupa-se com os seus trabalhadores e por vezes com muita dificuldade consegue oferecer reconhecimento pelo mérito fruto das condicionantes legais nomeadamente nas dificuldades de promoções. Preocupamo-nos ainda com a sustentabilidade das competências fundamentais para as nossas políticas públicas. Continuaremos a lutar no alerta para estas dificuldades.
Entretanto, temos vindo a promover a conciliação da vida profissional com a pessoal com algum sucesso nomeadamente através de soluções de teletrabalho sempre que possível. Esperamos que o LNEG continue a ser um bom exemplo.