“Para mim Liderar é deixar seguidores”

Vislumbra o seu sucesso com muita humildade e considera-se uma Mulher persistente, tolerante e assertiva, sendo uma verdadeira apaixonada pela saúde mental, pela psicologia e psiquiatria, pela educação. Falamos de Nora Cavaco, Psicóloga Especialista em Autismo e Fundadora do International Center of Neuropsychology & Autism, que num testemunho transparente e sincero à Revista Pontos de Vista, revelou as razões do seu sucesso e os desafios que ainda pretende ultrapassar.

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A Nora de Almeida Cavaco é Fundadora e Presidente do The Nora Cavaco Institute International Center of Neuropsychology and Autism e Diretora do Centro Clínico Algharb. Antes de tudo e para contextualizar o nosso leitor, o que a levou a edificar estes dois projetos e qual a importância que ambos têm no seu quotidiano?
Ao longo de toda a minha vida estive ligada ao conhecimento, à busca pelo mesmo, no sentido de poder aplicá-lo ao meio em que estaria inserida e assim transmiti-lo aos outros, principalmente àqueles que de alguma forma procurassem este tipo de ajuda. Estes dois projetos, um na área da saúde, clínica de intervenção e avaliação – Centro Clinico Algharb com as valências em Medicina dentária com a Dra. Sofia Cavaco; no âmbito da Psicologia, Hipnoterapia, Psicologia Dialética e Terapia Cognitivo Comportamental; e o outro no sentido de desenvolver e proporcionar aos alunos, estes nacionais e internacionais, ávidos de saberes teóricos e práticos, com qualificação diferenciada e especializada o – The Nora cavaco Institute International Center of Neurophychology & Autism. O trabalho de ambos interligam-se no âmbito da educação e saúde mental, e é neste sentido que fundamento o meu trabalho diariamente através de formações, capacitação familiar, no desenvolvimento de habilidades para a vida para quem nos procura e precisa da nossa ajuda.

O The Nora Cavaco Institute International Center of Neuropsychology and Autism foi edificado em 2016, sendo hoje uma referência nacional e internacional no que concerne à investigação ligada à neurociência com especialização no autismo. De que forma é que a instituição tem contribuído para ajudar as crianças, os jovens e as famílias com perturbações ao nível do neurodesenvolvimento?
A nossa principal atuação é no âmbito formativo, de orientação e capacitação parental assim como no diagnóstico, despiste de transtornos ou problemáticas com impacto permanente para a vida. Consultas de avaliação, aconselhamento e orientação têm sido o nosso foco tanto a nível nacional como internacional. Recebemos profissionais e pais de várias partes do mundo não só de Portugal, para uma informação mais humanizada, completa e prática para a vida em família e dos seus filhos. Para nós, é extremamente gratificante esta procura porque revela reconhecimento do trabalho disseminado. A abordagem de visão integrativa e com base nos afetos é uma prioridade.

Sabemos que o seu trajeto está muito ligado à vertente da área da neurociência. Assim, enquanto investigadora, o que mais a cativa e fascina neste campo associado ao desenvolvimento humano? Sente que temos feito progressos visíveis nesta área?
Bastantes progressos. Conhecer a dinâmica do nosso cérebro é permitir-nos entender o nosso funcionamento. As neurociências no meu entender, vieram revolucionar a forma muitas vezes limitada de potenciar as áreas que compõem o ser humano. O seu domínio e conhecimento possibilitam-nos avançar enquanto profissionais, de uma forma mais positiva e gratificante pelos resultados e evidências que os nossos pacientes nos trazem e apresentam nas sessões de terapia. As expetativas relativamente ao que a pessoa em tratamento nos pode oferecer, deve partir desse potencial preservado e a estimular, que só nos é percetível pelo conhecimento trazido pelas neurociências.

Crê que falta uma maior ligação entre, por exemplo, entidades públicas e privadas em prol de maiores progressos nesta área? Que lacunas ainda identifica no domínio neurociência em Portugal, comparativamente a outros congéneres europeus e mundiais?
Ainda há muito a fazer verdadeiramente neste domínio. Deveria existir uma maior abertura e partilha de conhecimentos entre público e privados (pesquisa, divulgação, investimento…), mas a maior barreira no meu ponto de vista insere-se nesta mesma diferença, em que em muitos países o público é aquele que sofre de maiores carências materiais e de pessoal especializado em prol ou comparativamente ao setor privado. No nosso país também é bem visível essas carências a nível de recursos materiais que permitem irmos mais além. No entanto temos uma excelente formação e técnicos com qualificação, mas estes são cada vez menos no País pelo facto de não ser aliciante a oferta, que o mesmo dá ao pessoal qualificado. Mais uma vez, deveríamos repensar as políticas e a valorização do que é nosso para não perdermos o nosso melhor para os outros países.

Analisando outra questão, no dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Na sua opinião, qual a importância desta efeméride?
Muito importante. Em primeiro lugar por tudo o que simboliza a nível político, social e humano. A mulher ao longo dos tempos e de uma forma exigente, árdua até, tem vindo a demarcar-se e a conquistar o seu espaço na sociedade e no mundo, seja este empresarial ou familiar. Ser mulher hoje revela a conquista de quem o foi por nós. Nem sempre tivemos o que temos e cabe a nós lutar e honrar esse legado. Já Einstein, entre muitos outros tiveram grandes mulheres que se esconderam por detrás de descobertas e assinaturas de homens. A valorização e o respeito deveriam já ser algo indiscutível e não uma luta constante, por isso a necessidade de dignificar este dia, para que todos os dias o sejam, para as mulheres do futuro.

A Nora Almeida Cavaco é uma Mulher de sucesso, sendo uma referência evidente como uma Líder Feminina. Quem é a Nora Almeida Cavaco e como é que carateriza o seu trajeto desde que o iniciou até aos dias de hoje?
Vislumbro o meu sucesso com muita humildade e só o considero pela forma como chegam até mim, pedem a minha ajuda o meu aconselhamento. Sei hoje que posso ser o espelho de muitas pessoas o que exige de mim que continue. Sou uma apaixonada pela saúde mental, pela psicologia e psiquiatria, pela educação. O meu trajeto foi muitas vezes solitário entre a formação a coordenação e docência universitária, à prática clínica e às escolas; um trabalho intenso, contínuo e dinâmico. Considero-me uma mulher persistente, tolerante e assertiva o que me tem ajudado bastante a alcançar o que tenho hoje. O meu maior legado é o que deixo de experiências e o que partilho sem guardar nada só para mim. Para mim liderar é deixar seguidores. hoje posso com humildade, mas com gratidão dizer que os tenho nos vários continentes.

Em algum momento desta jornada sentiu algum género de obstáculo pelo facto de ser Mulher? Se sim, de que forma é que os contornou e ultrapassou?
Claro que sim. O sucesso é algo árduo e difícil pela competição desigual. Por ser mulher e por razões sociais à priori, levam-nos a ser ainda melhores nas áreas em que nos movimentamos. O mais incrível é que também muitas mulheres nos olham como se não fossemos realmente capazes! A questão educacional e a moralidade corrompida contribuem muito para este tipo de avaliação. Mas sempre fui persistente e nas dificuldades me reconstrui e me reergui sempre. Hoje sinto-me plena como mulher, profissional, esposa e mãe de filhos extremamente bem formados.

O cenário atual é mais positivo no que concerne ao percurso das Mulheres rumo ao topo. Contudo, ainda existe um longo caminho a percorrer para chegarmos a um estado de maior igualdade. Como analisa este panorama e o que podem as Mulheres perpetuar para singrar e para diminuir o espaço de oportunidades dadas a Mulheres e Homens?
Continuar a trabalhar com honestidade e sabedoria. Acreditar que sim, que somos capazes de fazer e de SER, e se tivermos de provar a alguém, primeiramente que seja a nós mesmas. O topo é um lugar que está acessível aos melhores, então que continuemos a ser as melhores nas mais diversas áreas. Digo sempre às minhas pacientes e alunas, “devem acreditar”!

De que forma é que carateriza o seu género de liderança e como é que a mesma tem a capacidade de promover um nível de compromisso elevado nas equipas que lidera?
A minha liderança implica um poder pessoal… baseia-se na motivação, no saber envolver as pessoas no que tento transmitir, passar conhecimento e acompanhar o crescimento e a evolução de quem me ouve e segue. Todos os dias devemos tentar superar-nos e melhorar sem medos. Muitas vezes definem-me como carismática; não desisto perante os obstáculos e considero-me emocionalmente inteligente. Confio em quem se cruza comigo e tento passar também nas dificuldades essa confiança.

Na sua opinião a liderança não tem e não deve ter género? No universo da investigação, sente que a questão do género ainda é um obstáculo?
Não deve ter género. Na investigação posso dizer que não sinto descriminação nem um olhar menor. Mas para isso desenvolvo também um trabalho contínuo de validação, respeito e fortalecimento pessoal, que em muito contribui para a superação de medos e crenças distorcidas que me possam impedir de ser melhor.

A terminar, que mensagem gostaria de deixar a todas as Mulheres?
Que se amem acima de tudo. Que não deixem de acreditar que podemos ser mais e melhores. Ser mulher é ter a oportunidade de deixar o melhor de nós na educação, na família e em tudo em que nos movemos. Porque somos completas, e nos é permitido passar as emoções sem tabus maiores e preconceitos. Não somos frágeis somos fortes e resilientes; também sabemos como ninguém gerir essas emoções em prol de uma causa maior. Que cabe a nós mulheres dignificar o nosso género e elevar este Ser.