“A indústria de Consultoria desempenha um papel importante na promoção da competitividade das empresas”

A Revista Pontos de Vista «viajou» até Angola para conhecer Ana Cristina Costa, CEO do Afrigroup Angola, uma empresa de consultoria. Entre outros temas, a entrevistada ressalvou as caraterísticas de uma boa liderança e abordou as mudanças no setor da consultoria.

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A Ana Cristina Costa atualmente é CEO do Afrigroup Angola, uma empresa de consultoria, fundada em 2013, especializada na área Financeira, Gestão e Potencial Humano. Quão desafiante tem sido «abraçar» esta função?

Com uma década de existência, as mudanças no mercado foram enormes, e o maior desafio foi conseguir que o capital humano acompanhasse estas mudanças e criasse valor nos nossos clientes. A Afrigroup Angola formou e teve forte experiência com muitos jovens, que hoje dão o seu grande contributo a Angola, em formações, estágios, inserção profissional, partilha de conhecimento com dezenas de jovens, que passaram pela empresa e que me desafiaram a ser professora a full time, mas foi muito desafiante e é muito gratificante. A componente prática e técnica foi um dos maiores desafios para todos os especialistas das áreas financeiras em Angola e até para mim, pois passamos por uma recessão, transformação tecnológica, reforma fiscal, e uma reestruturação clara no setor económico com intervenção da mão invisível Estado, que no final das contas nunca foi invisível e depois a pandemia covid-19, um exame final a todos os gestores, nunca antes visto. A estratégia da prestação de serviço da Afrigroup Angola foi-se focando, cada vez mais, para a Consultadoria de Gestão, com forte enfoque no suporte à gestão para o aumento de desempenho e performance, para a criação e implementação de processos e procedimentos e para capacitar os líderes a introduzir nos seus planos de trabalho uma gestão operacional e uma gestão fiscal mais eficiente e mais ágil.

Na verdade, os últimos quatro anos da minha carreira têm sido ainda mais desafiantes, por serem cargos de alta exigência e responsabilidade. Como administradora de uma companhia de seguros, foi um desafio em termos de tesouraria, rigor nos procedimentos que eram muito pouco existentes, no início, e na necessidade de acompanhamento da atividade com um ritmo constantemente acelerado. Agora, como Administradora de um grupo internacional, o controle da eficiência dos investimentos, o relato e gestão de atividades completamente distintas e em diferentes países onde temos indústria alimentar, exploração, imobiliário e comércio e prestação. Há duas coisas em comum, é a questão dos desafios dos mercados financeiros e da volatilidade dos custos de compra nos mercados incertos, esse é um desafio comum em todos os setores de atividade, que dependem de produtos e serviços importados.

Ainda no mesmo tópico de conversa. A Ana Cristina Costa tem um percurso profissional pautado por diferentes desafios. Face a isso, como se caracteriza enquanto líder? E que tipo de mais-valias essas diferentes experiências profissionais lhe conferiram para a profissional que é, nos dias de hoje?

Uma líder pauta por características que a diferenciam e influenciam as equipas, para que os resultados surjam, naturalmente. É importante lembrar que, a liderança é um processo contínuo de aprendizado e desenvolvimento, e que cada líder tem o seu próprio estilo e abordagem. As habilidades que são importantes para se tornar uma líder de sucesso e que considero serem uma mais-valia para a organização e para as nossas equipas são: primeiro, uma visão clara, onde querem ver a organização, quais os objetivos a alcançar, ferramentas a usar, recursos necessários, alinhando claro os valores e a cultura organizacional. Segundo, a comunicação clara e eficiente, construtiva, com a capacidade de receber os feedbacks da sua equipa. Só assim o crescimento e desenvolvimento como equipa acontece. Terceiro, fomentar o trabalho de equipa, encorajar o desenvolvimento intelectual individual e coletivo, garantindo o reconhecimento e valorização do capital humano, e apostar na melhoria dos mesmos.

Quarto, na liderança, por exemplo, não se pode chamar atenção de algo que não se conhece, sendo primordial, ser um líder honesto, ético, responsável e com capacidade de trabalho. Por último, e não menos importante, ser resiliente, capaz de liderar sob pressão e a necessidade de tomar decisões. Sobrevalorizo muito pela ética e transparência nas organizações por onde tenho passado. Um líder tem cinco passos para chegar ao top da sua performance e o primeiro é as pessoas seguirem o que fazes e o último é querem ser como tu. Nesta trajetória, é necessário tomar decisões que não agradam a todos, mas que são necessárias. É preciso contratar, demitir, reestruturar, incutir, partilhar, exigir, obter resultados, faz tudo parte de um processo que nos leva a resultados de alta performance. Dou vários exemplos, reestruturações como a Carmon, a Companhia de Seguros – Protteja que no meu mandato atingiu o 10º lugar no ranking das 28 companhias, tendo em 2021 e 2022 um crescimento acima do normal e agora o Grupo Trilénia/Daimic, que estamos a criar uma cultura diferenciadora organizacional. Atenção, nada se faz sozinho, e isso não é resultado de um trabalho individual, mas sim de equipas motivadas por uma liderança audaz, criativa e muito, muito trabalhadora. Muitos dias, sou a primeira a chegar e a última a sair, é uma questão de exemplo. As minhas lideranças sempre primaram pelo exemplo e o meu sucesso vem do reconhecimento coletivo. Sou uma felizarda por ser, fazer e preservar amigos por todo o lado que passo, esta é uma das maiores riquezas do meu sucesso, e a outra é o crescimento dos profissionais que comigo trabalharam e agora ocupam lugares de direção e liderança de equipas em grandes instituições privadas e públicas, em Angola. Digo sempre que, sou riquíssima porque, como Ser Humano, estou realizada, já plantei três árvores, já escrevi três livros e tenho três filhos. Tudo agora são upgrades.

Atendendo ao seu cargo atual, e ao trabalho que desenvolve, diariamente, na sua perspetiva, o que define uma boa liderança? Podemos afirmar que liderar Pessoas, hoje em dia, é uma função gratificante, mas, ao mesmo tempo, complexa?

Liderar pessoas requer habilidades emocionais, habilidades de comunicação, habilidades de gestão, de mudanças, conhecimento técnico e muitas outras habilidades. Ser um líder eficaz exige um esforço contínuo de desenvolvimento e aprendizado, sim posso dizer que é uma função muito gratificante, mas também pode ser complexa. Lidar com diferentes personalidades, motivações e expectativas pode ser um desafio, e é importante que um líder esteja sempre disposto a ouvir e aprender com sua equipa. Ver a nossa equipa a alcançar os seus objetivos e crescer profissionalmente é uma das recompensas mais gratificantes da liderança. A chave do sucesso de um líder e de uma organização é mesmo a sua equipa, o capital humano unido e conciso faz milagres a acontecer, todos os dias. Então, no meu ponto de vista, uma boa liderança define-se por saber lidar com a diversidade de carateres, religiões, etnias, gostos, expectativas. Depois as tecnologias, pois a nova era digital evolui todos os dias, e garantir o acompanhamento de todos e o bom uso é fundamental. A capacidade liderar tomando decisões rapidamente e sobre pressão, pois o mercado de hoje tem consigo a necessidade de adaptação e mudança nas organizações em condições de incerteza. Manter as equipas motivadas e com saúde mental, é uma necessidade extrema e que influência a produtividade (a prova de resistência com a covid-19) a que todos estiveram submetidos e responsabilidade social, em que todos nós somos chamados a contribuir para melhorar um pouco da vida do outro. Liderar é conseguir influenciar, ser ídolo e serviçal ao mesmo tempo, é fazer acontecer mesmo quando nada faz, mas que toda a sua equipa trabalha para um objetivo e sabem / querem alcançar.

Devido ao trabalho que desenvolve no Afrigroup Angola, a Ana Cristina Costa está em contacto com mercados de diferentes países. Nesse sentido, e considerando a sua experiência, que competências são necessários para trabalhar em mercados tão distintos?

Trabalhar em mercados distintos é um grande desafio para qualquer profissional e eu não fui e não sou exceção, pois trabalhar com e em Angola, Dubai, Congo e Moçambique requer as competências certas. É possível ter sucesso, mas realmente é necessária uma capacidade de adaptação muito grande. Houve algumas competências que tive que trabalhar para conseguir alcançar os meus objetivos e os objetivos organizacionais como:

1º  A forma de comunicação: é importante ser capaz de se comunicar de forma clara e eficaz, tendo em atenção as diferenças culturais na forma como as pessoas se comunicam;

2º  A cultural: é importante ser capaz de se adaptar a diferentes culturas de negócios, costumes e práticas, para o sucesso, quer com clientes, stakeholders, ou mesmo os nossos colaboradores;

3º  O mercado e a negociação: é importante entender o mercado em que se está a trabalhar, incluindo as tendências do setor, os concorrentes e as regulamentações governamentais, bem como compreender as expectativas culturais e os estilos de negociação em diferentes mercados;

4º  Mentalidade global: é importante ter uma mentalidade global e estar aberto a diferentes perspetivas e ideias. Isso, pode envolver, ser capaz de trabalhar em equipas multiculturais e ter uma compreensão global dos negócios.

Parece algo fácil, mas acreditem que cada mercado é único e pode exigir habilidades específicas para ter sucesso.

Analisando o setor da Consultoria, e na sua opinião, quão importante é esta indústria na promoção da competitividade das empresas? Sente que este setor tem sabido adaptar-se às novas exigências do mercado?

Na minha opinião, a indústria de consultoria desempenha um papel importante na promoção da competitividade das empresas. As empresas contratam consultores para obter insights valiosos e objetivos sobre os seus negócios, setores e mercados. Os consultores podem fornecer às empresas uma perspetiva externa e especializada, ajudando a identificar oportunidades de melhoria, solucionar problemas e desenvolver estratégias para competir melhor no mercado. Além disso, a consultoria pode ajudar as empresas a implementarem mudanças e melhorias de forma mais eficiente, com a ajuda de especialistas, que têm experiência em diferentes setores e problemas. Isso, pode levar a um aumento da eficiência, produtividade e rentabilidade das empresas. No que diz respeito à adaptação e às novas exigências do mercado, a indústria de consultoria tem enfrentado vários desafios nos últimos anos, como a necessidade de digitalização e a crescente competição de consultores internos nas empresas.

No entanto, muitas empresas de consultoria têm se adaptado a essas mudanças, incorporando tecnologias e oferecendo serviços mais especializados e personalizados para atender as necessidades dos clientes. Além disso, a pandemia Covid-19 tem levado a uma crescente procura por serviços de consultoria, já que as empresas precisam se adaptar rapidamente às mudanças no mercado e na economia global. Muitas empresas de consultoria têm ajudado os seus clientes a navegar por esses desafios sem precedentes, fornecendo insights e soluções para problemas complexos.

Em resumo, a indústria de consultoria desempenha um papel importante na promoção da competitividade das empresas, fornecendo insights valiosos e objetivos, soluções e estratégias para melhorar o desempenho empresarial. Embora a indústria de consultoria tenha enfrentado desafios nos últimos anos, muitas empresas têm se adaptado às novas exigências do mercado e estão bem posicionadas para ajudar os seus clientes a enfrentar os desafios do futuro. Daí o Afrigroup, tenha-se focado, cada vez mais, na consultadoria e mentoria de alta performance.

De que forma é que a inovação tem sido um promotor essencial das empresas, como a sua, que operam no setor da Consultoria através de pilares como o rigor, a transparência e a qualidade?

O mercado cada vez é mais exigente, faz com que as empresas de consultadoria tenham de superar as expectativas de modernização e diferenciação conseguida pela inovação que alinhada ao rigor, a transparência e a qualidade, são o valor acrescido que entregam aos seus clientes. Em primeiro lugar, as empresas de consultoria estão constantemente a procurar racionalizar de forma eficaz o uso de novas tecnologias, como análise de big data, inteligência artificial e aprendizado de máquina, para obter insights mais profundos e precisos sobre os negócios dos clientes. Depois, em segundo lugar, a inovação pode ajudar a melhorar a transparência dos serviços de consultoria, incluindo o uso de painéis de controle online e relatórios automatizados para fornecer aos clientes uma visão clara do status do projeto e dos resultados, criando procedimentos para a sua implementação com plataformas digitais.

Na sua opinião, o que falta para, em Portugal, e um pouco por todo o mundo, vermos mais Mulheres em cargos de liderança? E em algum momento, o facto de ser Mulher, foi um entrave para a sua ascensão laboral e progressão de carreira? Se sim, como é que ultrapassou esse obstáculo?

O que se passa é igual em todo o mundo, o preconceito de Mulheres liderarem Homens, tem havido um esforço a nível mundial para a igualdade de géneros e oportunidades, mas isso é muitas vezes só colocado no papel. De facto, ser Mulher líder, não é fácil, requer muita firmeza, competência e inteligência emocional. Já tive abordagens ao longo da minha carreira muito desadequadas, que por vezes só queria abandonar, mas depois tenho a voz interior de motivação que me diz “mostra quem és e o que fazes”, e realmente quando os resultados falam por isso, as dúvidas e más intenções dissipam-se. Em Portugal e no resto do mundo, já foram dados passos importantes para aumentar a presença de Mulheres em cargos de liderança. No entanto, ainda há muito a ser feito para alcançar a verdadeira igualdade de género. É preciso que as empresas e as organizações implementem políticas e práticas inclusivas e equitativas, que incentivem e apoiem as Mulheres a encontrarem cargos de liderança e que criem um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo.

Que mensagem ou conselhos gostaria de transmitir às nossas leitoras, que também pretendem construir um trajeto de liderança como a Ana Cristina Costa?

Existem muitos fatores que podem contribuir para o sucesso profissional de uma Mulher, mas deixo os pontos de sucesso que me fizeram chegar onde cheguei, espero poder ajudar:

A Educação e desenvolvimento de habilidades – ter uma educação sólida e o desenvolvimento de habilidades relevantes para a carreira escolhida são fundamentais para o sucesso profissional. Certifique-se que se mantem atualizada sobre as tendências do mercado de trabalho e as necessidades de sua área de atuação. Depois, o seu ambiente envolvente, o seu Networking  é fundamental para construir conexões e relacionamentos profissionais, que possam ajudá-la a encontrar oportunidades, avançar na carreira, aprender e partilhar, que lhe acresça valor.  Tenha confiança e assertividade. Saiba se posicionar de forma assertiva, isso pode ajudá-la a destacar-se no ambiente de trabalho e no reconhecimento. Encontre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, nem sempre é fácil, é muito importante o apoio familiar, mas encontre um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional para garantir que você possa se concentrar nos seus objetivos de carreira a longo prazo.

Seja eterno aluno, esteja sempre disponível para aprender, procure mentoria: a partilha faz com que possa aprender com profissionais experientes e obter orientação e melhorias na sua carreira. Tenha a capacidade de ser resiliente e tenha a capacidade de adaptação. A capacidade de se adaptar às mudanças e lidar com os desafios que surgem no ambiente de trabalho, é essencial para o sucesso profissional a longo prazo. Conhecer-se completamente é fundamental, pois o seu autoconhecimento permite-lhe conhecer as suas próprias forças e fraquezas e pode ajudá-la a encontrar o caminho certo para o sucesso profissional e a identificar as áreas em que precisa se concentrar para melhorar. Deixo quatro palavras de encorajamento: Força, Capacidade, Resiliência e Fé em si próprio. Com isto, conseguem alcançar tudo aquilo que desejam e claro não há limites. Saibam criar a vossa liderança com base na humildade, partilha, transparência e ética. Não exija aquilo que não faz. Não crie falsas promessas que não espera cumprir, e principalmente seja uma pessoa que cresce e contribui, só assim a diferença será real. Seja Mulher, mas com caráter e força de Homem.  A minha trajetória foi dura, e sem uma mãe e um pai ausente desde os 19 anos, mas isso fez de mim uma Mulher de força, íntegra e que não aceita um não como resposta para os seus objetivos. Serei uma aluna eterna, mas uma professora a cada instante. Seja realmente boa e diferenciadora na sua área de trabalho, as oportunidades e o reconhecimento serão seus!

Por último, que tipo de iniciativas a Afrigroup Angola tem pensadas para 2023, para continuar a construir um caminho de crescimento na área da Consultoria? E enquanto pessoa, Mulher e profissional, que marca gostaria de deixar no mundo?

2023, é de facto um ano de muitas mudanças profissionais e pessoais, já era expectável, porque os frutos são semeados até os colhermos. Enquanto profissional, quero continuar a fazer a diferença nas minhas equipas, que elas tenham um exemplo vivo de que nada é impossível. Continuarei a criar valor nos meus clientes e nas suas organizações, como marca principal. Os próximos anos, quer nos mercados africanos quer nos árabes, há muito investimento e muitas novas oportunidades de investimento a estudar e para apostar. Como Mulher há mudanças normais de estrutura familiar e de quem tem os filhos a ganhar asas para voar, e começa novos rumos a considerar, as mudanças que temos de ter capacidade de nos adaptar, na vida pessoal é igual. A minha maior chancela é de subir de grau a grau, sem pressa, nem atropelos, aproveitando as oportunidades que vão acontecem, que trabalhei para que acontecessem e que nunca me contento quando disserem que não és capaz, então vai lá e faz.  Se não lutei por alguma coisa, é porque considerei ser o melhor para mim! Recomendo a todas as Mulheres, que nunca a história escrita por um terceiro será tão boa como a que escrevemos pelas nossas mãos e retratadas na primeira pessoa. Por isso, o percurso das suas vidas, da sua carreira, só elas devem ser a atriz principal, lutar, lutar, trabalhar. Trabalhar e capacitar, tudo acontece!