Adão Artur Magalhães Rocha – Presidente da APTAS (Associação Portuguesa dos Técnicos Auxiliares de Saúde)
O dia Mundial da Saúde, tendo sido comemorado pela primeira vez a 7 de abril de 1950, teve também como efeméride a própria celebração da criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1948.
Passados 75 anos, os ganhos civilizacionais em todas as dimensões, trouxeram para a humanidade, em especial nos países desenvolvidos a segurança necessária para que façamos projetos mais alongados no tempo.
Contudo, em cada ano que se comemora este dia, dá-se enfoque a diversos temas-chave relacionados com a saúde, sendo os mesmos abrangentes ao resto da humanidade, sendo tema principal deste ano “Um ambiente de trabalho seguro e saudável”.
Tema este que, se enquadra na perfeição do tema proposto pela equipa editorial da Revista “Pontos de Vista”, convidando a APTAS, a dar o seu contributo, em forma de opinião sobre o mesmo, relacionando com a temática dos Técnicos Auxiliares de Saúde, na persecução de um “Planeta mais Saudável e com qualidade de vida”, tendo como atores principais neste artigo os profissionais TAS.
Dentro deste tema, e enquadrando esta nobre ainda não profissão, (pois pugnamos há 15 anos pela reposição da mesma, desde que em 2008 uma lei cega nos retirou a profissão de Auxiliar de Ação médica), é de suma importância o assunto para a persecução de um Sistema Nacional de Saúde, que se quer de qualidade e humanizado.
Contudo, para que esse objetivo seja alcançado, muita coisa teria de mudar nas políticas, tantos centrais, como nas locais, e em especial, na forma de gerir estas instituições de saúde, o bem mais precioso que a humanidade tem.
Um Planeta mais saudável e com qualidade de vida, remete a nossa posição como associação, para a escala dos cuidados de saúde, enquadrada no tema “Um ambiente seguro de trabalho e saudável”, tendo em conta a ligação intrínseca que existe nos dois temas.
Todos sabemos, que não é fácil gerir qualquer instituição, em especial todas aquelas que tem como missão a promoção dos cuidados de saúde, em que contrabalançar a saúde financeira da mesma, tendo de cortar nos bens essenciais para uma prática eficaz e eficiente que se pressupõe também mais humanizada, para com os utentes destas unidades hospitalares, não é de todo o esperado, nem o espectável.
Infelizmente, é o que vai acontecendo em maior ou menor escala, dependendo de quem tem a responsabilidade de gestão das unidades que gerem, sendo que por vezes é gritante e chega a ser problemático, aquilo que nos vai sendo relatado pelos nossos associados.
Não iremos aqui referir a falta de material para os cuidados mais invasivos, pois isso não é da nossa alçada, apesar de sabermos da sua existência, ou melhor a sua não existência, pois cabe-nos a nós Técnicos Auxiliares de Saúde, a reposição de todo esse material.
Contudo, falaremos da falta de meios e de materiais necessários, para que o nosso trabalho fosse mais eficaz, transformando-se na eficiência que todos nós desejaríamos, tendo em conta a proteção da saúde dos profissionais, a sua segurança, consequentemente mais saudável.
Numa grande maioria das nossas unidades hospitalares, a falta de condições, quer sejam ergonómicas, como de equipamentos que facilite os cuidados para com os utentes, é aberrante, não se consegue compreender que ainda em muitos hospitais os duches não sejam ao nível do chão, existindo bases de duche com ressaltos de 15cm, impraticável, para levar alguém tomar duche na mesma com as cadeiras apropriadas para o efeito, em especial aqueles que não tem capacidade de locomoção.
A inexistência, por exemplo, de gruas elevatórios elétricas, para reposicionar ou até levantar doentes obesos, ficando a cargo dos profissionais dos cuidados (Enfermeiros e Auxiliares) o levante dos mesmos, por vezes são necessárias quatro pessoas, com agravante de algo correr mal, e claro com o esforço necessário físico dos profissionais, onde as mazelas de dia após dia, ao fim de uns anos se fazem notar.
Por vezes, essas dificuldades fazem com que os doentes fiquem mais tempo na cama, com as consequências mais nefastas para os mesmos, pois um banho de chuveiro, o levantar para o cadeirão, ajuda na promoção do bom funcionamento de todos os sistemas do ser humano.
Poderíamos enumerar mais questões desta natureza, contudo e porque existem outras questões relacionadas com a falta de meios humanos, trazemos para primeiro plano a questão dos horários longos de trabalho, turnos de 12/14/16 horas seguidas, nesta área tão exigente, muitas das vezes aos fins de semana, onde o conceito familiar vai perdendo para a profissão, fazem com que o stress acumulado pelo desgaste, e pelas pressões das chefias, que só olham para os rácios numéricos, atiram estes profissionais para o Burnout.
A falta de incentivos financeiros é também uma consequência da não promoção de um ambiente mais aprazível e saudável, contudo em minha opinião, esta área profissional terá de ser enquadrada quase como que em espírito de missão, em que a questão monetária, sendo sem sombra de dúvida muito importante, não terá as consequências tão nefastas como a falta de outras condições que, poderiam e deveriam ser promovidas por quem gere os dinheiros públicos, em especial os gestores de topo, pois cabe a eles decidirem de que forma e como esse dinheiro é aplicado, na tal promoção de “Um Ambiente Seguro de Trabalho e Saudável”.
A responsabilização dos gestores hospitalares pela má gestão, deveria ser um requisito para se entrar na profissão, sabendo que sairia do seu património qualquer incoerência comprovada na gestão, faria que os menos rigorosos, não dessem mau nome aos poucos que, primam por uma gestão séria, honesta e rigorosa da aplicação dos nossos imensos impostos que todos temos de contribuir.