32 anos de RELACRE

A RELACRE nasceu em 1991 com a visão de ser uma instituição de referência junto da comunidade portuguesa de entidades com atividade laboratorial e de avaliação da conformidade acreditadas, tendo como meta que todas sejam suas associadas. Em entrevista à Revista Pontos de Vista, Álvaro Ribeiro, Presidente do Conselho de Administração da Associação, abordou de que forma, em 32 anos de historia, esta missão foi conseguida. Saiba tudo.

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Há 32 anos houve a necessidade de se criar em Portugal uma entidade capaz de representar os laboratórios portugueses – e assim nasceu a RELACRE – Associação de Laboratórios Acreditados de Portugal. Fazendo uma retrospetiva, que lacunas precisavam de ser colmatadas antes da fundação da Associação?
A RELACRE nasceu em 1991, impulsionada pelo Instituto Português da Qualidade e por algumas das entidades de maior relevância com atividade laboratorial em Portugal, criando condições inexistentes até então, para atuar como facilitador de sinergias num contexto da atividade económica em crescimento dos laboratórios com acreditação. A constituição da RELACRE deu resposta a um conjunto de desafios emergentes no contexto nacional, acompanhando a dinâmica da acreditação, e no contexto internacional, após a fundação da EUROLAB (confederação europeia de associações de laboratórios) em 1990, constituindo-se como a associação representante de Portugal nesta nova organização e tendo como cenário a criação do mercado único europeu. Desde então, a RELACRE ocupou um espaço importante, dando resposta a uma crescente necessidade de recursos partilhados e de um espaço independente de diálogo e de discussão de problemas setoriais e de potenciais soluções. Este movimento traduziu-se numa forte representação institucional do setor e, simultaneamente, na criação de pontes e de uma forte capacidade de intervenção no contexto europeu e internacional, antecipando a importância que esta vertente tem atualmente para muitos dos seus associados e para a comunidade de laboratórios em Portugal.

Este ano, a RELACRE completa 32 anos de história. Enquanto Presidente do Conselho de Administração, que conquistas mais importantes foram alcançadas até ao momento?
A RELACRE tem consolidado o seu papel em diferentes vertentes, igualmente importantes, destacando nestas, quatro: a componente associativa, a representação e o diálogo com as diferentes partes interessadas, o seu posicionamento internacional, e a sua adaptação a novas realidades.
Na componente associativa e, em sentido mais lato, no serviço prestado à comunidade de laboratórios acreditados, a RELACRE tem tido uma ação diversificada onde se realçam desde logo as comissões técnicas e setoriais, constituindo grupos de trabalho que produzem documentos técnicos e têm uma intervenção solidária com a governança, com as entidades reguladoras, com a indústria e com outras partes interessadas, e o desenvolvimento de atividades necessárias aos laboratórios, desig­nadamente, a formação, a assessoria, a organi­zação de ensaios de aptidão e a certificação de pessoas. Na componente de representação institucional, a RELACRE assume uma intervenção colaborativa como parceiro de organismos congéneres (por exemplo com a CIP, com a APQ, com a Sociedade Portuguesa de Metrologia e com a Sociedade Portuguesa de Materiais), sendo interlocutor de entidades reguladoras em diversos domínios (Ambiente, Águas e Resíduos, Saúde, entre outros), e com entidades do Estado (nomeadamente, o IPQ, o IPAC, e os Organismos de Ministérios com a tutela das mais de 70 áreas de atuação de laboratórios representadas na RELACRE). Na terceira vertente, o forte posicionamento internacional, a RELACRE tem assegurado a representação nacional em diversas organizações europeias e internacionais, nomeadamente, na EUROLAB aisbl, na IMEKO, na EURACHEM, na EFNDT, e na ICNDT, onde tem tido frequentemente funções dirigentes ao longo dos anos, inclusivamente tendo exercido, em vários mandatos, a presidência da EUROLAB. Neste contexto, a RELACRE dispõe de uma rede de contactos notável e possui uma capacidade de influência em múltiplos contextos (técnico, económico e político). Na quarta vertente, de adaptação da RELACRE a novas realidades, tem sido possível uma evolução estrutural e organizacional de adaptação a novas realidades condicionadas por fatores externos, que traduzem a sua resiliência e capacidade de inovar mantendo o elevado nível de qualidade e profissionalismo que é reconhecido pelo mercado. Um exemplo importante foi dado pela área da formação que, como muitas outras entidades, teve que adaptar os seus meios, métodos e processos a uma nova abordagem digital remota, dando resposta às exigências determinadas pela pandemia de Covid19, sendo atualmente uma linha de ação perfeitamente ajustada a uma nova perspetiva de comunicação.

A Acreditação tem tido uma importância fundamental na atividade económica desde então, traduzindo uma forma de reconhecimento da competência da atividade dos laboratórios. Para melhor entender, quais têm vindo a ser as principais mais-valias da atividade da RELACRE no âmbito da economia nacional e social?
A importância da acreditação para os laboratórios decorre do reconhecimento que esta proporciona no mercado global, sendo essencial no contexto da internacionalização e vital para que a indústria nacional possa dar resposta a barreiras ao comércio internacional. A RELACRE tem, desde a sua origem, um papel relevante participando em organismos que definem as regras da acreditação, com destaque para a ILAC, mas também, como facilitador da acreditação dos laboratórios. Um exemplo recente digno de nota, consistiu na transição da norma ISO/IEC 17025 revista e publicada em 2017, onde a RELACRE teve um papel relevante quer durante o processo de revisão, onde acompanhou a evolução do processo informando os laboratórios da evolução em curso, quer na fase de transição para a sua implementação, apoiando os laboratórios pela via da formação e qualificação, da assessoria, da partilha de documentos guia internacionais e da criação de sinergias na comunidade de laboratórios, facilitando a sua concretização nas respetivas organizações e nos seus sistemas de gestão. Este papel é particularmente relevante enquanto suporte da competitividade da economia nacional, considerando o enquadramento global da economia.

Vários têm sido os desafios que a RELACRE, tal como o mundo, têm sofrido nos últimos anos. Sabendo que um dos mais recentes recai sobre a transição digital, em que medida os laboratórios têm sabido evoluir e acompanhar o desenvolvimento tecnológico que caracteriza a sociedade moderna?
A transição digital é um tópico central para o futuro dos laboratórios, desde logo, porque as tecnologias emergentes permitem uma organização dos processos laboratoriais de forma muito mais eficiente, robusta e eficaz. Contudo, os desafios da adaptação são tão ou mais exigentes que os que se encontram noutras atividades económicas, porque a atividade laboratorial desenvolve-se primordialmente para garantir a confiança e a segurança de produtos e serviços disponíveis na sociedade, e porque a evolução é cada vez mais vertiginosa (veja-se, por exemplo, a diversidade de produtos baseados no conceito de IoT, a perspetiva de utilização de mecanismos de blockchain, e a aplicação de conceitos e princípios de inteligência artificial e machine learning). Nesta evolução, uma coisa é certa, a sociedade espera sempre que os laboratórios possam garantir este elemento fundamental que consiste em assegurar aos cidadãos a confiança e a segurança, sem as quais, dificilmente se pode conceber um mercado global efetivamente regulado e sem barreiras e uma resposta adequada às expectativas dos consumidores e dos cidadãos.

Tudo o que envolve, também, o ambiente, a sustentabilidade e a economia circular são temas que tanto têm de relevantes, como de cruciais para o futuro dos negócios, das gerações e do planeta. De que forma a RELACRE tem encarado esta realidade e ajustado a sua atividade, bem como da dos seus associados?
A RELACRE acompanha as tendências de governança que guiam a atividade laboratorial e, neste sentido, tem uma relevância particular o enquadramento do programa de geminação proposto pela Comissão Europeia que relaciona a transição verde com a transição digital (designado por “Twin transition”). Com efeito, acompanhamos os objetivos delineados no Pacto Ecológico Europeu, orientados para combater as alterações climáticas e atingíveis mediante a utilização da inovação e do desenvolvimento das tendências tecnológicas. Mais uma vez, considera-se que a comunidade de laboratórios tem um papel fundamental ao assegurar as condições para o cumprimento dos requisitos de utilização das ferramentas tecnológicas (por exemplo, no quadro da certificação nas áreas energética, ambiental, de saúde, entre outras) e, simultaneamente, avaliar a adequação dos mecanismos que permitem monitorizar indicadores críticos para o acompanhamento e a tomada de decisões acerca da evolução do cumprimento das metas ambientais que atualmente são criticas no contexto da governança. Refira-se, a este propósito, que os laboratórios têm uma longa história no que se refere à preocupação com o meio ambiente e os seus recursos, sendo uma das áreas mais regulada em Portugal e onde a atividade dos laboratórios em contextos como, por exemplo, as emissões gasosas e a qualidade da água, são um elemento-chave para as politicas publicas a nível nacional e europeu.

O mundo está em constante evolução e é certo que a RELACRE tem estado à altura da mesma. De forma a dignificar este facto, o que está organizado para este 32º aniversário, para celebrar o nome e a atividade desta Associação? E que metas foram delineadas para os anos que se seguem?
A orientação estratégica da RELACRE, refletida na comemoração de mais um aniversário da sua criação, tem como objetivos consolidar o seu posicionamento internacional e aumentar o impacto da sua ação. Nesse sentido, a RELACRE organiza no presente ano, no mês de julho, a conferência europeia de ensaios não destrutivos (ECNDT 2023) em Portugal, onde espera juntar cerca de um milhar de participantes e uma exposição técnica internacional com cerca de uma centena de entidades, num dos maiores eventos técnico-científicos organizados internacionalmente. A RELACRE está permanentemente focada no futuro e, por isso, fazemos parte de um consórcio que está a organizar um grande evento para 2024, o LabSummit, que se pretende seja um fórum tecnológico e de networking para os laboratórios. Desta forma iremos promover, mais uma vez, a ideia que esteve na base da criação do nome da RELACRE, a ideia de “rede” (network). Num contexto interno, o maior objetivo que foi delineado consiste em dar continuidade ao grande desafio que é promover de forma efetiva a transição digital no modelo organizacional da RELACRE, acreditando que esse será um fator chave para o diálogo futuro com os seus associados e com a comunidade de laboratórios.

Gostaria, por fim, de deixar uma mensagem especial à equipa, parceiros e associados da RELACRE, pelos 32 anos de uma atividade notável e de extrema importância para o sucesso de todos os envolvidos?
Concordo com a ideia que a RELACRE tem tido, ao longo dos anos, um trabalho notável desenvolvido em rede com os seus associados e com todas as partes interessadas. Esse sucesso resulta, porém, do esforço e dedicação dos seus colaboradores que, ultrapassando períodos difíceis como aqueles que vivemos nos últimos anos, permitiram manter um elevado nível de serviço. A ação da RELACRE só é possível com as parceiras, a interação e cooperação com muitos dos seus associados e profissionais e com diversos organismos e entidades essenciais para a concretização da diversidade de ações que têm permitido criar uma verdadeira rede de laboratórios acreditados em Portugal.