A TRATOLIXO é uma marca que tem como principal desiderato assegurar o tratamento e a valorização dos resíduos urbanos, mantendo uma política integrada de qualidade, ambiente, segurança e responsabilidade social. Primeiramente e para contextualizar junto do nosso leitor, que análise perpétua da dinâmica e do trabalho promovido pela marca em prol do ambiente e das populações?
O objeto social da TRATOLIXO é gerir e explorar o Sistema de Gestão de Resíduos Urbanos. Isto envolve o tratamento, deposição final, recuperação e reciclagem de resíduos, a comercialização dos materiais transformados e outras prestações de serviços no domínio dos resíduos. Toda esta atividade é desenvolvida no respeito pelos princípios da Sustentabilidade e a aplicação da legislação e recomendações nacionais e internacionais em vigor para o setor. Tratamos anualmente cerca de 500 mil toneladas de resíduos urbanos (RU) produzidos por quase 860 mil habitantes da sua área de intervenção, o que constitui cerca de 8% do total Nacional.
Com mais de três décadas de experiência, a empresa aprendeu a valorizar cada vez mais e melhor os resíduos recebidos dos seus municípios, dispondo de várias infra-estruturas especializadas e dedicadas ao seu tratamento. Salientamos, em 2022, o 10º aniversário da Central Digestão Anaeróbia da Abrunheira que completou 10 anos em funcionamento ininterrupto e, nesse período de operação, registou a recepção de cerca de 900.000 t de resíduos que foram devidamente tratadas e convertidas em composto, materiais recicláveis e mais de 195 GWh de energia elétrica renovável.
Em conjunto com os Municípios de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, temos conseguido transformar a visão que os Munícipes têm dos resíduos como potenciais recursos, centrada numa perspetiva de Economia Circular. Exemplo disso foi o extraordinário marco obtido em 2022 nas quantidades de resíduos oriundos de recolha seletiva multimaterial recebidos nas nossas instalações – mais de 45 mil toneladas – alcançando um valor histórico e superior à realidade produtiva pré-crise financeira de 2008. A evolução muito positiva que se observa deve-se ao esforço que os municípios têm vindo a desenvolver na adoção de estratégias e implementação de medidas conducentes a uma melhor gestão dos resíduos – nomeadamente na sensibilização dos cidadãos e na concretização de projetos vários, tais como a expansão do número de ecopontos, projetos de recolha dedicada e de sistemas de incentivo – o que está a influenciar positivamente estes resultados.
De modo a garantir uma transição para a recolha seletiva de biorresíduos nas respetivas áreas geográficas e a utilização da capacidade instalada de compostagem e de digestão anaeróbia, substituindo-se progressivamente as origens de recolha indiferenciada, os Municípios do Sistema AMTRES decidiram estrategicamente implementar, inicialmente, projetos-pilotos de recolha dedicada de biorresíduos, em consonância com a nova Estratégia dos Biorresíduos apresentada em Julho de 2020 pela Secretaria de Estado do Ambiente, tendo já alargado ao restante território da sua zona de abrangência.
Um dos vossos principais fitos passa por promover o vosso core business, mas tendo sempre como linha orientadora a dinâmica da Sustentabilidade. De que forma é que fomentam esse desiderato da Sustentabilidade e quão importante é a mesma para a vossa orgânica?
A TRATOLIXO sustentada nos modernos conceitos de gestão de resíduos urbanos (RU), desenvolveu uma estratégia integrada de valorização, tratamento e confinamento dos RU, baseada em três componentes principais: Valorização Multimaterial e Valorização Orgânica, complementada por células de confinamento técnico para receção dos rejeitados e de resíduos previamente preparados.
Ao assumir de forma clara que a gestão de resíduos é realizada na óptica do recurso, a TRATOLIXO firma todos os esforços na sua valorização mais adequada, abordagem esta que tem por base a projeção de um modelo circular de negócios, e é sustentada por projetos demostrativos das práticas circulares de suporte. A atuação da Organização permite consolidar um posicionamento que se preconiza pela criação de valor no ciclo produtivo, caraterizado pela reintrodução do “resíduo” como “recurso” na cadeia de valor.
A nível nacional, a TRATOLIXO pretende ser impulsionadora das temáticas da Economia Circular e dos Consumos Sustentáveis, através da partilha de novas estratégias e procura de soluções mais eficazes, fomentando sinergias e otimizando recursos disponíveis, respeitando e contribuindo para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável patentes na Agenda 2030 das Nações Unidas.
De que forma é que a inovação e a aposta em tecnologia têm sido um pilar essencial na promoção do tratamento de resíduos urbanos? É um vetor que ainda carece de algumas lacunas, ou seja, a aposta recorrente na dinâmica da inovação em prol da reciclagem e gestão de resíduos?
A Inovação e a Tecnologia surgiram há algum tempo como fator integrante da cultura empresarial da TRATOLIXO, tendo em conta os princípios de criação de valor.
Neste sentido foram já desenvolvidos uma série de Projetos de I&DT, individualmente ou em parceria com empresas e com entidades do Sistema Científico e Tecnológico. Por exemplo, a TRATOLIXO foi pioneira na separação de plásticos a partir dos resíduos indiferenciados no Tratamento Mecânico, bem como na separação de plásticos mistos provenientes de recolha seletiva. Outro Projeto no qual a TRATOLIXO participou enquanto promotor líder foi o Projeto Ecocombustível, um projeto de I&DT em parceria com outras empresas e entidades do sistema científico e tecnológico que teve como objetivo a produção de combustíveis sólidos recuperados, cujo âmbito foi de tal forma importante no contexto Nacional que mereceu a aprovação e financiamento comunitário. Mais recentemente, a TRATOLIXO integrou o consórcio “Lavoisier – Tecnologias avançadas de minimização de desperdício e maximização de descarbonização em simbiose com tecnologias de Biorrefinação”. O Pacto de Inovação Lavoisier tinha como objetivo que os principais players industriais e do sistema científico e tecnológico nacional desenvolvessem competências e conhecimentos para capacitar, especializar e dinamizar a indústria portuguesa pioneira na área da valorização de resíduos por uma visão de princípios de cascata de valor e com interação a processos de biorrefinarias. Destacam-se, também, projetos realizados em parceria com os Municípios, como o Projeto Mafra Reciclar a Valer+ e o Projeto i-Rec CascaisAmbiente, financiados pelos EEA Grants.
Ao longo do tempo, a TRATOLIXO tem vindo a inovar tecnologicamente, adquirindo novas competências que têm permitido alargar a sua área de intervenção. A experiência e know how que a TRATOLIXO adquiriu na área da gestão dos Resíduos Urbanos permite à empresa encarar com confiança o desafio imposto pelo PERSU2030, que proporcionará um crescimento e posicionamento de relevo da empresa, na área da gestão de RU a nível nacional e internacional, tendo como diretriz primordial a adoção das melhores práticas técnica e financeiramente adequadas, suportadas pela permanente procura de novos canais e nichos de mercado para a colocação de produtos inovadores e com valor acrescentado, com o consequente impacte positivo na gestão de resíduos e no ambiente.
Os principais objetivos da TRATOLIXO nesta área são:
- Dinamizar e diversificar as atividades da TRATOLIXO, aumentando a capacidade de resposta através de novas soluções de tratamento para a gestão integrada dos resíduos, face às alterações e implicações que decorrem da legislação, recomendações ou orientações nacionais e internacionais;
- Promover e estreitar as relações com a Comunidade Científica, tendo como objetivo potenciar a criação de valor e contribuir, de forma sustentada, para a prossecução dos objetivos estratégicos e operacionais da TRATOLIXO, através da celebração de diversos protocolos com instituições universitárias, de forma a instituir canais de colaboração que permitam efetuar e rentabilizar projetos de investigação e inovação;
- Criação de uma rede de conhecimento focada na inovação tecnológica e na I&D que assegurará às zonas críticas do negócio o acesso a tecnologias-chave necessárias à conquista de vantagens competitivas tornando-as sustentáveis para estar à altura dos novos cenários que poderão emergir num futuro breve.
Em outro domínio, interessa ainda compreender de que forma a TRATOLIXO tem vindo a criar um ambiente de compromisso com e entre a comunidade/pessoas em prol da promoção da sensibilização para questões como a reciclagem. Que género de trabalho e que iniciativas têm criado e apoiado?
Diariamente, estamos presentes nas escolas. Promovemos comportamentos cívicos, divulgamos valores e boas práticas ambientais. Igualmente promovemos ações em empresas e estamos presentes em eventos de cariz ambiental.
Promovemos a divulgação de boas práticas em articulação com os municípios em redes sociais, rádios locais e demais canais de comunicação gerando a proximidade com as comunidades locais.
Realizamos ações presenciais, a Comunidade Educativa recebe a TRATOLIXO nas suas escolas, atividade que temos vindo a desenvolver de forma articulada na nossa área de intervenção e que pensamos manter, melhorar e proporcionar a um maior número de alunos, professores e auxiliares de ação educativa.
Igualmente, proporcionamos visitas às nossas instalações, nomeadamente à Central de Triagem de Embalagem dedicada à recolha seletiva, permitindo uma recuperação de materiais recicláveis alinhadas com os indicadores definidos no PERSU, à nova Central de Compostagem de Resíduos Verdes e à Central de Digestão Anaeróbia, uma das maiores do país.
Sente que ainda existe um longo caminho a percorrer na promoção desta sensibilização e na edificação de um compromisso superior em prol dos 3 R’s, ou seja, “Reduzir, Reutilizar e Reciclar”?
Apesar do enorme desafio que se afigura no alcance de mudanças de hábitos e comportamentos, a TRATOLIXO e os quatro Municípios trabalham diariamente na prossecução desse compromisso apostando na sensibilização e no desenvolvimento de novos projetos de recolha seletiva.
A reciclagem, pese embora tenha um longo caminho a percorrer, tem vindo a ser incrementada e a quantidade de resíduos que são colocados nos ecopontos (equipamentos de recolha seletiva de resíduos) têm, indubitavelmente, vindo a aumentar de ano para ano.
Portugal está obrigado a cumprir a meta de 60% de reciclagem de resíduos urbanos até 2030. Mas, estamos em 2023, e o País está ainda longe dessa fasquia. Que caminho devemos seguir para diminuir este intervalo no que concerne às metas?
A meta a atingir, em 2030, de preparação para reutilização e reciclagem de resíduos, 60%, exigirá, um esforço considerável para o incremento necessário de PPRR a realizar pelos SGRU e pelos Municípios.
Com efeito, uma alteração tão disruptiva como a inversão da % de recolhas indiferenciadas por recolhas seletivas e a redução da produção de resíduos não pode ser alavancada somente pelos SGRU e pelos Municípios. A chave está no cidadão e a alteração comportamental a ser efetuada tem de ser muito significativa e a receita adotada nos últimos anos, apoiada em ações de sensibilização, pouco ou nenhum efeito surtiu, pelo que há que tomar medidas impactantes que produzam efeitos concretos.
O auxílio ao cumprimento das metas dependerá, também, fortemente, da criação de condições financeiras para o setor.
A aplicação de sistemas de compensação ou penalização do produtor de resíduos, seja através dos sistemas PAYT, RAYT/SAYT terão de ser obrigatoriamente implementados. Implementar sistemas desta natureza impõe a realização de investimentos avultados, atuar na otimização das recolhas, em adaptar ou reconverter equipamentos de deposição e as viaturas de recolha e, também na educação e sensibilização que, apesar de tudo não poderá ser descurada.
Muito claramente, que desafios se colocam à gestão de resíduos em Portugal? Que destino dar a todo o lixo que produzirmos nos próximos anos? E afinal o que é – ou o que deve ser – uma política nacional de resíduos?
As estratégias definidas nos últimos anos, com enfâse nomeadamente nos Planos Estratégicos de Resíduos, apontam para a necessidade de uma articulação das diferentes operações de resíduos com o objetivo de se cumprirem as metas em termos de valorização e também de desvio da deposição em aterro.
Mas mesmo com o aumento exponencial das recolhas seletivas multimaterial e da recolha seletiva de biorresíduos, existirá uma fração significativa de resíduos que não será possível reciclar, pelo que é urgente assegurar uma resposta efetiva para resolver a problemática da fração resto (FR) do tratamento dos resíduos, que vai continuar a ter expressão mesmo após o cumprimento das metas, em linha com a hierarquia de gestão dos resíduos e com os princípios da economia circular, procurando evitar custos acrescidos para o ambiente, para os Sistemas e, consequentemente, para os Municípios e respetivos munícipes.
Um dos desafios da Economia Circular é garantir que estes resíduos não recicláveis são valorizados na produção de energia e não são enviados para aterro. Esse é um dos papéis essenciais da valorização energética de resíduos na Economia Circular. Esse papel é já hoje comprovado na prática pelos países mais avançados na gestão de resíduos urbanos. Em 2019, o país europeu com melhor desempenho foi a Alemanha, com 67% dos resíduos urbanos reciclados ou compostados.
A União Europeia é líder global nas preocupações ambientais na gestão de resíduos. No entanto, os países da União Europeia evidenciam grandes diferenças no tratamento de resíduos.
Apenas oito Estados-Membros depositam 10% ou menos dos seus resíduos – que é o objetivo estabelecido pela nova diretiva relativa aos aterros para 2035 – e 10 Estados-Membros ainda depositam mais de 50% dos seus resíduos urbanos. Importa também salientar que os países com menos de 10% de envio de resíduos para aterro têm associada uma capacidade de valorização energética superior a 30% (Portugal tem apenas 19%).
Resulta claro que a valorização energética e valorização material são complementares e não concorrentes. Ambas são essenciais a uma valorização tendencialmente integral dos resíduos, em linha com os objetivos da Economia Circular.
A Comissão Europeia concluiu que os processos de valorização energética podem desempenhar um papel importante na transição para uma economia circular desde que a hierarquia dos resíduos europeia seja utilizada como uma linha de orientação e que as escolhas tomadas não impeçam níveis mais elevados de prevenção, reutilização e reciclagem.
Segundo o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, o país ainda está longe de alcançar as metas a nível de gestão de resíduos previstas para 2035. Serão o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU2030), e o Plano Nacional de Gestão de Resíduos (PNGR2030), as grandes soluções para acelerar as políticas de gestão de resíduos urbanos?
Estes Planos dão continuidade à aplicação da política nacional de resíduos, orientando os agentes envolvidos para a implementação de ações que permitam ao país estar alinhado com as políticas e orientações comunitárias, contribuir para o aumento da prevenção, reciclagem e outras formas de valorização dos resíduos urbanos, com a consequente redução de consumo de matérias-primas naturais de recurso limitado. Será necessária uma articulação e integração efetiva entre todos estes agentes, entre regiões e entre sistemas para que se consigam cumprir as metas.
Que mensagem gostaria de deixar a todos os portugueses relativamente à relevância dos 3 R’s – “Reduzir, Reutilizar e Reciclar”?
Os portugueses devem acreditar no bom trabalho e no esforço exercido no domínio da gestão de resíduos, no entanto, os resultados só serão alcançados, se a população exercer igualmente o seu papel a favor do ambiente e da prosperidade. A responsabilidade é de TODOS, só em conjunto será possível atingir metas e viver num planeta sustentável. Alias, os ODS veem obrigar a uma maior consciencialização alertando governos e cidadãos para uma mudança de comportamentos em prol da sustentabilidade.
Quais os desafios futuros que se colocam à TRATOLIXO e que impacto pretendem continuar a ter na defesa do planeta, na sustentabilidade e na reciclagem?
Em matéria de infra-estruturação, e num futuro próximo, a TRATOLIXO vai manter o foco na conclusão das empreitadas associadas à adaptação das unidades de Tratamento Mecânico e Biológico de Trajouce e Abrunheira à recolha seletiva de biorresíduos, com co-financiamento do PO SEUR. Estas infra-estruturas, em conjunto com a nova Central de Compostagem de Resíduos Verdes concluída em 2022, permitirão uma maior eficiência processual na recuperação de materiais recicláveis e desvio de resíduos de aterro, contribuindo ainda para a minimização das emissões de gases de efeito de estufa e consumos de água, bem como para o incremento da circularidade da empresa de 29% para 67%.
A solução de recolha selectiva de biorresíduos em sacos ópticos terá, assim, o fecho de ciclo processual que se planeou.
E porque soluções inovadoras são uma constante busca da empresa para melhorar a sua performance, a TRATOLIXO manterá a aposta no âmbito da I&DT, participando em projetos compatíveis com o desenvolvimento duma Economia Circular, que contribuam para a descarbonização do setor e do País e que rumem ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
São disso exemplos o Projeto Candam RecySmart, o Projeto Blue Circular, o Projeto GreenCork e o Projeto de Reciclagem de Cápsulas de Café, desenvolvidos em parceria com os Municípios e diversas entidades externas dos diferentes quadrantes da sociedade.
A nível interno, destaca-se a operacionalização da nova Central de Compostagem de Resíduos Verdes de Trajouce, o Projeto de Recolha Seletiva de Biorresíduos em Saco Óptico – ambos fortemente ligados ao trabalho a desenvolver pelos municípios na actividade de recolha – e a Implementação de painéis fotovoltaicos no Ecoparque da Abrunheira.
Encontram-se ainda em estudo várias opções de projetos conducentes à minimização da deposição em aterro e valorização do resíduo – em consonância com uma visão estratégica integrada de futuro.