A Freguesia dos Olivais, é hoje, cada vez mais, um espaço aprazível para se viver, que promove uma qualidade de vida ímpar para a sua comunidade. No sentido de contextualizar junto do nosso leitor, que comentários lhe merece o esforço que tem sido realizado pela Junta de Freguesia dos Olivais em prol da melhoria da qualidade de vida da comunidade da freguesia?
A Freguesia dos Olivais, em Lisboa, assumiu desde os anos 40 uma expressão moderna e internacional, finalmente concretizada num conjunto pensado de raiz no espírito da Carta de Atenas.
Um território pensado, planeado e um exercício urbanístico bem-sucedido, tendo em conta a forma como foi planeada e construída, com avenidas amplas, grandes espaços verdes, propícia a boa vizinhança e convívio entre as pessoas. Uma das maiores freguesias de Lisboa que congrega em si todos os aspetos e características essenciais para se viver com qualidade de vida.
A aposta ao longo dos últimos dez anos tem-se verificado ao nível das grandes requalificações ao nível de espaço público, a manutenção das áreas verdes mantendo o equilíbrio entre a gestão da poupança da água de rega com o cuidado extraordinário que se mantém com os espaços mais verdes do território.
Mas, acima de tudo, a aposta tem sido nas pessoas, nas famílias, nas crianças, nos jovens e nos idosos. E esta aposta foi o motor para desenvolver ações e investimentos que tocam diretamente nas áreas da educação, da ação social, da saúde e tudo o que está implicitamente relacionado em termos de investimento.
É muito importante que as nossas famílias amem viver nos Olivais, connosco permaneçam e desfrutem de todas as valências sociais que temos para oferecer.
Assume a pasta de líder da Junta de Freguesia dos Olivais desde 2013, ou seja, dez anos à frente dos destinos da mesma. Primeiramente, que impacto tem em si esta década de liderança e quais as sensações que tem por estes dez anos?
Em mim, pessoalmente, o impacto foi intenso e desafiante. Uma missão de linha de frente em que se torna difícil, muitas vezes, manter a disciplina entre a esfera da vida privada e a ação política. Um Presidente de Junta na cidade de Lisboa, dentro da lógica reformista iniciada em 2013 com a Reforma administrativa da cidade, não respira, não tem descanso, o trabalho em prol da comunidade é infindável e nunca está terminado. Há sempre mais e mais a pensar, planear e executar. Mas isso é bom, é extraordinário! Fez-me crescer enquanto pessoa, ganhar fortes alicerces em múltiplas vertentes e encarar este desafio como um exercício de bem pensar, bem fazer e bem dizer. A entrega é total e os afazeres desmultiplicam-se entre vários papéis que tenho de personificar na mesma função.
Sendo este um trajeto longo, uma década, acredito que o mesmo tenha sido realizado com os denominados «altos e baixo». Assim, quais foram aqueles momentos que considera como as principais conquistas e de que forma é que os mesmos contribuíram para mudar a face da freguesia dos Olivais?
Sem dúvida que o momento inicial do mandato de 2013-2017 foi o mais impactante. O modelo de governação da cidade e de cada um dos territórios alterou-se radicalmente e isso trouxe enormes aspetos positivos e ganhos aos Olivais.
Foram dez anos em que no território dos Olivais se investiu perto de dez milhões de euros em equipamentos de proximidade, melhores acessibilidades e melhores condições de vida a todos os olivalenses.
O relevo e importância dados aos aspetos sociais, nomeadamente à educação, levou a que a Freguesia dos Olivais seja reconhecida nacional e internacionalmente em várias áreas. A da responsabilidade social, a da implementação de uma estratégia alimentar saudável nos sete refeitórios escolares despertou, em 2016, a comunidade escolar para uma temática pouco desenvolvida à data. Hoje as crianças entendem os benefícios destes novos produtos nas suas refeições e para os pais, a consequência, foi a responsabilidade de continuar a proporcionar em casa uma alimentação saudável. Somos uma referência e temos muito orgulho no nosso trabalho.
Para além dos grandes investimentos e dos aspetos sociais, manter a freguesia como um dos grandes ex libris da cidade, é também um desafio. Pela sua dimensão e beleza natural, a preservação de todos os espaços públicos, oferece uma preocupação constante e um trabalho árduo e permanente de todas as equipas.
Sabemos que hoje o papel das Juntas de Freguesia passa muito mais por somente gerir uma entidade, pois existem pessoas e essas mesmas apresentam problemas reais que é necessário colmatar. De que forma é que o seu Executivo tem sido um verdadeiro exemplo em lidar e solucionar os problemas das Pessoas?
Não existe outra forma de lidar e solucionar problemas que não seja a da proximidade. Estarmos presentes, estarmos próximos, criar verdadeiros laços institucionais, de cooperação e de amizade produz efeitos excelentes. Trabalhar de forma sistémica com todos os parceiros e em união de esforços é o único caminho para todos, sem exceção, sermos bem-sucedidos nas nossas missões. E quem ganha é o território e as pessoas.
É legítimo afirmar que a Junta de Freguesia dos Olivais é hoje um verdadeiro exemplo no que concerne à denominada Responsabilidade Social? Quais são as grandes lacunas, na sua opinião, que a freguesia apresenta neste momento e que urge colmatar?
Trabalhamos todos os dias com os olhos postos nas pessoas, em todas as pessoas. Vivemos tempos difíceis, de alguma instabilidade social derivada não só da pandemia como dos conflitos internacionais e as famílias ressentiram-se com os efeitos económicos negativos destas externalidades. A falta de recursos e alguma dependência financeira de outros organismos estatais confere-nos alguma limitação que nos restringe no campo de ação.
O modelo de governação atual obrigaria à reflexão sobre novas formas de financiamento das Juntas de Freguesia, nomeadamente ao nível da Lei das Finanças Locais. Um exercício que urge ser feito. O que se conquistou em Lisboa como processo da Reforma Administrativa, deve ser objeto de reflexão profunda, política, técnica, financeira, um processo em constante mutação que deve ser ajustado, limado por forma a conferir às Juntas de Freguesia as condições necessárias à boa execução do papel determinante que têm junto das suas populações.
Como referi, começou esta caminhada em 2013. Quem é a Rute Lima enquanto pessoa e de que forma é que tomou a decisão de enveredar pelas lides políticas? Qual a sua principal motivação para ter tomado este rumo?
A minha principal motivação foi a de pensar que podia dar de mim e da minha pessoa, tempo, entrega e dedicação à minha terra, aos meus vizinhos, às pessoas que me viram nascer, aos meus amigos.
A missão pública é isto mesmo. Tirar um pouco de nós, um período de tempo das nossas vidas para nos entregarmos à causa pública.
E foi isso que fiz há dez anos. E tem sido uma grande aprendizagem. Um exercício de endurance, um fantástico exercício de evolução pessoal, de entrega total à causa dos Olivais.
Sou uma pessoa extrovertida, tanto emotiva quanto racional, que dá valor às coisas simples da vida. Adoro rir e a vida ensinou-me que tristezas não pagam dividas. Casada, mãe de dois filhos e encaro a vida com muita alegria, com muita paixão e sempre com a máxima de que “amanhã será diferente”, seja para o bem ou para o mal. Essa máxima lembra a todo o momento que tudo muda, nada permanece igual e somos nós, através da nossa força, que transformamos o mundo.
A Rute Lima é hoje um exemplo para as Mulheres, sendo uma Líder no Feminino e que tem dado provas da sua enorme capacidade. Apesar de termos avançado muito, a verdade é que ainda estamos longe da igualdade de oportunidades entre Homens e Mulheres. Na sua opinião, o que ainda falta neste cenário para que haja um equilíbrio maior?
É muitíssimo difícil ser líder no feminino. Temos ainda um árduo e longínquo caminho a fazer. Se por um lado, o papel da mulher em cargos de liderança e na política tem oferecido grandes progressos, pela ação das políticas públicas e visão geral sobre a igualdade de oportunidades, na verdade a discriminação é uma presença assídua tanto na minha vida como na de tantas outras mulheres. Pior que a discriminação declarada e instituída, é a discriminação dissimulada, disfarçada. E esta é mais difícil de combater pois apresenta-se sob a forma da veste da boa vontade.
Para que se continue no bom caminho da igualdade de oportunidades é aliar o avanço e progresso das políticas públicas a novos processos mentais de desenvolvimento pessoal, tanto dos homens como das próprias mulheres.
A Rute Lima é a chamada «Mulher dos sete ofícios», ou seja, Presidente de Junta, Professora Universitária, entre outras funções. No seu trajeto, alguma vez sentiu que o facto de ser mulher, de alguma forma, foi prejudicial?
Sim, contudo, e curiosamente, apenas no aspeto político o senti e sinto. Sinto que as mulheres assustam os homens da e na política. Curioso e extraordinário, não? Em todos as outras áreas da minha vida, sempre fui tratada como igual, no desporto, no mundo académico, na minha profissão.
Quais são os grandes desafios para a Junta de Freguesia dos Olivais? O que pretende ainda alcançar para a freguesia e respetiva comunidade?
Os grandes desafios para os Olivais é o de sempre, continuar a trabalhar para que este território permaneça um dos territórios mais extraordinários do país. Com grande qualidade de vida, um território onde continue sempre a ser um enorme prazer constituir família, zelarmos pelos mais novos e pelos velhos, um território onde a mística entre o urbano e o rural permaneça, aliada a todas as componentes urbanísticas e sociais que fazem de si uma das zonas mais nobres de toda a Lisboa. Um paraíso.
Comemorou recentemente 50 anos de vida, efeméride marcante e simbólica na vida de qualquer pessoa. Como é que viveu este momento e que mensagem lhe aprazaria deixar a Todos as Mulheres?
Vivi este momento em família. É um marco, de facto. Costumo dizer em jeito de graça, meio século de muita energia, de muita força de viver e de construir um mundo melhor. Momento para parar, escutar e olhar, estabelecer novas prioridades e novos desafios. Sou uma mulher feliz e gostaria que todas as mulheres o fossem também. Com dias bons, menos bons, mas que todas em conjunto tivéssemos a força, a garra e o desassombro de sermos nós próprias num mundo feito também por nós.