
Por Lídia Santiago, Vice-Presidente da Ordem dos Engenheiros
Em Portugal, as primeiras licenciadas em Engenharia surgem entre 1937 e 1939, tendo sido Maria Amélia Chaves, graduada em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico (IST), a primeira Engenheira admitida na OE, em 1938.
Na OE, em abril de 1974, existiam 92 engenheiras e em 2006, 2.072. Hoje, somos cerca de 12.800 Engenheiras inscritas, num universo de mais de 61.000 membros, correspondendo a cerca de 21% e abaixo da média europeia de 28%.
Os colégios de Especialidade com mais Engenheiras, são, por ordem decrescente, os de Civil, Ambiente, Química e Biológica, Agronomia, Eletrotécnica e Mecânica. De um modo geral, a maioria das Engenheiras tem uma carreira técnica no setor público ou no privado e a Lei Orgânica n.º 1/2019, de 29 de março, que procede a uma segunda alteração à lei da paridade, vem assegurar a representação mínima de 33% de cada um dos sexos no setor público, trazendo mais oportunidades profissionais às Engenheiras (ODS10). Porém, são poucas as Engenheiras a quem são conferidas posições profissionais, em órgãos de decisão. Também do Parlamento e Conselho Europeu de 23 de novembro de 2022, saiu uma Diretiva (UE), recomendando aos Estados-Membros e aos empresários, a adoção de planos de igualdade e de programas de ações positivas, que incluíssem a participação ativa das mulheres nos organismos de decisão.
Se, por um lado, é verdade que houve uma grande evolução na ocupação de cargos pelas Engenheiras nos últimos anos, por outro, é ainda um caminho moroso até se atingir a igualdade de género na engenharia (ODS 5).
Há ainda quem considere a Engenharia uma profissão masculina, mas enquanto Vice-presidente da Ordem dos Engenheiros, compete-me desmistificar esse paradigma e afirmar junto das jovens, que é possível fazer uma carreira profissional de Engenharia, no feminino. Há no País inúmeras Engenheiras de referência, nas diferentes especialidades de Engenharia e, também na OE, as Engenheiras foram eleitas para todos os Órgãos, Colégios e Especializações, cumprindo-se a paridade prevista na lei.
O tema de desenvolvimento anual da OE será, em 2024, a “Igualdade de género na Engenharia”, tendo em vista a promoção da carreira profissional no feminino, estando previstas atividades a nível nacional, tais como debates, conferências e exposições. Neste âmbito, a OE vai receber o “XVI Encuentro Iberoamericano de Mujeres Ingenieras, Arquitectas y Agrimensoras”, a acontecer no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), entre 18 e 21 de novembro de 2024, onde esperamos cerca de 500 participantes de língua portuguesa e castelhana.
Recordo a Lei n.º 123/2015 que impõe a todos os que exercem a profissão de Engenheiro de forma liberal ou por conta de outrem, do setor público, privado, cooperativo ou social, a obrigação de estar inscritos na Ordem, a qual confere o título profissional de Engenheiro e a Cédula Profissional, assim como enuncia Atos associados a cada especialidade.
Há uns anos a esta parte (depois da crise de 2008-2012), verifica-se uma diminuição do número de alunos e alunas em formações de Engenharia; acreditamos, que a menor procura se deve a fragilidades na formação de base em português e em matemática, com origem no ensino básico e secundário, mas também, nos baixos salários que os recém-formados auferem. Como consequência, face aos desafios do PRR, financiado pela UE no pós-pandemia, verifica-se a falta de Engenheiros para a concretização dos projetos, sendo necessário admitir Engenheiros vindos de países como o Brasil ou a Colômbia.
Face à rápida degradação ambiental, à elevação do teor de CO2 na atmosfera, ao elevado consumo/desperdício em bens, plásticos, aditivos e combustíveis, solicita-se cada vez mais aos Engenheiros, soluções atuais, inovadoras, digitais, sustentáveis, ciber seguras e energeticamente eficientes, que ajudem a contrariar esta escalada e que a OE tem o dever de apoiar, acompanhar e implementar novas competências e formações contínuas.
Também a evolução das formações de base, em Engenharia, obriga a OE a fazer atualizações relativamente aos 12 colégios de especialidade existentes (Agronomia, Ambiente, Civil, Eletrotécnica, Florestal, Geográfica, Geológica e Minas, Informática, Materiais, Mecânica, Naval e Química e Biológica), pelo que já foram aprovados mais 5 colégios (Aeronáutica e Espacial, Alimentar, Biomédica, Engenharia e Gestão Industrial e Qualidade e Segurança), prevendo-se ainda, outras reformulações.
Com o desenvolvimento das redes sociais e da inteligência artificial, colocam-se desafios e alguns riscos, mas também oportunidades, para as engenheiras.
Só há futuro com a Engenharia. Só a Engenharia garante a qualidade de vida e a segurança dos cidadãos. Só a Engenharia cria mais valia em termos económicos.
Ser Engenheira é a única profissão em que se pode sonhar, idealizar e realizar!
Desafio as meninas a sonhar e a serem as engenheiras do futuro.