Mantendo os mesmos valores da sua antecessora Elichristi, a Biodharma nasceu em 2016, dando continuidade a uma paixão pela saúde do ponto de vista holístico. Enquanto CEO desta marca, como nos pode descrever a evolução da mesma até ao momento?
Por si só, o termo evolução já é bastante positivo. O tempo traz experiência e conhecimento, os desafios trazem resiliência e maturidade. Todo o Know-How e Know-Why adquiridos têm permitido um aprimoramento no geral. Por outro lado, talvez a Biodharma não tenha acompanhado a Era Digital. Quer queiramos, quer não, existe claramente um antes e um pós-covid. Antes, chegámos a atingir a capacidade máxima de produção, tivemos que fazer turnos e recorrer a mais mão de obra. Isto sem qualquer publicidade ou redes sociais ativas. Pós-covid-19, e principalmente com a escalada da guerra e suas consequências, começámos a sentir mais necessidade de nos darmos a conhecer e de acompanhar as tendências.
Na visão da Biodharma, uma alimentação saudável e consciente é crucial. Face a este «espírito», quais são os produtos que comercializam e os serviços que dispõem?
Dentro da produção diária, os vários tipos de tofu e seitan são o nosso produto líder que complementamos com seis variedades de enchidos vegan. Dispomos ainda de uma padaria onde produzimos pão, empadas e biscoitos, assim como bolo rei e folar na época festiva. Contamos ainda com uma vasta gama de produtos de mercearia como vários cereais, massas, leguminosas, sementes, frutos secos, algas, especiarias, temperos e alguns Superfoods. Temos venda direta ao consumidor através do nosso site. Contudo nosso foco é a distribuição própria nacional, em carrinhas refrigeradas, a restaurantes, mercearias, ervanárias e outras lojas.
Sabemos que a maioria dos produtos Biodharma são de agricultura biológica e controlados pela Ecocert. Além destes fatores que são, por si só, distintivos, no que é que difere a atividade da marca, seja em relação aos produtos, à sua qualidade e até à própria distribuição?
As nossas produções artesanais e caseiras fazem toda a diferença no resultado do produto final. Isto permite satisfazer as preferências dos nossos clientes, como por exemplo, se pretendem um seitan de textura mais rija, ou textura mais mole, nós conseguimos fazê-lo. Para além da textura, o sabor e a qualidade dos produtos torna-se inquestionável. Devido a estas características, e juntamente com o facto de não usarmos quaisquer aditivos, oferecemos produtos saudáveis e nutritivos que respeitam o nosso organismo. Por vezes, não basta fazer uma dieta vegetariana ou vegana, abolindo a carne, a vida animal importa, mas a nossa saúde, obviamente, não é menos importante. Existem alguns produtos no mercado vendidos como veganos, mas cheios de aditivos químicos. Somos apologistas do mais natural possível, sem produtos geneticamente modificados e sem processos artificiais típicos dos alimentos industrializados. A proximidade com o cliente também é um aspeto que nos distingue. Já tivemos uma colaboradora que mandava beijinhos para os clientes, e clientes que mandavam presentes para os colaboradores. E isto é maravilhoso!
Em que medida tem sido possível aliar este sucesso e reconhecimento no mercado, ao respeito pelo ambiente e pelos animais – tópico tão importante para a Biodharma?
Por si só, a agricultura biológica e o veganismo já respeitam a Mãe Terra. Fui também educada a reciclar e a utilizar produtos de limpeza e cosméticos biodegradáveis e ecológicos. Seria incongruente não aplicar as mesmas práticas em contexto laboral. Fora isto, existem ainda uma série de condutas que vamos adotando, como a alteração de algumas embalagens para outras mais sustentáveis. Quer seja plástico ou papel, é importante perceber se na sua produção houve emissão de gases atmosféricos, se é reutilizável, se é 100% reciclável, se após o embalamento existe desperdício de embalagem, se tem microplásticos, entre outros. O plástico virou vilão, mas não nos podemos esquecer de como é fabricado o papel, e que a sua produção também tem efeitos negativos no meio ambiente. Seria importante mais informação e reeducação pelo menos no que diz respeito à reciclagem. E mais recursos nesse sentido. Infelizmente, Portugal apresenta ainda uma taxa de reciclagem muito baixa.
Certo é que, esta atividade tem sido tão bem conseguida devido aos rostos que estão por detrás da mesma. Sendo a Dejanira Costa um dos mais determinantes, quão gratificante é ser uma pessoa, mulher e profissional capaz de fazer a diferença no universo empresarial? Quem é enquanto líder da Biodharma?
Como peixe na água! Cresci a comer alimentos como papas de arroz integral e de grão de bico, alga nori tostada, tahini, miso e gomásio. Ainda hoje adoro tudo isto. Se na época, este tipo de alimentação era uma raridade, e na escola eu sentia vergonha por ser diferente, hoje em dia, sinto orgulho. Na adolescência já ajudava a preparar os Pickles e o Choucroute, produtos pioneiros e que ainda mantemos. Cresci a ver a minha mãe a fazer seitan debaixo de uma torneira. Acompanhava o meu pai às feiras alternativas na Estufa Fria em Lisboa e eu delirava com tudo aquilo. Adorava que me levassem aos restaurantes vegetarianos/macrobióticos, poucos na altura, recordo-me da Unimave e da Espiral em Lisboa e do Suribachi no Porto. Deliciava-me com todos aqueles sabores. Aprendi a cozinhar muito nova. Tinha 16 de idade, quando fizeram questão que fosse eu a preparar panados de tofu e bifes de seitan para um grupo de clientes, fornecedores e amigos que se juntavam todos os anos, e foi um sucesso. Todas essas vivências, guardo-as com muito carinho. Aliadas à minha vontade de ser cada vez melhor como ser humano e como profissional, têm sido determinantes em todo o meu percurso.
A questão da igualdade de género e de oportunidades ainda é um tema recorrentemente debatido, devido aos desafios que ainda se impõem. Sendo um exemplo de uma mulher que ocupa um cargo de liderança, como observa esta realidade e o que é que, na sua perspetiva, urge estabelecer?
Consciência! É urgente mais empatia, respeito e aceitação do outro, zero preconceito e julgamento. Temos de olhar uns para os outros como seres humanos que somos, e com humildade. Todos nós temos os nossos desafios e uma bagagem de vida. Aqui não entra género nem qualquer outro fator distintivo. Todos temos capacidades e os mesmos direitos. Como dizia o meu falecido pai “Ninguém é mais do que ninguém, só o amor faz alguém”.
Por fim, do ponto de vista da Biodharma, que passos serão dados no futuro? Que novidades podemos esperar?
Continuar a evoluir. A aprendizagem é uma constante e há sempre coisas a melhorar. Continuaremos a aumentar a nossa gama de produtos, não só alimentares, mas também chás, suplementos e outros produtos ecológicos. Pretendemos também expandir para outros mercados e poder chegar a outro tipo de consumidor. Todos são bem-vindos. Futuramente, gostaríamos de ter um espaço com terapias complementares e workshops. O céu é o limite.