A Women in BIM (WIB) é uma rede diversificada de profissionais, dedicada a apoiar mulheres em funções relacionadas ao BIM em termos de skills, educação e progressão de carreira. Qual tem vindo a ser o seu papel enquanto Regional Lead da WIB em Portugal?
A Women in BIM é uma comunidade internacional dedicada a apoiar mulheres em funções relacionadas com o digital na indústria AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) e o nosso foco principal está no crescimento de um setor diversificado, alinhado com a crescente adoção de métodos digitais de construção. Assim, uma das nossas principais motivações, é permitir que o ambiente construído se torne progressivamente mais aberto e inclusivo a todos os níveis. A WIB foi criada em 2012 e desde então marca presença em 50 países e mais de 79 líderes regionais, garantem a proximidade e conexão local das comunidades. Enquanto Regional Lead desde 2019 ambiciono, através da dinamização de eventos e networking, estabelecer bases sólidas de partilha, conhecimento e entreajuda entre os quase 200 membros da WIB Portugal. No seio da nossa rede já assistimos ao nascer de novos negócios, parcerias e até oportunidades de emprego, o que é sem dúvida muito gratificante.
O objetivo da WIB é, como anteriormente mencionado, incentivar as mulheres em funções relacionadas ao BIM a terem uma voz forte. Existe uma necessidade premente de reter as mulheres neste mercado?
Reter mulheres no setor da construção e em particular na área digital, é apenas um dos eixos que orientam as iniciativas e projetos da WIB. Para consegui-lo, em primeiro lugar é necessário atrair e incentivar jovens e profissionais para carreiras relacionados com o digital, apresentando-lhes casos de sucesso inspiradores e mecanismos de apoio dentro da nossa rede. Depois promover e apoiar, desenvolvendo as suas capacidades e crescimento para que, de forma sustentada, cresçam e sejam líderes no futuro da nossa indústria. Em 2020 lançámos o Programa de Mentoria WIB, projetado para inspirar a colaboração e troca de conhecimentos entre mulheres de todo o mundo. Nesta 3º edição, participam 232 mentores e 368 aprendizes, num movimento à escala global, verdadeiramente transformador.
Falando em contexto nacional, sabemos que o BIM está a aparecer cada vez mais na legislação portuguesa, dando agora um importante suporte ao Código dos Contratos Públicos para a contratação pública em BIM. Qual é a perspetiva da WIB em relação a este novo quadro legislativo? Quais são as mais-valias e os desafios desta mudança?
A grande vantagem da Metodologia BIM está em conseguirmos, num ambiente totalmente digital, antever, coordenar e detetar colisões ou problemas em obra e assim reduzir custos. Este tem sido o maior sucesso do BIM, levando à obrigatoriedade da sua utilização em obras públicas a nível mundial. Portugal não é exceção e acompanha as principais tendências associadas à transição verde e digital. O setor privado e algumas entidades públicas nacionais, antevendo esta mudança, já há muito iniciaram os seus processos de implementação de novas ferramentas e processos com base tecnológica. 2023 fica, no entanto, marcado na história do BIM em Portugal, porque finalmente a temática da digitalização integra a agenda política. Desde logo, na Proposta de Lei n.º 77/XV e com a recente publicação da Lei nº 50/2023, que determinam a obrigatoriedade de se apresentar o projeto de arquitetura e os projetos de especialidades em BIM.
Pela minha experiência enquanto Consultora, dedicada a apoiar empresas e profissionais na adoção desta Metodologia desde 2016, destaco como principais desafios a resistência à mudança, bem como a necessidade urgente de capacitação dos estudantes, docentes e profissionais do setor da construção.
Neste processo de mudança, de que forma a WIB irá continuar a promover e a aprimorar as habilidades e conhecimentos em BIM? O que é que o futuro reserva a esta comunidade?
O estado da arte das mulheres no mundo da construção revela um cenário de desigualdade de género e, embora haja avanços significativos em alguns países, ainda enfrentamos diversas barreiras, que entre outras, passam pela baixa representação, disparidades salariais e acesso limitado a posições de liderança. Por isso, na WIB estamos motivados em dar continuidade ao trabalho de promoção da participação das mulheres na área da construção. Ao olhar para o futuro, fazemo-lo com otimismo, ambição e confiança e continuaremos a capacitar a nossa comunidade para alcançarmos com sucesso os nossos objetivos.