LNEG, na vanguarda do conhecimento

Teresa Ponce de Leão, Presidente do LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia, conversou com a Revista Pontos de Vista sobre a forma como a Inteligência Artificial está a mudar o mundo energético e a economia circular. Neste universo em constante mudança, a própria contou-nos, ainda, o papel que Laboratório continuará a ter na ciência e no mundo.

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O LNEG, tem, como missão desde o primeiro dia, contribuir de forma independente para o desenvolvimento económico e melhoria da qualidade de vida, colocando o conhecimento ao serviço da sociedade. Enquanto Presidente do mesmo, que balanço faz do concretizar dos seus objetivos primordiais?
O LNEG, através da aposta no trabalho em colaboração e na internacionalização posiciona-se na vanguarda do conhecimento. Aliado a este facto, somos conscientes que enquanto instituto de investigação recebemos financiamento para produzir novo conhecimento, focalizado nas nossas áreas de missão sempre em sintonia com a orientação das políticas públicas. Sentimo-nos responsáveis por devolver esse conhecimento transformado em inovação que retornamos à sociedade e às políticas públicas.

Certo é que, o LNEG faz ciência em energia e geologia e recursos geológicos com vista à sua aplicação em soluções avançadas que permitam alavancar a economia. De que soluções estamos a falar?
Estamos a falar de soluções que permitam conhecer melhor o nosso território e identificação georreferenciada dos projectos de investimento na produção, transporte e uso de vectores energéticos, das soluções que permitem optimizar projectos associados a vectores energéticos renováveis, do conhecimento das nossas Matérias-Primas Críticas (MPC) disponíveis no nosso território e conhecimento dos fluxos associados. No desenvolvimento de modelos de negócio para a recuperação das MPC e capacidade de manter a rastreabilidade por ex. através do passaporte digital das MPC. No desenvolvimento de soluções para o aproveitamento do Biometano através do aproveitamento de resíduos. Na produção de combustíveis sintéticos para a aviação. No desenvolvimento, divulgação e formação das melhores práticas de Economia Circular e respectivo rastreamento dos processos produtivos. No desenvolvimento da tecnologia de produção e reciclagem de baterias. Estes são alguns dos projectos a salientar sendo que a aposta do LNEG é desenvolver capacidade de avaliação em toda a cadeia de valor dos processos, conhecer e avaliar os recursos naturais e antropogénicos do nosso território para a sua valorização em estrito respeito pelo ambiente e sociedade e ter uma abordagem georreferenciada incluindo o potencial das zonas urbanas. Como exemplo saliento o Atlas Nacional para o Hidrogénio, a identificação dos locais por excelência para projectos eólicos offshore ou o Potencial para a Eletrificação da Indústria Nacional.
Neste contexto temos conhecimento para um aconselhamento baseado na Ciência para o desenho das políticas públicas.

Enquanto instituição de I&D e defensor de um desenvolvimento sustentável, acredita que a integração das tecnologias de Inteligência Artificial está a mudar a forma como vemos o mundo energético e a economia circular? Que impacto a IA está a ter?
Sim, acredito que a inteligência artificial (AI) está a mudar o mundo e a oferecer-nos soluções tecnológicas que permitem optimizar problemas complexos que necessitam de abordagens holísticas, que abranjam toda a cadeia de valor, que permitam rastreabilidade, confiança e transparência. Na AI encontramos soluções como a tecnologia de Blockchain, os Digital Twins ou a Internet of Things que se bem aplicados nos garantem a gestão adequada dos nossos recursos para o sucesso da Transição Energética, Digital e da Economia Circular sem esquecer a garantia de manutenção da Biodiversidade.

A simplificação de processos e a eficácia na tomada de decisões são algumas das vantagens apontadas para a utilização da IA no setor. Por um lado, que outra vantagem realça e, por outro, que desafios poderão emergir?
Começando pelos desafios, a correcta aplicação da AI implica que os processos são objecto de certificação que permita que as decisões sejam transparentes, rastreáveis e confiáveis. As metodologias já existem a controlar várias áreas de negócio, como por exemplo as grandes transportadoras pelo que a tecnologia é possível se os necessários recursos informáticos estiverem disponíveis.
As vantagens são óbvias pois temos à nossa disposição a capacidade de gestão optimizada dos processos com ganhos para todos os intervenientes.

Diria que o futuro passa, exatamente, pelas inovações que têm potencial de reduzir os impactos ambientais e económicos? Como perspetiva este mesmo futuro?
A inovação desempenha um papel fundamental no futuro das instituições e da sociedade como um todo. Promove o desenvolvimento económico e social e soluções para os desafios enfrentados pela humanidade e desempenha um papel importante na transformação da sociedade através do avanço tecnológico tão importante para a resolução de problemas globais, como mudanças climáticas e a escassez de recursos.

Neste mundo em constante mudança, quais são os desideratos para o futuro do LNEG? Que papel, o mesmo, continuará a ter na ciência e no mundo?
O LNEG tem, no presente, um papel muito importante no apoio ao sector empresarial e às políticas públicas através da sua capacidade de usar o conhecimento acumulado no ciclo da investigação na inovação das políticas, regulamentação e nos processos empresariais. A articulação entre o ciclo da investigação e da inovação é fundamental para a construção das melhores soluções através do conhecimento que é transferido. Será neste equilíbrio e no diálogo, em colaboração, com os diversos sectores da sociedade que se construirá o futuro do LNEG.

Por indicações do autor, este artigo não foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico vigente.