Mulher, Mãe, Esposa, Empresária e muito mais. É assim que começamos a descrever Raquel Zita Gomes, que pode ser considerada a denominada Mulher dos «sete ofícios», tendo a particularidade de assumir todo e qualquer desafio com receio, mas sempre com a consciência que o vai ultrapassar. Assume que foi a carreira que escolheu, e mesmo sendo um trajeto difícil e árduo, nunca esmoreceu e considera-se uma Mulher “completamente apaixonada por aquilo que faço”, ou seja, Profissional de Medicina Dentária, no setor há cerca de 21 anos e que desde cedo assumiu a aposta de ser diferenciada. “Assim, muni-me de formações bastante especializadas e desde cedo, logo no primeiro ano, após licenciar-me, comecei a fazer uma pós-graduação na área da cirurgia/implantologia, que foi sempre a vertente que mais me cativou. Com o tempo, fiz um Mestrado, um Doutoramento e uma Especialização”, embora não estivesse muito vinculada à universidade, “fazer estes títulos académicos, não é muito vulgar num clínico, mas acreditei que seria uma mais-valia para mim e comecei rapidamente a ministrar palestras a nível internacional, o que me facultou uma enorme «bagagem» de conhecimentos e experiências além-fronteiras”, esclarece.
Especialista em Cirurgia Oral, pela Ordem dos Médicos Dentistas, uma especialidade que foi criada há relativamente pouco tempo em Portugal, a nossa entrevistada também foi Presidente do Sindicato dos Médicos Dentistas e continua sempre com um desígnio que para Raquel Zita Gomes, é essencial, ou seja, “promover a defesa da igualdade das Mulheres neste setor”, revela a nossa entrevistada e que foi reconhecida, segundo o World’s Top 100 Doctors de 2020, entre os 100 melhores dentistas do mundo, algo que encarou como um “enorme orgulho, honra e responsabilidade.
Este e outros prémios que tive a honra de receber são sempre importantes, até porque é também uma forma de ter reconhecimento por parte dos meus pares e dos meus pacientes, estes que indiretamente compreendem a dimensão desses reconhecimentos, criando um nível de confiança superior na relação médico dentista/paciente”, assume.
Igualdade de Oportunidades? “Temos de mudar mentalidades”
Uma das causas a que Raquel Zita Gomes presta maior atenção, passa, como já foi salientado, pela vertente da igualdade de oportunidades entre Mulheres e Homens no setor da Medicina Dentária. E se num passado não muito longínquo, este setor era maioritariamente composto por homens, hoje o panorama começa a mudar. “Ao nível das universidades há uma inversão total, ou seja, cerca de 70% a 80% são Mulheres estudantes, mas isso, naturalmente, não é suficiente. Temos de mudar a mentalidade da sociedade e continuar neste caminho, pois apesar de hoje o panorama ser mais positivo no que concerne à presença de Mulheres na Medicina Dentária generalista, a verdade é que, por exemplo, na minha área de especialidade, Cirurgia Oral, ainda existem poucas Mulheres, menos ainda se falarmos em Mulheres que tenham visibilidade a nível internacional, que sejam palestrantes, que sejam Presidentes de alguma associação ou sindicato. Ou seja, ainda existem poucas Mulheres em funções de maior visibilidade e isso tem de mudar”, esclarece, reconhecendo, contudo, que não é em dez anos que este cenário vai ser alterado, dando ainda um exemplo claro deste retrato. “Em Portugal somos poucos especialistas em cirurgia oral pois é uma especialidade bastante recente. Oficialmente somos 138 especialistas em cirurgia oral e mulheres somos 22, ou seja, há uma discrepância muito grande”.
Inovação sem Humanismo não funciona
A inovação e a aposta nas novas tecnologias são, hoje, cada vez mais essenciais em qualquer setor, sendo que a Medicina Dentária não «foge» a esse desígnio. A nossa entrevistada não tem dúvidas que “temos de acompanhar as evoluções, mas isso não significa que uma clínica avançada tecnologicamente seja sinónimo de maior qualidade técnica e de diagnóstico, pois nunca nos podemos esquecer que a real diferença é perpetuada pelo lado humano, principal nesta área que é a Medicina Dentária”, revela, dando o exemplo da sua clínica, “onde tentamos estar sempre na vanguarda da inovação para conseguirmos realizar o nosso trabalho de uma forma mais célere, mais eficiente, empática e simples porque no fundo a digitalização e todas as novas tecnologias, novos equipamentos e novas aplicações acabam por aportar algum facilitismo ao nosso trabalho e de o fazer de uma forma eficiente. Mas temos de ter a noção que isso somente não chega. Primeiro tem de ser o profissional de Medicina Dentária a funcionar bem para depois retirar e aproveitar as mais valias das novas tecnologias, até porque só isso não é suficiente para prestar o melhor serviço aos pacientes. Tem de haver uma conexão humana e emocional e isso não depende da tecnologia, mas da Pessoa/Profissional e esse o lema que temos na Raquel Zita Dental Clinic. Prefiro uma pessoa que eu sinta que tem uma conexão e uma forma de pensar humanizada com o paciente, de bom atendimento, simpatia e qualidade do que ter pessoas/profissionais altamente diferenciadas do ponto de vista de formação e conhecimentos, mas que não tenham este «clique» com o paciente”.
Saúde Oral – O parente pobre da Saúde
Experiente e conhecedora de diversos países, Raquel Zita Gomes não tem qualquer dúvida em afirmar que a Saúde Oral e a Medicina Dentária são os parentes pobres da saúde, retrato que não se verifica em outros congéneres europeus, onde a realidade é inversa à de Portugal e isto também acontece, segundo a nossa entrevistada, um pouco também pela responsabilidade dos profissionais deste setor, “em que a Medicina Dentária criou a sua própria Ordem dos Médicos Dentistas, independente da Ordem dos Médicos e isso levou a que tivéssemos ficado bastante afastados de outras áreas de especialidade e de sermos colocados um pouco de parte”, assume.
Além disso, em Portugal cerca de 95% da Medicina Dentária é privada e o serviço público neste setor pouco ou nada oferece aos portugueses, não sendo capaz de dar uma resposta concreta aos problemas de saúde oral dos portugueses. Basta ver que estamos a falar de um universo em que somente 35% dos portugueses têm a capacidade financeira para ir ao médico dentista e isso é muito grave e preocupante. Sempre focada nos problemas e desafios do setor, Raquel Zita Gomes e alguns colegas, decidiram, em 2019, lançar a «primeira pedra» do Sindicato dos Médicos Dentistas, “isto tudo para defender a Medicina Dentária e para tentar colocar Médicos Dentistas no Serviço Nacional de Saúde, insistindo em tratamentos gratuitos para a população que não pode aceder, fruto de condições económicas reduzidas, ao setor privado. Estamos a trabalhar nisso, naturalmente e pretendemos continuar a alertar para esta realidade terrível em Portugal em que a Saúde Oral é esquecida e isso não pode acontecer porque a mesma é essencial para a vida das pessoas. Acredito, portanto, que alguma coisa tem de ser feita a nível estatal no reconhecimento de uma carreira que deveria ser tão ou mais importante como outras áreas da medicina, onde temos de conseguir proporcionar um acesso gratuito a cuidados de saúde oral para todas as pessoas”.
Novo Espaço, um sonho concretizado
Percebemos claramente que Raquel Zita Gomes é uma Mulher que gosta de desafios e que procura sempre evoluir em todos os aspetos da sua vida. São já 21 anos de carreira e chegou o momento, apesar de já ter uma clínica própria, de investir no desafio de ter um espaço à sua imagem. “Será uma clínica multidisciplinar, com uma componente médica extra medicina dentária, até porque acredito que é muito importante existir uma colaboração entre todas as áreas de medicina. Além disso, como speaker e formadora internacional, tenho de me ausentar várias vezes ao ano e isso provoca um enorme desgaste físico e emocional, e assim este espaço também será uma forma de receber especialistas estrangeiros, aliviando-me um pouco ao nível das constantes viagens”, esclarece, assumindo que este novo espaço, que será no Campo Alegre, no Porto, é um “sonho tornado realidade, porque era algo que fazia parte de mim há muito tempo e finalmente vou alcançar esse desiderato e estou bastante feliz com este passo”, concluí Raquel Zita Gomes.