Para começar, como Fundadora da ABTOC e uma personalidade proeminente na área da Contabilidade e Consultoria, poderia partilhar com os leitores um pouco sobre como iniciou a sua jornada profissional e o que a inspirou a entrar neste campo?
A área empresarial sempre me fascinou, por isso todo o meu percurso académico foi feito nesta área.
Em 2002, ao terminar a licenciatura em Economia, percebi que a vertente de contabilidade conciliada com gestão empresarial era o caminho profissional que pretendia seguir.
Iniciei a minha atividade profissional como trabalhadora independente onde fui confrontada com inúmeras dificuldades, tendo que estudar para as ultrapassar. Ao longo desse caminho fui encontrando colegas de profissão que sempre estiveram disponíveis para me ajudarem.
Em 2011 aceitei um novo projeto ao trabalhar como Contabilista Certificada numa SGPS onde existiam inúmeras áreas de negócios, o que me ensinou a compreender a dinâmica de uma empresa e a perceber que o fator humano é crucial para o bom funcionamento e crescimento económico.
À medida que o tempo ia passando, fui tomando consciência de que queria trabalhar com novos projetos e que os mesmos me fossem desafiando a nível de crescimento profissional, por isso, em 2013, senti que já tinha adquirido as ferramentas necessárias para colocar em prática esse projeto e assim nasceu a ABTOC.
Ao longo dos anos construiu uma reputação sólida como Contabilista Certificada e líder empresarial. Neste caminho, que desafios e conquistas encontrou, especialmente sendo a Ana Paula Borges uma Mulher Empreendedora em Portugal?
Ser Mulher Empreendedora não é fácil e ao longo deste percurso tenho encontrado desafios que se transformam em motivação para continuar a trabalhar.
O principal obstáculo que tive de ultrapassar, foi convencer-me que tinha todas as condições para ser empreendedora, que tinha os mesmos conhecimentos que outra pessoa independentemente do género. As rejeições que tive deram-me força para aprender a lidar com esses preconceitos e entender que o problema não estava em mim, mas sim no outro.
Com o tempo percebi que não podemos agradar a todas as pessoas que se cruzam no trabalho, mas isso não faz de nós inferiores, apenas são incompatibilidades de personalidade.
Procuro diariamente ultrapassar as dificuldades que vão surgindo, aprendendo a competir comigo mesma para que possa vencer os desafios que cruzam o meu percurso profissional.
Certo é que, a ABTOC destaca-se por variados motivos, como a excelência nos serviços prestados – mas também por ter na sua liderança uma Mulher. Como observa a importância da representatividade feminina e da equidade de género no ambiente empresarial atual?
Tenho que confessar que é com tristeza que verifico que a área empresarial é ainda dominada pelo setor masculino e nós, Mulheres, temos inúmeras dificuldades de ser aceites, não por demérito, mas sim porque está enraizado um sentimento machista neste setor de atividade.
Existe a prática de se impor numerus clausus em determinadas instituições de forma a cumprirem quotas para assegurarem um determinado número mínimo de mulheres nos altos cargos de gestão, ao qual sou contra, pois as mulheres não precisam que haja uma imposição para ocupar determinados lugares, deve é privilegiar-se o mérito que têm.
Entendo que não precisamos que criem leis para as Mulheres terem as mesmas condições e vencimentos que os homens. Precisamos sim que deixem de olhar para o género como fator decisivo na hora de atribuírem os lugares de destaque e passem a olhar para o mérito.
À medida que avançamos para um mundo mais consciente das questões de género, a igualdade e a inclusão ainda são questões que não se vivem na sua plenitude. Acredita que, tal como a Ana Paula Borges, as Mulheres Empreendedoras podem contribuir para promover uma cultura empresarial mais igualitária? Quão importante é este passo, na sua opinião?
Sim, acredito que as Mulheres empreendedoras são fundamentais para o crescimento, enriquecimento do tecido empresarial e da nossa sociedade.
A mudança de mentalidades é o fator decisivo para a promoção da alteração da integração das Mulheres nos cargos de chefia das empresas.
A alteração do pensamento tem que surgir em 1º lugar na forma como nós, Mulheres, encaramos as situações. não pode existir resignação nem lamentos, devemos fazer o trabalho com determinação e ambição.
Por outro lado, os homens não podem olhar para a Mulher como uma pessoa inferior, sem capacidades de liderança ou chefia, e que nasceram para serem donas de casa e mães a tempo inteiro. Devem analisar objetivamente o trabalho executado e os resultados obtidos.
Ainda existe um caminho a ser percorrido, mas devemos enaltecer o trabalho que já alcançámos e olhar para ele com ânimo e determinação, pois juntas alcançaremos o lugar que por direito nos pertence no mundo empresarial.
Falemos do setor em si. Considerando a sua experiência no setor empresarial em Portugal, acredita que a igualdade de género já é uma realidade neste campo? Que lacunas ainda necessitam de ser colmatadas para que esta seja uma área inclusiva?
Em pleno século XXI ainda não existe um tratamento igualitário, pois ainda vivemos num mundo em que as Mulheres são relegadas para 2º plano em muitas profissões.
Ao longo dos 21 anos de atividade tenho vivido na pele essa realidade, quer a nível de valorização profissional quer a nível salarial. A história tem relatado as inúmeras lutas das Mulheres pela igualdade de direitos e gradualmente têm vindo a ser reconhecidos.
Existe ainda um trabalho a ser feito pela sociedade em que valorize o mérito e não o género e pelas próprias Mulheres que valorizem o seu trabalho.
Temos que mudar mentalidades e entender que não é o género que vai tornar um bom gestor ou um bom funcionário.
Na hora de se tomar uma decisão deveria analisar-se a formação, a forma de interação com outros, a capacidade de tomar decisões pelo saber e não pelo fato de ser Homem ou Mulher.
O empoderamento feminino é essencial para o progresso social e económico, tal como Dia Internacional da Mulher defende. Assim, que mensagem de empoderamento gostaria de deixar a todas as Mulheres que irão ler o seu testemunho?
Ao longo do meu caminho tenho encontrado vários obstáculos e procuro sempre olhar para eles como uma alavanca de aprendizagem e crescimento.
Considero que não sou uma pessoa de aceitar um “não” porque sou Mulher, com passividade e resignação.
A melhor forma de mostrar às outras pessoas que estão erradas acerca das capacidades das Mulher é trabalhar com dedicação, empenho e profissionalismo. Deixando que a qualidade do seu trabalho fale sobre as suas capacidades e competências.
O caminho não tem sido fácil, mas com mérito, sentido de responsabilidade e persistência temos conseguido vencer os obstáculos que nós, Mulheres, temos encontrado.
Cabe a cada uma de nós valorizarmo-nos e fazer das adversidades um fator de crescimento.
Para terminar, que objetivos pretende concretizar para que a empresa que lidera seja hoje (e sempre) diferenciadora no mercado?
Eu tenho o privilégio de trabalhar na área que me realiza profissionalmente, o que torna mais fácil o meu trabalho tão complexo e stressante.
Por um lado, sou empresária, o que me faz vivenciar as dificuldades das nossas empresas, com a complexidade da fiscalidade.
Por outro lado, sou Contabilista Certificada que enfrenta diariamente as dificuldades da máquina pesada do Estado e em simultâneo as inúmeras dúvidas dos contribuintes que tentam perceber toda a burocracia necessária para estar em conformidade com a lei.
Finalmente também sou contribuinte particular com um conjunto de obrigações fiscais a serem cumpridas.
Sempre que uma entidade a nível empresarial ou a nível particular recorre aos serviços do meu gabinete, procuro colocar à sua disposição os conhecimentos e a empatia que temos para esclarecer dúvidas e encontrar soluções que mais se adequem aos seus projetos.