“Os Clientes estão cada vez mais atentos à gestão global do seu património”

Gerir o Património: Perceções de Sandra Bento, Head of Legal, Wealth Planning, and Product Management da Baloise, no Luxemburgo.

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Firmemente enraizada no tecido económico e social do país, a Baloise no Luxemburgo oferece não só uma gama completa de soluções de seguros de habitação e de mobilidade, mas também unit-linked ou seguros de vida tailor made.
A Baloise estende os seus serviços de reforma e de formação de património fora dos seus mercados nacionais a muitos países da União Europeia. Entrevista com Sandra Bento, Head of Legal, Wealth Planning, and Product Management da Baloise no Luxemburgo.

Pode explicar melhor o seu papel no departamento jurídico, de planeamento patrimonial e de gestão de produtos?
Enquanto responsável pelo departamento jurídico, concentro-me na conformidade legal e na gestão dos riscos legais, enquanto que na minha função de planeamento patrimonial e gestão de produtos, concentro-me mais na gestão do património dos clientes e no desenvolvimento de nichos de mercado. Estas duas funções podem sobrepor-se em determinados domínios, nomeadamente no que se refere à conformidade regulamentar dos produtos.

Pode explicar-nos no que consiste exatamente o planeamento patrimonial e por que razão é crucial para os clientes?
O departamento de Planeamento Patrimonial ajuda os clientes, as famílias ou as empresas a gerir eficazmente o seu património financeiro e a planear estrategicamente a sua sucessão através de um seguro de vida. Isto implica uma análise da situação financeira, familiar e profissional do cliente, tendo em conta os seus objetivos e necessidades, procurando minimizar o impacto fiscal, etc.
Os clientes estão cada vez mais atentos à gestão global do seu património, e uma empresa que consiga dar resposta a estas necessidades de forma eficiente e precisa possui uma vantagem competitiva definitiva. Os clientes com elevado património têm frequentemente necessidades financeiras complexas e requerem conhecimentos especializados na gestão do património. Um Wealth Planner pode fornecer aconselhamento personalizado e estratégias feitas à medida para satisfazer estas necessidades específicas.
O papel da equipa de Wealth Planning consiste em apoiar as várias equipas comerciais na identificação da melhor solução de seguros para satisfazer os objetivos dos clientes. Quer procurem a preservação de ativos, o crescimento ou uma transmissão personalizada, mantendo a máxima flexibilidade, a equipa assiste-os em todas as etapas do processo de implementação.

Como é que o planeamento sucessório evoluiu nos últimos anos, especialmente com as mudanças na economia global e os avanços tecnológicos?
Nos últimos anos, o planeamento sucessório sofreu, de facto, uma evolução significativa.
Em primeiro lugar, os avanços tecnológicos, como as plataformas digitais e o software de gestão de património, transformaram a forma como os advogados, gestores e wealth planners interagem com os seus clientes e gerem as suas carteiras.
Estes avanços também permitem fornecer análises mais sofisti­cadas para satisfazer as necessidades específicas de cada cliente.
Além disso, observamos uma complexidade fiscal crescente. As questões fiscais e económicas já não são analisadas apenas a nível nacional e exigem uma maior agilidade por parte dos profissionais do sector para fornecerem os melhores conselhos aos clientes. Para além disso, os acontecimentos económicos mundiais, como as crises financeiras, as flutuações dos mercados e as incertezas geopolíticas, aumentaram a sensibilização para os riscos financeiros.
A mobilidade das pessoas também desempenha um papel importante nesta evolução: as pessoas deslocam-se cada vez mais por razões profissionais, familiares ou outras. Este fator deve ser cada vez mais tido em conta na estruturação/reestruturação do património de um cliente.
Os critérios ESG, o envelhecimento da população ou as alterações na estrutura familiar são outras razões para esta evolução do planeamento patrimonial. Este torna-se mais personalizado, integrado e focado na gestão do risco.

Quais são os principais desafios e oportunidades que identifica atualmente para os clientes?
A rápida evolução da regulamentação e a sobreposição de normas (legislação nacional, regulamentação europeia, tratados bilaterais ou multilaterais) tornam o planeamento patrimonial e/ou sucessório uma necessidade ainda mais latente. Enquanto Wealth Planners devemos estar particularmente atentos para propor a solução mais flexível suscetível de se adaptar melhor ao cliente e à evolução da sua situação.
No que diz respeito às oportunidades, os ativos acessíveis aos clientes diversificaram-se enormemente nos últimos anos, alterando assim os seus hábitos e prioridades de investimento. Assim, os ativos de Private Equity fazem agora frequentemente parte da carteira dos clientes. Da mesma forma, os ativos que cumprem critérios ESG são cada vez mais procurados pelos investidores que os vêem como oportunidades para investir de forma mais responsável e sustentável.

Como é que integra a sustentabilidade e o investimento responsável na sua profissão?
A sustentabilidade é um dos temas incontornáveis da nossa sociedade e cultura atuais, devido às alterações climáticas causadas pela atividade humana. Cada vez mais, os clientes procuram alinhar os seus valores pessoais com as suas decisões de investimento. A Baloise tem uma política de desenvolvimento sustentável que aposta na implementação de projetos e soluções sustentáveis nos respetivos mercados onde oferece os seus produtos, considerando critérios sociais, económicos e ambientais para garantir a continuidade das suas atividades num mundo que se pretende mais sustentável. Estes produtos visam não só proteger e assegurar o funcionamento das empresas, economias, comunidades e indivíduos, mas também promover uma sociedade orientada para o longo prazo. O planeamento moderno do património incorpora frequentemente considerações ambientais, sociais e de governação (ESG) no processo de seleção dos investimentos.

Quais são os exemplos concretos que demonstram a importância do planeamento patrimonial?
As situações que ilustram a importância crucial do planeamento patrimonial no acompanhamento e aconselhamento envolvem frequentemente clientes móveis, que enfrentam múltiplas mudanças ao longo da sua vida. Graças aos princípios de portabilidade e transparência integrados nos nossos contratos, estes adaptam-se a cada nova realidade jurídica e fiscal, alinhando-se perfeitamente com as leis do país de residência, nomeadamente em matéria fiscal. O nosso compromisso consiste em ajudar os nossos clientes a estruturar o seu património para a transmissão de geração em geração, mesmo quando se deslocam de um país para outro. Adaptamo-nos continuamente às suas necessidades e à evolução da sua situação pessoal, ao longo do seu percurso de vida. Acontecimentos como o divórcio podem fazer desaparecer as disposições iniciais do contrato. Se tal acontecer, estamos aqui para ajustar as cláusulas do contrato e satisfazer as suas novas necessidades. Estamos também presentes para responder às questões dos clientes, mesmo que não tenham um impacto direto sobre nós. Quer se trate de fiscalidade, de aspetos jurídicos ou de apoio ao cliente, o nosso objetivo é proporcionar-lhe conforto e tranquilidade nas suas decisões.

Observa diferenças geracionais nas atitudes em relação ao investimento e ao planeamento financeiro?
Sim, entre outros fatores, devido a experiências de vida, valores, perspetivas económicas ou hábitos de consumo. As gerações mais recentes tendem a dar prioridade a valores éticos e sustentáveis nas suas escolhas de investimento, procurando oportunidades que estejam de acordo com as suas convicções sociais e ambientais. As novas gerações têm também uma apetência mais acentuada por ativos dissociados da volatilidade dos mercados financeiros. Estes investimentos (Private Equity, Private Debt) caracterizam-se pela sua reduzida liquidez, por rendimentos geralmente elevados e por um nível de risco mais elevado do que os ativos cotados tradicionais.
Penso que, fundamentalmente, as pessoas não pensam frequentemente no facto de que uma situação de vida pode mudar rapidamente, e a pandemia trouxe este aviso. O tema da morte deixou de ser tabu e as pessoas estão mais dispostas a ouvir falar de seguros do que antes. Para nós, este é um tema normal, uma vez que o nosso trabalho consiste em identificar problemas e propor soluções personalizadas de acordo com as necessidades de cada indivíduo e família, antecipando o que pode acontecer na altura da morte.

Quais são os mecanismos específicos que tornam o seguro de vida no Luxemburgo particularmente atrativo para o planeamento do património e da sucessão?
O seguro de vida desempenha um papel importante no planeamento do património e da sucessão. A este respeito, o Grão-Ducado do Luxemburgo oferece uma proteção única na Europa, conhecida como o “triângulo de segurança”, que garante a separação jurídica e física entre os ativos dos tomadores de seguros, por um lado, e os ativos dos acionistas e outros credores da companhia de seguros, por outro. A compartimentação dos ativos é controlada trimestralmente pelo Commissariat aux
Assurances, a entidade reguladora dos seguros no Luxemburgo. E em caso de incumprimento da seguradora, a autoridade de supervisão pode congelar as contas para proteger os direitos dos tomadores de seguros. Graças a este privilégio, os tomadores de seguros estão acima de todos os credores, incluindo o Estado. Este mecanismo desempenha igualmente um papel importante na atratividade do centro financeiro luxemburguês.