“BIM? Esta metodologia brinda-nos com tempo”

A Revista Pontos de Vista foi conhecer o A-lab PT, e esteve à conversa com Inês Almeida e Lidia Leung, respetivamente Diretora de Desenvolvimento Estratégico e Coordenadora de Design Performance do A-lab, e ambas Arquitetas, onde ficamos a conhecer como esta marca, o A-lab, tem sido um promotor de referência do BIM - Building Information Modelling e muito mais.

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O A-lab é reconhecido internacionalmente pela sua Arquitetura inovadora e sustentável, com projetos premiados em diversas categorias. Quais são os fatores diferenciadores que o A-lab traz para o mercado português?
O A-lab foi formado em 2000 na Noruega, e cresceu ao ganhar importantes concursos de transformação urbana, nomeadamente na frente marítima de Oslo. Em 2017 abriu-se o escritório no Algarve, trazendo para Portugal experiência BIM adquirida desde 2007. A experiência de trabalharmos simultaneamente no contexto escandinavo, com elevados padrões ambientais, tem contribuído para acelerarmos o nosso compromisso com as metas climáticas da Agenda 2030. Somos apaixonados pelo nosso território e qualidades únicas de Portugal, pelo que trazemos uma equipa internacional e diversificada com o objetivo de alcançar soluções e propostas sustentáveis para novos estilos de vida, de trabalho e de socialização. A nossa convicção é que, para que a inovação necessária aconteça, o foco deve mudar do objeto final para o processo. É esta experiência colaborativa e de obra feita que nos diferencia ao reduzir discrepâncias entre expetativas e resultados.

Sabemos que a metodologia BIM – Building Information Modelling tem revolucionado a indústria da construção. Como é que o A-lab tem integrado o BIM nos seus processos de trabalho? Quais têm vindo a ser os principais benefícios e desafios encontrados?
O A-lab foi acompanhando o aumento de exigências, a complexidade, mas também as possibilidades que a implementação do BIM trouxe consigo. Fomos introduzindo distintas ferramentas, confrontando desafios de distinta natureza, tais como: automatizar processos (Naviate, Keynote Manager); melhorar a compatibilização entre especialidades (Solibri, Simple BIM, Naviswork); melhorar a colaboração com o cliente utilizando experiências imersivas (V-rex, Sentio); melhorar a interoperabilidade entre programas de desenho (Rhyno com BEAM,Enscape, Lumion) e investigar formas mais sustentáveis de desenhar (Climate Studio e Forma).
É certo que a adoção de tecnologia por si só não garante a eficiência. A nossa Tech Manager, Angie Méndez, integrou estas tecnologias em workflows bem definidos e adaptados ao atelier. Criaram-se ferramentas internas ‘A-lab tools’ e disseminou-se o conhecimento e metodologias através da criação de um manual virtual ‘A-lab playbook’, o qual nos garante acesso a informação sempre atualizada.

Considerando que o BIM permite uma melhor coordenação e identificação de problemas antes da construção, como é que esta metodologia contribui para a sustentabilidade nos projetos do A-lab?
Esta metodologia brinda-nos com tempo. O BIM permite-nos “ falhar” rapidamente no mundo da construção virtual e em todas as fases do projeto para reduzir o custo e tempo de execução na construção real. Podemos dar alguns exemplos: No projeto de um Eco resort, durante o processo de levantamento do existente, utilizamos “point clouds” para conhecer a localização exata e a dimensão das árvores centenárias, o que orientou a implantação dos novos volumes do edifício, respeitando a paisagem.
Durante o processo de conceção e colaboração, discutimos o conceito com o cliente, fazendo um passeio virtual pelo projeto para um entendimento coletivo desde o início. Além disso, fazemos análises de desempenho das várias propostas de desenho para atingir determinados objetivos de conforto e de redução de energia maximizando a integração de sistemas passivos no nosso design. Procuramos promover soluções arquitetónicas que simplifiquem a construção e reduzam as cadeias de produção.
Em processo de coordenação e compatibilização realizamos o “clash detection” entre elementos de distintas especialidades com o “model checker”. Este estudo das colisões passa de uma compatibilização visual manual a uma compatibilização automática que admite ainda regras de compatibilização personalizadas e associadas a cada projeto.
E por último, durante a construção utilizamos modelos federados em uma plataforma partilhada (CDE) que nos permite visualizar facilmente todas as especialidades para coordenar as fases de execução. No local da obra, também é possível usar realidade aumentada (RA) para discutir a solução de algum detalhe a esclarecer melhor.

Além disso, o A-lab acredita na importância da interdisciplinaridade e na articulação de conhecimento ao longo do processo criativo. Poderia dar-nos exemplos de como o BIM ajuda na tomada de decisões mais informadas e criativas?
Estes modelos tornam-se especialmente importantes quando os projetos ganham complexidade e a intuição já não é suficiente para dar soluções que estejam à altura das nossas metas. Por exemplo, num edifício de escritórios, a implantação, a forma do edifício e modularidade da fachada é definida para fornecer o maior conforto climático e visual nos interiores, com o menor consumo de energia ativa possível, tirando o maior partido das condicionantes locais.
Esta estratégia de desenho da fachada é orientada por análises de desempenho, como Radiação solar e Indicadores de luz natural (VSC-Virtual Sky component). Otimiza-se a forma do edifício em um ciclo de desenho iterativo onde se define o rácio de fachada opaca e vidro (WWR) de cada módulo. Gerimos estes processos de forma a alcançar fachadas com ritmos dinâmicos, bem inseridas no lugar. Esta é a nossa abordagem criativa, que garante que todos os elementos de design são integrados desde o início, promovendo conceitos que respondem a questões estéticas, de conforto e de sustentabilidade.

A implementação obrigatória da metodologia BIM está a ganhar importância em Portugal. Como vê o impacto deste passo no mercado português?
Por um lado, esta obrigatoriedade virá de forma muito positiva promover uma redução do amadorismo na construção e de quem o alimenta. Temos esperança que seja um momento de profissionalização da classe, e da valorização do papel do arquiteto, muitas vezes enfraquecido pela falta de conhecimento sobre a abrangência das suas competências e responsabilidades. Por outro lado, sendo a obrigatoriedade, um processo “top-down”, é crucial garantir que se reflita sobre os propósitos e requisitos da informação digital a definir para diferentes obras. É essencial trabalhar a maturidade do requerente, ou seja, o «porquê» das exigências, do cliente público ao privado, para uma adequação legislativa. “Que informação realmente precisamos? E a que tempo?”
Naturalmente o BIM virá intensificar os modelos colaborativos, o que irá beneficiar uma nova destreza na evolução do conhecimento individual e coletivo. Esperemos que promova um maior sentido de comunidade e de autoria partilhada na transformação do território.

Olhando para o futuro, qual é a visão do A-lab para o seu posicionamento no mercado português? Quais são os objetivos estratégicos da empresa para os próximos anos?
Queremos conquistar o mesmo reconhecimento que temos na Noruega, onde nos destacámos pela implementação na integridade do projeto desde a sua conceção até à execução. Queremos estar presentes na reinvenção dos modelos turísticos, na hábil reabilitação urbana e na melhoria dos standards de habitação. Para isso, o nosso extenso portfolio, que abrange uma diversidade de espaços, usos e ocupações testados ao longo de mais de 20 anos, permite-nos descodificar oportunidades para melhorar a atratividade dos lugares. Nesse sentido valorizamos qualquer projeto onde possamos participar da visão inicial de um empreendedor ou de fazer parte do início de uma estratégia de desenvolvimento local. De grosso modo, estamos mais interessados em parcerias fortes e clientes ambiciosos. Procuramos ativamente sinergias que garantam intervenções de sucesso.