
Desde a sua fundação, em 1998, o CETI tem vindo a dedicar-se ao estudo e tratamento da infertilidade, posicionando-se como uma referência nacional e internacional nesta área. Sendo um pioneiro na área da medicina da reprodução em Portugal e tendo uma carreira tão distinta, o que o motivou a fundar o CETI?
Quando fundei o CETI não existia a especialização em Medicina da Reprodução. A área da infertilidade era uma área da ginecologia essencialmente ligada ao elemento feminino. Na minha visão era um problema do casal e eu próprio vim a fundar na Ordem dos Médicos a Subespecialidade de Medicina da Reprodução, porque a atuação nesta área deve ser de medicina e cirurgia da reprodução podendo proporcionar aos casais todas as possibilidades de cuidados médicos e cirúrgicos necessários para a resolução do problema de fertilidade. Era portanto necessário construir um local que pudesse agregar uma equipa multidisciplinar com médicos de reconhecida competência nacional, internacional e interpares, que trabalhando em conjunto conseguissem com ginecologistas diferentemente diferenciados (ultrassonografia, cirurgia minimamente invasiva, endocrinologia) andrologistas, embriologistas, geneticistas, psicólogos e outros, constituir uma equipa articulada que trabalhando de forma integrada conseguisse oferecer a melhor alternativa à solução dos problemas de infertilidade do casal. Por isso o nome CETI quer dizer Centro de Estudo e Tratamento da Infertilidade.
O que diferencia o CETI no mercado? Poderia destacar alguns dos avanços tecnológicos e metodológicos que o mesmo oferece aos seus pacientes? Poderia falar-nos sobre a missão do Centro e como tem sido o percurso do mesmo ao longo dos anos?
O CETI destaca-se como uma clínica de tratamento da infertilidade guiada por valores fundamentais que orientam a sua prática diária. Esses valores são centrais à filosofia do CETI e refletem-se em todos os aspetos, desde o atendimento inicial até ao acompanhamento pós-tratamento, proporcionando uma experiência humanizada aos pacientes:
Verdade e Respeito: Comunicação transparente e honesta com os pacientes, garantindo clareza na apresentação de todas as informações e opções disponíveis.
Empatia: Os colaboradores demonstram uma profunda compreensão e sensibilidade em relação às emoções e necessidades dos pacientes, criando um ambiente acolhedor e de apoio.
Foco no Cliente: O paciente está no centro de todas as atividades, assegurando que cada tratamento seja personalizado e adaptado às necessidades individuais.
Excelência: Busca constante pela excelência nos cuidados providenciados, utilizando as tecnologias mais avançadas e os melhores métodos científicos para oferecer um atendimento de qualidade superior.
Relativamente a este último tópico, CETI tem-se destacado por adotar diversos avanços na saúde reprodutiva, implementando novas tecnologias na área de Reprodução Medicamente Assistida (PMA).
Por exemplo, um diferencial importante é o estudo do elemento masculino, com a avaliação do ADN espermático em todos os espermogramas, alinhando-se com as mais recentes publicações científicas sobre o impacto da fragmentação do ADN no desenvolvimento embrionário subsequente.
O CETI foi pioneiro na introdução de sistemas de time-lapse no laboratório de embriologia, optando por incubadoras que integram esse sistema no seu hardware, proporcionando condições de cultura de excelência e monitorização contínua dos parâmetros de qualidade e desenvolvimento embrionário. Recentemente, o CETI apostou também na aplicação de inteligência artificial à embriologia.
Desde a sua fundação, em 1998, têm sido desenvolvidos projetos de investigação. Muitos deles focados em métodos não invasivos de diagnóstico da qualidade ovocitária/embrionária. Em 2011,recebeu o reconhecimento internacional com o Grant for Fertility Innovation, e no último Congresso Português de Medicina da Reprodução, em Maio de 2024,três trabalhos desenvolvidos pelos seus colaboradores foram premiados: melhor projeto de investigação clínica orientado num hospital publico pelo Prof Rui Miguelote, prémio para outro trabalho do CETI que foi a melhor comunicação cientifica oral, e ainda outro para o projeto de introdução de inteligência artificial em embriologia que recebeu uma bolsa científica. Este reconhecimento reforça ainda mais o compromisso do CETI com a inovação e o desenvolvimento, consolidando a clínica como uma referência em PMA.
Junho é o Mês de Sensibilização para a Fertilidade, uma iniciativa importante para aumentar a consciencialização sobre estas questões. Como vê a importância desta iniciativa?
Para a baixa natalidade e dificuldade em renovar as gerações contribuem fenómenos políticos, económicos, sociais e numerosos casos de infertilidade, de que se verifica uma progressão crescente. Estando com eles relacionados, cabe dar relevo ao atrasar da primeira gravidez para idades tardias na vida da mulher (mais de 35 anos) o que pode comprometer séria e definitivamente a sua fertilidade. A magnitude do problema é tal, que alguns pensam que o importante aumento do número de casais inférteis não é devido à crescente incidência de causas e riscos, mas apenas a uma progressiva tendência de adiamento da primeira gravidez para a 4ª década da vida. De facto, verifica-se uma indiscutível diminuição da fecundidade da mulher a partir dos 30 anos, com um declínio que se acentua marcadamente a partir dos 35, atingindo-se níveis mínimos aos 45 anos de idade. Assim, conceder prioridade cronológica a aspetos de satisfação económica e profissional pode, por vezes, comprometer o que para muitas mulheres é o seu principal desígnio de realização pessoal e familiar.
Neste contexto, os meios de comunicação social podem desempenhar um importante papel pela divulgação e transmissão de conhecimentos. Um estudo que realizei mostra que sendo a informação escassa, a principal fonte são os meios audiovisuais(66,5%)e jornais/revistas(24,6%).A aquisição de informação e de conhecimentos através de médicos ronda apenas os 20%.No entanto, é obrigação médica, nomeadamente ao nível da medicina geral e familiar, informar sobre este importante declínio da fertilidade com a idade da mulher e consciencializar as mulheres de que se não têm projeto de vida que lhes permita, por motivos profissionais ou outros, ter filhos em idades jovens, então devem encarar a criopreservação de ovócitos como uma alternativa que deve ser efetuada antes dos 33 anos de idade. Não sendo esta a forma ideal de assegurar a fertilidade futura é, no entanto, uma alternativa possível.
Apesar dos avanços na sociedade, a infertilidade ainda é um assunto considerado tabu. Como acha que esta perceção pode ser mudada e qual é o papel do CETI e dos profissionais de saúde em geral na desmistificação e sensibilização para esta questão?
Ao reler textos antigos, verifiquei, que embora com cambiantes inerentes aos tempos e aos lugares, a atitude da sociedade perante a doença que incapacita de reproduzir, encontrava-se diretamente relacionada com o grau de liberdade e o estatuto da mulher nas diversas comunidades. Inquietei-me. Estamos simultaneamente tão longe e tão perto. Tão longe, porque a ciência, a técnica e a prática médica nada têm de comum e desde há várias décadas mostraram a infertilidade não como uma afeção feminina, mas como uma doença conjugal, do homem e da mulher. E simultaneamente tão perto, na atitude da sociedade no que respeita à reprodução, apesar de esta se relacionar com a liberdade e com direitos fundamentais, aliás consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.