ENIDH, pelos olhos do Presidente

Victor Franco Correia, Presidente da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, abordou, em entrevista, a história da instituição e realçou os desafios mais prementes da atualidade.

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Enquanto Presidente da ENIDH, como observa a evolução da Instituição ao longo dos últimos 100 anos e quais foram os principais marcos que fizeram da mesma a referência nacional e internacional que é atualmente?
Inicialmente, em 1924, aquando da sua criação, através do Decreto-Lei nº 10084, foi designada por Escola Náutica e funcionava na Rua do Arsenal em Lisboa, na dependência da Escola Naval da Marinha de Guerra. Em novembro de 1936 foi publicado o Decreto-Lei nº 27214 que separou a Escola Náutica da Escola Naval, sendo esta transferida para o Alfeite.  Em 1945 foi publicado o célebre Despacho 100 para a reorganização da marinha mercante portuguesa, ao abrigo do qual foram construídos 56 navios.  Foi um período áureo da marinha mercante portuguesa. Em outubro de 1972 foram inauguradas as atuais instalações em Paço de Arcos, pelo Presidente da república, e a instituição adotou a designação de Escola Náutica Infante D. Henrique (ENIDH).
Em 1989 a Escola Náutica Infante D. Henrique foi integrada no sistema de Ensino Superior Politécnico através do Decreto-Lei nº 94/89. Só alguns anos mais tarde, em 2008, alterou a sua designação para Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que atualmente mantém. Durante muitos anos ofereceu os cursos para os oficiais da marinha mercante nas áreas de Pilotagem, de Máquinas Marítimas e de Radiotecnia. Em 1999 a instituição deixou de formar apenas os oficiais para a marinha mercante e incluiu nas suas ofertas formativas a área da gestão dos transportes marítimos, logística e portos. Ao longo dos anos as ofertas formativas da instituição foram dando resposta à evolução dos transportes marítimos e dos portos, com a criação de novos cursos, dispondo atualmente de uma oferta significativa de cursos de licenciatura, mestrado e também de cursos técnicos superiores profissionais.
Em 2022 foi inaugurado o novo Centro de Simulação Marítima com modernos simuladores marítimos nas áreas da navegação e das máquinas marítimas que permitiram um salto qualitativo importante na formação dos futuros diplomados nos cursos marítimos.   Em 2024 está em construção o Centro Internacional de Segurança Marítima que permitirá no futuro melhorar muito a qualidade da formação na área da Segurança Marítima incluindo, por exemplo, o treino em espaços confinados, e o treino em combate a incêndios em condições mais próximas das reais e de forma mais sustentável para o ambiente, entre muitas outras importantes valências.
Em 2024 a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique foi aprovada como membro da IAMU, International Association of Maritime Universities.

Fazendo uma reflexão ao passado, mas também ao presente, quais têm vindo a ser os principais desafios – e oportunidades – que a ENIDH enfrenta enquanto Escola Superior Náutica?
O principal desafio tem a ver com um grande desconhecimento, por parte dos jovens candidatos ao ensino superior, relativamente às saídas profissionais no setor marítimo e portuário que os cursos da ENIDH permitem. Existem uma enorme escassez de oficiais da marinha mercante a nível internacional. Os diplomados dos cursos marítimos têm uma empregabilidade praticamente total em navios nacionais ou internacionais, plataformas offshore, portos e áreas afins. Os níveis de remuneração praticados são muito superiores aos que atualmente se praticam em Portugal para os licenciados. Assim, um grande desafio consiste em aumentar a divulgação da Escola, dos seus cursos e das saídas profissionais.  Particularmente os cursos de Engenharia têm tido procura inferior às vagas disponibilizadas e esta é uma realidade que queremos mudar. As profissões marítimas não são apresentadas aos jovens do ensino secundário como opções para prosseguimento dos estudos superiores. Num país com a nossa tradição marítima e quando tanto se fala do nosso desígnio marítimo e se pretende desenvolver a economia azul, deveríamos desenvolver ações concretas para mudar esta realidade logo ao nível do ensino básico e secundário.

De que forma a ENIDH está a adaptar os seus currículos e programas de formação para preparar os alunos para as novas exigências e tecnologias emergentes no setor marítimo-portuário?
O corpo docente e nomeadamente, os órgãos competentes, como o Conselho Técnico-científico e o Conselho de Certificação Marítima, estão atentos às novas necessidades de formação, nomeadamente considerando a transição energética do transporte marítimo e dos portos e a crescente digitalização.  Igualmente estão atentos às alterações que venham a ocorrer ao nível das Normas Internacionais para a formação dos marítimos que são determinadas pela Organização Marítima Internacional (IMO), garantindo que os diplomados da ENIDH têm Certificações reconhecidas internacionalmente. Para garantir essa atualização o corpo docente participa em Conferencias Internacionais na área e nas reuniões da IMO e da EMSA, a agência europeia de segurança marítima. Em junho de 2024 vamos organizar a Conferencia Sustainable Initiatives in the Maritime Sector – SIM’24 – em colaboração com duas universidades da Noruega (NTNU e USN).  Em novembro deste ano organizaremos outra Conferencia Internacional que oportunamente divulgaremos. Estas e outras iniciativas permitirão a troca de experiências e ideias e terão um impacto positivo na identificação das necessidades de atualização das formações.

Quais são os planos futuros da ENIDH para continuar a liderar na formação de profissionais do setor marítimo-portuário?
Continuar a modernização das instalações da Escola, dos seus laboratórios, infraestrutura informática, simuladores, meios de treino prático, será fundamental para manter e aumentar a qualidade da formação praticada. A manutenção dos edifícios é também muito importante e será realizada na medida do orçamento disponível ou no âmbito de programas específicos de financiamento que sejam disponibilizados. Será importante desenvolver mais a inovação, a investigação e desenvolvimento, por forma a produzir conhecimento útil às empresas do setor marítimo e portuário no âmbito da transição energética e da transição digital. Será igualmente muito importante alargar a oferta de formações ao longo da vida permitindo a atualização dos profissionais no ativo. Adicionalmente, teremos de incrementar a consciencialização para a sustentabilidade ambiental e a necessidade de preservar os Oceanos.

Por fim, no âmbito das comemorações do centenário da ENIDH, que mensagem especial gostaria de deixar a todos os que contribuíram direta indiretamente para a evolução desta Instituição ao longo dos seus 100 anos de vida?
Naturalmente que o prestígio que a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique atualmente tem no setor marítimo se deve a todos aqueles que ao longo destes 100 anos dedicaram uma parte das suas vidas à instituição e aos diplomados que por todo o mundo demonstraram a sua competência profissional. Assim, devemos recordar com respeito todos aqueles que contribuíram para a construção e crescimento desta instituição ao longo do tempo. Desde aqueles que a conceberam, aos Professores, Funcionários, Alunos, Dirigentes, Ex-Alunos, cada um desempenhou um papel importante na história da instituição e contribuíram para o seu prestígio e sucesso.