Antes de tudo, e no sentido de a dar a conhecer ao nosso leitor, quem é Maria Francisca Ávila e como se criou esta paixão pela Advocacia, Direito e Justiça?
Desde pequenina que sempre gostei muito de debater ideias, de novos desafios e, acima de tudo, procurava sempre defender os meus interesses e dos que me rodeavam. A minha irmã muitas vezes referia que eu seria Advogada e, acho que de certa forma me ajudou a direcionar para esta vocação e muito tenho agradecer-lhe. Posso dizer que descobri esta paixão já na faculdade de Direito e que me despertou logo a imensa vontade de abraçar advocacia. Acredito que cada cliente é único e merece toda a nossa atenção e é desta forma que levo cada caso jurídico que me é entregue.
A verdade é que o mundo tem vindo a mudar em todos os setores, sendo que a Advocacia não é exceção, principalmente com a introdução da profissão à digitalização e IA, algo que é positivo para alguns e negativo para outros. Qual a sua visão e opinião sobre a digitalização e a aposta das novas tecnologias por parte do setor da advocacia e, por consequência, por parte dos profissionais desta área?
A verdade é que estas novas tecnologias poderão trazer uma maior celeridade processual
assim como o acesso e a análise de informação de forma mais rápida. Um ponto positivo será a melhor gestão dos processos uma vez que com estas tecnologias conseguimos assegurar uma organização mais eficiente nomeadamente no que diz respeito ao cumprimento de prazos processuais e de autonomização de tarefas mais repetitivas. A grande questão que provavelmente será mais debatida no futuro será a segurança jurídica desta nova ferramenta assim como as consequências das suas limitações.
Como referi, o presente da Advocacia começa a materializar-se com os avanços em Inteligência Artificial (IA) que irão obrigar a uma mudança de paradigma no setor. Acredita que este novo panorama irá obrigar o setor a ter de ser mais dinâmico?
Creio que não só terá de ser mais dinâmico como haverá uma maior competitividade no custo dos serviços jurídicos e uma modernização nos modelos de negócio. Quanto maior for adaptação de um escritório de Advogados a estas novas tecnologias, maior será a sua visibilidade no mercado e maior o seu dinamismo. É fulcral ter sempre em consideração que é sempre necessária uma revisão detalhada da análise de informação obtida através desta nova tecnologia e para tal, os conhecimentos técnicos e o pensamento jurídico do Advogado terão sempre de trabalhar lado a lado com a Inteligência Artificial.
Em que sentido é que esse dinamismo terá de ser refletido? É legítimo afirmar que os advogados mais jovens terão maior facilidade de singrar e de corroborar face às novas exigências da advocacia, isto comparativamente a advogados de uma faixa etária mais velha?
Acredito que a geração mais nova terá mais facilidade em conciliar as novas tecnologias (como a digitalização) dado que nasceu numa época mais tecnológica, mas isso não implica que a faixa etária mais velha não esteja recetiva a aprender novas técnicas que tornarão o seu dia a dia mais simplificado. A era do papel não será para sempre. Acredito que a colaboração e o trabalho de equipa entre Advogados Seniores e Advogados Juniores poderá trazer benefícios no que diz respeito à aplicação de novas tecnologias e, desta forma, seja criado um ambiente de trabalho equilibrado e inovador, onde os mais novos beneficiam da experiência jurídica dos mais velhos e, os mais velhos retiram vantagens do conhecimento tecnológico dos mais novos.
Acredita que a advocacia será capaz de aproveitar as novas tecnologias e, assim, fornecer um aconselhamento mais detalhado, especializado e com benefícios de tempo, eficácia e qualidade?
A meu ver será uma ótima ferramenta para auxiliar na prestação dos serviços jurídicos, tanto na pesquisa avançada como na análise de grandes volumes de documentação. Pode ainda ser um contributo nas consultorias jurídicas virtuais e, eventualmente, na resolução de problemas de forma virtual, sem necessidade de presença física. No entanto, é de ressalvar que um dos aspetos que considero de enorme importância é a relação com o cliente e essa é privilegiada com contacto presencial, pelo menos numa primeira reunião de apresentação do caso concreto. Dito de outra forma, é importante privilegiar a confiança numa relação jurídica onde a comunicação e a proximidade entre o cliente e o Advogado é essencial para a futura relação profissional que se estabelece entre ambos.
No passado, a tecnologia contribuiu para simplificar processos e melhorar a eficiência de funções de suporte. Sente que agora este desenvolvimento tecnológico incrementará maior qualidade ao aconselhamento prestado?
Não vejo a questão dessa forma porque a qualidade do aconselhamento garante-se pela competência, responsabilidade e profissionalismo do advogado. Admito sim que torna o processo, como referi, mais célere e eficiente. Na verdade, a tecnologia tem de ser utilizada de uma forma segura e verificada. É necessário adotar uma abordagem crítica e meticulosa quando utilizamos informações obtidas online para mitigar riscos associados ao seu uso, principalmente na advocacia. A proliferação de informações enganosas e falsas na internet é um dos desafios mais relevantes nesta nova era tecnológica.
Acredita que Portugal, relativamente as estas matérias relacionadas com a IA, a Advocacia, o Direito e a Justiça, está preparado para dar uma resposta positiva às novas exigências provocadas pelas novas tecnologias? É importante que existam estruturas, redes e parcerias entre o Estado e os advogados/ escritórios de advogados para que este setor não seja prejudicado?
É importante ressalvar que o cliente é e sempre será o foco principal para um Advogado. Na minha opinião existe ainda um caminho a percorrer relativamente à Inteligência Artificial mas será inevitável o uso desta nova tecnologia e das suas vantagens, nomeadamente em tarefas de menor valor acrescentado. Por outro lado, é importante conhecer quais as suas limitações para que o seu uso não traga surpresas futuras ou situações indesejadas.
Teme que o Advogado/a possa vir a ser substituído/a pela IA ou a advocacia deve olhar somente para a IA como aliada na produtividade e na melhoria dos serviços prestados?
Quero acreditar que será aliada na produtividade e na melhoria dos serviços jurídicos prestados, até porque, como referi, o cliente será sempre a nossa maior preocupação e, como tal, é imprescindível ser-se humano e criar uma ligação com o cliente e com as suas preocupações. A base de qualquer serviço jurídico será sempre a confiança e a comunicação com o cliente, que, a meu ver, dificilmente uma Inteligência Artificial conseguirá criar tal relação. Assim como, o pensamento crítico e jurídico que o ser humano possui e que será difícil para uma Inteligência Artificial alcançar.
A terminar, além das vantagens evidentes que a IA pode aportar ao setor, acredita que esta também terá impacto no “work life balance” dos advogados/as, com todas as valias que tal irá aportar no seu rendimento profissional, saúde e benefícios para os clientes?
De forma consciente, sim, poderá ter um grande impacto no “work life balance” que hoje em dia é tão falado e tão importante para a saúde e para o bem-estar de todos os Advogados. A Inteligência Artificial libertará os Advogados de tarefas muito repetitivas, assim como trará mais eficiência nos processos. Com a digitalização dos processos jurídicos será possível trabalhar de forma mais flexível e adotar uma “cultura” de trabalho remoto. Do ponto de vista do Advogado, a Inteligência Artificial poderá trazer uma redução no stress que, inevitavelmente, irá estar associado a uma melhoria na qualidade de vida. Quanto ao cliente, os serviços jurídicos à partida serão mais rápidos e precisos, tendo sempre em consideração o máximo cuidado e a máxima segurança na proteção de dados de cada cliente.