“Eu acredito muito na meritocracia”

Fruto de um enorme papel no desenvolvimento humano do País, líderes e gestores com a experiência e conhecimento de mercado como Liliana Teixeira Trigo fazem de Angola e das suas empresas/projetos de uma qualidade e reconhecimento imensurável. Exemplo disso mesmo é a Pernod Ricard, uma referência no setor mundial da distribuição de vinhos e bebidas espirituosas. Saiba mais desta personalidade em destaque na nossa edição de Agosto e também o cunho de responsabilidade social que a marca perpetua nos dias de hoje.

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Como é que a Pernod Ricard tem vindo a calcorrear um périplo em Angola que lhe permite ser atualmente uma referência no seu setor de atuação?
O percurso da Pernod Ricard em Angola começa muito antes do estabelecimento da filial em Luanda. Algumas das marcas de maior relevância do nosso portfolio já circulavam nos mercados e grandes superficies antes de 2013, através quer da importação direta por operadores mais pequenos, quer por via de um parceiro do grupo. De lá para cá a história da Pernod Ricard tem acompanhado a trajetória macroeconómica do País, desde os momentos áureos de 2013 a 2016, passando por momentos complicados como 2017/18 onde uma severa escassez de divisas obrigou a empresa a tomar algumas decisões difíceis como a redução de portfolio disponível no território angolano.

Quais são as mais valias que a marca consegue oferecer em Angola e quais foram as principais dificuldades para ingressar no mercado angolano?
Na minha opinião há sem dúvida dois elementos que nos distinguem da nossa concorrência, o primeiro, e inquestionavelmente o mais importante, são as nossas marcas, a qualidade e diversidade do nosso portfolio que é atualmente uma das maiores mais valias da marca. A Pernod Ricard oferece em Angola um portfolio riquissimo, que dá resposta à maioria das necessidades dos bartenders. Depois diria que outra das nossas maiores riquezas é a nossa cultura empresarial, os nossos valores e a nossa paixão pelo “convivialité” que impactam muito positivamente as nossas equipas, o nossos coloboradores. Mesmo aqueles que passaram por cá e já não fazem parte do projeto, mantêm uma ligação afetiva com as nossas marcas e continuam a ser grandes embaixadores e isso, obviamente, contagia os nossos parceiros, os nossos clientes e os nossos consumidores. Na Pernod Ricard trabalhamos com paixão.

De que forma é que a marca assume também um papel de responsabilidade social em Angola e como o tem perpetuado?
A responsabilidade social é um dos pilares mais importantes para o grupo. Sob o lema “Good times from a good place” são inúmeras as inicitiavas, em vários setores, que o grupo tem vindo a implementar e que comprovam que não é apenas uma intenção ou slogan, é de facto uma realidade. Desde iniciativas globais, altamente inovadoras ao nível da redução de plástico e vidro no nosso processo produtivo, passando por campanhas de apelo ao consumo de bebidas alcoólicas de forma moderada e responsável, incentivando o consumo de água junto do público mais jovem em eventos mais propensos a excessos e descontrolos. Numa perspetiva mais local, com iniciativas de apoio às comunidades mais proximas das nossa filiais, onde sob a mesma filosofia vamos adaptando o lema global a inicitivas mais proximas da realidade local. Este ano, aquando do “Responsible All Day” a 20 de Junho – a iniciativa global do grupo de acção em prol da comunidade -, decidimos, em Angola, que deveríamos dedicar os nossos recursos à luta contra a pobreza. O tema deste ano era focado na economia circular e nós tínhamos a intenção de que a nossa ação causasse efeitos que se prolongassem além desse dia. Encontramos uma associação que nos ajudou a identificar 12 jovens sem emprego, e com uma iniciativa que envolveu a nossa doação de equipamentos de protecção individual e transporte, o estabelecimento de um protocolo com uma das vidreiras de Angola para entrega de vidro recolhido a fim de ser reciclado, e desta forma, conseguimos garantir um rendimento mensal a essas famílias.

Como é que a Liliana Trigo se cruza com a Pernod Ricard e com Angola? Que marcos são para si mais simbólicos e quais os desafios que, ao longo do seu trajeto, teve de enfrentar?
A Liliana chega a Luanda há 16 anos, sem grandes expetativas e com muita vontade de fazer acontecer. Tinha acabado a minha Licenciatura em Relações Internacionais pela UM (Universidade do Minho) e Portugal oferecia, naquela altura, poucas alternativas aos jovens, licenciados ou não. Para mim era imperativo começar a trabalhar. Chego a Luanda no pico do boom económico, onde havia tanto a ser feito e muita falta de recursos qualificados, por isso, foi relativamente fácil iniciar o meu percurso. Sendo Angola uma sociedade muito matriarcal, nem o facto de ser mulher e tão jovem me limitou. Achavam graça à minha energia e urgência em querer fazer coisas, eu estava muito alinhada com a energia do País. Apaixonei-me pelo País numa das primeiras road-trip que fiz rumo ao Sul, pelo litoral, e percebi que era por aqui que queria ficar. Obviamente que viver e trabalhar num país tão jovem acarreta sempre situações desafiantes.

Enquanto Country Manager da marca, quais são as suas principais responsabilidades e como é que descreveria o seu papel no seio da mesma?
Diria que tenho fundamentalmente dois grandes papéis, o primeiro é o de manter/constituir uma equipa forte, coesa e de confiança, que acredita no projeto e partilha da filosofia e ambição de crescimento do Grupo. Depois diria que é a capacidade de mobilizar e orientar as decisões das equipas a fim de adaptar a ambição do grupo à realidade do País. E, com base na experiência e conhecimento, tentar antecipar qualquer evento que possa interferir com os nossos objetivos.

Que análise perpetua deste crescimento feminino nesta indústria e o que é necessário continuar a fazer para que este cenário seja ainda mais equilibrado na presença de Homens e Mulheres no setor?
Eu acredito muito na meritocracia. Sou uma afortunada por ter integrado sempre projetos que reconhecem e premeiam as capacidades e dedicação das suas equipas. No entanto, sem dúvida, que o apoio que tenho em casa, da minha família, mas sobretudo do meu marido, foram imperativos para a progressão da minha carreira.

Na sua visão e pelo trajeto realizado por si, de que forma a promoção da liderança feminina nas organizações pode contribuir para o crescimento e sucesso das empresas?
Acredito que um um bom líder possa ter um grande impacto no sucesso das empresas, porém, sem romantizar, não acredito que o género impacte positiva ou negativamente. O sucesso está dependente da visão estratégica, da capacidade de mobilização e de trabalho; nos dias de hoje está muito relacionado com os sentimentos como alegria no trabalho, equilíbrio emocional e a capacidade de promover um ambiente positivo, e isso não é exclusivo de nenhum dos géneros. Daí eu defender a meritocracia como fator de promoção.

Como é que, na sua perspetiva, podemos continuar a avançar na promoção da igualdade de género e na valorização da liderança feminina em todos os setores da sociedade?
É fundamental que as mulheres não se “auto-sabotem”. Com isto quero dizer que muitas vezes somos nós, as próprias mulheres, que nos colocamos a nós mesmas limitações e nos julgamos em demasia e, ao fazê-lo, criamos entraves ao nosso percurso. Não estou a falar de comentários ou observações de outras mulheres em relação a nós, estou mesmo a falar de auto-julgamento.

Para terminar, gostaríamos de voltar a direcionar a conversa para Liliana Trigo. Quais são as suas ambições futuras enquanto líder na Pernod Ricard em Angola? Numa vertente mais pessoal ou profissional, o que gostaria de alcançar?
A minha ambição é continuar a fazer crescer em Angola a marca e o portfolio da Pernod Ricard e garantir que esta equipa seja uma referência no setor.

Que mensagem lhe aprazaria deixar a todas as Mulheres e que, diariamente, vivem e convivem com diversos desafios e dificuldades simplesmente porque são Mulheres?
É importante definirmos aqui quais os desafios ou dificuldades, eu não tenho a visão de que as empresas dificultem a vidas das mulheres, a sociedade sim, alguns maridos e companheiros com certeza. Eu diria que o primeiro passo seria terem a honestidade de assumirem, sem medos, o quão importante é, para si e para o seu equilibrio e felicidade, o pilar profissional e carreira e estarem preparadas para defenderem essa posição.