“Na Vanilla, defendemos e empenhamo-nos em valores sólidos que nos guiam ao longo da nossa missão”

Quem é Silvia Pazos Rodríguez? Depois de 10 anos na área de eventos e conferências internacionais, fomos conhecer esta líder que há quase dois anos criou o seu próprio projeto, a Vanilla Project. Imbuída na sua génese de pilares como a ética e os valores humanos, a empresa destaca-se pela sua integridade e pela tentativa de proporcionar um mundo melhor. Saiba mais na edição da nossa Pontos de Vista!

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Antes de tudo, e para contextualizar o nosso leitor, fale-nos um pouco de como decidiu edificar o projeto Vanilla Project e de que forma é que o mesmo se encontra encorpado segundo pilares como a excelência, o rigor e os valores humanos.
Trabalho há mais de 10 anos na área dos eventos e conferências internacionais, e passei por várias organizações centradas na área da educação e impacto social, em articulação próxima com os decisores políticos. Foi aqui que nasceu a vontade de criar o meu próprio projeto. No fundo a marca Vanilla Project nasce da minha paixão pelo debate de ideias. De criar momentos de conversas de temas desafiantes com personalidades que nos inspiram, como forma de abrir a nossa consciência colectiva sobre as problemáticas da sociedade e do mundo. Para além disso, faz parte da minha forma de estar na vida e na entrega de tudo o que faço, o rigor e a integridade dos valores humanos, que ficam de várias formas impressos neste projeto também.

Um dos vossos principais desideratos, entre outros, passa por apoiar e auxiliar o universo empresarial no seu realinhamento e até desenho da sua missão para que, para além do lucro das empresas, possam apoiar a evolução do mundo e dos desafios que temos pela frente. Quão importante é esta filosofia e como é que a mesma tem tido sucesso?
Tenho vindo a aprofundar cada vez mais o tema do capitalismo consciente, ou conscious capitalism, que me tem inspirado muito. A premissa por detrás desta filosofia é que as empresas devem operar de forma ética enquanto procuram o lucro. Isto significa que devem considerar servir todas as partes interessadas e envolvidas – desde os seus colaboradores, à humanidade e ao planeta em que habitamos – e não apenas centrar o foco nas suas equipas de gestão e accionistas como tem sido a prática habitual. O conceito do conscious capitalism foi criado pelo co-fundador da Whole Foods, John Mackey, e pelo professor de marketing Raj Sisodia – que tive o prazer de conhecer pessoalmente em Nova Iorque e que passou pelos palcos da VanillaProject em 2023 num projeto desenhado para a iniciativa PRME das Nações Unidas.
No fundo, é elevar a humanidade através dos negócios e das organizações, onde o lucro é um meio necessário para atingir o seu propósito e não como um fim em si mesmo.
Por isso, acredito que ainda há muito espaço para voltarmos a olhar (e quem sabe redesenhar) a missão de muitas organizações com base nesta filosofia, e desenhar estratégias de implementação e de comunicação orientadas para este propósito maior – em algumas vezes na forma de eventos e conferências, mas não necessariamente. E é aqui que a VanillaProject se posiciona.

Aquilo que marca a vossa distinção passa pela forma como olham o mundo, ou seja, promovem uma liderança suportada e consolidada nos valores humanos e ética, o que permite entregar o melhor de vocês aos clientes e aos projetos. De que forma é que esta orgânica vos permite estar mais alinhados com as diretrizes do capitalismo consciente?
Temos todos assistido a modelos de liderança que não funcionam e que não estão de todo ajustados aos dias de hoje, às necessidades das pessoas e do mundo, e por isso tantos movimentos anti-políticos e guerras ainda latentes. Em grande parte devido a um desalinhamento profundo dos valores humanos e éticos, que se têm vindo a perder face à evolução feroz que nos trouxe até aqui.
Acredito que os líderes que são movidos pela paixão e propósito naquilo que fazem, com valores sólidos, numa combinação única de competências inteletuais e emocionais, conduzem a empresas, equipas, e resultados melhores – como já tem sido comprovado. Num equílibrio tal, em que as diferenças potenciam ainda mais o sucesso. E esta visão alinha-se naturalmente com a filosofia do capitalismo consciente. Líderes com visão global e ousados, que fazem com que as empresas e as suas pessoas se reconectem com a sua essência, reconhecendo a importância da liderança humana na formação de um mundo que não seja apenas tecnologicamente avançado, mas também compassivo, inclusivo e em sintonia com nós próprios.
Sou uma defensora nata dos valores da humanidade, dos pilares que nos sustentam enquanto espécie humana, guiados pela sabedoria dos nossos antepassados e de quem deixou marcas na história. E na Vanilla, defendemos e empenhamo-nos em valores sólidos que nos guiam ao longo da nossa missão. Dos nossos projectos. Valores que transcendem fronteiras culturais, e que reflectem os pilares sobre os quais construímos comunidades fortes, e no limite um mundo melhor para todos.

É legítimo afirmar que o conceito “Capitalismo Consciente” é que perpetua a diferença da vossa atuação? Fale-nos um pouco desta missão.
Sim, sem dúvida. E está na génese da marca Vanilla. Há uma estratégia abrangente de atuação, da escolha dos projectos em que entramos, das causas que a Vanilla decide agarrar, que se coadunam com o conceito do capitalismo consciente de alguma forma, ajudando as organizações neste caminho e inspirando outros a seguirem este modelo.
A Vanilla tem como missão construir um mundo melhor, através das suas iniciativas, da forma como inspira, como promove os valores humanos e a ética, pois acredito que a mudança numa sociedade começa em cada um de nós. Se formos conhecedores do que nos move, do que defendemos, conseguimos entregar-nos ao mundo de um outro lugar, contribuir de uma forma única e mudarmos o nosso entorno – e passo a passo desenvolvermos melhores pessoas e, consequentemente, melhores sociedades.

A verdade é que vivemos numa aldeia global cada vez mais marcada pela competitividade e pela promoção do lucro e do capitalismo sem valores. Sente que existe recetividade por parte dos líderes das empresas relativamente a este conceito do “Capitalismo Consciente”?
Há sem dúvida ainda uma grande resistência em aceitar e integrar este conceito nas empresas, pois a luta pelo poder, pelo lucro desenfreado, a competitividade feroz entre empresas, algumas vezes de forma exagerada, continua a ser a prática geral.
Negócios e empresas conscientes focam-se em encontrar soluções para o planeta e para a sociedade, e não apenas criar novas formas de consumo. Mas, enquanto consumidores conscientes, todos temos o poder de simplesmente escolher de um lugar que reflita os nossos valores fundamentais, e esta é, sem dúvida, uma oportunidade de mudança. De estarmos cada vez mais conscientes das nossas escolhas individuais, e coletivas. De escolhermos marcas e empresas que geram um impacto positivo e significativo no planeta, na sociedade, e reunirmos estratégias para encontrar novas soluções para os problemas mundiais. Isto para mim não é apenas uma tendência, é uma nova filosofia de vida, que os mais jovens já seguem. Hoje são eles que escolhem as empresas, e não o contrário – e isto é, sem dúvida, uma mudança profunda que já está a acontecer no sistema. E a nossa missão deve ser de impulsionar e amplificar a todas as gerações para um aceleramento geral.

A Silvia Pazos Rodríguez é a Founder e CEO do Vanilla Project. Quais são as suas principais responsabilidades e como é que descreveria o seu papel no seio da mesma enquanto líder?
Sou formada em gestão e ao longo dos 20 de anos do meu percurso profissional passei por diferentes setores de atividade – desde a consultoria, às telecomunicações, à construção e arquitetura, e mais recentemente educação e governo – tendo tido a capacidade de me ajustar a diferentes realidades das Pme’s, multinacionais a organizações sem fins lucrativos. Foram estas últimas as que mais me marcaram, e onde me especializei na área dos eventos e desenhei diferentes conferências internacionais sobre os desafios do mundo, da atualidade. Nestes grandes eventos tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis e inspiradoras, com uma visão muito aberta do mundo e vontade de mudança, de criar impacto com as suas palavras.
Enquanto líder que sou, impulsionada pelos valores humanos que me caraterizam, pela vontade de ver mudança neste mundo, sinto que tenho a responsabilidade e a missão de criar impacto positivo, como uma força motora para a nossa comunidade global. De certa forma de humanizar o mundo, trazendo à luz um novo conjunto de líderes inspiradores e autênticos, impulsionados pelo seu sentido de propósito na vida, e projectos que considero únicos e que merecem ser destacados.
Enquanto fundadora da VanillaProject tenho o cuidado de seleccionar os projetos e organizações com as quais colaboro, garantindo o alinhamento com os valores que defendo para a marca. Criamos o conceito, redesenhamos a missão, reinventamos projetos, criamos estratégias diferenciadoras, desenhamos novos padrões de colaboração, fazemos acontecer, e inspiramos a ação. Em resumo, é isto que a Vanilla oferece.

Que marcos são para si mais simbólicos e quais os desafios que, ao longo do seu trajeto, teve de enfrentar?
Talvez o mais desafiante para mim sempre foi o equilíbrio da vida pessoal e profissional, pois entrego-me verdadeiramente a cada projecto. Mas como mãe de 3 rapazes – entre eles gémeos, nem sempre foi fácil gerir os sonhos de criar, de fazer acontecer, mas ao mesmo tempo de estar presente e de os ver crescer. Hoje, sinto que já encontrei esse equilíbrio, e apesar do caminho ter sido intenso em muitos momentos, sinto-me muito realizada no percurso que fiz até aqui, sem perder a minha essência enquanto mulher.

Como é que, na sua perspetiva, podemos continuar a avançar na promoção da igualdade de género e na valorização da liderança feminina em todos os setores da sociedade?
A igualdade de género para mim não devia ser um objectivo por sí só. Sabemos que há indústrias que nunca irão conseguir encontrar estas metas. Mas mais do que igualdade de género, sou uma defensora do equilíbrio. Da complementariedade. De sermos únicos e autênticos. De conseguirmos extrair o que cada um tem de melhor para dar, para contribuir para os projetos, independentemente do género.
Sabemos que as mulheres na sua generalidade têm características que as diferencia dos homens em matéria de liderança, e em algumas situações a liderança feminina pode ser mais eficaz, e noutras a masculina. Diria que a nossa maior preocupação enquanto sociedade global e sociedade portuguesa, é de formar líderes – homens e mulheres – cada vez mais humanos, autênticos e criativos, numa combinação de visão estratégica, e compromisso com as nossas pessoas, com o nosso planeta, com o nosso futuro. No fundo liderar organizações de maneira responsável, inspiradora.
Sem dúvida que hoje os desafios de um líder são muito complexos e desafiadores, e é muito fácil criticar as decisões tomadas, mas às vezes pergunto-me o que teria feito se estivesse naquele ou noutro lugar? Teríamos todos a coragem de tomar decisões difíceis, sabendo por vezes que os riscos seriam de enorme impacto? Não é fácil estar em cargos de liderança e é, sem dúvida, mais confortável para muitos ser liderado, do que liderar.

Que mensagem lhe aprazaria deixar a todas as Mulheres e que, diariamente, vivem e convivem com diversos desafios e dificuldades simplesmente porque são Mulheres?
Diria que não se deixem consumir de forma negativa pelos desafios e dificuldades, que aproveitem essas oportunidades que a vida nos coloca para serem mais fortes. Que continuem a acreditar nelas próprias, no que as tornam únicas. Porque a verdade é que ninguém escolheu nascer homem ou mulher. Para mim é uma questão de respeito por quem somos, de impormos os nossos próprios limites na interação com os outros, de sermos livres na nossa forma de ser, de nos expressarmos, de dizer o que pensamos – ainda que os outros (seja homem ou mulher) não aprovem.
Quero acreditar que dentro de poucos anos este tema não será uma preocupação, naturalmente em Portugal e nos países mais desenvolvidos. Até porque as novas gerações e futuros líderes não o irão permitir. Hoje estamos todos muito mais conscientes, atentos ao que se passa nas sociedades, com acesso a informação e estudos. De alguma forma sinto que todos podemos ser o motor da mudança e impulsionar os que ainda não estão neste caminho. A defendermos os valores em que acreditamos e a não ter medo de ser quem somos.

O que podemos esperar de si e do Vanilla Project para o futuro?
A VanillaProject apesar dos seus quase 2 anos de existência, tem já vários projetos em carteira. Mas apesar da ambição ser grande, sempre tive o cuidado de desenhar cada projeto de forma única e pensada ao detalhe, desfrutando desta fase de desenho estratégico e de muita criatividade. Poderão esperar sem dúvida mais projetos inspiradores.
Porque a educação é considerada a pedra angular do progresso individual e coletivo, que tem o poder de transformar vidas e sociedades, esta será uma das áreas que a Vanilla irá continuar a deixar a sua marca. É na educação onde reside o potencial máximo do ser humano, e quando devidamente alimentado, pode alcançar feitos extraordinários. A capacidade de termos pensamento crítico e criativo, permitindo que os indivíduos questionem, inovem e encontrem soluções para os desafios complexos que enfrentamos como sociedade. Ao investir na educação, estamos a investir no futuro da humanidade, garantindo que todos temos a oportunidade de alcançar o nosso máximo potencial e contribuir assim para um mundo melhor.