“Ser empreendedor é ter a capacidade de criar caminhos novos!”

Todos sabem que procuramos apresentar o bom que em Portugal se faz na liderança feminina, em vários setores de atividade, projetos reveladores da criatividade e do desafio constante e diário. É o exemplo de Susana Neto, uma pessoa que passou por várias etapas de desenvolvimento profissional e que encontrou no Artesanato, na Moda e da Indústria Têxtil, um conceito tripartido onde a Arte e Natureza se fundem. Uma cidadã do Norte na busca da valorização do luxo e em conceitos como a Economia Circular, a Sustentabilidade e o Empreendedorismo.

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Para começar, poderia partilhar um pouco sobre o seu percurso profissional até assumir o projeto Susana Neto Textil Art? Quais foram as conquistas que merecem ser destacadas e os desafios que enfrentou ao longo deste caminho?
Iniciei na IndústriaTêxtil, responsável por 50 colaboradoras na otimização da produção.
Uma grande escola. Uma empresa com apoio do estado que contratou recém-licenciados para lugares que não nos seriam acessíveis noutras circunstâncias.
Depois, tive uma proposta para ser consultora SAP. Aprendi a trabalhar com prazos apertados, exigência, resolução de problemas complexos, e trabalho sob pressão.
Passei, depois, para o Grupo RAR e, ao tornar-me mãe, iniciei o meu trajeto como empreendedora.
Montei um spa de luxo, que mantive durante 5 anos, até que pensei que não faria sentido continuar.
Convivi com grandes marcas de luxo e aprendi imenso sobre luxo.
Nessa altura, foi na arte que encontrei um apoio para conseguir abrandar um pouco o meu ritmo.
Apresentei à Câmara de Gaia a minha proposta para dinamizar um Pólo de Indústrias Criativas, que foi aceite e criei o Atelier do Cais, espaço dinâmico com oficinas, workshops, exposição….
Espaço que a Câmara encerrou na pandemia. Explorei a impressão botânica e já em 2019 fui selecionada pelo CITEVE para integrar o iTechStyle Green Circle!  Em 2022, fui selecionada, para integrar o Crafting Business, do WCC, onde tive formação de empreendedorismo na área do artesanato.

Quais foram as conquistas que merecem ser destacadas e os desafios que enfrentou ao longo deste caminho?
Foi a maternidade.
Senti uma imensa pressão para colocar a família e a casa em primeiro lugar e abdicar dos meus sonhos profissionais.
Foi o período mais complexo da minha vida, a crise de 2008, dois trabalhos muito exigentes, sem rede de apoio.
As maiores conquistas que tive foram a nível interior, permitindo-me sempre ir fluindo em direção aos meus objetivos, tendo sempre muita vontade de também de alavancar aqueles que sinto que estão alinhados neste objetivo de contribuir para um futuro mais edificante.

Para melhor entender, enquanto criativa ao nível da moda e da arte têxtil natural, quais são as suas principais responsabilidades e como descreveria o seu papel como empreendedora e líder?
Estou numa constante busca por conseguir ir mais longe, a cada trabalho que faço, tentando não me repetir, ir buscando soluções a nível estético e da qualidade, cada vez melhores e mais apelativas.
Procuro estar sempre a estudar o mercado, ir de encontro às necessidades das pessoas, tentando surpreendê-las.
Empreender é ter menor aversão ao risco mas implica cair mais, falhar mais, e, há que ter maior resiliência e capacidade de seguir o que nos parece certo mesmo que ninguém esteja a acreditar em nós.
Ser empreendedor é ter a capacidade de criar caminhos novos!

Este seu projeto traz consigo uma liderança acrescida. Como líder feminina no setor, que valores ou princípios norteiam a sua abordagem ao liderar serviços como Sustentabilidade, Economia Circular entre outros?
É mais simples liderar com todas as características que são inerentes à minha condição feminina, no meu contexto atual, do que nos meus contextos anteriores.
Mostro-me de forma mais aberta. As pessoas estão mais à vontade para exporem as suas dificuldades, desejos e ideias.
A liderança feminina promove a integração, tolerância e aceitação. A diversidade enriquece uma organização.

Sabemos que a Susana Neto Textil Art também se destaca pela sua visão do luxo, da natureza e valorização do artesanato. O que significa esta missão na prática e, de que forma, a marca promove a mesma no seu dia a dia?
Identifico-me com o artesão atual: o rigor, originalidade, união entre tradição, design e arte, empenhando uma marca própria.
É arte com um propósito utilitário.
Estas caraterísticas do artesanato de autor, com marca própria, intemporalidade, valor percebido… São inerentes às caraterísticas associadas ao luxo.
A valorização atual do artesão do luxo tem-lhe dado a visibilidade e o valor merecidos. As empresas de luxo têm orgulho em mostrar o trabalho dos seus artesãos.
O luxo e o artesanato estão muitíssimo interligados.
O artesão trabalha a nível da comunidade, apoiando-a, gerando desenvolvimento local, gerindo recursos.

Fazendo uma análise geral, em que aspetos o seu projeto se diferencia de outras marcas e projetos de igual perspetiva, especialmente tendo em conta o seu mindset inovador e inspirador? De que forma, esta abordagem, se traduz em vantagens para os clientes e parceiros de negócio?
A criação de peças de autor, únicas e belas, intemporais, que promovam uma sensação de pertença relativamente à Natureza. As pessoas percebem a sensação agradável de receberem algo que demorou o seu tempo, mas que tem um significado muito especial. As peças feitas com impressão botânica são muito ricas, em termos visuais e transmitem uma sensação de tranquilidade. As cores da Natureza vibram de uma forma que é impossível replicar artificialmente.
Inspirar as pessoas a desejarem fazer parte de algo maior e que está relacionado com essas três vertentes: reflexão sobre os seus próprios hábitos de consumo; abraçarem hábitos de vida mais relacionados com o bem-estar: menos objetos, peças com mais significado, hábitos de vida e relações mais edificantes; serem elas próprias embaixadoras desta forma de olhar o Mundo mais edificante.

De que forma, esta abordagem, se traduz em vantagens para os clientes e parceiros de negócio?
Tanto os clientes como os parceiros de negócio sentem-se entusiasmados por fazerem parte e dão o seu melhor.
Noto o quanto os clientes se entusiasmam, tal como eu. Sentem que estão a criar, comigo, algo que vai ser seu e terá um lugar especial, também por estarem envolvidos neste caminho.
Relativamente aos parceiros, percebo que desejam fazer comigo este caminho de transformação, que passa por um design mais circular, menos desperdício, melhor escolha dos materiais.
Sabem que, o que estão a comprar ou a construir, não é apenas um objeto, também é abrir caminhos novos para dar soluções a outros que virão, também é forçar outros stakeholders a procurarem novas soluções.
Sinto que lhes consigo passar essa vontade de, também eles, abraçarem esse propósito.

O mundo está a mudar – e os setores de atividade mudam com ele. Quais têm vindo a ser os desafios que tem enfrentado e, mais importante, como os supera?
Identifico-me com o Mundo atual, embora esta fluidez nos obrigue a encontrar âncoras.
É importante cuidarmos do nosso corpo e mente para termos energia e equilíbrio neste Mundo exigente e veloz.
Temos de ter foco e objetivos bem definidos e capacidade de gestão do tempo e da energia.
Um empreendedor funciona como um motor. Tem de ter um ânimo acrescido. Pondero, regularmente, até que ponto os desafios que estou a abraçar fazem sentido. E procuro quem se posiciona na vida com um mindset semelhante, não em termos de ideias, mas em termos de atitude perante a Vida.
Considero fundamental a atualização de conhecimentos, num Mundo em que há novidades relevantes diárias.
Acompanhar as atualizações relativas à economia circular é complexo e exigente, mas mantenho-me atualizada através de cursos e seminários.
Tento inspirar as pessoas através de eventos de sensibilização e artigos. Aos Stakeholders, ofereço suporte e recursos para encontrarem soluções e exploramos ideias em conjunto.

Para terminar, gostaríamos de voltar a direcionar a conversa para Susana Neto. Quais são as suas ambições futuras no seu projeto?
Começar a trabalhar em maiores projetos com Designers de Interior, maioritariamente em soluções de iluminação. Até agora, eu ainda não estava satisfeita ao nível da qualidade do meu trabalho final. E não tinha encontrado um design que viesse de encontro às caraterísticas que eram, para mim, fundamentais: ecodesign, simplicidade, originalidade, intemporalidade, beleza, rigor, versatilidade.
Foi necessário um imenso trabalho para eu conseguir atingir o nível de excelência que almejava. Estou bastante confiante para avançar para o próximo patamar.

Numa vertente mais pessoal ou profissional, o que gostaria de alcançar?
Sinto que tenho imenso dentro de mim para transmitir.
Pela experiência no empreendedorismo criativo, percebi que esta faceta empreendedora nas escolas de artes ainda tem muito espaço para evoluir.
Tenho vindo a reunir com escolas no sentido de iniciarmos um curso de Empreendedorismo para criativos.
Gostaria, a par do meu trabalho atual, de acompanhar estudantes destas áreas, para materializar as suas visões.