Atualmente, é Administradora da SIROCO desde 2011 e também Membro do conselho de Administração da Fehst Componentes Lda., esta há 20 anos. Que podemos saber mais do seu percurso profissional e como se enquadra enquanto líder destas duas empresas com um largo palmarés de atividade?
No que respeita a Fehst, foi onde iniciei a minha carreira profissional em 2004 e onde exerci funções de gestão ao lado do meu pai. Foi aí que desenvolvi todo o meu percurso profissional de forma exclusiva, até 2010, quando adquirimos a Siroco para o grupo. Com esta aquisição foi-me lançado o desafio pelo grupo familiar de assumir a gestão da Siroco.
Desde essa altura até 2015, exerci funções em ambas as empresas, até que percebi que a Siroco tinha potencial para ser desenvolvida de uma forma diferente da que estava prevista no grupo e propus a aquisição da empresa, ao grupo, por mim e pelo meu marido. Deixei de ter funções operativas na Fehst, passando a fazer parte do Conselho de Administração e acompanhado a atividade. A Fehst continuou a ser gerida pelo meu pai até ao final de 2022, quando se reformou e passou assim as funções de gestão, para uma equipa de gestão externa à família. Hoje em dia continuo a fazer parte do grupo na função de membro do conselho de administração e na Siroco partilho a gestão com o meu marido. Juntos partilhamos a mesma visão e objetivos para continuar a desenvolver a Siroco. Tem sido e continuará a ser, um desafio gratificante, simultaneamente exigente e enriquecedor.
Além disso, como profissional numa área normalmente associada ao mercado masculino, que fatores tornam a sua gestão distinta e especial no mercado?
Na minha opinião, um/a bom/boa líder não é definido pelo género, mas antes por um conjunto de competências que o/a capacitam para desempenhar essa função. Tem de ter um bom conhecimento do seu negócio e mercados, mas também tem de ter inteligência emocional e um conjunto de valores que o/a permitem criar um ambiente de trabalho saudável e seguro, onde os seus colaboradores possam desenvolver-se pessoalmente e profissionalmente. Apenas assim se gera um ambiente onde a inovação pode acontecer e a produtividade é estimulada.
Como referi, a gestão da Siroco é partilhada por mim e pelo meu marido, ou seja, temos ambos os géneros representados na gestão, cada um com personalidade e competências diferentes mas que se complementam e tentamos espelhar isso para as nossas equipas. O mais importante para nós, para além da gestão do negócio em si, é esta parte da partilha de valores e dos objetivos comuns que é o contínuo desenvolvimento dos nossos colaboradores, que por sua vez vão levar ao crescimento da empresa.
Sobre o mercado e em especial a indústria metalomecânica ser predominantemente masculina, creio que isso está a mudar. Vejo com muito agrado cada vez mais mulheres em funções de direção, gestão e aliás em todos os outros departamentos também. Por isso creio que sim, ainda há caminho a percorrer, contudo estamos numa boa direção.
É uma pessoa que fomenta a igualdade de género na sua empresa ou apesar de ser Mulher, isso não é motivo de fator de desigualdade no seio da Siroco?
Na Siroco promovemos a igualdade de género a nível salarial e a nível de oportunidades de evolução na carreira. Temos uma política de promoção da criatividade e inovação nas nossas equipas, que passa fundamentalmente pela injeção de diversidade nas mesmas. Um dos vetores de promovermos a diversidade é exatamente o género, procurando introduzir o género que seja menos dominante na equipa em causa, e assim contribuir para a diversidade nessa equipa, pretendendo obter uma maior criativadade e inovação no seu desempenho.
Na Siroco no que diz respeito a mulheres na nossa equipa, evoluímos de 6% em 2011, para 38% em 2024. O objetivo é continuar a reforçar a presença de mulheres nas nossas equipas.
Na Siroco, a saúde mental dos vossos colaboradores é uma prioridade! Continuar a promover um ambiente de trabalho saudável e positivo é a vossa missão diária?!
Como referi, um ambiente de trabalho saudável e seguro é na nossa opinião a chave para o sucesso. Nesse sentido criamos várias atividades que promovem a boa convivência dentro da empresa, mas também incentivam a boas práticas na vida pessoal.
A Siroco sempre teve um ambiente familiar de entreajuda e respeito, mas depois do COVID foi necessário reforçar a parte da saúde mental que a todos afetou. Promovemos atividades na empresa, para desmistificar algumas ideias preconcebidas sobre a saúde mental e estabelecer potenciais canais de ajudas para os colaboradores, se assim o pretenderem.
Nessa vertente lançaram o Siroco Saúde, é mais uma prova dessa consciencialização de uma empresa que fomenta o bem-estar!
A Siroco tem 2 projetos onde se inserem outras atividades, para além de temáticas ligadas a Saúde. O projeto Siroco Solidária e o Siroco Partilha. O primeiro fomenta atividades que promovem interação com a comunidade exterior à Siroco e que versam diversas temáticas tais como saúde, ambiente, ações solidárias ao nível de refugiados, ao nível de proteção animal, campanhas contra a fome, atividades desportivas e culturais, entre outras.
O segundo está direcionado para ações a nível interno, onde a gestão de topo partilha com toda a empresa, trimestralmente, informação relevante sobre a mesma, sob ponto de vista da performance financeira, plano estratégico, atualizações sobre projetos importantes que estão a ser implementados, projetos de inovação e sustentabilidade, procurando assim fomentar um envolvimento mais ativo de todos na empresa.
Mas mais do que ter uma líder capaz de motivar as suas equipas, é ter Capital Humano, dedicado a fazer mais e melhor pelas empresas que integra. Em que medida as equipas têm sido a fórmula do sucesso de ambas as empresas?
O envolvimento das pessoas no dia a dia das empresas é fundamental. A participação ativa na construção de soluções, bem como na definição de estratégias a implementar, confere ao colaborador o sentido de que efetivamente faz a diferença e que a sua colaboração e participação é essencial no desenvolvimento dos processos onde está envolvido. Para além disso, o envolvimento na definição da estratégia a seguir automaticamente confere-lhe um maior sentido de responsabilização.
Porém, para isso acontecer, a gestão de topo tem de ter essa consciência, saber comunicar com os colaboradores e sobretudo saber ouvir o que esses têm para dizer. Para muitos gestores isso não é fácil, mas posso afirmar que para nós na Siroco, isso é a única maneira de conseguir colaboradores envolvidos, satisfeitos e eles mesmos os motores da mudança e da inovação.
Face aos setores que falamos, nomeadamente a automação industrial e a indústria de componentes do setor automóvel, entre outras mais valias e valências, e tendo em conta os desafios diários que surgem, é simples conquistar, reter e motivar bons profissionais? Se sim ou não, quais os motivos?
Neste momento temos duas situações a acontecer no mercado de trabalho.
Uma prende-se com a falta de mão de obra altamente especializada, que a nossa atividade requer. Essas funções estão a ser fortemente aliciadas por empresas concorrentes, empresas de foro tecnológico e empresas estrangeiras, todas elas com capacidade financeira muito superior há que grande parte do tecido empresarial em Portugal não tem. Ou seja, oferecem salários e condições muito superiores que não podemos igualar. E nessas situações por muito que nos custe, temos de deixar as pessoas ir, pois compreendemos que queiram melhorar o seu nível de vida e o das suas famílias, é natural que isso assim seja.
Por outro lado, temos de criar condições e benefícios que estimulam a angariação e a retenção de talentos.
Essas estratégias passam por envolver os colaboradores em decisões importantes referentes ao seu processo, dar autonomia na definição das suas tarefas, flexibilidade e reconciliação com a vida familiar, apoio na formação interna e externa à empresa e apresentando projetos novos e desafiantes, evitando que o trabalho se torne repetitivo e monótono.
Para terminar, que mensagem gostaria de deixar aos seus colaboradores, parceiros e demais clientes no que a 2024 diz respeito?
A volatilidade que carateriza o mercado atual imprime uma dinâmica de desafio constante às empresas. Nesse sentido é vital que as mesmas tenham uma rede de parceiros de confiança e alinhados com os objetivos da empresa e que a sua interação seja facilitadora no sentido de amortecer a volatilidade do contexto em que se inserem.
A empresa necessita igualmente de colaboradores bem preparados, motivados, criativos e alinhados com os valores e objetivos da organização.
Os clientes são pilares fundamentais da existência das empresas e, como tal, no contexto anteriormente já referido, a confiança, flexibilidade, criatividade e inovação são essenciais para a angariação de novos e fidelização dos existentes.