Num mês que se comemora o Dia Nacional de Contabilista, num momento em que o Setor avança numa constante procura pela inovação, formação e aposta no capital humano, a Contabilidade tem assumido cada vez mais um papel de relevo fulcral na Sociedade. Fomos conhecer Inês Lagarto, membro da Ordem dos Contabilistas Certificados desde 2018 e que nos conta um bocadinho mais em pormenor a sua história no Setor e a sua paixão pela profissão.
Começaria esta entrevista pedindo para apresentar-se e para falar um pouco de si, a nível profissional, contando os passos dados até ao momento! Pode ser?
O meu nome é Inês Maurício Lagarto, sou licenciada em Contabilidade, Fiscalidade e Auditoria pela Universidade Lusófona de Lisboa desde 2017 e membro da Ordem dos Contabilistas Certificados desde 2018.
O meu percurso profissional começou num escritório de contabilidade em Linda-a-Velha, a Ana Monteiro STOC, no qual estive cerca de 3 anos. Neste escritório tive o meu primeiro contacto com a contabilidade a nível mais prático e foi sem dúvida uma grande escola. Tive oportunidade de lidar com clientes das mais diversas áreas, de fazer contabilidade de A a Z como costumamos dizer, foi, sem dúvida, aqui que me apaixonei pela profissão.
Mais tarde, entrei no mundo das consultoras, tendo me juntado à Finpartner, na qual trabalhei durante os últimos 4 anos. Foi aqui que tive dos maiores desafios profissionais, tive de lidar com clientes internacionais, com empresas de diversos setores, com uma equipa maior do que as que tinha tido até então e com responsabilidades diferentes daquelas que um contabilista de gabinete tem. Contudo sempre gostei de desafios, e encarei todos os dias como uma aprendizagem, quer a nível profissional quer a nível pessoal.
Recentemente apostou numa mudança profissional, passando de uma estrutura empresarial, para uma posição individual no Setor. Explique-nos a razão para o sucedido e o momento em que surgiu se foi pensado ou aconteceu simplesmente.
Tal como referi, desde o primeiro dia que exerci esta profissão que me apaixonei pela mesma e, desde os tempos de faculdade que sempre sonhei em um dia ser capaz de ter o meu próprio escritório, gerir a minha carteira de clientes e gerir o meu tempo, no entanto foi algo que sempre adiei por me sentir bem nas empresas nas quais estava. contudo em 2023 fui mãe da Matilde, e aí as prioridades mudaram, passei a dar mais valor ao tempo em família, a querer estar mais tempo com eles e, após pesar os prós e contras, percebi que trabalhar numa grande empresa estava a ter impacto na parte familiar, e que já não me sentia realizada como antes e foi nessa altura que decidi arriscar.
Claro que existe sempre a dúvida, se fiz bem em sair do mundo corporate, se terei clientes, se vou conseguir prestar um serviço de excelência, no entanto acredito que se for a profissional que sempre me comprometi a ser, que serei bem-sucedida, e que o facto de estar em nome individual não será um impedimento ao crescimento e sucesso.
Quais são os principais desafios que os contabilistas enfrentam na procura por atualização profissional? De que forma as empresas podem apoiar seus colaboradores na superação desses desafios?
Ainda há muito a mentalidade de que das 9h às 18h os colaboradores têm de trabalhar e que se querem formação devem fazê-la depois do horário de trabalho, e isso faz com que os mesmos vão descurando a atualização profissional. Por isso acho que uma das melhores formas de ajudar os profissionais a atualizarem-se e assim serem profissionais melhores é permitir que a formação seja em contexto laboral, ajudar os colaboradores a encontrar formações que sejam importantes para o desempenho das suas funções, encorajá-los a querer crescer profissionalmente, e mostrando sempre que a empresa está a apoiá-los nesse crescimento.
A valorização do capital humano é frequentemente mencionada como um fator-chave para o sucesso organizacional. Na sua opinião, como as empresas do setor podem promover e valorizar o desenvolvimento dos seus profissionais? Quais práticas têm mostrado melhores resultados?
Num setor em constante transformação, são as empresas que promovem e valorizam os seus profissionais que se destacam das demais. A retenção de talentos é atualmente um tema fulcral e quem o consegue fazer, neste setor ou em qualquer outro, está sem sombra para dúvidas um passo à frente.
No meu entender, existem diversas práticas nas quais as empresas podem trabalhar para valorizar o seu capital humano, ou seja, as suas pessoas, nomeadamente:
Aposta contínua na formação;
Implementações de políticas de reconhecmento e recompensa;
Implementações de políticas de feedback e avaliação de desempenho;
Apostar no bem-estar organizacional e no
work life balance;
Definir planos de carreira a médio/longo prazo;
Apostar na automação e inovação tecnológica.
Nos últimos anos, o papel do contabilista tem-se transformado, deixando de ser visto apenas como um gestor de números para se tornar um agente estratégico dentro das organizações. Como a formação pode contribuir para que os contabilistas assumam este papel mais estratégico?
A transformação do papel do contabilista reflete a evolução da procura do mercado e das organizações, que passaram a ver o contabilista não só como um gestor de números, mas também como um agente estratégico com a capacidade de auxiliar na tomada de decisões permitindo assim às empresas adotar um caminho mais próximo do sucesso.
Para que os contabilistas assumam este papel mais estratégico nas organizações, é importante que apostem em formação contínua tanto na área financeira como na área tecnológica e também de comunicação. Com as constantes mudanças a nível fiscal, apostar na tecnologia como um suporte para a execução das tarefas mais rotineiras de forma simples, rápida e quase livre de erros, deixando assim mais tempo não só para formação, mas também para a comunicação com o cliente, parece-me uma aposta ganha.
Pessoalmente, considero que apostar na formação e na tecnologia, faz com que o profissional se sinta mais confiante e com mais capacidade de ajudar o seu cliente, e assim deixar de ser apenas o contabilista e passar a ser o parceiro estratégico que todas as organizações necessitam.
O mundo empresarial está a mudar rapidamente, impulsionado por tecnologias emergentes e novas exigências regulamentares. Quais são as tendências futuras na contabilidade que os profissionais devem estar atentos? Como essas tendências influenciam a formação e a capacitação dos contabilistas?
O mundo empresarial está realmente a viver uma transformação a um ritmo muito acelerado, e a contabilidade, tendo em conta o seu papel na vida das organizações, não ficou de parte. Assim, o contabilista que não queira ficar para trás tem de estar a par das novas tendências uma vez que estas definem o futuro da profissão.
Tendências como, Inteligência Artificial, Contabilidade Inteligente, Business Intelligence, Contabilidade sustentável, Relatórios ESG, Ciber-segurança, Auditorias aos processos e consultoria estratégica e personalizada vão moldar o futuro da nossa profissão e são nestas tendências que os profissionais devem apostar, devem-se especializar, devem querer perceber e saber mais, se não quiserem perder o comboio da evolução tecnológica.
Numa altura e num mês que se comemora o Dia Nacional do Contabilista, tópicos como a diversidade e inclusão são temas cada vez mais presentes em discussões sobre capital humano.
Como avalia a situação atual do setor em termos de diversidade e inclusão? Que medidas podem ser implementadas para promover um ambiente mais inclusivo nas empresas de contabilidade?
A diversidade e a inclusão são temas de grande relevância no setor, especialmente num momento em que tanto se fala sobre a importância de criar ambientes de trabalho mais equitativos e representativos.
Embora o setor financeiro tenha avançado muito no que diz respeito à diversidade, ainda há desafios a serem superados, no que diz respeito à inclusão de mulheres em cargos de liderança e à representação de grupos minoritários, tais como pessoas de diferentes etnias, origens socioeconómicas e com deficiências nas organizações.
De forma a ser possível, promover um ambiente mais inclusivo na organizações, é cada vez mais importante que essa inclusão comece no momento do recrutamento e que seja acompanhada após a contratação, através da implementação de politicas de equidade de género, através da implementação de ambientes flexíveis e inclusivos que permitam uma melhor gestão pessoal e profissional, e através da criação de grupos de mentoria que apoiariam a integração e desenvolvimento dos profissionais nas organizações. A promoção da diversidade e inclusão não só fortalece o capital humano, como também contribui para a inovação e o sucesso das organizações.
Para finalizar, que mensagem gostaria de deixar aos seus Clientes, Parceiros e Fornecedores do rumo que a Inês Lagarto alcançará no futuro (nesta última parte se quiser emitir alguma opinião sobre a atual Direção da OCC e da Dra. Paula Franco, esteja à vontade)?
Gostaria de deixar uma mensagem de otimismo e compromisso a todos os clientes, parceiros e fornecedores. O caminho que estamos diariamente a fazer tem como principais pilares a inovação, ética e valorização do capital humano.
Continuarei a adotar as melhores práticas, a recorrer às mais recentes tecnologias e a promover um ambiente inclusivo e transparente. Estou focada em oferecer soluções estratégicas que não atendam apenas às necessidades dos meus clientes, mas que superem todas as expectativas, contribuindo para o sucesso sustentável de todos os negócios com os quais colaboro.
Quanto à atual direção da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC), sob a liderança da Dra. Paula Franco, acredito que a gestão tem sido marcante e visionária. Tem demonstrado um compromisso genuíno com a modernização da contabilidade no nosso país, investindo em formação contínua, tecnologia e valorização dos profissionais. Este é um caminho que, sem dúvida, continuará a fortalecer o papel do contabilista como um profissional estratégico e indispensável para o desenvolvimento das organizações.
Em forma de conclusão, gostaria de ressalvar que estou confiante de que, com dedicação e profissionalismo, o futuro será de sucesso.