Numa perspetiva empresarial ou organizacional, não há nada mais importante na atualidade do que a palavra Sustentabilidade. No mês da sua comemoração, fomos ao encontro do nosso parceiro, o CTCV. Nesta entrevista com Victor Francisco (I&D), Marisa Almeida (Ambiente e Sustentabilidade) e Marta Ferreira (Gestão e Melhoria), todos projetam o futuro da organização e o seu foco na inovação sustentável do Setor da Cerâmica e do Vidro e recursos naturais.
Como é que o CTCV integra os princípios da economia circular nos seus processos e projetos?
O CTCV integra e promove princípios da economia circular, promovendo a valorização de resíduos industriais e o desenvolvimento de simbioses industriais, especialmente nos setores da cerâmica, do vidro e dos recursos minerais, entre outros produtos do cluster da esfera do habitat. Investe em projetos de desenvolvimento de processos mais eficientes do ponto de vista energético, otimização dos processos de fabrico e, consequentemente, na redução das emissões de gases de efeito estufa e outros poluentes ambientais, tal como em inovação em design sustentável. Além disso, trabalha na valorização de resíduos como recursos noutros processos e na transferência de conhecimento para a indústria, impulsionando práticas sustentáveis e soluções tecnológicas que favorecem a transição para uma economia mais circular.
Quais são os maiores desafios enfrentados pelo setor da cerâmica e vidro e dos recursos minerais para implementar soluções de economia circular?
Os setores da cerâmica, do vidro e dos recursos minerais enfrentam desafios significativos na transição para a economia circular, incluindo a necessidade de melhorar a eficiência energética do processo de fabrico, a eficiência de processo de forma a minimizar resíduos, a garantia da qualidade dos materiais reciclados (como substitutos de recursos “virgens”) de forma a não comprometer a qualidade do produto nem gerar impactes ambientais adicionais. Além destes aspetos técnicos, existem ainda barreiras económicas e culturais para ultrapassar, tais como promover inovação tecnológica e políticas públicas que incentivem práticas mais sustentáveis, numa perspetiva holística em toda a cadeia de valor ao longo do ciclo de vida dos produtos.
Podem dar-nos exemplos práticos de projetos ou parcerias em que o CTCV tenha atuado, visando reduzir o desperdício de recursos e promover a reutilização de materiais?
Efetivamente o CTCV, através de parcerias com a indústria e de projetos inovadores, está a promover práticas de economia circular na indústria, incentivando a valorização de resíduos e subprodutos através de simbioses industriais, da redução do desperdício de recursos, etc. Como exemplo destas iniciativas, destacamos o apoio técnico direto ao tecido empresarial, o observatório para a economia circular, o projeto DEGREN+ (no domínio do Ecodesign e economia circular em Portugal e Espanha), o projeto LIFE4STONE (desenvolvimento de soluções para o reaproveitamento dos resíduos gerados na extração e no corte das rochas ornamentais, em materiais de maior valor acrescentado como cerâmica e cimento), o projeto CoolAsphalt, outros trabalhos de desclassificação de resíduos com várias associações industriais (APICER – Indústria cerâmica, APF – Associação Portuguesa de Fundição, etc.), trabalhos de avaliação de ciclo de vida. E, atualmente, estamos a participar na agenda mobilizadora do PRR ECP – Ecocerâmica e Cristalaria de Portugal, com foco em quatro áreas temáticas centrais: sustentabilidade energética; economia circular e simbioses industriais; transição digital e capacitação.
- Eficiência Energética
O setor da cerâmica e do vidro é conhecido pelo seu consumo energético elevado. Quais são as iniciativas que o CTCV tem desenvolvido para melhorar a eficiência energética nesses processos?
Sim, efetivamente os setores da cerâmica e do vidro são consumidores intensivos de energia. O CTCV colabora com empresas destes setores para identificar e implementar tecnologias que possam reduzir o consumo de energia térmica e elétrica, melhorando os processos de cozedura ou de fusão, recuperação de calor, melhoria dos refratários, promoção de vetores energéticos renováveis, entre outros.
Adicionalmente, tem colaborado em vários projetos nesta área, há mais de duas décadas. Atualmente, podemos destacar os projetos do PRR – Roteiros para a descarbonização destas indústrias, em desenvolvimento com as associações industriais dos respetivos setores, nomeadamente para setores da cerâmica, vidro e pedra, onde a eficiência energética e os novos processos de cozedura ou fusão são pilares para a descarbonização, com vista ao combate às alterações climáticas e rumo à neutralidade carbónica.
Como observam o papel das novas tecnologias no apoio à transição para práticas mais sustentáveis e eficientes do ponto de vista energético?
As novas tecnologias são essenciais para a transição energética no setor da cerâmica, vidro e dos recursos minerais, otimizando processos e reduzindo desperdícios e outros aspetos ambientais. A digitalização, automação, IA e Big Data ajudam no controle eficiente de consumos e racionalização de energia e outros aspetos ambientais relacionados. Tecnologias de recuperação de calor, impressão 3D e novos materiais refratários aumentam a eficiência energética, minimizando poluentes. Fontes renováveis e sistemas de gestão de energia promovem a sustentabilidade. Novas soluções de descarbonização estão atualmente em desenvolvimento, com o envolvimento do CTCV e em parcerias que contribuem e aceleram a inovação sustentável.
- Inovação Sustentável
Como o CTCV tem estimulado a inovação sustentável no setor da cerâmica e do vidro?
O CTCV tem desempenhado um papel central no estímulo à inovação sustentável em todas estas indústrias, promovendo o desenvolvimento de tecnologias e práticas que reduzem o impacte ambiental e aumentam a eficiência ao longo do ciclo de vida. Algumas das principais formas pelas quais o CTCV tem impulsionado essa inovação incluem: Desenvolvimento de Novos Materiais Sustentáveis; Demonstração de novos processos de cozedura; Projetos de Economia Circular; Eficiência Energética e Redução de Emissões de CO2: Parcerias e Redes de Colaboração; Transferência de Tecnologia e Formação; Digitalização e Monitorização de Processos; Iniciativas de ecodesign. Ferramentas de quantificação do desempenho em termos de sustentabilidade com indicadores ambientais, sociais e económicos e de governance.
Com essas iniciativas, o CTCV contribuiu para transformar o setor da cerâmica, vidro e dos recursos minerais, promovendo a sustentabilidade através da inovação tecnológica, práticas de economia circular e uma maior eficiência energética. A aplicação da I&D, parcerias com o setor e a formação aceleram a transição para uma indústria mais circular, socialmente inclusiva, verde e competitiva, de forma a garantir a sustentabilidade.
Quais são as inovações desenvolvidas recentemente e que ajudam a indústria a tornar-se mais ecológica e sustentável?
As inovações mais recentes do CTCV que ajudam a indústria da cerâmica, vidro e dos recursos minerais a tornar-se mais ecológica e sustentável incluem as que já mencionamos acima, com destaque para os inúmeros projetos de valorização de resíduos em substituição de matérias-primas virgens de forma a racionalizar os recursos naturais, estratégias de ecodesign, design para a sustentabilidade, desenvolvimento de produtos com menor impacte ambiental, mais fáceis de reciclar e com maior durabilidade. Desenvolvimento de tecnologias de descarbonização e diminuição da dependência de combustíveis fósseis, com destaque para um forno inovador com combustão a hidrogénio e eletricidade, servindo de espaço de experimentação para a indústria. O desenvolvimento de produtos multifuncionais tem sido também uma aposta para reduzir o impacte ambiental, demonstrando-o por exemplo através das declarações ambientais de produto (DAPs).
Qual o impacto esperado dessas inovações a longo prazo, tanto em termos ambientais como económicos?
As metas europeias em termos ambientais e de sustentabilidade para os setores da cerâmica e do vidro são muito exigentes, citando-se a título de exemplo uma redução da emissão de gases com efeito de estufa de 62% em 2030 face a 2005 (empresas CELE – Comércio Europeu de licenças de Emissão), pelo que todos os esforços e sinergias serão necessários para alcançar tal objetivo. O recurso água está já também muito condicionado, existindo também a perspetiva de valores de consumo limite apertados.
As inovações na área da sustentabilidade, incluindo a eficiência energética resultante da inovação, reduz os custos com energia, um dos principais custos no setor. A valorização e reutilização de resíduos traduz-se também numa economia de matérias-primas e numa redução de custos de produção. As empresas que adotam tecnologias sustentáveis possuem uma vantagem competitiva, especialmente em mercados onde a sustentabilidade é um fator de decisão para os consumidores e reguladores. A inovação permite o desenvolvimento de produtos diferenciados, como materiais reciclados ou com menor impacte ambiental, criando novas oportunidades de negócios, posicionando as empresas para uma maior resiliência diante de desafios futuros a nível social, ambiental e económico, em suma em termos de sustentabilidade.
- Perspetivas Futuras
Quais serão os próximos passos do CTCV para continuar a promover a sustentabilidade no setor?
Os próximos passos do CTCV decerto irão continuar a privilegiar a promoção da sustentabilidade dos setores da cerâmica, vidro e dos recursos minerais através do fortalecimento de projetos de economia circular com a indústria, universidades e comunidade em geral, incentivando a valorização de resíduos como recursos reutilizáveis e materiais recicláveis. O investimento em tecnologias de eficiência energética com novos vetores energéticos renováveis, com novas tecnologias de fornos e sistemas de recuperação de calor. O CTCV também fomentará a digitalização e a descarbonização, promovendo inovação contínua e sustentabilidade.
Como o CTCV vê o papel da sustentabilidade na competitividade do setor de cerâmica e vidro nos próximos anos?
O CTCV vê a sustentabilidade como chave para a competitividade do setor de cerâmica e vidro nos próximos anos. Práticas sustentáveis como eficiência e racionalização de energia e matérias-primas, o controlo de emissões para a atmosfera, solo e recursos hídricos, reduzem custos operacionais, melhorando os indicadores económicos, ambientais e sociais. A sustentabilidade também permite o acesso a novos mercados que exigem certificações ambientais e sociais, além de fomentar a inovação em produtos e processos. Empresas que adotam essas práticas estão mais preparadas para enfrentar os desafios que se antecipam, nomeadamente associados aos grandes problemas ambientais como alterações climáticas, acidificação e eutrofização, poluição atmosférica, e mais adaptadas às futuras exigências regulamentares e mesmo à fidelização de clientes, destacando-se assim num mercado global.