No mês que se comemora o Dia Nacional do Design, Maider Neto junta-se a nós para apresentar o seu projeto Maider Neto Architecture & Engineering. Tendo um passado profissional com ligação a Barcelona (Espanha), mas tendo sido na Venezuela os primeiros passos no mundo arquitetónico, a nossa entrevistada fala à Revista Pontos de Vista de vários contextos editoriais interessantes nesta reportagem, desde o mundo feminino no Setor, o modo de liderança, a inovação e tecnologia assente no desenvolvimento dos seus projetos, a sustentabilidade no contexto da Arquitetura e o futuro da atividade. Saiba mais!
Como descreveria o seu percurso desde a fundação da Maider Neto Architecture & Engineering?
Dinâmico! Durante muitos anos tive diversas experiências em diferentes países e culturas, modos de ver a arquitetura segundo o contexto onde nos encontramos quer seja social, económico, cultural e inclusive político e religioso. Iniciei o meu percurso na Venezuela, um país rico em recursos naturais mas pobre economicamente pela má gestão política que faz com que a arquitetura seja pouco valorada. O urbanismo na América Latina remonta a épocas dos descobrimentos, no entanto a arquitetura nasce de uma civilização que adorava a natureza. Por outro lado, Barcelona, Espanha, onde estudei e trabalhei durante mais de 5 anos, foi uma experiência que abriu a novas tecnologias, ideologias, conceitos e a uma liberdade e criatividade sem limites.
Quais os desafios e oportunidades de ser uma mulher à frente de uma empresa de arquitetura num sector tradicionalmente masculino?
Hoje em dia já é valorizada e respeitada a mulher no meio da construção mesmo sendo um meio tradicionalmente masculino. Zaha Hadid foi sempre uma referência para mim tanto em desenho como em ideologia, é umas das arquitetas mais famosas do mundo, não só pela sua incrível criatividade e ousadia nos seus projetos como por vir de um mundo árabe onde a mulher é tratada de maneira diferente dos homens e converteu-se na primeira mulher a receber o prémio Pritzker de arquitetura, consagrando-se a primeira mulher e árabe a receber o maior prêmio de arquitetura. A arquitetura é universal, de todos e para todos, pelo que defendo que não há discriminação na hora de criar espaços. É, sem dúvida, um desafio na hora de tomar decisões em fase de obra ser uma mulher a comandar no meio masculino, no entanto a hora de criar e em fase de projeto não existem limites pela minha condição feminina. Uma das vantagens de ser mulher na hora de criar e conceber arquitetura será a nossa sensibilidade e as emoções que envolvem um projeto para os nossos clientes. Neste meio devemos ser fortes na hora de tomar decisões sensíveis na hora de criar espaços e isso faz de nós mulheres ser respeitadas.
De que forma a liderança feminina tem moldado a cultura e os projectos da sua empresa?
Ser mulher é ser sensível ao que nos rodeia, aos sentimentos dos nossos clientes, à natureza onde desenvolvemos projetos o que me traz emoções na hora de criar. Tento fluir com o espaço onde se desenvolvem os projetos, sou muito sensível às necessidades e à maneira de viver dos nossos clientes. Ser mulher, mãe, arquiteta e empresária faz de mim uma mulher forte mas muito atenta ao que se desenvolve ao redor de um projeto.
Pode partilhar um projecto recente que exemplifique o impacto da sua abordagem inovadora no bem-estar dos seus clientes?
Uma moradia nos Salgados, Albufeira. Foi um desafio pelas limitações do espaço, encontrando-se uma parte do terreno em solo ecológico. A proximidade ao mar e a proteção da natureza foram pontos importantes a desenvolver neste projeto para conseguir manter essa ligação e o respeito pela natureza. Ondas, curvas e a imperfeição perfeita da natureza foi o que me levou a moldar traços de uma moradia única e futurista. O cliente é sempre um fator importante para desenvolver um projeto deste tipo, pela sua abertura a desafios inovadores onde o céu é o limite. Com um programa funcional aberto ao exterior, a moradia permite aos moradores experimentar uma vivência em contato com a natureza e aproveitar o meio onde se encontram. O projeto abre-se à experiência e a um estilo de viver em contato com o que melhor temos, que é o nosso meio onde habitamos. A sala não só abre as suas portas ao jardim como também consegue conetar visualmente com o céu desde o espaço interior através de uma claraboia no teto que está incorporada na piscina que se encontra na cobertura. A piscina neste projeto faz parte da arquitetura deixando de pertencer aos arranjos exteriores do lote. É um elemento importante que se entrelaça nas curvas do edifício, com vistas únicas sobre o mar, a piscina, aquele elemento de água, faz da proposta uma forma de viver diferente ao que estamos habituados a experimentar.
Qual o papel da inovação e da tecnologia no desenvolvimento dos seus projectos arquitectónicos?
Inovar tem de fazer parte de qualquer projeto. Não podemos criar arquitectura standard dado que somos seres humanos que habitamos e experimentamos os espaços. Cada pessoa tem vivências, culturas, religião, maneiras de pensar e de estar na vida, entre muitas outras coisas que nos fazem únicos e não estandardizados. Na arquitetura e na construção, a tecnologia é uma ferramenta que melhora a qualidade dos projetos quanto à sua leitura, rapidez de execução, diminui e corrige erros que melhoram o produto final.
De que forma a sustentabilidade influencia as suas escolhas de materiais e métodos construtivos?
Cada vez mais estamos a ser mais responsáveis a este tema, desde clientes, construtores e projetistas. Ainda é difícil conseguir melhores resultados quanto a aplicação da sustentabilidade nos projetos devido à falta de ajudas das Entidades Públicas alongando o tempo de retorno do investidor nos sistemas. No entanto, sempre conseguimos aplicar sistemas básicos para o reaproveitamento de recursos como eletricidade com painéis solares, água com retorno e reciclagens entre outras. Quando projetamos, existem fatores que melhoram o comportamento do edifício o que o faz mais sustentável como a orientação dos edifícios, a aplicação dos envidraçados em fachadas que melhoram a ventilação, conforto térmico, assim como a aplicação de ensombramentos sempre que possível. Quando escolhemos materiais, temos o cuidado de prestar especial atenção à manutenção dos mesmos, evitando despesas desnecessárias de recursos naturais ao longo da vida do edifício.
Quais são os principais desafios que enfrenta na implementação de soluções sustentáveis e inovadoras?
Portugal é um país que cada vez mais está a evoluir para melhorar os conhecimentos e implementação das novas tecnologias em relação à Europa, no entanto ainda somos uma população tradicional. O sistema construtivo mais utilizado no país, é chamado o tradicional pois é o mais comum, o de sempre feito e executado pelo que encontramos uma dificuldade muito grande em conseguir aplicar novos sistemas construtivos que melhoram a prestação energética e sustentável do edifício. O tijolo continua a ser o rei na construção, não desvalorizando a sua capacidade, mas existem métodos e materiais que melhoram o comportamento térmico, agilizam a construção o qual diminui a poluição da envolvente.
Como vê o futuro da arquitectura em termos de responsabilidade ambiental?
A arquitetura é uma ferramenta para criarmos espaços onde podemos executar as nossas atividades vitais em segurança, sem esquecer que esta arquitetura é desenvolvida num meio que devemos respeitar e aproveitar cada recurso. Cada vez mais nos projetistas, devemos consciencializar nossos clientes na implementação de novas tecnologias que respeitem e valorizem o meio onde desenvolvemos as construções. Confesso que é um desafio sempre pelo lado económico. Novas formas criam experiências espaciais diversas, é aqui onde a nossa ligação com o ambiente poderá melhorar a arquitetura pelo que a nossa ideologia deve continuar a ser a preservação da natureza.
Pode partilhar exemplos de projetos que demonstram o sucesso e a personalização dos serviços da sua empresa?
Lote 10 San Lorenzo, Quinta do Lago, outro projeto único, sem limite na hora de criar, com planos verticais desafiantes na hora da construção. Uma localização fantástica, o golfe, o lago e o céu foram os elementos base deste projeto. O lote encontra-se numa das zonas de golfe mais luxuosas do País, com forma poligonal, com um dos seus lados o que abre a nossa experiência espacial à zona do golf e ao lago, e é aqui que nasce as linhas da arquitetura desta moradia, planos inclinados que se combinam com curvas sinuosas que nascem e acabam na terra, na natureza. Os 4 elementos da natureza, água, fogo, terra e ar são os pontos de partida deste projeto, incorporados no produto final como a inspiração de uma arquitetura personalizada para um cliente aberto a novos desafios.
Quais são as tendências que antecipa para o futuro da arquitectura residencial e comercial?
A arquitetura nasce para criar espaços onde desenvolveremos as nossas atividades diárias, pelo que cada vez mais sinto uma procura de conforto, descanso, segurança e melhoria na qualidade de vida dos ocupantes. O nosso dia a dia está cada vez mais a tornar-se altamente stressante, o que prejudica a nossa qualidade de vida pelo que uma moradia torna-se o lugar seguro, onde podemos ser nós, é o nosso LAR. O futuro será a procura desse conforto com tecnologias que nos permitam descansar. Quanto à arquitetura comercial, cada vez mais a procura é de melhoramento no serviço mais do que o espaço pelo que aqui menos é mais, será uma arquitetura cada vez menos complicada e mais intuitiva.
Que legado gostaria de deixar como arquitecta e líder no sector?
Desmaterializar a arquitetura como obra de arte e criar espaços para pessoas, sem padrões, sem limites e com uma essência de melhor viver.