Numa fase em que muitas personalidades têm apostado em mudar o seu rumo e percurso profissional ligado a multinacionais e empresas de elevada amplitude de recursos humanos, a Revista Pontos de Vista tem dado o espaço a estas pessoas para nos contarem o porquê da “mudança de horizontes”. Desta vez estivemos à conversa com Susana Serrano que nos irá contar a sua nova missão de CEO para Empreendedora, deixando os grandes grupos como a Adalberto e o IMPETUS GROUP, para ajudar “as empresas a passar de nível”. Saiba mais sobre a CIRCULARSTRATEGY e as suas diversas áreas multidisciplinares.
Após uma longa carreira de sucesso em empresas como Adalberto, ACATEL do IMPETUS GROUP, o que a motivou a fundar a CIRCULARSTRATEGY e assumir a liderança desta nova jornada?
Durante a minha carreira, tive o privilégio de ter trabalhado e aprendido em grandes grupos , embora com que com funções diferentes, como é o caso do Martifer, do Grupo Aquinos, da Adalberto e a da Acatel. São empresas com áreas de negócio muito distintas e sempre me adaptei muito bem, quer às pessoas, quer aos processos, quer às estratégias, aos diferentes stakeholders…. Depois destas duas últimas experiências como CEO, percebi que podia dar ainda mais, não só numa empresa, mas como parceira de outras empresas. Apercebi-me que existem muitas empresas que estão em níveis muito diferentes, e por vezes basta uma orientação no sentido correto para dar o salto… e não estamos a falar de investimentos… estamos a falar em foco, estratégia, determinação, pessoas, otimizações, etc…. E foi esta situação que me motivou a fundar a CircularStrategy e iniciar uma nova jornada. Quero ajudar as empresas a passar de nível, sejam elas pequenas ou grandes. Quero sentir a alegria e fazer parte do crescimento com os meus clientes.
A CIRCULARSTRATEGY foca-se em diversas áreas, como Consultoria 360, Estratégia, Operações, Sustentabilidade e Marketing. Quais são os principais desafios e oportunidades que identifica ao trabalhar com esta abordagem integrada e multidisciplinar?
Bem aqui o desfio é enorme, não só por ser multidisciplinar, mas como disse anteriormente, pelos diferentes níveis em que as empresas se encontram. É preciso antes de mais que as empresas reconheçam que necessitam de ajuda e que sejam transparentes, e da parte da CircularStrategy a capacidade de fazer um levantamento diagnóstico sem falhas. Assim garantimos o sucesso dos projetos. O segredo destes projetos é elaborar uma estratégia bem definida, e que deverá abranger todas as áreas da empresa, no entanto a prioridade de ações pode incidir mais sobre uma determinada área. E aqui entra o foco. Mas acima de tudo, e antes de mais, criar uma cultura organizacional que alinhe todos os colaboradores e competências.
O conceito de circularidade está a ganhar força, especialmente em setores como moda e indústria. Como é que a CIRCULARSTRATEGY contribui para promover práticas de sustentabilidade nas empresas com as quais trabalha?
Na minha opinião sustentabilidade e circularidade são conceitos distintos mas que estão diretamente relacionados. Quando falamos de sustentabilidade, temos sempre de identificar três grandes chavões, a Económica, a de Recursos Humanos e a do Ambiente. Não podemos dizer, por exemplo, que temos uma t-shirt produzida com fios reciclados e tingida com produtos bio-based, mas que o seu tempo de processo é mais longo que o tradicional e tem, por exemplo, uma taxa de rejeição maior ,… isto porque, para o fazer vamos então emitir mais CO2 para o ambiente, através do gasto da energia. Logo não é sustentável. Não estou a dizer que é assim, mas é um mero exemplo… A circularidade vai mais além, aqui temos de pensar que para além de contribuir para a sustentabilidade, teremos de pensar em toda a cadeia de valor a montante e a jusante, sempre com o propósito de que o fim de um produto é o início de outro. Aqui a CircularStrategy, ajuda as empresas a definir uma estratégia com base em ações e KPI´s associados, que são monitorizadas em CO2 e respectivos €, bem como a qualidade do produto. Existe legislação muito transparente e diretiva neste sentido. Também ajudamos no desenvolvimento de produtos que permitam minimizar o impacte ambiental com base na circularidade e fim de vida desses mesmos produtos. Também ajudamos noutros exemplos, que também contribuem para a sustentabilidade, como a otimização de processos produtivos,…
Com a sua experiência de liderança em grandes grupos empresariais, como adapta a sua estratégia de gestão à realidade de uma empresa como a CIRCULARSTRATEGY, que atua numa lógica mais focada e de nicho?
Para sermos líderes, temos de ter a capacidade de ouvir, a humildade de aprender e gostarmos acima de tudo de pessoas, a capacidade de comunicar bem, e claro, ser resilientes. Estas são competências que cada um de nós deve ter, e como tal é necessário ensiná-las e/ou reforça-las. Ao fazer consultoria com os meus parceiros, tenho sempre o cuidado também de ajudar nesta área, porque mais que tudo, o nosso sucesso depende das pessoas e da boa comunicação. Haja vontade e alinhamento e o caminho é para a frente. Não correu bem à primeira, vamos ver o que falhou e melhoramos a seguir.
O mercado empresarial está cada vez mais focado em operações sustentáveis. Que conselhos daria a outras líderes que estão a integrar práticas sustentáveis nos seus negócios?
Acima de tudo monitorizem os seus negócios, quer temos qualitativos quer quantitativos. Em cada área existem oportunidades de práticas sustentáveis, desde otimização de processos de produção que reduzem o tempo de ciclo de processos e como tal menor emissão de CO2, o uso de matérias primas recicladas, ou outros consumos conscientes, a conservação da água, a utilização de energia verde, etc…exite uma panóplia de soluções que deve ser adaptada a cada empresa, em função da área de negócio e do seu nível de maturidade. Há que criar hábitos e ações responsáveis para as pessoas, para o ambiente e obviamente economicamente sustentáveis.
Como engenheira, como é que a sua formação técnica influenciou o desenvolvimento das suas competências em gestão e estratégia empresarial?
A engenharia está presente em tudo, na minha opinião. A engenharia não é mais do que a capacidade de projetar e desenvolver soluções para problemas ou desvios encontrados. Mas se não formos bons gestores para implementarmos essas soluções, as soluções de nada servem. As soluções não se implementam sozinhas, precisamos de uma equipa que acredite na solução e queira fazer parte do projeto, e aqui mais uma vez, a competência da gestão tem de estar presente, para gerir pessoas, conflitos e ideias, timings, orçamentos. Portanto estas competências foram sendo adquiridas ao longo destes 23 anos, pela experiência nas diversas empresas por onde trabalhei, pelos diferentes projetos em que participei, pelas pessoas com quem tive o privilégio de chamar equipa, e com a minha vontade de aprender e ensinar todos os dias.
No contexto do projeto ‘Líderes Femininas’, como é que a sua liderança e visão têm sido moldadas pela experiência de ser uma mulher num setor tradicionalmente dominado por homens?
As mulheres são tradicionalmente mais emotivas, e na dose certa, saber gerir esta competência é efetivamente uma mais valia. A chamada inteligência emocional. O nosso quotidiano é gerido por emoções, desde que nos levantamos até que nos deitamos, e é preciso ter a capacidade de usar essas emoções para construir. Claro que nem sempre é fácil, lembro-me que o meu primeiro trabalho, foi numa obra de construção civil, onde eram 220 homens e eu…. Foi o primeiro de muitos testes. Mas nunca me senti penalizada por ser mulher nas funções que desempenhei. A minha entrega é total e os resultados são o reflexo disso.
O que espera alcançar nos próximos anos com a CIRCULARSTRATEGY e como gostaria de ver o papel das mulheres a evoluir nos setores em que opera?
Espero continuar a fazer parte da solução. Gostava de ter a oportunidade de construir mais parcerias sólidas com empresas que reconhecessem a necessidade de melhorar e inovar, e converter o conhecimento empresarial em ações eficazes para que sejam economicamente sustentáveis e responsáveis. Espero também que possa ajudar alunos na faculdade a desenvolver soft skills para o mundo do trabalho. A nova geração tem de estar preparada para os mais adversos desafios e hoje esta área ainda não está bem explorada. E acho que as mulheres estão e vão evoluir, não só no setor em que opero, como em outros, porque vemos hoje que o que realmente importa não é o género, mas sim as competências, a vontade, os resultados, e o amar o que fazemos.
Como é que a CIRCULARSTRATEGY contribui para ajudar empresas a serem mais resilientes e inovadoras face às mudanças globais, como a digitalização e a sustentabilidade?
Como já referi, tudo passa pela por uma necessidade e pela realização de um diagnóstico. Ao estudar e conhecer uma determinada empresa e respetiva área de negócio é preciso identificar as oportunidades de melhoria e projetá-las com soluções de valor acrescentado. Só os resilientes é que têm a capacidade de se adaptar às mudanças globais, pois sabem que só assim serão competitivos. O foco é na solução, não no problema. A digitalização, por exemplo, é uma ferramenta potentíssima que consegue rapidamente otimizar processos com uma eficiência notável. Consegue-se hoje ter uma visão ao minuto, do estado da empresa em toda a sua cadeia de valor, o que quer dizer que somos muito mais rápidos a tomar decisões sobre os desvios. O retorno é facilmente calculável. Agora, as empresas não são todas iguais, e as soluções não são iguais, é preciso adaptar individualmente a cada uma delas. No caso da sustentabilidade a forma de pensar é a mesma, implementar ações que melhorem as condições dos seus colaboradores, ações que permitam diminuir a sua pegada carbónica, como otimização de processos, utilização de energias verdes, transportes elétricos, minimizar a utilização de químicos, entre outros, mas que no fim se identifique um retorno qualitativo e quantitativo. Mas estas mudanças não se fazem num dia, é preciso estabelecer muito bem qual a estratégia da empresa e como é que poderemos projetar as ações, sem impactar na sustentabilidade económica da empresa. E por isso a CircularStrategy existe, para ajudar na realização de uma estratégia consolidada, transparente e monitorizada, adequada a cada organização.
Na sua opinião, qual é o impacto da consultoria especializada e estratégica para o sucesso das empresas num cenário empresarial cada vez mais competitivo e incerto?
Puxando a brasa à minha sardinha, acho que a consultoria especializada é uma mais valia por vários motivos. O quotidiano absorve-nos com a gestão diária e falta tempo para estruturar uma estratégia consolidada e bem definida. Um consultor especializado, para além de não estar envolvido nessa gestão diária, consegue ver pormenores que para as organizações estão bem, porque sempre foi assim e está bem, mas não visualiza que de outra forma pode ser melhor… Também porque no caso da CircularStrategy, não fazemos só a estratégia, criamos cultura, formamos competências, estamos presentes na definição, implementação e monitorização de todas as etapas. Não deixamos os nossos parceiros sozinhos. A nossa experiência e conhecimento das áreas 360, ajuda na realização mais rápida e eficiente de todo o processo.