A transformação digital no setor bancário é um processo exigente e multifacetado, com oportunidades e desafios. As instituições que operem com sucesso esta transformação, investindo em conhecimento e tecnologia, sem nunca perder a sua génese, serão vencedoras. É aqui que se quer colocar a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Bombarral, que na voz de Nídia Teixeira, Executive Board Member da instituição bancária, transmite-nos algumas das linhas orientadoras que norteiam a sua atividade nos tempos atuais e futuros.
Liderança no setor bancário como é que a sua trajetória pessoal e profissional a conduziu até o cargo de Executive Board Member na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Bombarral?
Tenho como formação académica a licenciatura em Economia na vertente pública, com formação continua permanente nas áreas do Governance, Sustentabilidade, Greenfinance, transformação digital, entre outras. A minha passagem pela auditoria financeira numa sociedade de revisores oficiais de contas, como responsável de equipa, levoume a desenvolver competências em várias áreas de negócio, nomeadamente a bancária, foi desta forma que contatei pela primeira vez com a Instituição no âmbito da auditoria/revisão legal de contas, após esse período fui membro do Conselho Fiscal, tendo assumido funções de Executive Board Member em 2013.
Quais foram os maiores desafios e conquistas ao longo desse percurso?
O setor bancário enfrenta diversos desafios, mas também oportunidades. O modelo de negócio da banca do presente/futuro vai ter de satisfazer clientes digitais e tradicionais e ser capaz de atrair novos talentos e requalificar o existente. A utilização de ferramentas digitais e a sua aplicação obriga inevitavelmente a olhar para dentro, no duplo sentido de mobilizar talento, de o atrair e de requalificar o existente. O investimento na formação é a melhor forma de responder aos desafios. Atualmente os bancos operam num quadro regulatório exigente, com necessidades de investimento significativos. Como oportunidade o setor bancário é o motor do crescimento económico, para o emprego e para a inovação.
Mulher e liderança, sendo uma mulher em posição de liderança, como avalia a evolução da participação feminina no setor bancário, tradicionalmente visto como um ambiente dominado por homens?
O caminho faz-se caminhando, atualmente o regulador dá um sinal claro ao setor, em direção à igualdade, paridade estando a dar passos significativos e a construir bases para promover igualdade de género nas funções de responsabilidade na banca, seguindo algumas das boas práticas europeias.
Que barreiras ainda existem e como acredita que podemos superá-las?
Barreiras existem sempre, nomeadamente as associadas à cultura das organizações, mas num mundo em constante mudança, evolução e incerteza temos cada vez mais a necessidade de qualificações/talento associadas a características pessoais de liderança estratégica, resiliência, inteligência emocional e conhecimento, sede de conhecimento, pois só assim é possível antecipar tendências, criando valor.
Banca e o futuro digital, com o setor bancário a passar por uma transformação, também digital, quais são os principais desafios e oportunidades que vê neste novo cenário?
O Board terá de adotar um sustainable governance model, visando a reorientação dos capitais para investimentos mais sustentáveis, permitindo o desenvolvimento de atividades sustentáveis e de longo prazo, preservando assim estabilidade no setor e assegurado a longevidade da instituição. As Instituições e o seu Board devem olhar para a Sustentabilidade, onde se inclui o digital, como a Estratégia e não como um departamento. Assim, há que procurar mobilizar a comunidade aumentando o seu conhecimento sobre as novas realidades, tendências e desafios colocados pelo GreenFinance, fundamentais para o bem-estar socioeconómico, em especial para a evolução e modernização da estrutura produtiva. Os bancos de raiz cooperativa, exemplo as Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, historicamente orientam-se tendo em atenção as considerações sociais, ambientais e visão de longo prazo. Atualmente torna-se necessário promover uma transição para uma economia mais verde, em articulação com as partes interessadas, em especial através de parcerias com impacto na organização e na comunidade. Criando valor, reforçando a confiança.
Liderança feminina em tempos de mudança, o contexto socioeconómico atual apresenta desafios únicos, que competências de liderança considera fundamentais para enfrentar esses tempos?
A liderança feminina tem na base essencialmente a empatia, autenticidade e resiliência, permitindo a colaboração, qualidades que fazem a diferença num mundo em constante mudança, onde a capacidade de executar é determinante, mantendo o foco e a visão, transformando desafios em oportunidades.
A conciliação entre vida profissional e pessoal, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um desafio para muitos líderes. Como gere o seu tempo entre as suas responsabilidades e a sua vida pessoal?
A flexibilização do tempo e das formas de trabalho é determinante e naturalmente que o apoio e a compreensão familiar é essencial. Também aqui as qualidades da liderança feminina vêm à superfície, com a permanente adaptação.
A importância da diversidade de género na sua opinião, como a diversidade de género pode influenciar positivamente o ambiente corporativo e a tomada de decisões numa instituição bancária?
A diversidade de género influencia positivamente o ambiente corporativo seja numa instituição bancaria ou não, algo já provado, as mulheres com os seus contributos valorizam a economia e a sociedade.
Inspiração e mentoria, houve mulheres ou figuras que a inspiraram ao longo do seu percurso? Que conselhos daria a jovens mulheres que aspiram a uma carreira de sucesso?
Na minha família as mulheres sempre tiveram um papel determinante, nomeadamente a minha avó materna, a qual me influenciou sem dúvida, na sua resiliência. O Conselho que deixo é o de sonhar, sonhar sempre, depois definir objetivos e traçar metas, mantendo sempre a sede pelo conhecimento.
Reflexão sobre o futuro da liderança feminina, que visão tem para o futuro das líderes femininas, especialmente no setor bancário? Acredita que estamos no caminho certo para uma maior representatividade e equidade?
A liderança tem a ver com pessoas, ser um líder é ser alguém que as pessoas querem seguir, porque confiam, a verdadeira liderança serve. A legislação existente promove um crescimento com vista a uma maior paridade de género não só ao nível das lideranças, mas também na gestão, seja ou não no setor bancário. No futuro espero que se fale apenas de liderança na gestão!