Elisa Coelho, Arquiteta, 33 anos de idade completados no mês de Setembro, com Mestrado Integrado em Arquitetura na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão desde 2014 é a personalidade que se segue nas próximas páginas. Sozinha a dar vida a um projeto que sempre aliciou ter, mas conseguir pô-lo em prática não passava pelo menos de forma tão rápida na sua perspetiva futura. É assim que nasceu há quase um ano a ER Home Living. À Revista Pontos de Vista, a Arquiteta lança o mote da entrevista nesta frase: “O que é certo é que quando menos esperamos as coisas acontecem. No pior ano da minha vida, realizei um dos meus maiores sonhos. Chega a ser irónico.”
A ER Home Living está prestes a completar um ano de existência. Quais foram os principais desafios e conquistas que marcaram este primeiro ano?
Não foi fácil este primeiro ano, desafios aparecem todos os dias, mas posso considerar que para além dos desafios estamos a celebrar um ano de crescimento e sucesso profissional. Um ano que com muito sacrifício, fomos criando a nossa existência, agarrando os trabalhos mais pequenos para que pudessem e possam chegar os maiores. São muitas responsabilidades. Comecei do zero. Quando digo do zero, é do zero até na conta bancária. Não criei a minha empresa porque tenho pais ricos ou porque recebi algum tipo de herança. Tudo isto nasceu fruto do meu trabalho ao longo destes anos. Cheguei a trabalhar a FullTime numa Empresa de Construção Civil, a Part-Time numa outra Empresa de Construção Civil, onde só fazia a parte de Orçamentação e ainda assim fazia alguns Projetos de Arquitetura a título particular. Tudo em simultâneo. Nunca aceitei exclusividade em nenhuma Empresa e isso permitiu-me crescer todos os dias. O maior desafio neste setor é que para começarmos precisamos de trabalhadores, não é um trabalho só nosso. Para termos trabalhadores, precisamos de capacidade financeira para contratá-los, para eles trabalharem precisam de condições, carrinha(s), equipamento(s) e tantos outros. Por consequência temos de garantir trabalho para que toda esta roda gire. Esse é o principal desafio de alguém que começa. “Garantir/Ter Garantias”. Mas acho que isso será sempre um desafio, não só no primeiro ano, mas nos anos futuros também.
A fase de acabamentos na construção civil exige atenção ao detalhe. Como a ER Home Living diferencia-se nesse campo, trazendo cuidado, sensibilidade e pormenor ao trabalho realizado?
Sou o tipo de pessoa que acredita que são os pormenores que fazem toda a diferença e a verdade é que a realidade é mesmo essa. Não aplico só esta teoria no trabalho, mas sim na minha vida pessoal também. Costumo dizer que dá tanto trabalho fazer mal feito como bem feito por isso e na dúvida, fazemos bem feito. Preparo os trabalhos e seleciono as equipas capazes de executarem as tarefas pretendidas. Não somos todos iguais e não temos a mesma perspicácia em determinadas tarefas, por isso aqui entra a parte da Coordenação e Direção de Obra. Claro que teve de haver “olho” na contratação do colaborador. Mas considero que o segredo é valorizar os trabalhadores. Acho que é pela falta de valorização que temos mais mão de obra fraca do que mão de obra com qualidade. Por isso fomos perdendo os bons. Supervisiono todas as tarefas, discutimos sempre a melhor forma de execução quando alguma é mais minuciosa. Acho que o que me realça muito no meu trabalho é a capacidade de decisão na resolução de uma tarefa que requer um cuidado distinto de outras. Sou muito prática. Nós não trabalhamos só para ficar feito, nós trabalhamos para ficar bem feito e essa é a diferença. Nunca iremos fazer nada à toa, não foi para isso que criei a er. Foi para fazer diferente, para estrar presente, para dar resposta, para dar a cara e acima de tudo para fazer bem, que é o que falta no mercado. Em grande parte, os acabamentos são uma lástima. Ponho-me muito no lugar do cliente, eu não iria querer pagar para ficar com o trabalho mal feito e feito ás “três pancadas”. Não acho que trabalhar assim seja honesto. O custo de obra está bastante elevado, as pessoas constroem uma casa para o resto da vida, vamos pensar e perceber que não é só o nosso mundo que importa e que precisa de girar. Há que ter bomsenso.
Qual foi a sua motivação para iniciar este projeto? Como foi a transição para a liderança de uma empresa em um setor tradicionalmente masculino como o da construção civil?
A minha paixão profissional sempre foi que o meu percurso passasse pela Construção Civil. Sempre sonhei muito com o liderar uma equipa, liderar trabalhos, gerir orçamentos, custos/lucros. Já na minha vida pessoal sou assim. Gosto de gerir tudo e fazer tudo funcionar. Isso fascina-me. Mas no trabalho considero que é o que me dá alento para viver. O meu trabalho é muito da minha felicidade, da minha realização pessoal, da minha qualidade de vida. Não vivo sem ele e isto não é ser doente “por”, é ser só apaixonada pelo que faço. Nunca fui de “sonhar” com a execução de Projetos de Arquitetura, sou mais o tipo de pessoa que delira só em saber que o vou coordenar e fazê-lo nascer. Trabalho de Atelier de Arquitetura é algo que não gosto, sempre soube que a minha Carreira Profissional não iria passar muito por esse lado. Tenho dez anos de experiência profissional, na qual oito anos e meio de experiência foram em empresas de Construção Civil. A primeira empresa onde trabalhei, deu-me tudo aquilo que tenho hoje de conhecimento técnico e alguns valores como pessoa também. Sou muito grata às pessoas que me acompanharam durante esses anos. Lembro-me de olhar para o meu líder na altura e idealizar-me no lugar dele, mas de repente pensava logo “ele é tão bom ser humano e é tão difícil gerir toda esta máquina de pessoas e números, nunca na vida, eu, mulher, vou ter essa capacidade”. Mas hoje olho e penso, “eu sou líder”. Hoje sou eu que faço a máquina andar. Hoje encho-me de orgulho e penso “eu consegui”. Quando paro para pensar, isto é realmente muito bom. O ano passado foi o pior ano da minha vida, despedi-me duas vezes e pior do que isso, a minha Avó Materna faleceu. No meio de tanta complicação, a única solução foi olhar para o meu futuro profissional e arriscar, mas foi mesmo muito complicado. Gerir tanta emoção, o processo de luto é muito difícil. Gerir tudo isso no meio de alguma coisa que está a nascer e precisa de toda atenção, é quase incompatível. A minha Avó não chegou a ver que a neta Arquiteta agora é também uma “Empreiteira”, mas acredito que teria muito orgulho nesta minha decisão. Sempre me ensinou a ser honesta e consciente do problema. A melhor herança que me podia ter deixado foram os valores que herdei dela.
A liderança feminina ainda é um tema de debate em várias indústrias. Na sua opinião, quais são as principais qualidades que uma mulher líder traz para o setor da construção civil?
Acho que nós mulheres e falo por mim, temos uma sensibilidade e um cuidado diferente para gerir pessoas e problemas neste meio. Aqui falo mesmo por mim, porque cheguei a ver colegas mulheres que não se sobressaíam pelo lado positivo no meio de tantos homens. Tem muito a ver com o caráter e personalidade de cada pessoa, não é só pelo facto de ser líder mulher ou homem. Acima de tudo temos de ser humildes, perceber que quem está na execução tem muito a ensinar nos. Nunca tive uma falta de respeito de nenhum trabalhador nas três empresas que trabalhei. Gosto muito de ter uma relação boa, ser compreensiva, ajudar. Gosto de brincar com eles, gosto de pedir opinião, gosto de ser prática e resolver na hora. Quero acima de tudo que se sintam bem com a minha presença, por isso tento ser o mais simples e humilde possível, para que percebam que estamos todos no mesmo barco.
A inovação é crucial em qualquer negócio. Que novos métodos ou abordagens a ER Home Living trouxe ao mercado de acabamentos em construção civil para garantir um trabalho de excelência?
Sou apologista que a organização é meio caminho andado para que tenhamos um trabalho de excelência. Quero que a minha empresa seja notada pela organização com que trabalhamos, pelo brio, pelo cuidado, pela limpeza. Temos muito equilíbrio na compra dos materiais para que não haja qualquer desperdício, preocupamo-nos muito com essa questão. Pois aí sim, estamos a perder lucro, mérito e excelência. As vezes inovar é pegarmos em conceitos simples que existem desde sempre e pô-los em prática, que é o que não acontece em grande parte das empresas de construção. Por duas que passei, posso afirmar mesmo: “São um desastre”. “Método? O que é isso?” – Perguntam eles. Nós procuramos sempre estar atualizados com a inovação dos materiais e das técnicas aliados à nossa postura de trabalho, acho que é a cereja no topo do bolo.
A Inteligência Artificial (IA) está a transformar vários setores, incluindo a construção civil. Como vê a aplicação de IA nos materiais de construção e que impacto acredita que isso pode ter na diferenciação e competitividade das empresas no setor?
A meu ver, aqui, começamos logo pelo controlo de materiais, para que o desperdício não exista. Isto é mesmo muito importante. Muito do prejuízo tem a ver com esta falta de noção. Ter uma ferramenta de apoio para controlar tudo ao pormenor é muito bom. A IA dá-nos também apoio em toda a parte de equipamentos capazes “de”. Nós já optamos por reduzir tempo em mão de obra, com algum equipamento que nos permita executar bem a tarefa mas de forma mais rápida e eficaz. Vamos sempre tentado atualizar-nos, isso é fundamental.
A Inteligência Artificial (IA) está a transformar vários setores, incluindo a construção civil. Como vê a aplicação de IA nos materiais de construção e que impacto acredita que isso pode ter na diferenciação e competitividade das empresas no setor?
A meu ver, aqui, começamos logo pelo controlo de materiais, para que o desperdício não exista. Isto é mesmo muito importante. Muito do prejuízo tem a ver com esta falta de noção. Ter uma ferramenta de apoio para controlar tudo ao pormenor é muito bom. A IA dá-nos também apoio em toda a parte de equipamentos capazes “de”. Nós já optamos por reduzir tempo em mão de obra, com algum equipamento que nos permita executar bem a tarefa mas de forma mais rápida e eficaz. Vamos sempre tentado atualizar-nos, isso é fundamental.
De que forma a empresa tem integrado práticas de sustentabilidade nos seus projetos e como vê o futuro da construção civil em termos de responsabilidade ambiental?
Promover a sustentabilidade na Construção Civil tem cada vez mais relevância. A criação de Edifícios Sustentáveis é muito importante para o meio ambiente, o impacto deles, a durabilidade dos materiais, a sua manutenção. São inúmeras as soluções que temos no mercado de forma a facilitar a inserção de práticas sustentáveis nas obras. Podemos falar das energias renováveis, como painéis solares, da gestão de resíduos, de forma a que durante a construção se reduza o desperdício e promova a reciclagem. A eficiência energética que é de extrema importância, incluindo o uso de isolamentos térmicos, caixilharias eficientes, sistemas de iluminação led e tantas outras tecnologias que permitem reduzir o consumo de energia. Apostar mais na Iluminação natural, com o uso de claraboias que por usa vez permitem a entrada de luz natural, o que reduz o gasto da iluminação artificial. O aproveitamento das águas da chuva, podendo ser usada para realizar lavagens de pavimentos exteriores, sistemas de rega. São diversas as soluções que podemos desenvolver para melhorar a sustentabilidade na construção.
O que espera alcançar nos próximos anos com a ER Home Living? Quais são os planos para o crescimento e a consolidação da marca?
Espero alcançar reconhecimento, respeito, valorização. Vou fazer crescer esta empresa da melhor forma possível. Todos os que estão comigo vão crescer ao mesmo tempo que eu. Valorizo muito os meus trabalhadores, sabem que para além de uma líder, têm uma pessoa que no que depender dela os irá ajudar em tudo e quando digo tudo, é tudo mesmo. Não quero ter um núcleo grande de trabalhadores, preciso de poucos, mas bons. Esse é o meu foco. Ter um controlo máximo das “minhas pessoas”, estar presente em todas as obras/equipas, motivá-los e mostrar que “estou aqui”. Dividir o núcleo em três equipas é suficiente para chegarmos longe. Sempre com os pés assentes na terra e conscientes de que para se subir a escada se começa sempre pelo primeiro degrau e nunca pelo último.
Qual o conselho que daria a outras mulheres que pretendem empreender ou ocupar cargos de liderança em setores predominantemente masculinos?
Nunca esperem pelo momento certo. Ele não existe. A sorte dá mesmo muito trabalho, por isso trabalhem sempre. Nunca é demais. Não há nada que seja impossível.