Barbara Portela é uma mulher de enorme carisma e uma veia indissociável dos negócios e da banca/investimentos. A cidadã brasileira, também com residência em Portugal, assume nesta altura o cargo de Fundadora e CEO da Aliat Investimentos, escritório credenciado ao Safra Invest e CEO do Grupo Aliat. Nesta nova entrevista à Revista Pontos de Vista, fala do momento atual dos investimentos nos mercados brasileiro e português, de literacia financeira quando se completa nesta data o Dia Mundial da Poupança e também sobre o processo inclusivo da igualdade de género no seio do Grupo. Saiba mais!
Como define o nível de literacia financeira entre os investidores brasileiros em comparação com os investidores portuguese e as principais lacunas observadas nos mercados?
Considero que o nível de literacia financeira entre os investidores brasileiros ainda é inferior ao dos investidores portugueses. Em Portugal, há iniciativas governamentais e educacionais que promovem o tema desde a escola, enquanto no Brasil essa educação ainda é rara. Investidores portugueses, por fazerem parte da União Europeia, têm a possibilidade de aplicar em diferentes mercados através de bancos comerciais, corretoras e bancos de investimento. Observo que, nos últimos anos, o mercado financeiro português, relativamente pequeno se comparado ao brasileiro, tem focado de forma intensiva na qualificação de profissionais visando ampliar o atendimento aos investidores, residentes ou não, através da gestão eficiente da carteira de investimentos e do balanceamento de riscos. Muitos investidores brasileiros ainda carecem de conhecimento básico sobre produtos financeiros, o que os torna vulneráveis a fraudes (pirâmides financeiras, por exemplo) e a decisões ruins. Ainda há uma baixa cultura de planeamento financeiro a longo prazo, dificultando a formação de poupança e investimentos. Embora o acesso às plataformas de investimentos tenha aumentado, muitos brasileiros ainda não conhecem opções diversificadas e não compreendem adequadamente os riscos associados a diferentes investimentos, levando a decisões impulsivas. E a procura pelo rápido enriquecimento leva, muitas vezes, às apostas em lotarias. Esse desvio da disciplina do poupar se deve a jogos com promessas de altos ganhos que não se concretizam e têm como consequência, em muitos casos, a perda expressiva do património.
De que forma a ALIAT Investimentos contribui para aumentar a literacia financeira dos seus clientes?
Na Aliat optamos sempre por assessorar os clientes de forma educativa, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades de investimentos. Dessa forma, com clareza, os investidores são capazes de tomar decisões conscientes, com muito entendimento e a correta análise que sempre leva em consideração a definição do perfil.
Quais são as iniciativas de educação financeira que a ALIAT está a desenvolver ou pretende desenvolver para capacitar melhor os seus clientes?
Apesar do foco em clientes perfis Wealth e Private, temos o compromisso em atender e a dar todo suporte aos que estão a iniciar as suas poupanças e procuram uma assessoria especializada em vez de recomendações profissionais não certificadas que se beneficiam da sua popularidade nos meios digitais para disseminar e recomendar investimentos, não compatíveis com o perfil dos seguidores. Levamos as principais informações em cada consultoria e detalhamos todos os produtos de forma que o cliente inicial consiga tomar as decisões baseadas no entendimento adquirido nas reuniões para revisão de carteira, que fazemos frequentemente, considerando, em primeiro lugar, a complexidade dos mercados atuais.
Como a literacia financeira pode influenciar os resultados de investimento e a tomada de decisões dos seus clientes?
Conforme referi, a compreensão do investidor em relação à literacia financeira e o seu perfil de investimentos oferece-nos mais clareza nas escolhas dos ativos que vão compor a sua carteira, levando em consideração o horizonte de investimentos.
Quais são os principais desafios que os investidores enfrentam ao decidir onde e como investir no Brasil e em Portugal?
Acho que no Brasil o desafio ainda está muito atrelado à falta da cultura de investimento. Outro fator é o histórico, muitas vezes negativo de um investidor que, por falta de informação ou por orientações equivocadas / recebidas de profissionais sem preparação, não teve uma boa experiência. Em Portugal, vemos um cenário onde se entende melhor a relação “risco x retorno”. Entretanto, por conta das baixas taxas juros para produtos de renda fixa, muitos preferem deixar os seus recursos em conta corrente, principalmente aqueles mais conservadores, que não gostam de correr riscos para uma maior elevação do capital investido. A bolsa de Portugal ainda opera um valor muito baixo. São poucas as ofertas de abertura de capital por empresas portuguesas. E por ser um mercado restrito e com baixa liquidez, acaba por não despertar o interesse do investidor. Os de perfil mais arrojado tendem a direcionar as suas escolhas para papéis listados nas bolsas norte-americanas e em países europeus com bolsas maiores, a exemplo da alemã e da britânica. Ressalto também que a alta tributação, atualmente em 28% nos rendimentos, é um fator considerável na decisão dos portugueses no momento de investir.
De que maneira a ALIAT personaliza as suas estratégias de investimento e garante que os investimentos recomendados sejam os mais adequados para cada cliente?
O nosso foco principal está na transparência na explicação dos investimentos, riscos envolvidos, prazos, entre outros fatores, aliados a um asset allocation correto, o que basicamente significa que o balanceamento da carteira respeitará o perfil de investidor dos nossos clientes. E a diversificação é a chave para a construção de uma carteira equilibrada, com retornos satisfatórios.
Como vê a importância de uma abordagem ética e transparente na orientação financeira dada aos clientes?
No mercado da assessoria de investimentos, ética, profissionalismo e transparência são os pilares para perpetuarmos o relacionamento com os clientes. No nosso escritório, temos vários casos de assessores, cujo relacionamento iniciado há anos atrás perdurou e, atualmente, filhos e netos também têm carteira de investimentos connosco.
Quais foram os principais desafios que enfrentou ao assumir a liderança da ALIAT Investimentos?
Penso que um líder deve necessariamente ser referência para a sua equipa e, principalmente, deve promover um ambiente onde haja comprometimento e união na entrega dos resultados. Como sempre digo, o mercado financeiro não é leve. Por isso, cabe-nos a nós, líderes nesse setor, trazer equilíbrio – apesar do stress do dia a dia, com os mercados oscilando, além da forte concorrência – para que todos possam trabalhar num ambiente agradável e de colaboração mútua. Não devemos romantizar as relações e, muito menos, o mercado financeiro. Porém, um ambiente organizacional saudável gera, naturalmente, maior bem-estar a todos, compromisso na entrega e com a empresa. Lidar com profissionais de perfis variados requer tato e adaptabilidade. A gestão precisa ser humanizada, porém, focada na entrega que a equipa se propõe e colocar-se no lugar do outro é fundamental e isso não significa ser bonzinho e aceitar tudo. Tem a ver com boa comunicação, empatia, alinhamento de objetivos e feedbacks construtivos.
Como observa a questão da representatividade feminina no setor financeiro, especialmente em cargos de liderança, no Brasil?
A representatividade feminina vem crescendo de forma exponencial. Isso já ocorre há bastante tempo em cargos de gestão em bancos e no mercado da assessoria de investimentos. Vejo um movimento crescente de mulheres conduzindo operações ou a desempenhar papéis de grande relevo nos escritórios.
Quais são as suas prioridades como CEO da ALIAT, em termos de cultura empresarial e desenvolvimento de talentos, especialmente no que se refere à inclusão de mais mulheres no setor financeiro?
Sempre procurei promover na Aliat uma cultura organizacional pautada na ética, profissionalismo e valorização das capacidades individuais da equipa. Procuro valorizar e reconhecer os perfis de forma a ajustar as áreas de atuação de cada profissional, visando extrair o melhor de cada um, com o objetivo de crescimento pessoal e profissional. Temos exemplos muito interessantes de desenvolvimento na equipa. O grupo da Aliat é mesclado, formamos e contratamos bons profissionais, sejam homens ou mulheres. Considerando a equipa como um todo, temos igualdade entre homens e mulheres na proporção próxima aos 50%.
Que conselhos daria para mulheres que aspiram a assumir posições de liderança num setor historicamente dominado por homens?
Há um incrível espaço a ser ocupado por mulheres no mercado financeiro. Está nas nossas mãos a especialização diária, a força necessária para assumir cargos desafiadores e a capacitação para sermos profissionais de referência e reputação elevadas. Devemos focar-nos menos nas diferenças e mais na força de produção, capacidade de gerar negócios e fazer a diferença no mundo corporativo. É preciso mostrar capacidade de equilíbrio frente a situações desafiadoras e extrair dos problemas que surgem à nossa volta grandes e boas soluções, sem procurar comparações, mas sim, boas referências de grandes profissionais.