Inspirada pelo avô na sua vertente profissional no Setor da Saúde, a nossa entrevistada Maria Castello Branco assumiu claramente ao ouvir as suas histórias que era no mesmo “mundo” que gostaria de vir a seguir carreira. Não pela Medicina mas pela Gestão no ecossistema da Saúde, a profissional que atualmente está numa multinacional farmacêutica revela, nesta entrevista de vida de liderança feminina na Revista Pontos de Vista de Dezembro, um pouco de toda a sua “paixão e propósito”, como faz questão de mencionar.
Poderia partilhar connosco um pouco do seu trajeto profissional até chegar à ProductLife Group?
O meu percurso tem sido marcado por uma abordagem equilibrada entre estratégia e execução operacional. Comecei em consultoria estratégica, na Accenture, e evoluí para cargos de liderança em Saúde e Life Sciences, tanto em organizações nacionais como, atualmente, numa multinacional farmacêutica. É neste cruzamento entre estratégia e operação que sinto que contribuo melhor. Gosto de olhar para o mercado, avaliar a concorrência, perceber o impacto das novas tendências, mas vibro com a adrenalina do dia-a-dia ao trazer os “so what’s” da componente estratégica para a operação.
O que motivou a sua escolha por esta área e, em particular, pelo setor farmoquímico e farmacêutico?
A escolha pelo setor da Saúde surgiu de forma inesperada, mas revelou-se um propósito que afinal tinha estado sempre presente. Fui profundamente inspirada pelo meu avô, um médico excecional, que partilhava histórias de diagnósticos desafiantes e abordagens inovadoras onde ele e os seus colegas tiveram muitas vezes impacto na vida das pessoas. Desde cedo soube que não queria ser médica, mas o meu perfil de gestão encontrou um encaixe perfeito na área da Saúde quando, ainda na Accenture, liderei o meu primeiro projeto neste setor. A partir desse momento, as coisas fizeram-me sentido, e percebi que queria contribuir para o ecossistema da Saúde através da minha perspetiva de gestão.
Como descreve este primeiro ano na ProductLife Group?
O meu primeiro ano na ProductLife Group foi de imersão intensa e muita aprendizagem. Quando assumi a função, já tínhamos oito empresas que tinham sido adquiridas e que aguardavam uma integração mais completa no Grupo. Adicionalmente, o pipeline de M&A para esse ano incluia mais três.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou e as conquistas mais significativas durante este período?
A responsabilidade de integrar 11 aquisições simultâneas, provenientes de vários países diferentes, em áreas distintas e com uma liderança e história própria, foi um desafio. E ainda o é todos os dias. Alinhar culturas organizacionais distintas e gerir a complexidade de várias geografias requer uma capacidade diária de escuta, de diálogo e de adaptação.
Quais as metas futuras que pretende alcançar na empresa e que impacto espera ter?
Apesar da complexidade, alcançámos conquistas significativas. Desenvolvemos e implementámos um novo modelo de negócio que abrange mais geografias e estrutura as áreas estratégicas, permitindo a criação de sinergias transformadoras e processos otimizados. Esta base sólida será crucial para o futuro da empresa, para manter um foco constante na eficiência, escalabilidade e excelência no serviço aos nossos clientes.
Quais são os valores que guiam a sua vida pessoal e profissional?
A integridade, a colaboração e a procura pela excelência são valores centrais que me guiam, tanto na vida pessoal quanto profissional. No meu trabalho, estes princípios traduzem-se numa abordagem transparente e inclusiva, sempre focada em alcançar resultados sustentáveis.
Procuro otimizar o impacto positivo, não apenas nas organizações, mas sobretudo nas pessoas, promovendo um ambiente que valorize o desenvolvimento individual e coletivo.
De que forma estes valores se refletem no trabalho que desenvolve na ProductLife Group?
Vejo o trabalho não apenas como um meio de subsistência, mas também uma fonte de realização, aprendizagem e convivência. Para mim, um líder deve estar atento e agir em todas essas dimensões que compõem a experiência humana no ambiente profissional.
Como vê o papel da mulher na sociedade atual, em particular em cargos de liderança?
Acredito no papel da mulher na sociedade como um verdadeiro motor de transformação. Em cargos de liderança, as mulheres oferecem uma perspetiva valiosa, muitas vezes subestimada, que enriquece a tomada de decisão. No setor farmacêutico, como em outros, os desafios incluem superar preconceitos e assegurar representatividade em níveis estratégicos. Não se trata apenas de paridade, mas de gerar valor real.
Quais considera serem os principais desafios para as mulheres em posições de chefia no setor industrial e farmacêutico?
Lembro-me de uma analogia feita por uma pessoa que admiro: “Se todos os soldados defenderem uma torre olhando pela mesma janela, as outras frentes ficam vulneráveis.” Assim é nas organizações — diversidade de perspetivas é essencial para evitar fragilidades. As mulheres, quase sempre, trazem uma matriz de análise única e complementar.
Na sua visão, como podemos continuar a promover a igualdade de género e a equidade no ambiente corporativo?
Para promover a igualdade de oportunidades, acredito em políticas corporativas claras, formação sobre bias inconscientes e a criação de redes de mentoria que empoderem mulheres em todas as etapas da carreira.
Que caraterísticas acredita serem essenciais para uma liderança eficaz, especialmente numa área tão exigente como a farmacêutica?
Uma liderança eficaz exige visão estratégica, resiliência e empatia. A capacidade de construir e motivar equipas diversas é fundamental, especialmente numa área tão complexa como a farmacêutica.
Existe algum conselho que gostaria de dar a mulheres que aspiram a alcançar cargos de decisão?
O meu conselho para mulheres aspirantes é acreditar no seu potencial e investir continuamente no seu desenvolvimento. É importante terem coragem para assumirem desafios que ampliem horizontes organizacionais e pessoais.
Que tipo de impacto pretende deixar na ProductLife Group e no setor como um todo e o que a inspira a continuar a inovar e a progredir na sua carreira?
Pretendo deixar um impacto que vá além dos resultados financeiros, promovendo uma cultura organizacional baseada em inovação, colaboração e impacto positivo no setor de Life Sciences. O que me inspira é a oportunidade de contribuir para avanços que realmente façam a diferença na vida das pessoas.
Que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores sobre a importância de liderar com propósito e paixão?
Liderar com propósito e paixão é o que nos permite transformar organizações e pessoas. Implica ouvir, aprender e ajustar quando necessário, sem nunca abandonar os valores que nos guiam. Para mim, a verdadeira liderança está em capacitar os outros a alcançarem o seu melhor potencial. Isto exige autenticidade, coragem e compromisso.