Não é do tipo “mulher das sete artes ou ofícios”, mas a expressão assenta-lhe “quase” como uma luva. Adriana Carneiro vive, atualmente, um momento bi-partido na sua vida (sempre agitada) associada ao mercado imobiliário como Responsável de Operações e Diretora na Coldwell Banker City, juntando-lhe a faceta de Palestrante Motivacional e Coach com a sua marca própria. Pronta nesta fase da vida para mudar e não sofrer a mudança, a nossa entrevistada vai mostrar-nos o porquê de ter criado este projeto pessoal que cumpre nesta altura o primeiro aniversário. Saiba mais na Pontos de Vista de Dezembro!
Pode contar-nos um pouco mais sobre as suas novas etapas profissionais que completaram um ano nesta altura? Quais os motivos para iniciá-las e quais foram os principais marcos até agora nesta nova fase da sua carreira enquanto Head of Operations e Boarding Manager na Coldwell Banker City e Palestrante Motivacional/Coach/Formadora?
Liderar equipas numa empresa como a Coldwell Banker City e facilitar processos de mudanças pessoais e organizacionais de outras líderes e empresas em diversos contextos, tem sido de facto um desafio muito interessante e gratificante. Até porque eu também sou mãe de dois filhos maravilhosos e preciso dar-lhes a devida atenção. criei a minha marca e tenho ainda que cuidar de mim, portanto, são muitos pratos a gerir ao mesmo tempo e já não tenho mais 20 anos (risos). Mas eu sempre fui muito sonhadora e acredito que são esses sonhos que sempre me deram muita força para encarar e abraçar os novos desafios que iam acontecendo. A vida está a mudar constantemente e a mudança é uma verdade inevitável.
A grande questão é que, durante muitos anos, a minha vida mudou mas não foi por vontade minha, as coisas iam-me acontecendo. Após me ter licenciado como advogada, a estar a começar a progredir na minha carreira, tive que abdicar de tudo e ir trabalhar na banca para ajudar financeiramente os meus pais. No MillenniumBcp progredi muito, aprendi muito, liderei equipas fantásticas, estive algumas vezes entre as melhores do país e, de repente, fico viúva com 2 filhos pequenos e uma empresa nas mãos que era o grande sonho do meu marido. Durante 3 a 4 anos geri esse sonho à distância, só pagando contas e confiando em quem tinha acordado ficar, mas o meu apoio era de longe e nada acontecia. Estudei muito (dormia 3 a 4h por noite) para me formar em várias áreas de Marketing.
Quando verifiquei que nada acontecia e comecei a assumir a empresa (nunca fui verdadeiramente aceite), era refém do passado pois os que estavam “sabiam sempre mais” do que eu. Ao fim de 6 anos, porque a situação era insustentável com 2 filhos pequenos, o meu trabalho no banco, responsabilidades e uma depressão, saio do Millennium, assumo a empresa a 100%, luto para fazer as coisas acontecerem e de repente vem o COVID e coloca tudo a perder. A vida, em diversas circunstâncias, esteve sempre a desafiar-me e eu nunca deixei de abraçar as mudanças e encarar os desafios à medida que iam surgindo. Contudo, sinto que, pela primeira vez, não é a vida que me está a desafiar, mas sou eu que estou a desafiar a vida.
Pela primeira vez não é a vida que me está a impor mudanças, mas sou eu que a estou a mudar, sou eu que, de alguma forma, estou a liderar todo este processo. E acredito que tudo isto seja porque, por mais que eu tenha sido uma sonhadora, passei a maior parte do tempo a viver os sonhos dos outros e não os meus. Foram as dívidas da minha família, depois a empresa que o meu marido deixou. Agora não, é diferente. Agora, estou finalmente a olhar para os sonhos da Adriana para o que a Adriana quer de facto conquistar, quem a Adriana se quer tornar e quais os desafios que eu, Adriana, escolho encarar neste processo.
Este último ano, investi muito em conhecimento, certifiquei-me, estudei, planeei e coloquei em ação o que de facto era o meu sonho guardado na gaveta. Foi um assumir de quem sou, o que quero, porque quero, o que me estava a impedir de fazer e o que precisava de fazer para alavancar os meus sonhos e a minha vida. Portanto, os desafios são muitos sim, às vezes não é fácil equilibrar tantos pratinhos mas saber que estou a liderar a minha própria mudança faz deste novo recomeço um momento muito especial.
Qual é o objetivo principal deste projeto? Como ele está alinhado com a sua missão de ajudar pessoas e equipas a atingir a sua melhor versão?
As pessoas não têm ideia do poder de abraçar uma mudança e muito menos do poder de liderar uma mudança. O que acontece muitas vezes é que a vida muda ou muda algo na empresa e colocamo-nos no papel de vítima. Reclamamos, sentimos tudo de forma muito pesada e negativa e acabamos por dificultar o que já é difícil. E se trouxermos um novo olhar para o que está a acontecer? E se mudarmos a lente e percebermos que a mudança não está a acontecer a ti, mas para ti? E se pudermos dar um passo em frente e fazermos a mudança antes que ela simplesmente aconteça? E se resinificarmos o que nos acontece de uma outra forma? E se aprendermos a nos recondicionar para o sucesso? Portanto, o meu objetivo com este novo projeto é apoiar pessoas, líderes e equipas a olharem a mudança de uma forma diferente e fazer dela uma aliada para o crescimento individual, coletivo e da empresa como um todo. O mundo está a mudar muito rápido e aprender a lidar com a mudança é uma competência chave nos dias de hoje. O que devemos saber fazer é assumir o protagonismo, independentemente do que esteja a acontecer, e liderar a mudança ainda que tenhamos que começar com pequenas mudanças.
Quais foram os maiores desafios encontrados ao longo deste primeiro ano? Como os conseguiu superar?
Recomeçar nunca é fácil, e quem disser o contrário está a mentir. Este primeiro ano foi repleto de desafios, desde ganhar a confiança num novo setor até equilibrar diferentes papéis. foram muitas vezes, um cair e levantar diário. Muitas lágrimas, dúvidas, frustração, humilhação, perda de pessoas que já não fazem sentido, dizeres sim a ti e não aos outros pois passaste a vida a dizer não a ti. Mas também, muita crença, força no futuro e em deixar um legado de amor, mudança e confiança. Liderar é, acima de tudo, servir e inspirar e eu adoro servir em cada função que desempenho na vida. Não é sobre mim, é sobre o que uma palavra minha poderá impactar na vida de uma pessoa, basta uma de cada vez. Estabelecer conexões genuínas comigo mesma, com os meus filhos, com a minha equipa, os meus responsáveis e o meu público é o que me permite superar barreiras e alcançar resultados expressivos. Mudar dá medo! Ir em direção ao novo, ao desconhecido, traz naturalmente muita insegurança. Mas olhar a mudança de uma forma diferente e liderar esse processo muda tudo e, no fundo, foi essa a minha grande mudança no último ano, eu aprendi a liderar a minha própria mudança.
Como facilitadora de mudanças, quais métodos, ferramentas ou filosofias você utiliza para promover transformações pessoais e corporativas?
A minha abordagem é muito prática e humana. O meu primeiro recurso é a minha experiência de vida. Foi a própria vida com as suas mudanças, desafios e recomeços que me impôs que me permitiu aprender a olhar e encarar a mudança de uma forma tão diferente e eu diria até divergente. Olhar para tudo isso de forma retrospetiva hoje eu consigo perceber que nos sítios onde eu estive, de alguma forma e sem consciência disso, eu fui promotora de mudanças também. No fundo, todos nós o fazemos só não aproveitamos tão bem quanto poderíamos ou deveríamos. Quando assumia equipas no Millennium, por exemplo, eu fazia diversas mudanças na forma de lidar com os clientes, de inspirar e motivar a equipa e foram essas mudanças que nos levaram a ter destaque em todo o país. Em paralelo, adquiri uma série de ferramentas como a PNL, produtividade, gestão de tempo, planeamento estratégico, inteligência emocional e comunicação empática aliadas a filosofias como o Kaizen (que valoriza a melhoria contínua) e que me permitiram ter mais consciência do que fazia de forma a construir processos sólidos para acelerar positivamente as mudanças, ajudando outras pessoas e empresas nesse processo.
Poderia compartilhar um exemplo inspirador de transformação que você presencia através deste projeto?
Já tive vários, mas um dos momentos mais inspiradores que vivenciei foi acompanhar um executivo que estava completamente perdido na sua jornada, não cuidava de si, não tinha relações empáticas com a sua Equipa e ao fim de um trabalho realizado, estava uma pessoa completamente orientada, a cuidar de si, com os seus objetivos bem definidos, com equilíbrio entre trabalho e família e foi verdadeiramente gratificante. É um orgulho para mim poder garantir que os outros alcancem os seus sonhos, objetivos e façam a sua mudança.
O seu trabalho impacta certamente muitas vidas. Que mensagem de motivação ou encorajamento gostaria de deixar para os leitores que desejam superar desafios e crescer pessoal ou profissionalmente?
Não importa o desafio que estás a passar neste momento, abraça-o! Na vida, tudo é temporário, nada é definitivo. Seja um problema financeiro, uma insatisfação profissional, um problema de relacionamento, observa o que está a acontecer e lembra-te, está a acontecer não a ti, mas sim, para ti. Que mudanças a vida está a exigir de ti? Que padrões precisas de quebrar? Este problema é, de facto, um problema teu? Muitas vezes estamos a viver e a sofrer por problemas que nem são nossos. Se não for teu, que mudanças precisas fazer para deixar isso para trás? Se são teus que mudanças precisas fazer para te tornares maior que o teu problema? Grandes conquistas começam com pequenos passos, com pequenas mudanças, mas é preciso clareza, foco, compromisso, consistência, disciplina, autoconfiança e determinação. Permite-te errar, aprender e crescer. E, acima de tudo, nunca subestimes a força do otimismo e da resiliência para transformar a tua vida e a tua capacidade para fazer a tua mudança.
Quais são os próximos passos ou metas que pretende alcançar com este projeto nos próximos anos?
Em Portugal ainda temos muito medo da mudança. Por questões culturais e históricas preferimos o seguro ao extraordinário. Isso bloqueia o nosso potencial de inovação e de crescimento, mas nem sempre foi assim. Fomos pioneiros nas navegações, rompemos barreiras e, por mais que esse espírito se tenha afastado de nós, ele ainda permanece no nosso ADN.
Precisamos resgatá-lo e é a isso que me dedicarei com todas as forças. Quer se queira quer não, o mundo vai ter que lidar cada vez mais com várias mudanças e transições. Precisamos de voltar a liderar a mudança dia a dia e isso começa na forma de como olhamos para as nossas vidas e para o nosso trabalho. O primeiro protagonismo que precisamos de resgatar é o da nossa vida.
O segundo, o protagonismo das nossas empresas e equipas. Mas, para isso, vamos precisar de líderes da mudança e a quem esteja pronto e saiba como o fazer. É exatamente a esses líderes que desejam liderar essa mudança a que me dedicarei e apoiarei a cada momento, os que estão de facto preparados para a fazer.
Abraça o desafio e faz das pequenas mudanças um caminho inevitável para grandes transformações. Quem nos define somos nós e não o nosso passado, ou as circunstâncias da vida ou o que dizem de nós.