Desde 2020, com a criação da marca The Editory Collection Hotels na Sonae Capital Hotelaria a atual Diretora Geral de Vendas e Marketing, Isabel Tavares, já sabia quais seriam as intenções para este projeto: inovar, crescer e posicionar-se de forma diferenciada no setor hoteleiro. Nesta entrevista com pano de fundo o final do ano corrente de 2024, a líder assume à Revista Pontos de Vista a sua missão, forma de estar em equipa e o que considera serem os pontos chave para estar à frente da The Editory Collection Hotels. Saiba mais!Pode partilhar um pouco da sua trajetória até se tornar General Manager de Sales & Marketing na The Editory Collection Hotels?
Licenciada em Gestão pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, iniciei a minha carreira no setor da hotelaria no Grupo Pestana Hotels & Resorts, onde, ao longo de oito anos, desempenhei diversas funções nas áreas de Marketing, Vendas, Estratégia e Novos Projetos, culminando como Coordenadora do Departamento de Marketing e Produto. Em 2012, integrei a Hoti Hotéis como Diretora de Marketing e Vendas, com o desafio de criar, de raiz, o departamento central de vendas e marketing, estruturando estratégias integradas para o crescimento do grupo. Em 2017, cheguei à Sonae Capital Hotelaria, projeto onde me mantenho até hoje, como Diretora Geral de Marketing, liderando iniciativas voltadas para o reposicionamento e modernização das unidades do grupo. Com a criação da marca Editory Collection Hotels em 2020, assumi a Direção Geral de Vendas e Marketing, liderando o projeto estratégico de inovação, crescimento e posicionamento diferenciado no setor hoteleiro.
Qual é a sua visão sobre o papel das mulheres em posições de liderança no setor da hotelaria e turismo?
O papel das mulheres em posições de liderança no setor da hotelaria e turismo é fundamental. É um setor que exige competências interpessoais, visão estratégica e resiliência, caraterísticas frequentemente associadas à liderança feminina. As mulheres têm a capacidade de equilibrar empatia com determinação, criando ambientes colaborativos e inovadores. Apesar dos avanços, ainda é necessário reforçar o acesso das mulheres a cargos de decisão e promover uma maior diversidade nas lideranças.
Como descreveria o seu estilo de liderança? Quais valores e princípios a orientam na gestão de equipas?
Considero-o “democrático-liberal com uma dose de autoridade”. Gosto de orientar mais do que comandar, ajudando cada membro
da equipa a explorar o seu potencial e a superar desafios. Para mim, liderar é sobretudo criar uma visão comum e motivar a equipa a alcançá-la, enquanto valorizo a autonomia de cada pessoa.
Os valores que me orientam incluem justiça, respeito e colaboração. Acredito que uma equipa forte é construída com base na confiança e na valorização do esforço conjunto. Sigo o princípio de que a rentabilidade deve ser alcançada com responsabilidade e foco no bem-estar dos colaboradores, pois o sucesso sustentável depende de um equilíbrio entre pessoas e resultados.
Que competências acredita serem essenciais para liderar equipas num setor competitivo como o da hotelaria e turismo?
Liderar no setor da hotelaria exige esforço coletivo, diálogo constante e atualização contínua sobre as tendências de mercado. É fundamental estar focado em entregar excelência nas respostas às necessidades dos clientes, com criatividade e espírito empreendedor. Ser competitivo, no sentido de estar sempre alerta para fazer mais e melhor, também é uma vantagem que mantém as equipas motivadas e alinhadas com os desafios do mercado. A minha função enquanto líder é orientar as pessoas da minha equipa para que sintam que têm todas as condições para atingir o seu máximo potencial.
Quando falo de máximo potencial, refiro-me à performance, mas também à felicidade no trabalho. Acredito que pessoas felizes entregam melhores resultados e levam as empresas mais longe.
Como equilibra o foco em resultados com o cuidado no desenvolvimento pessoal e profissional dos membros da sua equipa?
Refiro sempre que tenho a sorte de ter a melhor equipa do mundo. Pela competência técnica dos profissionais que a compõem, e porque é um grupo de pessoas com perfis muito diferentes, que estão totalmente alinhadas comigo e com os objetivos da organização. Essa diversidade de talentos e formas de pensar são uma das maiores forças da equipa, e sinto que cada membro encara o trabalho como uma oportunidade de “fazer acontecer”. Equilibrar o foco em resultados com o cuidado no desenvolvimento das pessoas é um desafio constante. Tenho sempre a preocupação de identificar e valorizar as principais caraterísticas de cada elemento da equipa, apontando caminhos que promovam a complementaridade entre eles. O meu papel é potenciar as qualidades de cada um, garantindo que todos se sintam parte do esforço coletivo com propósito. A felicidade no trabalho significa criar condições para que os colaboradores se sintam valorizados, ouvidos e conetados com os objetivos da organização, apesar dos desafios.
De que forma acredita que as empresas podem promover a igualdade de género nas suas estruturas?
As empresas devem garantir oportunidades iguais para homens e mulheres, assim como o reconhecimento e a retribuição pelo desempenho de funções equivalentes. Não é aceitável que uma mulher tenha de provar que é capaz ou que ocupe um cargo semelhante ao de um homem com uma valorização inferior. Em Portugal, no setor do turismo, as mulheres representam cerca de 58% da força de trabalho e menos de um terço dos cargos de gestão e liderança são ocupados por mulheres. Este desequilíbrio reflete a necessidade de quebrar barreiras estruturais e culturais, que limitam a ascensão feminina nas organizações. É essencial que as empresas do setor assumam um papel ativo na igualdade de género, criando condições para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento e progressão na carreira que os homens. Apesar de algumas mudanças positivas, o mercado de trabalho precisa de um compromisso real para superar o fosso de género. Isso inclui garantir transparência, equidade salarial, políticas inclusivas de promoção e programas de mentoria.
Há práticas ou iniciativas implementadas na The Editory Collection Hotels que considera exemplos de boas práticas neste contexto?
Na The Editory Collection Hotels, promovemos um equilíbrio entre homens e mulheres na equipa, sem rótulos de género – apenas pessoas em igualdade de circunstâncias. Internamente, procuramos não fazer qualquer distinção de género, seja no discurso, nas condições de trabalho ou na adequação a situações laborais ou pessoais. Fomentamos valores idênticos para todos, asseguramos oportunidades semelhantes e valorizamos o contributo individual. Estas práticas fazem parte de um compromisso maior de promover uma cultura inclusiva e justa, alinhada com os valores do ecossistema da Sonae. Contudo, reconhecemos que ainda temos um longo caminho a percorrer.
Em sua opinião, quais os maiores obstáculos que ainda impedem a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres nos cargos de topo?
Apesar dos avanços, persistem desafios que dificultam a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres em cargos de topo. O preconceito inconsciente ainda influencia decisões de contratação e promoção, associando liderança a caraterísticas tradicionalmente masculinas. Este fenómeno subestima as competências das mulheres para cargos de topo e é amplamente documentado em estudos sobre desigualdade de género no local de trabalho. A escassez de modelos femininos em posições de liderança desincentiva outras mulheres a aspirar a essas posições. Além disso, a distribuição desigual das responsabilidades familiares e a falta de políticas organizacionais eficazes agrava o problema. Medidas como programas de mentoria, políticas de flexibilidade laboral e transparência salarial são cruciais para criar um ambiente inclusivo. A igualdade de género não é apenas uma questão de justiça social, mas também um fator determinante para o sucesso e sustentabilidade das organizações e dos países.
Quem foram os seus maiores modelos de inspiração ao longo do seu percurso?
Reconheço que aprendi muito com os líderes com quem trabalhei. Mas ao longo da minha carreira, as minhas chefias foram, infelizmente, maioritariamente, masculinas. Vou acompanhando o percurso de mulheres portuguesas que desenvolvem projetos notáveis nas áreas de liderança, igualdade de género e “empoderamento” feminino, como Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, cuja liderança do Grupo se destaca pela implementação de políticas promotoras da igualdade de género, servindo de exemplo no panorama empresarial português; Ana Mendes Godinho, pelo seu trabalho enquanto ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social; Francisca Guedes de Oliveira, presidente do Instituto Europeu para a Igualdade de Género; e Elvira Fortunato, Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Estas mulheres não apenas lideram com excelência, mas também trabalham ativamente para transformar a realidade e abrir portas para que mais mulheres ocupem posições de destaque. São a prova de que a igualdade de género é um caminho possível e inspirador.
Como acredita que pode ser uma fonte de inspiração para outras mulheres que desejam alcançar cargos de liderança?
Tenho como missão ser um exemplo e formar futuras líderes, contribuindo para um ambiente onde mulheres se sintam capacitadas a assumir posições de destaque.
Acredito que criar oportunidades e partilhar conhecimento é essencial para transformar o panorama da liderança feminina. O meu compromisso de crescimento pessoal está intrinsecamente ligado ao meu compromisso com o crescimento da empresa. Oriento a minha equipa para trabalhar e promover uma marca forte e de referência que seja identificada como um exemplo de boas práticas no setor. Acredito que esse será o meu legado, e trabalho diariamente para o afirmar.
Acredita que o “empoderamento” feminino deve ser um tema prioritário nas agendas empresariais? Como torná-lo uma realidade?
O “empoderamento” feminino deve ser prioritário nas agendas empresariais. É essencial para construir organizações mais equilibradas, inovadoras e sustentáveis. As empresas devem adotar políticas inclusivas de recrutamento e promoção, programas de mentoria e equidade salarial. Acredito que nós, mulheres, temos um papel fundamental neste processo. Podemos e devemos ser tendenciosas ao valorizar e apoiar outras mulheres que procuram espaço no mercado de trabalho, em cargos de liderança. Promover-nos umas às outras é equilibrar um cenário que historicamente nos deixou à margem das posições de poder.
Como constrói e mantém relações de confiança e colaboração entre os membros da sua equipa?
Construir relações de confiança e colaboração exige transparência e comunicação aberta. Fomento ambientes de respeito mútuo e alinhamento, garantindo uma equipa coesa e focada em alcançar os objetivos comuns. Exijo transparência e comunicação aberta, tentando criar um ambiente onde todos se sintam à vontade para partilharem ideias e preocupações.
Em contextos de conflito ou divergências, como lidera o processo de resolução, mantendo a harmonia no ambiente de trabalho?
Em situações de conflito, o diálogo é o ponto de partida. Divergências, quando geridas com respeito, tornam-se oportunidades de crescimento e inovação. Como líder, incentivo um ambiente onde todos se sintam ouvidos e valorizados.
Como motiva a equipa para enfrentar desafios e alcançar metas ambiciosas?
Para motivar a equipa, é essencial que todos sintam que o seu trabalho tem impacto. Procuro criar um ambiente onde é permitido falhar antes de acertar, desde que o erro venha acompanhado por soluções.
Qual a sua abordagem para gerir talentos diversos e garantir que cada membro da equipa contribua com o seu máximo potencial?
A diversidade na equipa é uma força. É fundamental criar um espaço onde o erro é visto como uma parte natural do crescimento, estimulando a coragem para inovar e arriscar. Gerir talentos é cultivar uma equipa que acredita no seu propósito, onde cada um sabe que está a contribuir para algo maior. É essa consciência que gera motivação, união e entrega.
Que mensagem gostaria de deixar às mulheres que aspiram a assumir papéis de liderança, especialmente em setores tão dinâmicos como o turismo e a hotelaria?
Às mulheres que aspiram a assumir papéis de liderança, a minha mensagem é: acreditem no vosso potencial, nunca se vejam pelos olhos dos outros e ajudem-se umas às outras. A liderança não é uma questão de género, mas de confiança, visão e determinação. Liderar é ser autêntica, confiar na intuição e lutar pelos vossos valores. O mundo precisa de mulheres que liderem com coragem, empatia e propósito. Trabalhem em conjunto, partilhem conhecimento e continuem a criar impacto. O vosso talento e visão são essenciais para transformar o futuro.