Com a história a reportar isso mesmo, a Arquitetura atual tende a desmistificar o lado masculino dos dados que remontam ao passado com mais exemplos femininos no Setor e com projetos já bem sustentados. Fomos conhecer a Cria + e Luísa Teixeira, CEO e Arquiteta desta empresa com sede em Lisboa. 18 anos volvidos desde a criação do projeto, a líder passa a pente fino a sua experiência muito positiva e de forte impacto nos projetos já desenvolvidos, não fosse Luísa Teixeira uma resiliente e determinada empresária. Saiba mais!
A mulher na Arquitetura
Como tem sido a sua experiência como mulher no setor da arquitetura, e que desafios enfrentou ou ainda enfrenta numa indústria que historicamente era predominantemente masculina?
Na minha experiência de quase 18 anos liderando a Cria +, empresa na área da arquitetura, sempre me procurei focar na excelência do trabalho, na construção de uma equipa forte e no impacto positivo dos projetos que desenvolvemos. Apesar de atuar num setor que, historicamente, foi predominantemente masculino, a minha experiência tem sido muito positiva. Acredito que isso se deve em parte à maneira como escolhi posicionar-me – confiante no meu trabalho e no da minha equipa, focada nos objetivos e disposta a contribuir para um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo. Olhando para o setor como um todo, reconheço que ainda existem desafios para mulheres na arquitetura, como em várias outras áreas, mas é possível ver mudanças positivas a acontecer. Para mim, um dos maiores desafios está em equilibrar as exigências da liderança com o cuidado em manter uma equipa de 11 pessoas motivada e acompanhar a constante evolução que a área da arquitetura envolve. Tenho orgulho de poder liderar pelo exemplo e mostrar que é possível construir uma carreira sólida, independentemente do género, num setor bastante exigente.
O papel da liderança feminina
Sendo uma líder no seu projeto, como define o seu estilo de liderança?
Eu defino o meu estilo de liderança como colaborativo, motivador e orientado para os resultados. Acredito que uma boa liderança começa com o exemplo, e por isso procuro demonstrar diariamente os valores que considero essenciais: a ética, a integridade, a dedicação (e a criatividade que não pode faltar!). Um dos meus principais focos é criar um ambiente em que a minha equipa se sinta motivada, valorizada e capacitada para dar o melhor de si. Para isso, tento criar espaço para a partilha de ideias, encorajo a troca de conhecimentos e procuro alinhar os objetivos individuais com as metas coletivas da empresa numa perspetiva de melhoria contínua. Além disso, invisto tempo em ouvir, oferecer suporte e construir uma relação de confiança com cada membro da equipa. Liderar para mim é menos sobre controlar e mais sobre inspirar e proporcionar as ferramentas necessárias para que todos cresçam juntos, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.
Que caraterísticas essenciais é necessário para assumir uma carreira tão criativa como a arquitetura?
Assumir uma carreira na arquitetura exige uma combinação única de habilidades que combinam a criatividade, a técnica e a gestão. Em primeiro lugar, é fundamental ter uma mente criativa (e visionária), capaz de imaginar soluções inovadoras para transformar ideias em espaços que impactem positivamente a vida das pessoas – isto para mim tem que estar sempre presente no nosso processo de trabalho! No entanto, criatividade por si só não basta… é necessário também ter um forte sentido de disciplina e de organização, pois a arquitetura envolve planeamento rigoroso, prazos que são maioritariamente apertados e atenção aos detalhes. Outra caraterística essencial é a resiliência, porque o processo de criação nem sempre é linear; há desafios, revisões e imprevistos que exigem capacidade de adaptação e persistência. Por fim, destaco a importância da comunicação e da empatia. Trabalhamos com clientes e equipas multidisciplinares e é essencial ouvir, entender as necessidades e traduzir essas expetativas em projetos funcionais e inspiradores. Para mim, a combinação dessas habilidades é o que torna a arquitetura tão fascinante e desafiadora.
Conciliar vida pessoal
e profissional
Como tem sido a sua experiência em equilibrar as exigências de uma carreira de sucesso com a vida pessoal?
Equilibrar as exigências de uma carreira de sucesso com a vida pessoal é um desafio constante, especialmente numa área tão exigente como a arquitetura. Fundei a minha empresa com 29 anos e desde então tem sido uma constante aprendizagem a procura desse equilíbrio. Com o passar do tempo, aprendi que o equilíbrio não é necessariamente sobre dividir o tempo de forma igual, mas sim sobre estar presente e dar atenção de qualidade a cada aspecto da minha vida. Nesse sentido, procuro organizar o meu tempo de forma estratégica, priorizando o que é realmente essencial. A título de exemplo, a delegação de tarefas dentro da empresa e a confiança na minha equipa são essenciais, para que me seja possível focar nas decisões mais importantes. Também acredito que é fundamental estabelecer limites saudáveis, mesmo que isso signifique dizer que não a alguns compromissos. Além disso, faço questão de reservar momentos para recarregar as energias, seja através da convivência com a minha família, meu pilar basilar, ou em momentos de lazer ou atividades que me inspiram, como viajar ou apenas ler um livro. Embora o equilíbrio nem sempre seja perfeito (é um constante desafio), eu vejo isso como um processo contínuo de ajustes a cada momento. Mais do que uma questão de agenda, é sobre encontrar um propósito e satisfação tanto na vida profissional quanto pessoal.
Que conselhos daria às mulheres que procuram seguir uma carreira na arquitetura ou outra área criativa?
O meu principal conselho é que acreditem no seu potencial e não deixar que as inseguranças ou expetativas de terceiros limitem os seus sonhos. As áreas criativas exigem coragem para inovar, e isso começa com a confiança nas ideias e na visão. Além disso, destaco a importância de ser necessário procurar continuamente o conhecimento e desenvolver competências técnicas. Conhecimento é poder, digo isto constantemente à minha equipa! Outro ponto essencial é construir uma rede de apoio e colaboração. O trabalho do arquiteto, vai muito para além da criatividade, tendo que coordenar várias especialidades de engenharia que exigem um trabalho forte de equipa. Também encorajo a manter a resiliência e a paciência. Projetos desafiantes nem sempre surgem no imediato, e o caminho pode ser repleto de desafios a persistência e determinação são fundamentais para transformar obstáculos em sucesso e aprendizagem. Por fim, que não tenha medo de ser ambiciosa. Defina objetivos elevados, acredite na sua capacidade de alcançá-los e, ao longo do caminho, celebre cada conquista, por pequena que pareça. É preciso manter presente que o processo é tão importante quanto o destino.
Inovação e o futuro
da arquitetura
A inovação é crucial no seu trabalho? Como tem adotado novos modelos tecnológicos, como o Building Information Modeling (BIM), na prática da CRIA + Arquitectos?
A inovação é um elemento crucial no nosso trabalho, especialmente num setor tão dinâmico como a arquitetura, em constante evolução. Na CRIA+ Arquitectos, adoptamos a tecnologia BIM há mais de dez anos através do Archicad, o que demonstra o nosso compromisso com a evolução tecnológica e com a procura por processos mais eficientes e integrados. Para nós, o BIM não é apenas uma ferramenta, mas uma abordagem estratégica que transforma a maneira como projetamos e colaboramos. Permite-nos trabalhar de forma mais integrada, antecipando problemas e integrando informações de diferentes especialidades num único modelo. Mas ainda existe um longo caminho a percorrer, para que as equipas disciplinares todas estejam alinhadas. Começa a ser usual os arquitetos trabalharem em BIM mas não os engenheiros, o que afeta o processo.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é um tema central na arquitetura contemporânea. Como incorporar princípios sustentáveis nos vossos projetos e que importância atribui a este conceito na transformação das cidades e espaços?
A sustentabilidade é, sem dúvida, um dos pilares da arquitetura contemporânea e um valor central nos projetos da CRIA+ Arquitectos. Incorporar princípios sustentáveis vai além de cumprir normas ou seguir tendências; trata-se de assumir a responsabilidade de criar espaços que respeitem o meio ambiente, sejam mais eficientes em termos de recursos e promovam qualidade de vida para as pessoas. O que em tempos foi algo que os promotores queriam parecer sem o ser, atualmente têm noção que o cliente final dá verdadeiramente importância e isso fez com que passasse a ser uma preocupação também dos nossos clientes. Nos nossos projectos, aplicamos por isso a sustentabilidade de forma integrada. Desde a escolha de materiais de baixo impacto ambiental até soluções de eficiência energética, como o aproveitamento da luz natural, ventilação cruzada e sistemas de captação de água das chuvas no caso das Moradias.
Visão para o setor
Como vê o setor da arquitetura em Portugal?
Estamos numa fase de muito trabalho, fruto da crescente procura de empresas e turistas pelo nosso território, mas também enfrentamos desafios significativos. A título de exemplo, há falta de mão-de-obra qualificada e maior dificuldade em fixar equipas do que há uns anos atrás. Já na relação com o cliente existe uma grande pressão para reduzir prazos e custos e que podem muitas vezes comprometer a qualidade e sustentabilidade dos projetos.
A arquitetura é muitas vezes vista como uma arte funcional que influencia diretamente o bem-estar social. De que forma o arquiteto pode contribuir para o desenvolvimento de espaços que promovam maior inclusão e equidade?
O arquiteto tem um papel fundamental na criação de espaços que promovam inclusão e equidade, integrando os princípios de acessibilidade universal, sustentabilidade e respeito pelas diferenças culturais e sociais. É minha convicção que projetar com empatia com o envolvimento dos nossos clientes no processo garante que os espaços atendem às reais necessidades das pessoas e aos objetivos a atingir.
Projetos marcantes
Poderia destacar algum projeto recentemente desenvolvido pela CRIA + Arquitectos que enche particularmente de orgulho, tanto pelo seu impacto social quanto ambiental, a equipa e os seus responsáveis?
É difícil escolher um, mas destaco o Empreendimento Palma Loft’s, sito na Palma de Baixo, em Lisboa, que constitui uma reabilitação destinada a Habitação com tipologias de pequenas dimensões cujo processo de criação até ao final da obra envolveu uma comunicação e partilha entre todos os envolvidos que muito nos orgulha.
Desafios Atuais
Quais são os principais desafios que os arquitetos enfrentam hoje em dia quando se trata de incorporar soluções sustentáveis nos projetos urbanos e habitacionais?
Os principais desafios que encontramos neste âmbito são as restrições orçamentais. Os promotores até querem a adopção deste tipo de soluções, mas não querem pagar mais por isso. É um equilíbrio complexo, mas acreditamos que estamos num ponto de viragem pois já vemos muitos clientes finais a darem importância a soluções sustentáveis, o que ditará uma mudança de paradigma.
Futuro da Arquitetura
Na sua opinião, quais serão as tendências arquitetónicas para as próximas décadas, especialmente no que diz respeito à sustentabilidade e à resposta às alterações climáticas?
É minha convicção que veremos um aumento no uso de materiais ecológicos, reciclados ou de baixo impacto ambiental, além de edifícios projetados para serem energeticamente eficientes e, espera-se, até autossuficientes. As cidades deverão ser mais inteligentes e incorporar mais espaços verdes, infraestruturas para a mobilidade sustentável e sistemas de gestão de água e resíduos integrados.