“A liderança feminina é essencial para diversificar perspetivas e promover a inovação em qualquer campo”

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Susana Maria Perdigoto, fundadora da Klínica Perioimplantológica (KPI), é uma referência na área da Medicina Dentária, com foco especial em Periodontologia e Implantologia. Além disso, a KPI é uma referência na área de Dor Orofacial, Disfunção da ATM e distúrbios de sono nos últimos 13 anos. Ao longo de quase três décadas, Susana Perdigoto tem-se destacado pela sua dedicação à saúde oral, pela integração de tecnologias avançadas e pela liderança de iniciativas de educação e sensibilização. Nesta entrevista, ela compartilha detalhes sobre o seu trajeto, os desafios enfrentados, as inovações na prática clínica e aspirações para o futuro, tendo sido a sua clínica pioneira a integrar fisioterapeuta, psicólogo entre outros, numa equipa interdisciplinar. Acompanhe a seguir as reflexões e os conselhos de uma líder que deseja transformar a área da saúde oral em Portugal.O que a inspirou a escolher a Medicina Dentária como área de atuação e, posteriormente, avançar para a área de Periodontologia e Implantologia? Quais foram os principais desafios enfrentados ao fundar a Klínica Perioimplantológica (KPI) em 1996, especialmente considerando o cenário da Medicina Dentária na época?

A minha inspiração para escolher a Medicina Dentária surgiu do desejo de ajudar as pessoas a manterem uma boa saúde oral, algo que considero essencial para a qualidade de vida.

Posteriormente, a minha paixão pela Periodontologia e Implantologia desenvolveu-se à medida que percebia o impacto significativo que estas áreas podem ter na recuperação da função e estética dentária, melhorando assim a autoestima, saúde geral e bem-estar dos pacientes.

Ao fundar a Klínica Perioimplantológica em 1996, enfrentei inúmeros desafios, incluindo a necessidade de inovar e acompanhar as evoluções tecnológicas, bem como superar as barreiras de preconceito em relação à prestação de serviços de saúde oral de alta qualidade.

 

Como avalia o impacto da evolução tecnológica, como a inteligência artificial e os fluxos digitais, na prática clínica atual? De que forma a interdisciplinaridade contribui para a personalização do atendimento aos pacientes na KPI?

A evolução tecnológica tem tido um impacto profundo na prática clínica, facilitando diagnósticos mais precisos, tratamentos mais eficazes e um atendimento ao paciente mais eficiente. A inteligência artificial, por exemplo, permite a análise de grandes volumes de dados para identificar padrões e prever resultados, auxiliando na tomada de decisões clínicas. Os fluxos digitais, por outro lado, têm transformado a forma como os procedimentos são planeados e executados, desde a conceção de implantes dentários até à personalização de próteses.

A interdisciplinaridade é essencial para a personalização do atendimento aos pacientes na KPI. Ao integrar conhecimentos e práticas de diferentes especialidades, conseguimos abordar as necessidades dos pacientes de maneira holística. Isso significa que, além de tratar as questões dentárias específicas, consideramos também os fatores sistémicos e psicológicos que podem influenciar a saúde oral.

Por exemplo, em casos de reabilitação oral complexa, trabalhamos abordando a dor orofacial, disfunção temporomandibular, distúrbios de sono, fisioterapia, para garantir que cada aspeto da saúde do paciente é abordado de forma integrada e personalizada.

 

Pode nos explicar como a saúde oral, especialmente em áreas como Periodontologia, pode influenciar diretamente a gestão de condições como diabetes e doenças cardiovasculares? Qual é o papel dos médicos dentistas na identificação e tratamento de distúrbios do sono e da disfunção temporomandibular (DTM)?

A saúde oral está intimamente ligada à saúde geral, e a Periodontologia desempenha um papel crucial nesse vínculo. As doenças periodontais, que afetam as gengivas e os ossos que sustentam os dentes, podem ter repercussões significativas em condições sistémicas como diabetes e doenças cardiovasculares. A inflamação crónica das gengivas pode agravar a resistência à insulina, dificultando o controle da diabetes. Além disso, as bactérias orais podem contribuir para a formação de placas nas artérias, aumentando o risco de eventos cardiovasculares como ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. A relação entre saúde oral e doenças sistémicas não se limita à diabetes e às doenças cardiovasculares. Estudos recentes têm sugerido uma potencial ligação entre doenças periodontais e a doença de Alzheimer. A teoria é que as bactérias responsáveis pelas infeções gengivais podem alcançar o cérebro e contribuir para a inflamação e a formação de proteínas anormais associadas à Alzheimer. Embora essa área de pesquisa esteja em desenvolvimento, ela ressalta a importância de manter uma boa saúde oral para prevenir ou mitigar condições sistémicas debilitantes.

Os médicos dentistas desempenham um papel fundamental na identificação e no tratamento de distúrbios do sono e da disfunção temporomandibular (DTM). Eles são frequentemente os primeiros profissionais a detetar os sinais e sintomas dessas condições, dada a sua familiaridade com a anatomia e a fisiologia da região orofacial.

Distúrbios do sono, como a apneia obstrutiva do sono, podem ser, em muitos casos, identificados através de exames detalhados da cavidade oral e da observação de fatores de risco, como a hipertrofia das amígdalas ou das adenoides. No tratamento da apneia do sono, os dentistas podem confecionar dispositivos orais que ajudam a manter a via aérea aberta durante o sono, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

No caso da DTM, os dentistas utilizam uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir terapias físicas, dispositivos de mordida e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas. O tratamento personalizado e a colaboração com outros profissionais de saúde, como fisioterapeutas e especialistas em dor, são essenciais para garantir o sucesso terapêutico e o bem-estar do paciente.

 

Como foi, ao longo da sua carreira, conciliar o papel de líder clínica com os desafios enfrentados pelas mulheres em posições de destaque no mercado? Que mensagem gostaria de deixar para as jovens mulheres que aspiram liderar nas suas áreas de atuação?

Conciliar o papel de líder clínica com os desafios enfrentados pelas mulheres em posições de destaque no mercado é uma tarefa complexa e exigente.

Ao longo da minha carreira, enfrentei diversos obstáculos, desde preconceitos implícitos até a necessidade de equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais. No entanto, esses desafios também me proporcionaram oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Acredito que a chave para superar essas barreiras reside na resiliência, na determinação e na procura constante pela excelência. É essencial desenvolver uma rede de apoio sólida e não hesitar em alcançar a mentoria e aconselhamento de outras profissionais bem-sucedidas.

Para as jovens mulheres que aspiram liderar nas suas áreas de atuação, a minha mensagem é clara: acreditem no seu potencial e não deixem que ninguém subestime suas capacidades. A liderança feminina é essencial para diversificar perspetivas e promover a inovação em qualquer campo. Enfrentem os desafios com coragem e vejam-nos como oportunidades para aprender e crescer. Lembrem-se de que cada passo dado com confiança pavimenta o caminho para as futuras gerações.

 

Quais são os novos serviços ou áreas de especialização que planeia introduzir na clínica nos próximos anos? A epigenética é uma área promissora. Pode compartilhar mais sobre como isso está relacionado aos distúrbios do sono e como pretende incorporar essa abordagem na prática clínica?

Nos próximos anos, planeamos introduzir uma série de novos serviços e áreas de especialização na nossa clínica, com o objetivo de continuar a oferecer cuidados de saúde de alta qualidade e inovadores aos nossos pacientes. Algumas das áreas em destaque incluem a terapia com laser de baixa intensidade, que tem mostrado resultados promissores na redução da dor e inflamação associadas à disfunção temporomandibular (DTM), e a expansão dos nossos serviços de ortodontia, com ênfase em tratamentos mais rápidos e discretos, como os alinhadores transparentes.

Além disso, estamos entusiasmados com a incorporação de abordagens baseadas na epigenética para o tratamento de distúrbios do sono. A epigenética estuda as mudanças nas expressões genéticas que não envolvem alterações na sequência do DNA, mas que podem ser influenciadas por fatores ambientais e comportamentais. Esta área tem um enorme potencial para personalizar e melhorar os tratamentos de apneia do sono e insónia uma vez que nos permitem entender como fatores como a dieta, o estilo de vida e a exposição a toxinas podem afetar a expressão dos genes relacionados com o sono.

Na prática clínica, pretendemos utilizar a epigenética para desenvolver tratamentos mais eficazes e personalizados para os nossos pacientes com distúrbios do sono. Isto pode incluir recomendações específicas sobre mudanças no estilo de vida, suplementos nutricionais e intervenções terapêuticas que visam modificar as expressões genéticas de forma positiva. Ao integrar a epigenética nos nossos serviços, esperamos não apenas tratar, mas também prevenir distúrbios do sono, proporcionando uma abordagem mais holística e abrangente para a saúde dos nossos pacientes.

 

Acredita que a população está devidamente informada sobre a importância da saúde oral e a sua conexão com a saúde em geral? O que poderia ser feito para melhorar essa consciencialização? Como médica dentista e educadora, quais são as suas iniciativas ou planos para promover a formação contínua e a sensibilização dos profissionais da área?

Acredito que a população ainda não está completamente informada sobre a importância da saúde oral e a sua conexão com a saúde em geral. Embora haja uma maior consciencialização em comparação com décadas passadas, a saúde oral ainda é muitas vezes subestimada. A falta de conhecimento sobre como problemas dentários podem afetar o coração, o sistema imunológico e até a saúde mental é uma lacuna significativa na educação em saúde.

Para melhorar essa consciencialização, é essencial investir em campanhas educativas de grande alcance, utilizando os mídias tradicionais e digitais. Parcerias com escolas, empresas e organizações comunitárias podem ajudar a disseminar informações relevantes e práticas de higiene oral, desde a infância até a idade adulta. Além disso, a realização de workshops e sessões de esclarecimento em centros de saúde e eventos públicos pode proporcionar uma educação mais direta e interativa.

Como médica dentista e educadora, participo em várias iniciativas para promover a formação contínua e a sensibilização dos profissionais da área. Também leciono na pós-graduação de Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular da Universidade Europeia onde estou a realizar o meu doutoramento, e colaboro com outras pós-graduações onde orientamos jovens dentistas e estudantes de odontologia, ajudando-os a desenvolver as suas habilidades e a entender a importância de uma abordagem holística na prática clínica.

Acredito que, ao fornecer ferramentas e conhecimento, podemos capacitar tanto os profissionais quanto a população em geral para tomarem decisões mais informadas e proativas em relação à sua saúde oral e geral.

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Revista Pontos de Vista Edição 137

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