A evolução tecnológica e a digitalização têm vindo a transformar a gestão e o funcionamento das organizações. Neste contexto, a Inteligência Artificial (IA) emerge como um trunfo essencial para a otimização de processos, tomada de decisões informadas e melhoria da eficiência empresarial. Isabel Cipriano, Presidente da APOTEC (Associação Portuguesa dos Técnicos de Contabilidade), partilha a sua visão sobre o impacto da IA, o estado das Pequenas e Médias Empresas (PME) em Portugal e o papel da contabilidade na sustentabilidade financeira das organizações nesta edição da Pontos de Vista, saiba mais!
Como avalia o estado das Pequenas e Médias Empresas, PME, no que toca à sustentabilidade e equilíbrio financeiro?
A nível da União Europeia, as micro, pequenas e médias empresas (PME) representam cerca de 99% das empresas na U.E, e contribuem com dois terços (66%) do emprego total da UE e geram mais de metade do valor acrescentado no setor empresarial não financeiro. Os dados mais recentes da DGAE (Direção-geral das Atividades Económicas) apontam para que nove em cada dez PME são microempresas, em que destas, a maioria são negócios familiares.
Esta caraterística acentua a sua vulnerabilidade, tornando-as mais suscetíveis às mudanças de conjuntura. Já sabemos que o desenvolvimento sustentável pressupõe no âmbito da Agenda 2023, uma visão integradora do desenvolvimento das empresas nas dimensões económica, ambiental e social, mas estamos também perante entraves burocráticos (de nível processual e de complexidade), que são desincentivadores para a necessidade e capacidade de resposta das PME.
Qual tem sido o papel da APOTEC no apoio às PME na gestão contabilística e estratégica?
A APOTEC foi fundada em 1977, caminha para os 50 anos de serviço dedicado aos associados e às empresas, num país em que idade média das associações é de 19 anos. Isto traduz bem a relevância da ação desenvolvida pela Associação ao longo de quase meio século.
Não há dúvida da importância dos bons profissionais em contabilidade para as empresas, e de como estes têm impacto direto no desenvolvimento económico de um país. Profissionais qualificados contribuem para sistemas económicos de maior robustez e eficiência. A APOTEC, através do apoio constante aos profissionais e às empresas, é parte integrante deste processo.
De que forma a contabilidade pode contribuir para um futuro mais sustentável?
A contabilidade é essencial para se conhecer uma realidade económica. E é parte de uma realidade social e da realidade humana. Através da contabilidade desenvolve-se uma visão mais crítica e uma maior capacidade de adaptação, que são caraterísticas fundamentais para a inovação e para a tomada de decisões informadas.
Quais são as práticas essenciais a uma PME para que a sua gestão seja eficiente e responsável?
Uma organização, independentemente da sua dimensão ou core business, deve privilegiar vários fatores: a inovação tecnológica, a sustentabilidade e a eficiência. O que se constata é que muitas vezes estamos presos em processos arcaicos que comprometem o desempenho das organizações. A dificuldade de atrair talento qualificado, a não aplicação adaptada da IA e de tecnologias e ferramentas práticas e uteis, são processos endémicos destas empresas, que é preciso ultrapassar se queremos atingir de forma responsável níveis de eficiência sustentáveis.
Neste caminho de crescimento e evolução, em que patamar coloca a Inteligência Artificial?
A Inteligência Artificial é uma ferramenta poderosa para as organizações, nomeadamente em matéria de cibersegurança. As empresas estão a integrar a IA nos seus procedimentos, de forma cada vez mais proativa.
A Inteligência Artificial, nesta nossa envolvência, serve como apoio das organizações, executando tarefas rotineiras, por conseguinte libertando os profissionais para o que chamamos de “acrescentar valor” às organizações e ao seu desempenho.
Acredita que a IA vai ser implementada em escala nas nossas PME?
Já está a ser implementada! Apesar dos dados do Eurostat, relativos a 2023 e divulgados no final de 2024 (os últimos disponíveis), referirem que Portugal é o país da União Europeia onde se constata um menor acesso à internet nas zonas rurais, a realidade é que “caminhamos” todos em diferentes velocidades e contextos, mas que se pretendem aproximar.
Deveríamos ter uma disciplina de Inteligência Artificial?
Sim, mas antes disso há muito tempo que defendo a introdução da disciplina de literacia financeira no curriculum escolar, em particular a partir do ensino secundário. E acredito que a introdução de uma disciplina sobre Inteligência Artificial venha a ocorrer, sendo necessário que o uso da IA não dispensa a necessidade de aprendizagem e o saber dos profissionais.
Sabes o que fazem os contabilistas?
Este é um livro, com a chancela da Ideias com História, é dirigido a crianças, em particular dos 8 aos 12 anos. Apoiado pela APOTEC, pretende introduzir conceitos simples como rendimento, despesas, orçamentos, impostos, no vocabulário dos mais novos.
“A disciplina da literacia financeira é fundamental nas novas gerações. Confrontamo-nos várias vezes com jovens adultos, licenciados ou com mestrados que não compreendem temáticas aparentemente simples como a melhor opção para comprar um carro, quais os impostos que têm de pagar se trabalharem nas férias de verão, qual a melhor opção para investir o “mealheiro de Natal”, ou até mesmo o que é o IRS Jovem. Com este livro, pretende-se começar a despertar a curiosidade aos mais novos e, consequentemente às suas famílias”, refere Isabel Cipriano.
