Hidrogénio: Um Bem Necessário para Portugal e a Europa | Uma Perspetiva sobre Utilização, Desafios, Ações em Curso e Custos

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O hidrogénio verde é um elemento versátil e promissor no contexto energético português e europeu. O hidrogénio pode ser usado como matéria-prima, como combustível ou como vetor energético. Como matéria-prima, é utilizado em variados processos industriais, muitos associados à indústria química. Como combustível, o hidrogénio pode ser usado em células de combustível para gerar eletricidade, emitindo apenas vapor de água como subproduto, o que o torna uma opção limpa e sustentável, ou pode ser usado na produção de outros combustíveis sustentáveis como amoníaco, metanol ou jet fuels, entre outros. Como vetor energético, o hidrogénio permite o armazenamento e transporte de energia, funcionando como uma ponte entre a produção intermitente de energias renováveis, como a solar e a eólica, e a necessidade da procura de energia. A Figura 1 apresenta o conceito de Power-to-H2 e H2-to-X, a qual ilustra diferentes usos do hidrogénio verde.

Porém, a implementação do hidrogénio verde enfrenta vários desafios significativos. O custo de produção é atualmente um dos grandes problemas que impede o seu uso extensivo no nosso mix energético, em parte devido ao processo de eletrólise, que é o método mais comum para gerar hidrogénio verde. Adicionalmente, a infraestrutura existente também é insuficiente para suportar uma adoção ampla, necessitando de investimentos muito significativos em redes de distribuição, armazenamento e estações de abastecimento. Torna-se evidente que a produção e a procura devem estar casadas. Isto leva-nos ao conhecido paradoxo do ovo e a galinha, o que deve ser primeiro a produção ou o desenvolvimento das infraestruturas? Isto deve ser tratado à par, ao uníssono, em paralelo. Sem infraestruturas disponíveis para a distribuição e o armazenamento não será possível alcançar as metas de produção e vice-versa.

No contexto português e europeu, a integração do hidrogénio verde no mix energético exige uma coordenação eficaz entre políticas energéticas, investimentos públicos e privados, e a adaptação do marco legal e da regulamentação existentes. Além disso, há desafios técnicos relacionados com a segurança nos processos e sistemas que envolvem hidrogénio, qualidade e pureza do hidrogénio, a integração no mix energético, a eficiência e durabilidade dos eletrolisadores, as células de combustível e os sistemas de armazenamento. enfim, um conjunto de desafios técnicos que estão a ser ultrapassados com apoio dos diversos ecossistemas de inovação espalhados pela Europa e dos quais Portugal faz parte.

A União Europeia (EU) tem vindo a implementar diversas ações para promover a viabilidade do hidrogénio verde. Uma dessas iniciativas é a Estratégia Europeia para o Hidrogénio, lançada em 2020. A Europa tem como meta alcançar uma produção de 10 milhões de toneladas de hidrogénio limpo para 2030.

A nível de infraestruturas a EU está empenhada em criar um sistema de distribuição transversal, através do suporte a programas como o Hydrogen Backbone, iniciativa que visa criar uma rede europeia de gasodutos de hidrogénio interligando vários países, desde a Península Ibérica até aos Países Baixos e Alemanha. Mais localmente, o projeto H2Med tem como objetivo interconetar Portugal, Espanha e França para transportar hidrogénio verde produzido na Península Ibérica para o resto da Europa. O gasoduto CelZa que conetará Celorico da Beira e Zamora na Espanha com os seus mais de 200 km forma parte do H2Med.

Igualmente os Hydrogen Valleys procuram a criação de clusters de hidrogénio verde, onde a produção se encontra com a procura em diversos usos finais. Só assim, poderá crescer e ser desenvolvida a economia sustentável do hidrogénio verde em Portugal e a Europa. Estas ações são executadas através de organizações, tais como a Aliança Europeia do Hidrogénio Limpo (ou Parceria para o Hidrogénio Limpo), a qual reúne atores do setor público e privado para acelerar a expansão da cadeia de valor do hidrogénio através do apoio de atividades de investigação e inovação (I&I) no domínio das tecnologias do hidrogénio na Europa.

Portugal tem demonstrado um compromisso firme com a promoção do hidrogénio verde, tanto na vertente da procura como na do fornecimento. O governo português lançou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio também em 2020, que prevê investimentos em projetos-piloto e em infraestruturas críticas. O Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) na sua mais recente versão estabelece como meta de capacidade instalada de sistema eletrolisadores de 3GW até 2030. O PNEC considera uma nova linha de atuação a 4.11 associada à promoção e desenvolvimento de infraestruturas de hidrogénio, centrada na cooperação regional, a concretização de novas infraestruturas (como o Eixo Nacional de Transporte de Hidrogénio), e os Hydrogen Valleys.

Portugal conta já com vários projetos em curso de norte ao sul associados a clusters de hidrogénio, exemplos são o Sines Green Hydrogen Valley (SinesH2GValley) e o Alentejo Green Hydrogen Valley (H2tAlent). Do lado da procura, o governo português tem manifestado a intenção de promover sucessivos leilões para a aquisição de biometano e hidrogénio para injeção na rede de gás natural (RNDG). Os resultados do primeiro leilão eletrónico foram publicados recentemente a 11 de fevereiro de 2025 contando com oito potenciais contratos de fornecimento de hidrogénio produzido por eletrolisadores a um preço de 127 €/MWh (aproximadamente 4,23 €/kgH2).

O custo do hidrogénio verde desde a sua produção até às estações de abastecimento para o setor dos transportes em Portugal poderá estar entre 7 e 12 €/kg em 2030, segundo estimativas recentes do LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia. Segundo um investigador do LNEG, “O LNEG disponibilizou no passado dezembro a primeira calculadora de custos de hidrogénio Portuguesa (LNEG-LCOH) para obter de forma rápida e fácil o custo do hidrogénio verde em toda a sua cadeia valor, ou seja, desde a sua produção até à sua distribuição para o setor dos transportes em estações de abastecimento”. O custo do hidrogénio é expresso como um custo nivelado (em €/kg H2 considerando o tempo útil de um projeto) para facilitar a comparação de diferentes projetos e países.

O hidrogénio verde é um bem necessário para Portugal e a Europa. Para Portugal pode representar uma oportunidade única dadas as condições de recursos endógenos renováveis (como a energia solar e a eólica) o que junto com o desenvolvimento de sistemas hidrogeno-produtores mais económicos e eficientes podem ajudar a fornecer e distribuir este elemento a preços competitivos quando comparado com outras soluções dentro do mix energético.

Medidas integradas que promovam a criação de condições favoráveis para a economia do hidrogénio limpo deverão passar pela consolidação de incentivos para as empresas, a criação de infraestruturas, parcerias público-privadas, educação e capacitação profissional, investimento em investigação e desenvolvimento, e um marco legal e regulatório favorável. Só assim, a redução dos custos em toda a cadeia de valor do hidrogénio e dos combustíveis sintéticos dele derivados poderá ser alcançado.

O LNEG tem desempenhado um papel importante na promoção e avaliação do hidrogénio verde em Portugal e participa ativamente em projetos de investigação, desenvolvimento e inovação, focados na otimização de processos de produção, na eficiência das tecnologias de hidrogénio, e o desenvolvimento de competências através da educação e capacitação. O LNEG contribui proativamente para reduzir o hiato entre a investigação e o mercado, apoiando a inovação. Desenvolve ferramentas de uso público e de alto valor acrescentado como a Calculadora LNEG-LCOH (Figura 2) e o Atlas do Hidrogénio Verde, igualmente participa em iniciativas para a formação profissional tais como o projeto H2Excllence, para ajudar os atores públicos e privados a contribuir ativamente numa economia mais sustentável.

 

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