Aos 20 anos, Laura Fernandes desafiou o status quo ao fundar a +Fronteiras, uma empresa inovadora no setor da formação profissional. Num mercado altamente competitivo e dominado por empresas consolidadas, a jovem empreendedora apostou na irreverência e na vontade de fazer diferente. A +Fronteiras foi criada num período económico desafiante, quando o setor do turismo se reerguia, mas ainda deficitário de profissionais qualificados para elevar o padrão de serviço. Saiba mais nesta edição da Revista Pontos de Vista!
Criou a +Fronteiras aos 20 anos, num mercado competitivo e dominado por empresas consolidadas. Que desafios enfrentou, enquanto jovem empreendedora e mulher, ao lançar o seu próprio negócio?
Aos 20 anos, em 2013, criei a +Fronteiras, orientada pela ingenuidade e irreverência própria da idade, decidi que ia criar um curso de Alemão, mas diferente dos demais até então, mais orientado para o serviço e atendimento no canal HORECA, ou seja, que fosse realmente útil às pessoas que desempenham determinadas funções neste setor e as ajudasse a progredir nas suas carreiras, bem como à própria qualificação da classe hoteleira. A partir daqui o que começou com um curso para dois formandos, tornou-se hoje em dia numa escola com 37 cursos e com mais de três mil formandos abrangidos pelas mesmas e já com dois espaços que alojam toda a operação. Ser jovem, ajudou-me a não pensar tanto no facto de ser jovem, temos o pensamento de que somos invencíveis na idade em que criei a empresa e quando me apercebi que havia empresas, já consolidadas, a começarem a adotar métodos similares aos meus, percebi que estava no bom caminho. Ser mulher, deu-me mais tenacidade para ultrapassar os obstáculos que pudessem advir deste facto.
No início, nem sempre foi levada a sério por algumas entidades. Como conseguiu conquistar credibilidade e afirmar-se no sector da formação profissional?
Costumo dizer às minhas equipas que o sucesso é uma consequência da consistência colocada no trabalho diário para que os resultados apareçam, representando em factos reais a credibilidade da nossa operação. Portanto, a melhor forma de ganhar credibilidade, é apresentar consistentemente resultados positivos e acrescentar valor aos nossos clientes e formandos.
A +Fronteiras cresceu de um curso de alemão para uma oferta de 37 cursos e diversos serviços. Como descreveria o seu estilo de liderança e de que forma impulsiona a inovação dentro da empresa?
A +Fronteiras foi criada num período bastante adverso, após a maior crise dos últimos 30 anos até aquela data e a retoma económica, através do setor do turismo, fazia-se sentir, mas faltava pessoal realmente qualificado para que o Turismo pudesse aumentar o seu nível de serviço, o tal “serviço de excelência” tão apregoado, mas apenas aplicado por alguns, muito poucos. Havia aqui uma oportunidade: Formações para o atendimento, rápidas e diretas ao assunto, que respondessem às necessidades dos trabalhadores e organizações, bem como da população desempregada e que os capacitassem com conhecimentos e competências ajustadas aos diferentes contextos profissionais ligados à hotelaria e restauração. Foi claramente uma inovação de processos e de paradigma, neste caso, na abordagem às necessidades do sector, adaptando a oferta formativa ao mesmo. Tendo estabelecido o meu modelo de formação, posso classificar o meu estilo de liderança, muito devido à forma como comecei, muito isolada e com necessidade de controlo sobre todas as decisões, de autocrática, muito focada na obtenção de resultados e na eficiência da operação, assumindo a total responsabilidade de tomada de decisão, tentando sempre ter uma comunicação muito clara e direta com as minhas equipas, por forma a garantir a eficácia na delegação de tarefas e cumprimento de objetivos. Devido à rapidez que consigo implementar novas soluções, tecnologias e métodos, dada a abordagem autocrática, impulsiona a inovação de forma mais imediata e ágil, como é o caso do projeto de formação modular certificada para residentes em Portugal Continental, no Norte, Centro e Alentejo, que iniciou em Outubro de 2024, no qual a oportunidade foi detetada, dotamo-nos da tecnologia necessária para concretizar o projeto e implementámo-lo.
O empreendedorismo em Portugal continua a apresentar desafios, especialmente para as mulheres. Alguma vez sentiu que precisou de trabalhar mais para provar o seu valor? Como vê a evolução da liderança feminina no país?
Vejo de forma muito positiva. Cada vez mais vemos mulheres em altos cargos executivos nas empresas portuguesas e multinacionais. É claro que por sermos mulheres, não diria que temos que trabalhar mais para provar o nosso valor, pois como disse os resultados fazem esse trabalho por nós, mas no fim do dia, as oportunidades não são tão amplas e aqui sim, temos que correr o quilómetro extra para podermos provar que estamos no mesmo patamar, ou superior, que qualquer outro player do mercado.
O que a motiva diariamente e qual o impacto que deseja deixar, tanto na sua área de atuação como no empreendedorismo feminino?
Ainda hoje em dia quase que me surpreendo e emociono-me com as metas que a +Fronteiras vai atingindo. Desde as parcerias consolidadas, à oferta cada vez mais diversificada e ampla de cursos e serviços. Olhando para trás e vendo o caminho percorrido de uma jovem empresária, que quase não sabia o que era um balanço e sem noção das responsabilidades que daí advêm, até aos dias de hoje, com uma empresa reputada, certificada e próspera, mas ciente de que é apenas o início e com a humildade necessária para abraçar os novos desafios que já existem e outros que certamente aparecerão, gostaria de pensar que a +Fronteiras traçou tendências e implementou um método disruptivo de formação, num mercado estagnado e ocupado por ofertas e métodos ultrapassados. Não penso tanto no legado que vou deixar, pois como mencionei, a +Fronteiras está ainda no início, apesar da consolidação e é esta irreverência que pretendo levar comigo para tudo o que fizer. Talvez será esse o meu legado.
Quais são os próximos passos para a +Fronteiras e quais conselhos daria a outras mulheres que ambicionam seguir uma carreira no mundo dos negócios?
O crescimento da +Fronteiras, que passa pela extensão da operação além da sua geografia de base, a Região Autónoma da Madeira, para numa primeira instância, através do programa de formação modelar no digital, dotar Portugal Continental do acesso aos métodos de formação que nos caracterizam e o início da formação presencial a grupos hoteleiros do Porto, Lisboa e Algarve. O principal conselho que posso dar às mulheres e não só, que pretendem iniciar o seu negócio é: começar. Sem o primeiro passo, nada se cria. Acreditar nas suas capacidades, ter uma estratégia e coloca-la em prática de forma planeada, traçando metas e objetivos. Nunca perder o foco, o que talvez seja o mais difícil, pois a vida de um empreendedor vai além da teoria e da operação em si, são 24/7 tentando conciliar todos os aspetos da vida privada, social e profissional. Muito método, sentido de responsabilidade e organização. Quanto ao futuro, esse é claro: consolidar a marca no mercado reforçando a relação com os nossos clientes, desenvolvendo em conjunto com os mesmos soluções à medida e inovadoras, bem como com os nossos formandos, fornecendo os melhores métodos e materiais de ensino, por forma a capitá-los cada vez mais e melhor nas suas profissões ou na busca pelas mesmas, e através da criação de parcerias estratégicas e agregadoras de valor, que permitam criar bases para o continuo crescimento.