A arqueologia é muito mais do que escavar o passado – é uma ponte para a compreensão da nossa identidade cultural e um compromisso com a preservação da história para as gerações futuras. Neste contexto, a Revista Pontos de Vista apresenta uma entrevista exclusiva com Ana Penisga, CEO da Clay Arqueologia. Acompanhe esta conversa inspiradora e conheça a história de uma líder que alia paixão, ética e inovação na missão de preservar a nossa herança cultural e dedicação à valorização do património.
Como surgiu a sua paixão pela arqueologia e o que a motivou a fundar a Clay Arqueologia?
Desde pequena, sempre fui fascinada pela história. Adorava ler tudo o que estivesse relacionado com o tema, mas rapidamente percebi que os livros, por si só, não me bastavam. Eu queria mais – queria ver, tocar, descobrir. A arqueologia trouxe-me exatamente isso: a componente prática, a emoção da descoberta e, acima de tudo, o fator surpresa, que sempre aguçou a minha curiosidade (e eu sou muito curiosa!).
Já a Clay Arqueologia nasceu da necessidade de dar um passo além na minha trajetória profissional. Com o tempo, fui conquistando reconhecimento e a confiança de clientes, e um deles, em particular, deixou claro que, para me adjudicar um projeto, seria essencial ter uma empresa formalmente constituída. Assim, a Clay surgiu quase como um achado inesperado, mas totalmente alinhado com o caminho que eu queria seguir.
Qual é o principal propósito da empresa e como ele se reflete na sua liderança?
O principal propósito da Clay Arqueologia é garantir um trabalho sério, profissional e eticamente responsável na área do património, mas sem nunca perder a leveza e o entusiasmo pelo que fazemos. Acreditamos que é possível aliar o rigor à paixão, e essa abordagem reflete-se diretamente na forma como lidero a empresa.
Procuro valorizar sempre o lado positivo de cada projeto e de cada colaborador, promovendo um ambiente onde a felicidade e a realização profissional caminham lado a lado com a excelência do nosso trabalho. Tanto assim é que criámos um Departamento da Felicidade, porque acreditamos que equipas motivadas e felizes fazem toda a diferença – tanto nos resultados como na forma como vivemos o nosso dia a dia.
Como equilibra as exigências de liderar um negócio com os desafios pessoais e o bem-estar?
No meu caso, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal tem um significado um pouco diferente. Sou, assumidamente, uma workaholic, e a minha sensação de bem-estar está muito ligada ao sucesso dos nossos projetos. Saber que tudo está a correr bem, que os colaboradores estão motivados e a desempenhar um bom trabalho, e que os clientes estão satisfeitos dá-me uma enorme tranquilidade e satisfação.
Ainda assim, reconheço a importância de fazer pausas, e por isso tento, pelo menos uma vez por semana, reservar um dia para me dedicar à família e aos amigos. Nem sempre é fácil cumprir essa meta, mas procuro manter esse compromisso. Além disso, sempre que posso, tiro uma semana de férias para destinos mais calmos e tranquilos, de preferência com muita história. Afinal, a minha paixão pela arqueologia e pelo conhecimento vai muito além da minha profissão – é algo que levo comigo para onde quer que vá.
Que valores são essenciais na sua gestão e como são aplicados no dia a dia da empresa?
Os valores que guiam a Clay Arqueologia estão presentes em tudo o que fazemos. O rigor e o profissionalismo asseguram que cada projeto é conduzido com seriedade e ética, sempre com um profundo respeito pelo património, pois sabemos que estamos a preservar a história para as futuras gerações.
A paixão e a curiosidade são o motor do nosso trabalho, impulsionando-nos a descobrir e a aprender constantemente. Além disso, acreditamos que o sucesso também passa pelo bem-estar da equipa, promovendo um ambiente positivo e motivador, onde todos se sintam valorizados.
Por fim, o nosso compromisso com o cliente reflete-se na transparência e na dedicação com que abordamos cada desafio, garantindo soluções de qualidade que unem conhecimento técnico e respeito pela história.
Como a Clay Arqueologia incorpora a inovação nas suas atividades?
Creio que a inovação na Clay Arqueologia se manifesta na forma como combinamos conhecimento tradicional com novas tecnologias e metodologias. Apostamos no uso de ferramentas e metodologias avançadas, como drones, fotogrametria, levantamento laser, entre outros, que nos permitem documentar e analisar o património com mais precisão e eficiência.
Além disso, inovamos também na gestão de projetos e na abordagem à equipa, promovendo um ambiente de trabalho dinâmico, onde a comunicação, a colaboração e a valorização do bem-estar são fundamentais. Acreditamos que a inovação não está apenas na tecnologia, mas também na forma como trabalhamos e envolvemos as pessoas no nosso propósito.
Qual o papel da tecnologia na salvaguarda arqueológica e quais são as principais tendências na área?
No passado, a salvaguarda arqueológica dependia essencialmente de registos manuais e desenhos, muitas vezes imprecisos. Hoje, o uso de ferramentas informáticas permite registos mais detalhados, precisos e de fácil divulgação.
Entre as novas tendências, destaca-se a impressão 3D, que possibilita a reprodução de artefactos para estudo e exposição, e a realidade aumentada, que permite reconstruções virtuais de sítios arqueológicos. Além disso, a inteligência artificial começa a ser aplicada para analisar grandes volumes de dados e identificar padrões, por exemplo.
As atuais tecnologias complementam os métodos tradicionais, garantindo uma preservação mais rigorosa e acessível do património.
Como garante o rigor científico nos projetos desenvolvidos pela empresa?
Garantir o rigor científico é uma prioridade em todos os projetos da Clay Arqueologia. Para isso, seguimos metodologias reconhecidas, baseadas nas melhores práticas da arqueologia, e contamos com uma equipa qualificada e experiente.
O trabalho é sempre fundamentado em pesquisa aprofundada, documentação minuciosa e uso de tecnologia avançada, para assegurar a exatidão dos registos. Além disso, mantemos uma postura de transparência e colaboração com entidades académicas, entre outras, garantindo que cada intervenção respeita padrões científicos de qualidade e contribui para o conhecimento do património.
Qual a importância da arqueologia para a sociedade e como a Clay Arqueologia contribui para essa valorização?
A arqueologia é essencial para compreendermos o nosso passado, ajudando-nos a construir um futuro mais informado e sustentável. O revelar da história das sociedades que nos antecederam, permite-nos preservar a identidade cultural, aprender com os erros e sucessos do passado e tomar decisões mais conscientes para o presente. Ou, pelo menos, assim deveria ser.
A Clay Arqueologia contribui para essa valorização ao devolver esse conhecimento ao público, tanto à população em geral, como à comunidade científica. Fazemo-lo através de trabalho de investigação rigoroso, divulgação dos achados e participação em iniciativas educativas e culturais. Acreditamos que o património só é verdadeiramente protegido quando é conhecido e valorizado por todos.
Como vê o papel das empresas privadas na proteção do património cultural?
O papel das empresas privadas na proteção do património cultural é fundamental. Num país onde os recursos públicos são limitados, é essencial que os privados possam contribuir ativamente para a salvaguarda e valorização do património, seja através de investimento direto, parcerias, ou desenvolvimento de projetos que integrem a preservação da história com a realidade económica e social.
Defendo que o Estado deve atuar principalmente como regulador, criando diretrizes claras para a atuação dos privados, garantindo boas práticas e assegurando que a preservação do património se faz de forma responsável e sustentável. Mais do que um papel fiscalizador ou centralizador, é necessário que o Estado incentive e facilite a participação das empresas e da sociedade civil, promovendo uma abordagem equilibrada onde a proteção do património não seja vista como um obstáculo ao desenvolvimento, mas sim como uma oportunidade de crescimento cultural e económico.
Se conseguirmos criar um modelo onde o sector privado se envolva ativamente, com regras bem definidas e incentivos adequados, o património deixará de ser apenas uma responsabilidade estatal e passará a ser um compromisso coletivo, beneficiando toda a sociedade.
Quais os desafios que enfrenta ao sensibilizar a sociedade e os decisores políticos sobre a importância da arqueologia?
A sociedade em geral tem um grande carinho pela arqueologia, e muitas vezes, quando menciono a minha profissão, as pessoas compartilham que, na infância, também sonhavam ser arqueólogos. O problema começa quando os projetos de construção entram em conflito com a presença de vestígios arqueológicos, e os promotores acabam por se deparar com essa realidade. Um grande desafio é ainda a ideia de que se pode construir em centros históricos da mesma forma que fora deles, sem considerar a importância do contexto histórico e patrimonial. Embora tenhamos feito progressos nos últimos anos, ainda há muito a evoluir nesse sentido.
Quanto aos decisores políticos, a arqueologia, como parte da vertente cultural, nem sempre recebe a atenção que merece. Infelizmente, a cultura, em muitos casos, não é uma prioridade, quando, na verdade, deveria ser. A nossa identidade cultural e histórica é o que nos distingue no turismo, e em vez de competirmos com destinos de praia, o que realmente nos torna únicos é o nosso património. É hora de perceber que a valorização do turismo deve passar também pela promoção do nosso passado, pois é isso que nos torna especiais e competitivos.
Quais são os objetivos da empresa para a expansão em 2025?
Em 2025, o principal objetivo da Clay Arqueologia é continuar a manter e reforçar os padrões de qualidade que nos caracterizam, tanto no trabalho que desenvolvemos quanto na satisfação dos nossos clientes. Queremos expandir a nossa carteira de clientes, conquistando a confiança de novos projetos, sempre com o compromisso de oferecer um serviço rigoroso e personalizado.
Além disso, pretendemos explorar novas oportunidades dentro do território nacional, aumentando a nossa presença em regiões com grande potencial arqueológico, alavancando na nossa experiência para abordar desafios mais complexos e inovadores. A nossa visão para 2025 é continuar a crescer de forma sustentável, procurando sempre manter a qualidade e a dedicação em todos os aspetos do nosso trabalho.
Como pretende posicionar a Clay Arqueologia no mercado internacional?
Estamos já a ponderar a internacionalização, mas sempre com a calma necessária para garantir que, antes de dar passos mais largos fora do país, conseguimos continuar a consolidar a nossa presença no mercado nacional. Já fomos contactados para alguns projetos internacionais, o que nos mostra que temos capacidades para atuar além-fronteiras. No entanto, é muito importante para nós não descurar os nossos clientes nacionais, que continuam a ser a nossa prioridade. Queremos fortalecer ainda mais a nossa estrutura e garantir que mantemos o alto nível de qualidade e dedicação no serviço prestado, para que, quando decidirmos avançar internacionalmente, o façamos de forma sólida e segura.
Que desafios espera enfrentar na expansão e como planeia superá-los?
Um dos principais desafios na expansão da Clay será manter a qualidade e a consistência dos nossos serviços à medida que crescemos, sem comprometer os padrões que nos definem. Além disso, ao entrar em novas regiões, precisaremos de adaptar-nos a diferentes contextos culturais a abordagens de trabalho, o que pode exigir uma aprendizagem contínua e ajustes nos nossos procedimentos.
Para superar esses desafios, planeamos investir em formação contínua da equipa, garantindo que todos os colaboradores estejam alinhados com a nossa missão e valores. Pretendemos também fortalecer parcerias locais, o que nos permitirá compreender melhor as especificidades de cada mercado e trabalhar em conjunto com profissionais experientes. Finalmente, continuaremos a ter uma abordagem gradual e estratégica, para garantir que a nossa estrutura interna está preparada para o crescimento de forma sustentável.
Existe alguma colaboração estratégica ou parcerias que deseja destacar?
Temos algumas parcerias que poderíamos destacar. Uma delas é com faculdades, com as quais colaboramos oferecendo estágios profissionais para estudantes de licenciatura e mestrado. Isto permite-nos contribuir para a formação de futuros profissionais da área e trazer novas perspetivas aos nossos projetos.
Além disso, trabalhamos com o IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) nas formações que oferecemos aos nossos colaboradores, abordando áreas como liderança, gestão de stress, higiene e segurança no trabalho, entre outras. Estas formações são essenciais para o desenvolvimento contínuo da nossa equipa e garantem que estamos sempre atualizados em termos de boas práticas e competências essenciais para o bom funcionamento da empresa. Essas parcerias têm sido fundamentais para o nosso crescimento e para manter a qualidade do nosso trabalho.
Como mulher líder, quais desafios já enfrentou no setor da arqueologia?
Apesar de trabalhar num meio predominantemente masculino, como é o caso dos projetos de construção em que estamos envolvidos, nunca me senti colocada em causa ou diminuída por ser mulher. Talvez isso se deva ao facto de ter uma personalidade forte e de transmitir sempre claramente o que penso. Tratei sempre os homens com quem trabalhei, e trabalho, como iguais, sem nunca me colocar numa posição inferior.
Para mim, a ideia de que as mulheres são inferiores ou devem colocar-se numa posição diminuída nunca fez sentido — se somos iguais, somos realmente iguais.
No entanto, a conciliação da vida pessoal com a vida profissional ativa e de liderança é, sem dúvida, um desafio. Senti, por vezes, que a sociedade julga as mulheres que dedicam menos tempo ou tempo diferente à família. Muitas vezes, o maior julgamento vem de outras mulheres, o que considero triste e lamentável. No entanto, já me habituei a lidar com essa situação e, ao longo do tempo, aprendi a não deixar que isso me afete.
Como vê a evolução da participação feminina em cargos de liderança no seu setor?
Não somos muitas, mas vejo com muito bons olhos a evolução da participação feminina em cargos de liderança, tanto neste sector como em todos os outros da sociedade. No entanto, confesso que, para mim, esta questão é um pouco secundária, pois as mulheres já demonstraram, ao longo dos anos e em diversos sectores, que são igualmente boas líderes, tal como os homens. Acredito que o género nunca deveria ser uma consideração quando se fala em liderança, e, felizmente, cada vez mais as mulheres têm a oportunidade de mostrar o seu valor em posições de destaque.
Considerações Finais
Que mensagem gostaria de deixar para os leitores poderem acompanhar o trabalho da Clay Arqueologia e se envolverem com a causa?
A nossa missão na Clay Arqueologia é não só preservar o nosso património, mas também partilhar e divulgar o conhecimento sobre ele de forma acessível a todos. Acreditamos que cada pessoa pode contribuir para a valorização e proteção da nossa história, seja ao aprofundar o seu conhecimento, seja ao apoiar projetos que promovam a educação e preservação. O património é um bem coletivo e, ao partilharmos as nossas descobertas e projetos, queremos despertar em todos a curiosidade e a consciência da importância de proteger o que nos foi legado. Sigam-nos nas nossas plataformas e juntem-se a nós nesta jornada de preservação e educação.