“Trabalhar com dedicação, transparência e paixão por esta profissão”

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Aos 50 anos, Elsa Garcia decidiu dar um novo rumo à sua carreira profissional. Após duas décadas na Administração de uma empresa, escolheu desafiar-se no mundo dinâmico do mercado imobiliário. Hoje, é uma profissional reconhecida, com distinções e uma trajetória marcada pelo compromisso e pela paixão pelo que faz. Nesta entrevista à Pontos de Vista, Elsa partilha os desafios, aprendizagens e a motivação que a guiaram nessa transição. Saiba mais!

Aos 50 anos, decidiu mudar de vida profissional. Como descreve esse processo de transição e qual foi o maior desafio que enfrentou?

O ser humano, de uma forma geral, é avesso às mudanças. Li uma vez uma frase que me ficou na memória: “Se está insatisfeito onde está, mude. Você não é uma árvore.”

De facto, não estava satisfeita no local onde fui muito feliz durante 20 anos. Tratava essa organização como se fosse minha, ou até com um cuidado ainda maior, pois, não o sendo, a responsabilidade era acrescida. Eu não mudei; penso que apenas alterei a “paisagem”.

Os desafios que enfrentei foram, primeiramente, decidir qual seria o meu novo caminho. Por diversos motivos, cruzei-me com o mercado imobiliário, e o maior desafio residia em aprender tudo de novo, especialmente no que dizia respeito ao conhecimento técnico desta atividade. Tive alguma facilidade, pois a minha formação em Direito contribuiu para uma aprendizagem mais rápida da parte documental e legal. Da mesma forma, o meu percurso na área comercial e, principalmente, o gosto pelo contato humano facilitaram a restante componente.

No entanto, a aprendizagem nunca está completa e é fundamental mantermo-nos constantemente atualizados.

 

Li recentemente algo publicado por si nas redes sociais onde questiona se realmente mudou ou apenas alterou o contexto. O que considera ser o seu maior pilar profissional que permaneceu inalterado?

Como referi no ponto anterior, mudou a “paisagem”. Mas nós, enquanto pessoas, mudamos assim tanto? Penso que não! A minha dedicação, determinação, compromisso, respeito pela palavra dada e, sobretudo, o gosto pelas relações humanas mantêm-se inalterados.

Quando mediamos a venda ou a compra de um imóvel em nome do cliente, estamos, muitas vezes, a negociar o bem mais valioso que a maioria das pessoas possui. Nesse momento, devemos ter em mente as necessidades e expetativas do cliente, bem como o impacto dessa decisão na sua vida.

O sentido de responsabilidade associado à nossa função é um valor imprescindível para um consultor imobiliário.

 

A palavra “mudança” é frequentemente romantizada. Na sua experiência, quais são os aspetos menos falados ou menos compreendidos sobre a mudança de carreira?

Sou conservadora! Não gosto de palavras, conceitos e chavões da moda.

Todos os “coachers” vendem a mudança e a felicidade. Mas mudança por mudança não é nada, é um conceito vazio. Mudei: deixei de ser tonto e passei a ser palerma… Grande mudança!

Quando decidimos alterar o nosso rumo, o primeiro desafio é a insegurança. Surgem dúvidas como: “Serei capaz de aprender uma nova profissão? Ainda estou à altura deste desafio? A sociedade diz que, a partir dos 40 anos, sou velho para mudanças de trabalho. Será que é mesmo verdade?”.

No entanto, o que no passado nos permitiu ter sucesso na área em que trabalhámos continua dentro de nós e, certamente, contribuirá para o nosso sucesso futuro.

 

No mundo imobiliário, todos os negócios começam do zero. Que competências foram essenciais para manter a resiliência e a motivação nesta área tão competitiva?

Em primeiro lugar, há que dignificar esta profissão de Consultor Imobiliário. A ideia geral é que quem não sabe fazer mais nada abraça este desafio como uma categoria residual. Não é assim, é uma profissão que exige elevados conhecimentos técnicos e humanos. Não é nada fácil e, infelizmente, poucos profissionais vêm os seus esforços recompensados na mesma medida do seu desempenho.

Começar de novo é sempre difícil. É necessário construir novos contactos, adquirir novos conhecimentos e desenvolver novas abordagens.

As qualidades e defeitos, aqueles que não mudam, ou pelo menos não mudam assim tanto, como a persistência, determinação, trabalho, compromisso e a teimosia de não desistir, acabam por dar os seus frutos.

Começamos a trabalhar com alguns clientes que, depois, recomendam o nosso trabalho a outras pessoas, e surge algo que, no mundo imobiliário, é fundamental: as referências. Clientes satisfeitos recomendam outros clientes.

Claro que, pelo menos numa primeira fase, isso não é suficiente para manter o volume de negócios necessário, mas, em complemento com outras ações comerciais, constitui um suporte importante para o avanço da nossa carreira.

 

O que significou para si receber o prémio REMAX 100% em 2024? Como este reconhecimento reflete a sua abordagem no setor imobiliário?

É apenas um patamar de faturação anual, dentro da Remax, que reflete a confiança que os clientes depositaram no meu trabalho. Atingí-lo ao fim de ano e meio de trabalho na Remax Expogroup significa que estou a trabalhar bem. Mais importante do que ser eu a considerar isso, são os clientes confiarem-me, em diversas ocasiões, os imóveis que vendem e compram e, igualmente, recomendarem os meus serviços aos seus familiares e amigos.

 

Menciona que não é o número que importa, mas sim as vidas que tocou. Há alguma história de cliente que a tenha marcado particularmente nesta jornada?

A grande maioria das histórias tem um final feliz. Costumo usar como slogan: “Fazer clientes felizes”.

Em 2024, tive o privilégio de ajudar uma senhora que a maioria dos consultores não queria acompanhar. O orçamento para a compra da casa não era alto e o financiamento bancário ainda não estava totalmente aprovado.

Acompanhei essa senhora, encontrámos o apartamento e a proposta foi aceite. O imóvel precisava de obras, e a cliente começou a fazê-las após a compra.

Os meses passaram, e a cliente ligou-me a convidar-me para ir ver o resultado final. Recebeu-me com um bolo acabado de fazer e com um chá, mas, muito mais importante, com um grande abraço e um “obrigada” por lhe ter concretizado um sonho.

Escusado será dizer que foi a melhor recompensa que poderia ter tido: continuar presente na vida dos clientes mesmo que já tenha passado muito tempo.

 

Como mulher e líder, que desafios específicos enfrentou e como os superou?

Enfrentei, como muitos profissionais, alguns desafios específicos, principalmente no que diz respeito à perceção e ao reconhecimento do meu valor profissional.

Um dos maiores desafios foi, sem dúvida, fazer-me ouvir e conquistar a confiança dos clientes, especialmente na fase inicial da minha carreira. No entanto, consegui superar isso com dedicação, competência e um trabalho contínuo para provar o meu valor, não através de palavras, mas de resultados concretos.

Como se consegue transmitir a confiança necessária, sem que essa pessoa nos conheça, para que alguém confie o seu bem material mais valioso nas nossas mãos? Apenas, sendo genuíno e autêntico.

 

Que conselho daria a outras mulheres que ponderam mudar de área profissional e embarcar numa nova jornada, tenham ou não menos ou mais de 50 anos?

O conselho que dou a qualquer pessoa que pretenda mudar de área profissional é ter muita vontade de aprender e elevada persistência. Dificuldades serão muitas, mas com força de vontade, todas se superam.

Mas, principalmente, que façam o que gostam e com paixão. Como alguém disse: “a vida é muito curta para ser pequena”.

 

O que espera para 2025? Há novos desafios ou metas que gostaria de alcançar?

Para 2025, espero continuar a crescer profissionalmente, melhorar as minhas competências e proporcionar um serviço cada vez mais eficaz e personalizado aos meus clientes.

O meu objetivo é fazer mais e melhor, mantendo o compromisso de encontrar soluções que vão ao encontro das necessidades e expetativas de quem deposita a sua confiança em mim.

Além disso, encaro o novo ano como uma oportunidade para abraçar novos desafios, explorar diferentes abordagens no mercado imobiliário e reforçar parcerias que acrescentem valor ao meu trabalho.

Seja qual for o cenário de 2025, a minha determinação mantém-se inalterada: trabalhar com dedicação, transparência e paixão por esta profissão.

 

Para terminar, que mensagem gostaria de deixar aos seus clientes e colegas que fazem parte desta jornada empreendedora no Setor Imobiliário?

Aos antigos clientes, atuais e futuros, gostaria que soubessem que, por eles, vou até ao fim do mundo e volto. Dentro da legalidade, não há impossíveis. Assumo o compromisso de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que os objetivos a que se propõem sejam atingidos – e até ultrapassados.

Aos colegas, gostaria que soubessem que são sempre parte da solução, que este negócio se faz de partilhas e que o mais importante é cumprir os desejos e expetativas dos clientes que depositam em nós a sua confiança.

Hoje, estamos num mercado em que, até determinado patamar de preço e em certas zonas geográficas, é muito fácil fazer o chamado “pleno”. Para quem não sabe, o “pleno” acontece quando o consultor imobiliário representa tanto o proprietário como o comprador, acumulando a comissão de ambas as transações. Hoje é assim! E no futuro, se o mercado se alterar, como será o comportamento de quem partilhou com quem não o fez? Fica para reflexão

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Revista Pontos de Vista Edição 138

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