No âmbito do Dia Mundial da Saúde, a Revista Pontos de Vista entrevistou Sandra Elói, uma referência na área da nutrição e saúde integrativa, cujo percurso profissional se iniciou no desporto de alto rendimento e evoluiu para a promoção do bem-estar e longevidade através da alimentação e suplementação. Distinguida com o prestigiado “Prize to The Leader in Research and Health Sciences for The Benefit of Mankind 2020”, Sandra Elói partilha a trajetória, desafios e perspetivas sobre a nutrição e medicina natural.
Fale-nos um pouco de si, como descreve a sua trajetória desde atleta de alto rendimento até à sua atuação atual na área da saúde e nutrição e o que representa para si ter sido distinguida com o “Prize to The Leader in Research and Health Sciences for The Benefit of Mankind 2020?
O gosto pelo desporto começou logo na infância e desde cedo percebi que era algo que não só gostava de fazer, como também tinha facilidade em obter bons resultados em várias modalidades. Aos 10 anos já era campeã de judo. A competição fez sempre parte da minha vida. Comecei a seguir atletas cedo, e daí surgiu a necessidade de perceber mais sobre nutrição, alimentação e suplementação. O curso de naturopatia também surge neste contexto, com a necessidade de complementar um maior leque de técnicas e estratégias possíveis para conseguir responder às necessidades dos atletas que seguia. Este curso deu-me bases de osteopatia, acupuntura, massoterapia, massagem desportiva, auriculoterapia, suplementação e muito mais. Foi um abrir de portas para uma área que já me fascinou e com a qual cresci como profissional de saúde. Uma mais valia, sem dúvida. Tenho apostado muito em formação, sempre para ter mais ferramentas para os meus pacientes e atletas!
Mesmo agora irei iniciar mais uma formação em Modulação Hormonal, com a maravilhosa Dra Ivone Mirpuri, fundamental!
Esta distinção e medalha de mérito foram, de facto, um marco na minha carreira. Somente quando o recebi, percebi que o que fiz ao longo da minha vida profissional tinha mérito… O prémio foi-me atribuído não só pela dedicação aos pacientes e trabalho desenvolvido na área da medicina natural como também pelo empreendedorismo na área da saúde. Aos 16 anos já era empresária, percebi anos mais tarde que não era comum, embora na altura tenha feito sempre tudo muito naturalmente. Posso dizer que dediquei toda a minha vida à área do desporto e saúde e, por isso, fui reconhecida como profissional de saúde com mérito, por médicos conceituados de vários países, acho que é razão de orgulho, sim! Fiquei muito feliz.
Quais os maiores desafios e conquistas que enfrentou ao longo da sua carreira?
O maior desafio foi o ter que seguir em frente com a morte da minha mãe, tinha somente 14 anos e filha de mãe solteira. Esse foi o momento mais difícil da minha vida. Passei muitas dificuldades, tive que estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Fiquei simplesmente sozinha, tomei conta da casa, das tarefas e de mim própria! A solidão foi o maior desafio que tive que superar. Mas não quebrei e segui em frente. Abri a minha primeira empresa muito jovem e depois outra e outra…Cada desafio trazia com ele uma conquista. Cheguei a ter mais que uma empresa ao mesmo tempo, gerir tudo, a casa, os filhos, e a faculdade…foram sempre desafios! Estudei fora, na Alemanha e em Espanha e o estar fora de casa e longe da família também foram desafios, mas igualmente conquistas!
Como a nutrição pode impactar a qualidade de vida e longevidade da sociedade?
A nutrição é um dos pilares fundamentais da nossa vida. Sempre foi! Atualmente atravessamos a pior altura da história da nutrição humana, na minha opinião. A produção de alimentos industriais sem qualidade alguma, a utilização de aditivos alimentares altamente nocivos, os agros químicos utilizados, o plástico…é difícil comer bem hoje em dia. Os próprios alimentos não têm os nutrientes que tinham e isso promove a doença. É necessário reaprender a comer para conseguir estar minimamente nutrido, devíamos ensinar nas escolas desde cedo. Uma disciplina obrigatória, educação alimentar.
Quais os princípios fundamentais que defende para uma alimentação equilibrada e promotora de saúde?
Os princípios são no fundo, diversidade de alimentos, qualidade em prol da quantidade, boas práticas na confeção e junção correta de alimentos. Ensino muito como fugir aos aditivos e agroquímicos e/ou como minimizar o impacto dos mesmos no organismo.
Nas minhas consultas faço uma avaliação muito completa, aplico a nutrição à condição clínica particular de cada utente, desenho um plano muito completo, tendo em conta tudo o que precisamos melhorar! Ensino quais os alimentos que devemos ou não ingerir, como devemos ingerir ou confeccionar, os alimentos que pode ou não juntar na mesma refeição, ensino quais os aditivos que podem estar a desencadear os sintomas que apresenta e desta forma os resultados são notórios de uma semana para a outra!
Considera que a sociedade está suficientemente informada sobre a importância da nutrição na prevenção de doenças?
Nada! Falamos de uma percentagem mínima. Faço muitas palestras para adolescentes em escolas secundárias e vejo que desconhecem completamente os riscos que correm quando comem determinados alimentos. Os Pais idem. Inicia-se a alimentação dos bebés com alimentos repletos de aditivos, ultra processados e sem valor nutritivo algum, mas acham que está bem. A publicidade enganosa não ajuda, hoje em dia qualquer pessoa dá dicas nas redes sociais e aconselha tomar e comer coisas!!
Vivemos dias difíceis e o futuro não será melhor se a educação sobre todos estes fatores desencadeantes de doença não forem ensinados desde cedo. Este é um tema que batalho muito mesmo em congressos médicos internacionais, levo sempre este tema dos aditivos alimentares e as doenças e distúrbios que desencadeiam. Acho fundamental passar a verdade e alertar para os perigos escondidos.
Quais os maiores desafios que encontra atualmente na sua prática clínica e na promoção da nutrição funcional?
Convencer o paciente a mudar é muitas vezes difícil, até porque há muita informação falsa nas redes sociais, imprensa e, por vezes, de outros profissionais de saúde (que não estudaram nutrição, metabolismo ou fitoterapia). Com a questão dos suplementos igual, ainda são vistos como o “bicho papão” por muitos profissionais de saúde. Outro problema é a capacidade económica para a pessoa conseguir alimentar-se bem e suplementar-se convenientemente, muitas vezes é difícil.
Como avalia a evolução do conhecimento e aceitação da medicina natural na sociedade moderna?
Na minha perspetiva e, nestes 30 anos de prática clínica, o que tenho visto é uma valorização desta área. Felizmente trabalho com muitos médicos que conhecem o meu trabalho e que me encaminham pacientes. Na clínica Prestígio, por exemplo, partilho pacientes com várias áreas, dermatologia, antiaging, endocrinologia, ortopedia, etc… Existem já, muitos médicos a fugir à prescrição massiva de medicamentos e a aconselhar o exercício físico, suplementos e isso é maravilhoso! Acreditei sempre que ainda veria esta mudança na medicina e está a acontecer. Vamos ver mais ainda, porque este é o caminho, é o futuro!
Quais as tendências futuras que antevê para a área da nutrição e bem-estar?
Teremos que nos encostar aos alimentos biológicos e teremos obrigatoriamente que nos suplementar para colmatar défices nutricionais. A suplementação fará parte do dia a dia de todos nós, desde a nascença.
Que mensagem gostaria de deixar para os leitores da Revista Pontos de Vista sobre a importância da nutrição para a saúde e longevidade?
A prática de uma alimentação e nutrição adequadas desde cedo irá fazer toda a diferença na longevidade e prevenção de doenças. Deve procurar um profissional de saúde habilitado que o ajude a perceber quais as suas carências nutritivas, desequilíbrios orgânicos, défices. Vai perceber a diferença entre o equilíbrio e o desajuste muito rapidamente.
A mudança é fundamental! Os pais têm esse compromisso com os filhos, são os cuidadores até estes serem autónomos. Aprenda! Mude! Viva!
Que conselhos daria a quem deseja melhorar a sua qualidade de vida através da alimentação?
Elimine os produtos ultra processados e processados, todos os que têm uma validade longa têm aditivos. Elimine os alimentos pró inflamatórios, lácteos de vaca, carnes vermelhas, trigo moderno e açúcar. Coma frescos, legumes, frutas rebentos. Não esqueça os frutos secos, as sementes. Hidrate-se bem. Prepare as suas refeições em casa, faça o seu pão, os biscoitos dos seus filhos, evite os pacotes. Estes conselhos são os básicos e servem para todos nós.
