“A Psicologia deve ser vista como um elemento central nas estratégias de Saúde Pública”

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No contexto do Dia Mundial da Saúde, celebrado a 7 de abril, a Psicologia assume um papel central na promoção do bem-estar e no desenvolvimento sustentável da sociedade. Para abordar esta temática, a Revista Pontos de Vista conta com a participação da Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Dra. Sofia Ramalho, que destaca a relevância da Psicologia na saúde global, o trabalho desenvolvido pela OPP e os desafios que a sociedade enfrenta em termos de saúde mental.

Qual é a relevância da Psicologia no contexto da saúde global e do bem-estar da sociedade?

A Psicologia é um pilar imprescindível na saúde pública e na promoção do bem-estar das pessoas e das populações. Uma sociedade mentalmente saudável é mais resistente às adversidades e crises, e também mais produtiva. Integrar a Psicologia nas políticas públicas não é apenas uma necessidade de saúde, mas um investimento no desenvolvimento sustentável do nosso país e do mundo. Reduz ainda o encargo financeiro que as doenças mentais representam para a economia e o impacto na coesão e no bem-estar social.

É essencial promover o acesso universal a cuidados psicológicos e desmistificar o papel da Psicologia na construção de um presente e futuro mais saudável e equilibrado.

 

Como a Ordem dos Psicólogos tem atuado para promover a saúde mental em Portugal?

A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) tem liderado esforços, junto dos decisores políticos, para integrar a saúde mental nas políticas públicas e aumentar o acesso a serviços prestados pelos psicológos, nos mais diversos contextos: Serviço Nacional de Saúde, escolas, autarquias, centros de intervenção comunitária, empresas, tribunais.

Através de Literacia em Saúde, nomeadamente saúde psicológica, campanhas de sensibilização, recomendações para empresas e outras instituições, ou programas de formação, a OPP tem trabalhado para garantir que a Psicologia esteja presente onde é mais necessária, garantindo um impacto positivo na sociedade. Ainda há um longo trabalho pela frente e a OPP vai continuar a trabalhar para que o serviço dos psicólogos seja acessível a toda a população, sobretudo aos grupos mais vulneráveis e que mais precisam de apoio.

 

O Dia Mundial da Saúde celebra-se a 7 de abril. De que forma a Psicologia deve ser integrada nas estratégias de saúde pública?

A Psicologia deve ser vista como um elemento central nas estratégias de saúde pública, com foco na prevenção, na promoção do bem-estar e na intervenção o mais precoce e atempada possível. A saúde mental deve estar objetivamente presente em todas as políticas setoriais, desde a educação ao emprego, passando pelo envelhecimento e pela ação climática. A implementação de programas de apoio psicológico acessíveis a todas as idades e a todos os grupos da população, o apoio na capacitação de profissionais de diferentes setores e o bom uso da tecnologia para ampliar o acesso aos serviços, de acordo com princípios éticos e deontológicos para os quais os psicólogos estão preparados, são compromissos fundamentais para garantir uma resposta eficaz às necessidades do nosso país.

 

Quais são os principais desafios que a sociedade enfrenta atualmente em termos de saúde mental e como os psicólogos podem ajudar?

A sociedade enfrenta desafios múltiplos face à crise económica, política e social. Falamos dos problemas de ansiedade e depressão, mas também falamos das desigualdades sociais e económicas como a pobreza. Falamos do sofrimento psicológico e falamos também de desinformação ou da crescente digitalização das relações humanas. Os psicólogos desempenham um papel crucial na mitigação dos impactos ou na promoção da resiliência. O apoio vai desde o desenvolvimento de estratégias de adaptação, à intervenção em situações de crise ou catástrofe.

Além disso, a Psicologia pode contribuir para a construção de ambientes mais saudáveis e inclusivos, garantindo que as políticas públicas sejam informadas por uma compreensão profunda das necessidades psicológicas e sociais da população, bem como se dirijam realmente à mudança efetiva de comportamentos, sempre que é necessário. E os psicólogos são os profissionais especializados nas relações e no comportamento humano.

 

A longevidade tem sido cada vez mais discutida. Qual o papel da Psicologia na promoção de um envelhecimento saudável e ativo?

O aumento da longevidade exige uma abordagem inovadora que garanta qualidade de vida ao longo dos anos. Esse é o mais importante princípio. Queremos adiar o aparecimento da doença, e queremos bem-estar em todas as fases da nossa vida. A Psicologia contribui para um envelhecimento ativo ao apoiar a transição para a reforma, promover a adaptação às mudanças pessoais e familiares, estimular hábitos de vida saudáveis, fortalecer a autoestima, estimular a autonomia, ou prevenir problemas como a depressão e o isolamento social. É essencial investir em estratégias de intervenção psicológica que incentivem um envelhecimento saudável, como programas de estimulação cognitiva, apoio psicossocial e iniciativas que reforcem o papel ativo dos idosos na sociedade, o que pode passar por abordagens intergeracionais.

Existe ainda estigma em relação à procura de apoio psicológico? Como combatê-lo?

Embora o estigma em torno da saúde mental tenha diminuído, é certo que ainda existem barreiras que dificultam a procura de apoio psicológico.

Precisamos continuar a falar de psicologia sem estarmos presos à ideia de “problemas” ou de “doença” mentais. Podemos precisar do apoio de um psicólogo para tomar uma decisão ou para fazer uma mudança na nossa vida. Isso não é um problema, mas sim uma necessidade de desenvolvimento.

Qual é a sua mensagem para a sociedade no âmbito do Dia Mundial da Saúde e da importância do cuidado com a saúde mental? 

A saúde mental é um direito fundamental e um elemento essencial para uma sociedade equilibrada e próspera. No Dia Mundial da Saúde é importante reforçar que investir na Psicologia significa investir no desenvolvimento sustentável, no bem-estar das pessoas e no futuro do país. Procurar apoio psicológico deve ser visto como um ato de autocuidado. Cabe-nos, enquanto sociedade, garantir que a saúde mental seja uma prioridade em todas as áreas e fases da vida.

 

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